Neymar marcou um grande golo, assim como Messi, mas é o quarto golo do Barcelona, o golo de Pedro, que, na minha opinião, merece menção na goleada do Barcelona, este fim-de-semana, diante do Rayo Vallecano. É verdade que o lance ocorre numa altura da partida em que os jogadores do Rayo Vallecano já tinha entregado o jogo e estavam conformados com a derrota, e é também verdade que a oposição do adversário, no lance em questão, é muito deficiente, com Fabregas a gozar de muito espaço no meio e, sobretudo, a equipa a iniciar a abordagem ao lance praticamente numa única linha defensiva, com os seus jogadores uns em cima dos outros. Nada disso, porém, invalida que o lance tenha sido superiormente trabalhado por Fabregas e Iniesta, e mais uma vez se demonstra que uma simples tabela, desde que bem executada, pode servir para ultrapassar uma defesa inteira.
O lance inicia-se com Fabregas a invadir o espaço central. Dois
jogadores, de perfil, saem-lhe ao encalço, posicionando-se numa linha à
frente da linha defensiva. Ao mesmo tempo, Adriano abre na esquerda, o
que faz com que o lateral direito do Rayo abra e suba ligeiramente. Ao
perceber que estão criadas as condições ideais para a penetração,
Iniesta solicita o passe vertical entre as duas linhas defensivas e
entre os dois médios de perfil. Sem hesitar, Fabregas dá em Iniesta e
inicia a desmarcação para o espaço deixado em aberto pelo movimento do
lateral direito, que se preocupara em demasia com Adriano e quebrara a
linha defensiva. A partir daqui, era uma questão de a bola entrar no
sítio certo, coisa que aconteceu. Mesmo que o passe de calcanhar de
Iniesta não permitisse a Fabregas ultrapassar, de uma só vez, toda a
defesa adversária (o que só aconteceu porque Zé Castro tentou ir
pressionar Iniesta e a bola acabou por passar entre ele e o outro
central), permitiria, com toda a certeza, que ultrapassasse os dois
médios.
Com uma simples tabela, e envolvendo somente dois jogadores, um médio é pois capaz de passar por uma linha inteira de médios. Note-se, aliás, que entre a linha defensiva do Rayo e os dois médios que formam a outra linha não há mais do que 3 ou 4 metros. Significa isto que, por mais próximas que estejam dispostas as linhas de defesa e meio-campo do adversário, há formas de uma equipa entrar nelas em progressão. Defender com duas linhas acarreta, pois, este problema, o de serem precisos menos toques para que aquele que conduz a bola fique apenas com a linha de defesa pela frente. De igual modo, ilustra este lance também aquele que me parece ser o principal problema, em termos defensivos, de um duplo-pivot. Por mais perto que joguem entre eles, e por mais perto que joguem da linha defensiva, é sempre possível colocar um passe vertical ou solicitar uma tabela entre os dois. Com três médios, dispostos em duas linhas diferentes, este problema não se põe: se um passe entrar entre dois médios mais ofensivos, há o terceiro, no meio e atrás deles; se, com uma tabela, a linha dos médios mais ofensivos for ultrapassada, há ainda a linha do médio mais defensivo para ultrapassar. Contra equipas que defendem de forma tão primária, e ainda por cima com laterais que não respeitam os princípios básicos de defesa à zona, sendo atraídos para fora por quem abre nas alas, as progressões pelo centro dos catalães continuam, por isso, a ser muitíssimo eficazes. E, assim, o futebol do Barça, se bem que longe do que foi com Guardiola, continua a ser das melhores coisas que se pode ver num campo de futebol.
Com uma simples tabela, e envolvendo somente dois jogadores, um médio é pois capaz de passar por uma linha inteira de médios. Note-se, aliás, que entre a linha defensiva do Rayo e os dois médios que formam a outra linha não há mais do que 3 ou 4 metros. Significa isto que, por mais próximas que estejam dispostas as linhas de defesa e meio-campo do adversário, há formas de uma equipa entrar nelas em progressão. Defender com duas linhas acarreta, pois, este problema, o de serem precisos menos toques para que aquele que conduz a bola fique apenas com a linha de defesa pela frente. De igual modo, ilustra este lance também aquele que me parece ser o principal problema, em termos defensivos, de um duplo-pivot. Por mais perto que joguem entre eles, e por mais perto que joguem da linha defensiva, é sempre possível colocar um passe vertical ou solicitar uma tabela entre os dois. Com três médios, dispostos em duas linhas diferentes, este problema não se põe: se um passe entrar entre dois médios mais ofensivos, há o terceiro, no meio e atrás deles; se, com uma tabela, a linha dos médios mais ofensivos for ultrapassada, há ainda a linha do médio mais defensivo para ultrapassar. Contra equipas que defendem de forma tão primária, e ainda por cima com laterais que não respeitam os princípios básicos de defesa à zona, sendo atraídos para fora por quem abre nas alas, as progressões pelo centro dos catalães continuam, por isso, a ser muitíssimo eficazes. E, assim, o futebol do Barça, se bem que longe do que foi com Guardiola, continua a ser das melhores coisas que se pode ver num campo de futebol.
