quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Sondagem (2)

À pergunta "O que é, actualmente, mais importante num jogador de futebol?", 8 dos 16 votos, ou seja, 50%, deram a resposta "Inteligência". Muito distantes ficaram as opções por "Talento" e "Tamanho", com dois votos cada. Se é tão consensual que a inteligência é aquilo que mais importa num jogador de futebol, por que se continua a aplaudir a burrice?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Sub-Aproveitamento

Primeiro ponto: Depois do jogo de ontem, oferece-se cérebro a quem preferir o Liedson a Nuno Gomes.
Segundo ponto: O Humberto Coelho a comentar jogos - hilariante. Criticar um jogador por ele isolar um jogador, em vez de rematar desenquadrado, ou com dez jogadores à sua frente, é de mestre.

Postos estes dois pontos, vamos debruçar-nos sobre o Benfica-Milan. Apenas o jogo e o desenrolar do mesmo.
Do lado dos italianos há uma coisa a reter. Boa posse de bola. Tranquilos e de forma segura, pelo menos nos primeiros trinta minutos. Perdem clarividência quando Gattuso“obriga” Pirlo a descentralizar o seu posicionamento. Durante a primeira parte, com um bloco subido, Gilardino mostrou-se inconsequente para este tipo de futebol; jogando de forma apoiada, os italianos esconderam de forma eficiente a bola. Mas em temos ofensivos, tirando uns raides de Káká, o Milan denotou sempre algumas dificuldades. O seu futebol, ainda que organizado, é pouco criativo, tornando-se previsível. Grande golo de Pirlo. Contudo, a maneira como tranquilamente o italiano preparou o remate deixou os médios defensivos encarnados mal na fotografia.

O Benfica não entrou bem no jogo, Rui Costa andou algum tempo perdido. Contudo, neste aspecto, não sei até que ponto se deve imputar responsabilidades ao número Dez.
David Luiz em noite inspirada mostrou-se intransponível, enquanto Nuno Gomes dava lição de bom futebol e inteligência. O golo dos italianos mexeu com o Benfica, o “maestro” começou a pegar no jogo e, progressivamente, foi aumentando a sua “presença” no jogo, muito por culpa da qualidade dos seus jogadores. Maxi, com um golo espectacular, conseguiu um golo quando o Benfica ainda não se tinha conseguido aproximar da área adversária com perigo. Mais tarde, e já no melhor período do clube da Luz, não foi capaz de corresponder da melhor forma a uma assistência de Nuno Gomes. No período final da primeira parte, o Benfica assumiu alguma superioridade face a uma passividade do Milan.

No segundo tempo, o Milan regressou uns anos atrás no tempo, e deu o jogo por completo ao Benfica. A equipa portuguesa, de forma intensa, mas desorganizada, aproveitou esse recuo da equipa italiana, e por momentos chegou-se a vislumbrar um triunfo das águias. Com jogadores como Rodriguez, Nuno Gomes, - Camacho voltou a ser ambicioso ao substituir o capitão por Cardozo – Costa, Katsouranis, Leo, Di Maria, e a inspiração de Maxi, os italianos passaram um mau bocado. Mas safaram-se. Jogaram à bola, fizeram um golo, e fecharam para férias. Da parte do Benfica fica a sensação de que, com um treinador diferente, teriam equipa para fazer figura na Europa. Talvez o plantel seja um pouco desequilibrado, principalmente na defesa (Luís Filipe e Luisão, estes dois como primeiras escolhas deixam algo a desejar), mas de resto um plantel que concentra gente como Costa, Assis, Di Maria, Rodriguez, Gomes, Cardozo, Katsouranis, etc., tem que ter aspirações maiores do que lutar por um lugar na UEFA.

Liedson: um estudo

Antes de mais, dizer que esta foi das melhores exibições de Liedson a que assisti esta temporada. O jogo é o Manchester United - Sporting. Em baixo, cada lance em que Liedson interveio:

4 minutos: Má movimentação. (Izmailov dribla e desembaraça-se de dois adversários, fugindo pela linha. Liedson, em vez de se dirigir para a área, foge para a linha, obrigando Izmailov a endereçar-lhe a bola. O cruzamento sai mal.)

