Vamos a factos.
1) Calendário.
O Porto lidera o campeonato, contando 8 vitórias em 8 jogos realizados. Um pleno, é verdade. Mas das 8 equipas da primeira metade da tabela, o Porto só ainda jogou com o Sporting, com o Marítimo e com o Braga, sendo que a única deslocação complicada foi ao Minho. Falta o clássico com o Benfica e tem ainda pela frente tarefas nada fáceis como o Guimarães, o Setúbal e o Belenenses. Tirando essas três vitórias mais complicadas, as outras cinco foram conseguidas contra 5 das últimas 6 equipas da tabela. Se compararmos o calendário da equipa nortenha com o dos rivais, vemos que o Benfica já defrontou o Sporting, o Guimarães, o Braga e o Marítimo, tendo perdido 6 dos 8 pontos com os primeiros três, e que, do fundo da tabela, só ainda defrontou Leiria e Naval. Quanto ao Sporting, mediu forças com Porto, Benfica, Guimarães, Setúbal e Belenenses, 5 dos primeiros 8, tendo perdido 7 dos 9 pontos com estes adversários, e que ainda não jogou com nenhuma das últimas 5 equipas. Como se vê, o calendário do Porto foi até aqui muito mais favorável.
2) Lesões.
Ao contrário do Benfica e do Sporting, o Porto ainda não teve jogadores fundamentais afastados por lesão. Tirando o início do campeonato, em que Lucho ainda não estava nas melhores condições físicas, poucas ou nenhumas adversidades têm abalado a espinha dorsal da equipa comandada por Jesualdo Ferreira. A ausência de Adriano não só não foi notada, como foi bem-vinda, pois permitiu que Lisandro jogasse no meio. Postiga lesionou-se quando já não era opção e Pedro Emanuel não é um jogador determinante. Só o afastamento temporário de Hélton poderá ser considerado como uma ausência de peso. No Benfica, pelo contrário, as lesões têm sido mais que muitas: Nuno Gomes, Cardozo, Nélson, Petit e toda a defesa. No Sporting, Derlei faz muita falta e, apesar de ter sido por pouco tempo, a ausência de Polga também traz consequências nefastas.
3) Taça da Liga.
Tendo saído logo na primeira ronda, os jogadores do Porto não terão acumulado o mesmo esforço que os dos seus rivais. Concentrados internamente apenas numa competição, a equipa está também por isso mais sólida. Psicologicamente, não se afectou com a eliminação às mãos de uma equipa de um escalão inferior, mas também não deu azo a novos descuidos. A saída prematura desta competição foi, pois, benéfica para a equipa de Jesualdo.
4) Liga dos Campeões.
Na Champions, o Porto apanhou o grupo mais fácil dos três grandes. O Marselha, apesar do primeiro lugar, é uma equipa perfeitamente acessível (por sinal, está em apuros no campeonato francês) e não tem a força que o Celtic tem em casa nem o poderio da Roma. Quanto ao Besiktas, parece-me uma equipa bem montada, com algum potencial, mas ainda assim uma equipa de segunda linha. Será talvez mais forte que o Dinamo de Kiev desta época, mas não será superior ao Shaktar. Quanto aos cabeças de série, Milan e Manchester, só por si, são superiores ao Liverpool. Como se não bastasse, a equipa de Benitez tem surpreendido tudo e todos, tendo apenas 1 ponto em 9 possíveis, conquistado precisamente no Dragão. Resulta daqui que o Porto, sem muito esforço, está bem lançado no seu grupo. Sem grandes exibições, ainda não perdeu, tendo inclusivamente controlado o jogo em França e não tendo sofrido muito para empatar em casa diante do Liverpool.
5) Sorte e afins.
Sem o Quaresma decisivo das épocas anteriores, adivinhar-se-iam mais dificuldades para o Porto. Esse, contudo, não tem sido o caso. Que tem, então, ajudado a equipa? Em Braga, Quaresma, nos outros jogos, ora Lisandro, ora Lucho. Os jogos que o Porto não ganhou foram os jogos em que nenhum destes três conseguiu fazer a diferença. Além disto, têm conseguido resultados através de momentos de pura sorte, como na Turquia, depois de um jogo pobre e de uma jogada aos trambolhões, e no último minuto. Depois, 2 vitórias na Liga à custa de erros de arbitragem, uma frente ao Sporting e outra em que a bola enviada para a baliza já tinha estado fora do terreno de jogo.
Como é óbvio, não são apenas estes factores que têm dado pontos à equipa. A estrutura da equipa é sólida, os processos estão bem enraízados nos jogadores e a organização em campo é inexcedível. Mas, tendo faltado qualidade, este conjunto de factores ajuda a explicar este arranque aparentemente implacável. Dir-se-ia que, além de toda a solidez do conjunto, respira-se confiança e tranquilidade no Porto. Pudera... Mas essa confiança, sendo consequência directa dos resultados positivos, é também consequência daquilo de que os resultados são consequência, ou seja, todos estes factores. Sem a pontinha de sorte que já se manifestou em alguns jogos, sem a possibilidade de contar com dois ou três dos habituais titulares, sem um grupo tão acessível na Liga dos Campeões, tendo apanhado equipas mais complicadas no campeonato, estando ainda envolvido na Taça da Liga, só por milagre o Porto de Jesualdo, a jogar com a mesma pobreza que tem feito, continuaria invicto.
Não sei se o Porto ainda será alcançado na classificação, mas parece-me muito prematuro pensar que o não vai ser apenas porque tem estado imbatível. Medindo todos os factores e não acreditando que a sorte que até aqui se manifestou se manterá, será de esperar um abaixamento no rendimento da equipa num futuro próximo. Quando o rendimento começar a ser menor, a confiança inabalável da equipa tenderá naturalmente a descer. E, quando isso acontecer, as restantes equipas terão uma palavra a dizer. Portanto, apesar da diferença de pontos e da aparente invencibilidade da equipa, o Porto ainda tem muito caminho a percorrer e, de acordo com a pouca qualidade do seu futebol e com todos estes factores (sobretudo com o facto de que, a excepção da ida à Luz, terá todas as deslocações dificéis na segunda volta), não está numa posição tão privilegiada como, à partida, se pensa.