15 comentários:
Mas mesmo num duplo pivot, podes sempre ter um dos médios um pouco mais recuado (desalinhado) que o outro, de forma a evitar estas situações.
Realmente o Barça, apesar de já não ter o futebol mais dominador e eficaz, continua provavelmente a ter o mais bonito (embora a definição de beleza seja muito subjectiva).
Continuo a ter mais gosto em ver jogar o Barça do que o Bayern.
No entanto, as transições defensivas do Tata assustam-me, são rudimentares mesmo. Não há equipa que não crie ocasiões de golo contra este Barça. E isso, causa uma incerteza que, até já esta eliminatória contra o City, para mim é uma incógnita.
Também realcei esse mesmo lance no Posse de Bola, isso porque o que se nota, em Fabregas, Iniesta, Pedro, Xavi, Messi, e cia, continua a ser os elevados indíces de acerto na tomada de decisão, e a criatividade.
Mas, acho que Guardiola precisa de ver isto. Esqueceu-se que é esta a melhor forma de desorganizar o adversário, e de reagir rápido à perda. Jogar curto, fazer mover o adversário, abrir espaços no meio, provoca jogando no apoio no frontal, mesmo com homem de costas, e este devolve, enquadra, ou procura a profundidade. Isto repetidamente.
Abraço
Roberto Baggio, penso que dificilmente Guardiola conseguirá atingir o nivel de perfeição que tinha no Barcelona com o conjunto de jogadores que tem no Bayern. A cultura da maioria deles é de um futebol objectivo e daí a dificuldade em prolongarem por muito tempo a troca de bola.
Obviamente que posso estar enganado (até será o mais provável). É apenas uma avaliação feita com base nos jogos que tenho visto do Bayern.
Tal como DC continuo a ter mais prazer a ver os jogos do Barcelona do que do Bayern.
Eu tenho mais prazer em ver os jogos do Barça só por causa do Messi... Parte-me o coração ver um jogo do Barça hoje em dia...
Cumprimentos
Mike Portugal diz: "Mas mesmo num duplo pivot, podes sempre ter um dos médios um pouco mais recuado (desalinhado) que o outro, de forma a evitar estas situações."
Mike, não consigo perceber como. Se é um duplo-pivot, é um duplo-pivot. Não é, por exemplo, o modelo do Jesus, que tem um à frente do outro. Evidentemente, há momentos em que um deles há-de baixar e cobrir as costas do outro, sobretudo quando saem em pressão numa das alas. Mas numa pressão frontal isso não faz sentido. A referência é precisamente o colega de sector, e eles jogam de perfil também para poderem cobrir uma área maior em largura.
DC diz: "No entanto, as transições defensivas do Tata assustam-me, são rudimentares mesmo. Não há equipa que não crie ocasiões de golo contra este Barça. E isso, causa uma incerteza que, até já esta eliminatória contra o City, para mim é uma incógnita."
DC, também acho esta eliminatória uma incógnita, sobretudo porque o City tanto faz grandes jogos como se eclipsa. Quanto ao Barça, são as transições, mas não são só as transições. Se o fossem, estaria o Barça muito bem. O principal problema é que já não é uma equipa interessada em dominar o jogo a todo o custo. Era assim, aliás, que melhor se precavia contra as transições, tendo a bola e não se arriscando a perdê-la com um passe longo ou uma variação de flanco só porque o jogo de paciência não está a resultar. Com Tata, o Barça varia em demasia a sua maneira de jogar, e qualquer equipa que saiba defender com o bloco baixo vai obrigar a que, mais tarde ou mais cedo, o Tata comece a mandar os seus jogadores jogarem longo, aproveitarem o contra-ataque a qualquer custo, etc.. E aí é 50/50.
Roberto Baggio diz: "Mas, acho que Guardiola precisa de ver isto. Esqueceu-se que é esta a melhor forma de desorganizar o adversário, e de reagir rápido à perda. Jogar curto, fazer mover o adversário, abrir espaços no meio, provoca jogando no apoio no frontal, mesmo com homem de costas, e este devolve, enquadra, ou procura a profundidade. Isto repetidamente."