6 minutos: Perda de bola. (Recebe e tem possibilidade de jogar de primeira. Prefere permanecer com a bola, sendo desarmado.)

7 minutos: Má movimentação. (Novamente pela esquerda, impede que Izmailov progrida com a bola dominada, fugindo pela linha à sua frente em vez de ir para a área.)

10 minutos: Boa recepção e boa opção ao passar curto para Romagnoli.

11 minutos: Boa pressão ao portador da bola. (Vidic tenta sair com a bola controlada e Liedson quase que a recupera, estorvando o defesa do Manchester.)

12 minutos: Boa recepção e bom passe, uma vez mais para Romagnoli.

16 minutos: Má movimentação e perda de bola. (A bola aproxima-se da linha lateral. Izmailov corre para a tentar alcançar antes que saia, conseguindo dar um toque ao longo da linha. Liedson fica parado a ver o colega esforçar-se, não percebendo que a única forma de a equipa preservar a posse de bola era adivinhar que Izmailov só conseguiria enviar a bola naquela sentido. Falta de inteligência clara.)

17 minutos: Má opção. (Passe de Izmailov para Liedson que, à entrada da área, com colegas bem melhor posicionados e com dois adversários a menos de um metro, tenta o remate. A bola bate no primeiro, volta a Liedson, que remata novamente, em desequilíbrio. A bola bate novamente no opositor e sai pela linha de fundo.)

18 minutos: Perda de bola. (Romagnoli, à entrada da área, pelo lado direito, dá a bola em Liedson e desmarca-se. Liedson não respeita a tabela óbvia, entra em dribles e perde a bola. Como agravante, o Manchester cria um contra-ataque perigosíssimo.)

23 minutos: Perda de bola. (Passe vertical de Veloso, a dez metros. Liedson fica parado e Rio Ferdinand ganha a bola em antecipação.)

24 minutos: Falta. (Pé em riste sobre Rio Ferdinand.)

26 minutos: Golo anulado. (Parado no coração da área, desvia o primeiro remate e a bola acaba dentro da baliza do Manchester. O golo é anulado, mas ficam dúvidas quanto à posição de Liedson. De salientar que não há mérito nenhum de Liedson em estar posicionado regularmente, caso esteja, pois não se preocupa minimamente em está-lo.)

29 minutos: Cabeceamento. (Canto do lado direito e Liedson aparece ao segundo poste, cabeceando com oposição, sem força. A bola fica a pingar na pequena área e é afastada pela defesa.)

30 minutos: Má movimentação e perda de bola. (Novamente do lado esquerdo, quando Izmailov tem espaço para progredir pela linha, Liedson foge-lhe à frente, obrigando-o a meter-lhe a bola. Sem olhar, de pé esquerdo, cruza mal e para ninguém.)

40 minutos: Bola dividida. (Perde lance de cabeça.)

42 minutos: Bola dividida. (Perde lance de cabeça para Vidic.)

43 minutos: Boa opção. (Sozinho, ganha de cabeça para um colega.)

43 minutos: Má opção. (Recebe a bola pressionado e tira o adversário do caminho com a rotação. Depois, com melhores opções de passe, opta por um passe arriscado para Izmailov, a 20 metros, que o russo resolve apenas em esforço e atrasando a bola.)

44 minutos: Perda de bola. (Apertado por três adversários, recebe um passe vertical e, podendo jogar de primeira, opta por receber e tentar virar-se. Acaba desarmado.)

45 minutos: Mau posicionamento. (Vem até a 10 metros da linha de grande área, acompanhando o ataque do Manchester. Tendo Ronaldo pela frente, dá-lhe o lado de dentro quando é óbvio que se deve dar sempre a linha.)

46 minutos: Perda de bola. (Moutinho recupera a bola à saída da área e dá-a a Liedson. Pode devolver a Moutinho e lançar o contra-ataque rapidamente, mas prefere conservar a bola e voltar atrás. Entrega depois mal a bola a Had, que acaba por recorrer à falta numa zona perigosa, vendo o cartão amarelo.)

