O problema principal da marcação individual não é, todavia, nenhum destes. Imaginando que essa marcação pudesse ser eficaz ao longo dos 90 minutos, e que o adversário que se achou importante marcar em cima não fosse capaz de escapar a essa marcação e de ter bola para fazer a diferença, a simples preocupação em seguir um adversário por todo o terreno é uma vantagem tremenda para a equipa adversária. Isto porque a equipa do jogador sobre o qual recai a marcação passa a poder levar um elemento adversário para onde lhe aprouver e, portanto, a poder induzir uma determinada desorganização defensiva nesse adversário. Imagine-se que os dois laterais de uma equipa estão destacados para marcar individualmente os dois extremos adversários (quem tiver pouca imaginação e achar que isso já não se usa assim, pode sempre ver alguns jogos do Manchester United de José Mourinho o ano passado). Se o treinador adversário quiser, pode simplesmente pedir aos seus extremos que passem a frequentar espaços centrais, levando consigo os marcadores directos, e aos restantes jogadores da equipa que façam a bola entrar no espaço que passa a ficar livre em cada flanco.
É verdade que do facto de ser assim tão fácil criar as condições de ataque ideais não se segue que todos os jogadores a quem é movida uma marcação individual se movimentem propositadamente para que isto se suceda. É aliás raro que um jogador o faça deliberadamente, ou que um treinador, perante uma situação destas, perceba a vantagem de que dispõe e saiba explicar ao seu atleta para onde e de que modo deve conduzir o seu marcador directo. Mas, mesmo que o adversário não compreenda essa vantagem e não saiba tirar proveito dela, a marcação individual continua a ser uma opção perigosa. Mesmo que involuntariamente, como aliás parece ter sido aqui o caso, é natural que o avançado a quem é movida a marcação acabe por arrastar o seu marcador directo para zonas potencialmente desvantajosas para quem defende e que a equipa que ataca acabe por usufruir do espaço que se cria na sequência disso. Messi é excepcional e merece considerações excepcionais, concordo. Mas hipotecar a organização defensiva na esperança de que Messi tenha menos influência no jogo parece-me estúpido. Entre apostar na organização para tentar vencer uma equipa na qual joga Messi e apostar na desorganização para se jogar contra a mesma equipa, mas sem Messi, parece-me óbvio aquilo que se deve escolher. Mesmo que, colectivamente, este Barça de Valverde seja banalíssimo, há uma quantidade de jogadores acima da média que podem facilmente usufruir da desorganização propiciada pela segunda aposta. Messi é excepcional, claro, mas achar que Messi é mais perigoso sozinho contra uma equipa bem organizada do que os restantes dez companheiros contra uma equipa mal organizada não me parece fazer muito sentido.