Pois. Não creio que o Guardiola se tenha esquecido. O Bayern estava cada vez mais eficaz a fazê-lo e agora deixou, simplesmente, de tentá-lo. Alguma coisa se passou.
Antonio diz: "Roberto Baggio, penso que dificilmente Guardiola conseguirá atingir o nivel de perfeição que tinha no Barcelona com o conjunto de jogadores que tem no Bayern. A cultura da maioria deles é de um futebol objectivo e daí a dificuldade em prolongarem por muito tempo a troca de bola."
Antonio, antes do Natal, o Bayern já estava muito perto do que o Barça era capaz de fazer. Não o conseguia fazer durante os 90 minutos, nem conseguia ser tão humilhante com bola, mas já faziam coisas muito próximas daquelas que os catalães faziam. Houve, aliás, alguns jogos exemplares, desse ponto de vista. Para mim, o melhor foi o jogo da primeira volta com o City, em Inglaterra. Não sei, por exemplo, se o Barça já fez um jogo tão bom este ano como esse. Mas agora isso mudou, não sei bem por que razões, e o Bayern está incrivelmente mais próximo do Bayern do Heynckes do que Barça. Pode ser uma fase, pode ser porque o campeonato está ganho, mas a verdade é que as exibições dos bávaros têm deixado muito a desejar. Veremos o que se segue.
António Teixeira diz: "Eu tenho mais prazer em ver os jogos do Barça só por causa do Messi... Parte-me o coração ver um jogo do Barça hoje em dia..."
António, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Acho o Tata um treinador banal, e acho que o Barça está bem mais fraco do que antigamente. Mas o Tata tem o mérito - e esse ninguém lho tira - de não ter estragado o que apanhou com ideias malucas suas. Deixou que os jogadores continuassem a jogar como tinham aprendido e, ainda que não saiba contornar certos problemas, quando aquilo engrena é imparável. Os dois últimos jogos são um bom exemplo disso, e o Barça continua a fazer coisas que não se vêem fazer normalmente. Talvez dependa agora mais do que as individualidades forem capazes de produzir, mas colectivamente continua a ser uma equipa muito forte
Mas parte-me, acredita. Imagina que tinhas um Ferrari Enzo, e porque ficas-te sem dinheiro, tiveste que conduzir um BMW série M; o segundo é um grande carro, quase toda a gente o queria ter, mas tu já tiveste muito melhor...
Amanhã é um dia interessante:
Uma equipa de futuro, com dinheiro, boa direcção, e com um bom treinador, contra uma equipa que vive num qualquer limbo entre um passado brilhante e um futuro de reinvenção.
Do outro lado, um Arsenal clássico já, que tem no seu passado um futuro assegurado, contra uma equipa com um passado brilhante, da qual se espera um futuro ainda melhor.
Cumprimentos,
António Teixeira
O que achaste do Barça contra o City?
Gostei do início e da vontade de assumir o jogo e de ter a posse de bola, mas depois dos 20 minutos, quando o City subiu as linhas e pressionou mais alto, acho que o Barça teve enormes dificuldades em sair a jogar.
Mas na segunda parte, fiquei com a sensação que foi o City que optou por não manter essa pressão alta e recuar as linhas e isso para o Barça foi um presente. Principalmente quando está em campo o Navas em vez do Nasri.
Achas que a maior facilidade em sair da pressão do City da segunda parte foi mérito do Barça ou foi mesmo opção do City? A mim pareceu-me mais a segunda hipótese.
Caro DC,
Eu acho que o problema nunca vai ser ter a bola: como disse o Nuno, a qualidade individual é imensa. O problema está na criação, para mim: o Barça na primeira parte simplesmente não criou (rematou o Xavi, que me lembre); já na segunda parte, especialmente contra 10, o Cesc conseguiu dar apoios frontais na criação com maior facilidade, e claro que isso é perigoso (o Cesc parece-me que tem crescido muito, e começo a gostar cada vez mais do seu futebol); de resto, vês um recurso enorme ao Alexis (que sinceramente, exceptuando a dimensão física que dá ao jogo e a intensidade, não me parece melhor que o Pedro, bem pelo contrário, a nível técnico e na decisão parece-me muito inferior, e acho que a nível de movimentação não é nem muito superior nem muito inferior, apenas diferente), cruzamentos do Dani Alves, e eu acho que isso é opção do treinador: sem espaço, cruza para lá lol.