48 minutos: Lance de perigo. (Os dois centrais do Manchester saltam à mesma bola e falham. Esta passa para Liedson, que faz uma meia-lua ao defesa que vem fazer a dobra, mas a bola sai demasiado comprida e o guarda-redes apanha-a.

51 minutos: Má recepção. (Purovic ganha de cabeça e a bola sobra para Liedson. Este, apertado, não consegue uma boa recepção, mas a bola acaba na posse de João Moutinho.)

52 minutos: Boa opção. (Recebe de Izmailov e dá de primeira para Romagnoli.)

54 minutos: Boa opção. (Dá de primeira para Romagnoli.)

54 minutos: Perda de bola. (Tenta passar por Evra e este desarma-o.)

57 minutos: Perda de bola. (Tenta passar por Evra novamente e este corta para fora.)

62 minutos: Perda de bola. (Passe simples e Liedson falha uma recepção fácil, deixando a bola escapar por baixo do pé.)

65 minutos: Perda de bola. (À entrada da área, recebe uma bola, vira-se e, com três opções de passe fáceis e dois adversários em cima, opta pelo remate. A bola bate nos defesas e isola Purovic, que estava em posição irregular.)

69 minutos: Boa opção. (Bola pelo ar, difícil, que Liedson dá de primeira para Izmailov. Este devolve-a também de primeira e Liedson ganha a falta mais à frente.

86 minutos: Boa opção. (Dá de primeira para trás, estando pressionado.)

86 minutos: Boa entrega. (Ganha um ressalto e a bola acaba por sobrar para Pereirinha, que vai cruzar para Liedson que, entretanto, apertado, não consegue dar sequência ao lance.)

89 minutos: Fora-de-jogo.

89 minutos: Falta sobre Vidic.

91 minutos: Falta. (De uma falta perfeitamente desnecessária, nasce o segundo golo do Manchester.)

92 minutos: Perda de bola. (Não recebe uma bola fácil.)

Coloquei em negrito as coisas boas que o avançado do Sporting fez, para melhor se perceberem. Vamos aos resultados:

1) 36 acções durante 90 minutos; 11 boas açções; 30% de acções positivas.
2) Em 25 lances com a bola nos pés e com condições para fazer algo (exclui-se portanto os lances de finalização na área ou as disputas de cabeça, ou os foras-de-jogo, ou as faltas, ou os lances em que procura recuperar a bola), teve 8 boas opções contra 17 más opções; 32% de boas opções.
3) Destas 17 más opções, resultaram 12 perdas de bola.
4) Foi apanhado 2 vezes em fora-de-jogo.
5) Fez 3 faltas, todas elas desnecessárias. A última delas deu origem ao livre do golo de Cristiano Ronaldo.
6) Há quem diga que Liedson se destaca pelo esforço defensivo e pelas bolas que recupera ou pelos ataques que trava, mas ganhou apenas 1 bola por força das suas acções defensivas.
7) Provocou um livre perigoso junto à sua grande área, bem como um cartão amarelo para um colega, após um disparate e um mau passe.
8) Repetiu movimentações erradas ao descair para a linha, não procurando zonas centrais ao perceber que os colegas tinham possibilidades de ir à linha de fundo cruzar.
9) Nenhum golo marcado; nenhuma assistência; nenhum acção ofensiva digna de nota, além do lance do golo anulado.

Notas finais: Para melhor se perceberem as acções de Liedson, um só jogo não será, certamente, o suficiente. Não deixa, contudo, de ser extremamente ilustrativo o que este estudo acaba por demonstrar: só numa em cada três bolas é que Liedson esteve bem. E é minha intuição que este foi dos melhores jogos do "Levezinho". Números tão baixos como estes, na equipa do Sporting esta noite, só talvez Purovic. Por norma, não há números tão baixos. Nem Djaló. Se isto não é sinal de que o avançado brasileiro tem poucas coisas boas além dos golos que, só de vez em quando marca, não sei o que será. E, na minha opinião, os golos que marca não são compensação suficiente para o mau futebol que pratica.

P.S. Talvez se repita este estudo, contra equipas diferentes, de forma a ser possível comparar resultados e chegar a conclusões mais correctas.

Outras coisas sobre este jogo:

1) Ficou por mostrar um vermelho a O'Shea.
2) Excelente exibição de Rui Patrício.
3) Anderson, naquela posição, é banal.
4) Uma equipa grande como o Manchester muda de sistema táctico como quem muda de roupa interior? Boa, Ferguson.
5) Mau carácter do árbitro ao achar que Moutinho, depois de violentamente ceifado, estava a fazer fita. Saha, porém, precisava urgentemente de assistência. Porquê? Porque foi na cabeça ou porque tem um salário maior?
6) António Tadeia continua a achar que o problema do Sporting é falta de concentração nos últimos minutos. Já era tempo de perceber que não foi isso que aconteceu frente à Roma e que hoje não foi, de certeza, isso que aconteceu.

sábado, 24 de novembro de 2007

25 Curtas da Semana

Selecção Sub-21

1. A selecção empatou com a congénere inglesa. O futebol medíocre da equipa de Rui Caçador dá que pensar. Continuam a existir opções incompreensíveis, como os dois centrais. Aquilo não é nada.

2. A Pelé, o Entre Dez promete para breve um texto a explicar o que é um passe.

3. Paulo Machado - é legítimo dizê-lo - não tem qualidade para mais do que um Leixões; Vieirinha, talvez, mas jamais para um grande.

4. Targino faz lembrar o diabo da Tazmania: mexe-se para todos os lados, vai a todas, rodopia sobre si próprio, é trapalhão; só não é jogador de futebol.

5. Celestino deveria ter mais oportunidades porque tem algo que nem Paulo Machado nem Pelé têm: pode-se chamar-lhe "escola".

6. Pereirinha jogou dez minutos, mas foi, de longe, o melhor em campo: durante esse tempo, a selecção jogou finalmente futebol, e muito graças à inteligência dele; é impressionante como toma sempre a melhor opção.

7. É inacreditável que um jogador da qualidade de Saleiro tenha sido chamado pela primeira vez a esta selecção apenas agora. Anda tudo a dormir, só pode.

8. Nesta selecção, quem bate os livres é o tipo que pedinchar mais. Até o cepo do central Nuno André Coelho bate mais bolas do que Moutinho ou Antunes: ridículo!

9. Repito: onde andam Rui Patrício, André Nogueira, Tiago Pinto, Daniel Carriço, Bura, Rui Gomes, Ivan Santos, Hélder Barbosa e Diogo Tavares? Não contem a ninguém, mas também ajudava que os treinadores das selecções jovens não fossem fantoches de empresários...

10. Quanto aos comentários de Luís Freitas Lobo, é digno de nota não ter percebido que, desta vez, Pelé não jogou sozinho como médio-defensivo, mas que jogou ao lado de Paulo Machado, ficando apenas Moutinho mais à frente. Também é de enaltecer os brilhantes elogios que dedicou a João Moreira, classificando-o como um jogador - e cito - de "contenção".

Selecção A

11. Acabou-se o apuramento. Scolari terá dito: "Foda-se! Que alívio!"

12. Três médios-defensivos? Quando vi que Portugal ia jogar com Meira, Veloso e Maniche, pensei: "Ia jurar que hoje o jogo era contra a Finlândia". Jogar assim é uma asneira de todo o tamanho. Primeiro, é confiar que os três tipos da frente vão resolver individualmente o desafio. Segundo, é revelar medo aos seus jogadores e encorajar o adversário. Terceiro, é gozar com quem pagou bilhete para ir ver um espectáculo e ignorar que o factor mais importante do futebol, ao contrário do que se pensa, não são os resultados desse espectáculo mas a qualidade do mesmo.