O City podia ter feito mais e ter abordado o jogo de maneira diferente porque tem qualidade para tal a nível individual; não o fez, mas percebe-se a intenção do Pellegrini, especialmente porque o Barça é cada vez pior e os interiores mais lentos na transição defensiva, logo uma segunda linha do City poderia criar igualdade/superioridade em transição, apostando na capacidade de reter a bola do Silva e do Negredo. Ainda assim, poderia ter assumido o jogo de outra forma (se tivesse o Kun especialmente).
Nota: a inteligência do Busquets na movimentação no lance da expulsão.
Dúvida: o Barcelona defende mesmo HxH ou o Jordi Alba já tem dificuldades próprias na largura? Há um lance na segunda parte que me leva a ter esta dúvida...
Cumprimentos,
António Teixeira
António, não concordo que o Barça não tenha criado na 1a parte. Concordo sim, quando falas no Alexis e no Dani.
Tanto um como outro, para mim, estiveram muito mal. O Alexis então, há 2 ou 3 passes do Messi para um jogador nas costas dele e ele intercepta-os, cortando o perigo à jogada.
O facto do Alexis e do Neymar serem escolhidos à frente do Pedro é incompreensível.
Os centros idiotas do Dani é outra coisa que não consigo entender, mas duvido que seja o treinador a mandar, porque o Alba não faz isso.
DC,
O Alba começou a jogar agora.
Há tinhámos falado dos cruzamentos do Barcelona no início da época no posse de bola. Principalmente cruzamentos a procurar o 2ºposte.
O Daniel Alves cruza a procurar o segundo poste no processo ofensivo, e os adversários já cruzam à procura do Daniel Alves no segundo poste no processo defensivo do Barça xD.
DC, eu não acho na criação, mas penso que alguém poderá rever o jogo e verificar isso :). De resto como quase sempre concordámos em tudo.
Cumprimentos,
António Teixeira
Nuno, nao achas que a qualidade médias das equipas ditas "pequenas" do Campeonato Espanhol está a baixar?
DC, sim, o Barça teve dificuldades quando o City procurou pressionar mais alto. Mas não foi sempre assim, depois dos 20 minutos. Os últimos 10 minutos da primeira parte voltaram a ser mais calmos, com o Barça a controlar a coisa. O problema do tipo de pressão que o City fez é que não dura o tempo todo. Na segunda parte, presumo que a estratégia fosse a mesma: começar calmamente e, a partir do meio da segunda parte, quando os jogadores do Barça estivessem mais cansados, começarem a pressionar mais em cima. Aconteceu aquele lance, que determinou o jogo, e isso não pode acontecer. De qualquer forma, não gostei do Barça depois da expulsão do Demichelis. Podiam ter controlado o jogo de outra maneira e não o fizeram.
António, quanto à criação, não concordo. Estou mais de acordo com o DC. Há ali problemas, como as variações constantes de flanco, o recurso à profundidade, os cruzamentos, etc., mas ainda assim o Barça criou bastante. Talvez não tenha tido nenhuma ocasião de finalização dentro da área, mas é preciso perceber que o City defendeu com muita gente atrás da bola. Ainda assim, teve várias situações de último passe, ou seja, situações em que, entrando esse último passe, estava criada uma situação de golo. Ou seja, criaram muito até esse último passe. E criaram algumas situações de outro tipo, por exemplo a tabela entre o Messi e o Xavi que termina com um remate de pé direito do Messi à entrada da grande área.
GBC, não sei. Sempre houve equipas pequenas no campeonato espanhol e não consigo ver grandes diferenças em relação aos últimos anos. Mas gostava de saber a tua opinião.
Sinceramente, do que tenho acompanhado, acho que decresceu ligeiramente. A saída do Bielsa foi uma pena. Acho estranho como entre o 3º e o 4º classificado estão 16 pontos, e acho estranho que o Atlético de Madrid, independentemente da qualidade individual do seu plantel, esteja com os mesmos pontos do 1º e com mais 16 que o quarto...
Tenho que ver melhor o Bilbau do Valverde. Do que tenho acompanhado, acho o Sevilla uma boa equipa (cujos pontos não traduzem totalmente a sua valia, ainda que a qualidade individual na defesa seja baixa), tenho que ver melhor o Valência (quando os via no início, nem jogavam mal, e tinham um plantel com qualidade evidente, mas os resultados foram terríveis). Ah, e tenho gostado também do Celta do Luís Enrique, mas ainda assim... fica aquém do que esperaria. Do Rayo acho que ainda não vi um único jogo, mas tinha boa impressão do treinador do que vi no ano passado... estranho estarem nos lugares de despromoção.
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