13. Desta vez, nem sequer disfarçou: para Scolari, o seu orgulho foi sempre mais importante que a selecção portuguesa. Tinha dito, antes de começar este apuramento, que só precisava de 28 pontos e que, fora de casa, lhe bastava empatar os jogos. Foi criticado por não ser ambicioso e por fazer contas prematuras. Vendo-se capaz de provar a todos os seus delatores que tinha razão, que afinal até se conseguia apurar com 27 pontos, preferiu empatar o jogo, com todos os riscos que isso trazia, a vencê-lo tranquilamente. Na minha opinião, fê-lo, em primeiro lugar, porque é conservador, mas também porque não queria perder a oportunidade de mostrar que tinha razão. Quando Scolari coloca o amor-próprio à frente do profissionalismo, não pode querer que lhe admirem as competências.

14. Diz-se isto e aquilo sobre esta selecção: quem acha que Scolari tem feito um bom trabalho, defende-se com os resultados e com argumentos como o facto de Portugal não ter uma selecção assim tão boa; quem acha que ele tem feito um mau trabalho, considera que Portugal tem selecção para fazer mais do que fez. Só quero dizer que, não tendo um super-selecção, não se pode negar que, entre Portugal e Polónia/Sérvia/Finlândia, há um fosso descomunal. Scolari não tem a melhor selecção do mundo e não tem por isso que ganhar tudo. Mas, com o material humano ao seu dispor, teria de fazer muito, muito mais.

15. Há quem comece já a dizer, para calar os críticos de Scolari, que a selecção pós-Scolari será pautada pelo fracasso. Como resposta a isto, tenho a dizer o seguinte: se colocarem no lugar dele uma pessoa competente, só por milagre é que a selecção descerá mais baixo do que aquilo em que se encontra agora.

16. Os melhores do jogo frente à Finlândia foram Pepe, Bosingwa e Nuno Gomes. O primeiro esteve concentradíssimo e ganhou, por isso, inúmeras bolas em antecipação. Bosingwa andou sempre endiabrado e teve arrancadas estonteantes, quase sempre concluídas com a melhor opção. Nuno Gomes, embora desapoiado e, por ter tido poucas bolas, discreto, teve sempre a melhor opção. Tabelou sempre bem com os colegas, apareceu sempre bem em zonas de finalização, prendeu sempre os centrais adversários. Quaresma, a espaços, também esteve a um bom nível. Nota negativa para Cristiano Ronaldo, uma vez mais: não se lhe pedem sempre jogos geniais, mas, se é dos melhores do mundo, tem que dar muito mais à selecção do que uma ou duas arrancadas fulgurantes por jogo.

Super Liga

17. Quem é que deixou entrar no recinto de jogo o tipo que se fez passar por guarda-redes da Académica? Que anedota!

18. Gosto da mentalidade de Camacho. Contra a Académica, começa com dois médios defensivos e, mesmo a precisar de marcar para ganhar o jogo, não abdica de nenhum deles. Quem ganha um jogo como ele ganhou, sem ter feito nada para o ganhar, nem que fosse apenas teoricamente, não merece que o aplaudam. Tem tido sorte, muita sorte, o espanhol, desde que chegou a Portugal.

19. Contra um grande, deixar Hélder Barbosa no banco é indecente. É verdade que o Benfica não fez nada para vencer, mas a derrota acaba por assentar bem a quem não quis aproveitar o talento deste miúdo.

20. O Porto fez, talvez, a melhor exibição da época, frente a um Setúbal sem ideias. Nota de destaque para Carlos Carvalhal, ainda assim, com um início de época notável, mesmo com um plantel para ambições curtas.

21. Quaresma voltou às grandes noites. Coitado do Adalto!

22. Lisandro não pára.

23. Jesualdo, se ficar sem dois ou três titulares ao mesmo tempo, telefona a Mourinho a perguntar o que fazer? Aquelas duas substituições no momento imediatamente a seguir ao segundo golo, quando o jogo já estava ganho, revelam sobretudo que confia apenas em onze ou doze jogadores. Sem esses, dá ideia que não sabe muito bem o que fazer.

24. Liedson perdeu 15 bolas durante todo o encontro frente ao Leixões. Não interessa: marcou um golo e evitou a derrota. Ah, não! Foi o Purovic? Então o que é que o Liedson fez de bom? Hmmm... Aconselhou um restaurante à beira-mar onde se come marisco do bom? Também não? Ah, já sei! Evitou que Abel ficasse isolado perante o guarda-redes do Leixões, intervindo na jogada quando estava claramente fora-de-jogo? Não? Isso não é bom? Hmmm... Então se calhar foi mais uma vez um jogador a menos, não? Pois, talvez tenha sido...

25. Em Portugal, é moda ter um Mateus no plantel?

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Certezas (8)

Durante o último Benfica – Sporting, em júniores, o destaque não vai para as movimentações poderosas e constantes de Paez na área encarnada; tão pouco vai para o ar de veterano que Adrien deixa “escapar”. Então? - perguntam vocês. Vai para a fantasia do Carvalhas? A inteligência e elegância do Miguel Rosa? Não. E também não vos vou falar de nenhum jogador africano ou asiático. Falo-vos de um jogador que surgiu a escassos 15/20 minutos do apito final. A sua elegância e classe vislumbram-se de imediato. Apesar de alto, a agilidade que demonstra com a bola colada ao seu pé esquerdo não engana. Com uma condução do esférico segura, é com naturalidade que consegue ultrapassar os seus adversários, assim como assegura um passe, seja ele curto ou longo, pelo chão ou pelo ar, seja no pé do colega, seja a rasgar. E, nestes momentos, por muito que não queiramos cometer o erro de entrar em comparações, o que não é o caso, é quase impossível não nos lembrarmos de jogadores como Viana, ou até Barbosa, em alguns momentos.
Isto tudo se torna secundário perante a maneira como define cada jogada, como lê o jogo de uma forma quase perfeita. E como se todos estes atributos não fossem suficientes para se perceber de imediato a qualidade deste jogador, é ainda detentor de um remate fácil, colocado e forte. Não sei o que o futuro reserva a esta jovem, e precoce, promessa, mas, perante esta panóplia de virtudes, cheira-me que este Diogo Rosado vai longe...

Dependência...

Se vos pedir que pensem em futebol de qualidade, bem jogado, e nos seus intérpretes, na nossa cabeça surgirão, instantaneamente, nomes como Messi, Ronaldinho, Káká, Cristiano Ronaldo, Quaresma, etc. E é o factor desequilíbrio que une todos estes nomes. A capacidade de improviso, a magia, a criatividade, características que os distinguem dos demais. Todavia, os demais são parte fundamental na proliferação destes jogadores.
Os desequilíbrios terão de partir sempre dos equilíbrios. Assim, e só assim, se conseguem obter (bons) resultados. Se não, os desequilíbrios deixam de o ser para se tornarem apenas... Caos.

Um modelo de jogo bem estruturado, com transições bem definidas, posicionamento colectivo correcto e interiorização da filosofia de jogo pretendida: isto será sempre o ponto de partida para se alcançar os equilíbrios necessários, para a partir deste ponto se procurarem os desequilíbrios. E, à partida, pode-se cometer o erro de pensar que, nos desequilíbrios, a percentagem individual é superior à dos equilíbrios. Nada mais errado.
Toda a estrutura, por mais bem estruturada que esteja, se não estiver suportada por jogadores cujas virtudes sejam sobretudo de natureza colectiva, que se distingam pela forma como equilibram a equipa, será sempre instável. Isto, por si só, não vos oferece nada de novo. O que aqui se procura denunciar é a injustiça que este tipo de jogadores sofre.

Jogadores que se distinguem pela sua capacidade de acelerar o jogo, pelo seu drible, pelo último passe, remate, beneficiam da maior visibilidade que as suas características exibem. Vejamos: se a um jogador com este tipo de características for concedido 15/20 minutos num jogo, mais facilmente conseguirá notoriedade que um jogador que se distinga pelos equilíbrios que oferece à equipa, pois os segundos não precisam de ser exuberantes para serem bons, para concederem à equipa as suas qualidades.
Por outro lado, não raras vezes é lembrada a necessidade de existir uma boa organização e disciplina colectiva para o talento e criatividade se manifestarem. Correcto, todavia, se para um jogador que se distingue pela imprevisibilidade e pelo cunho individual das suas acções é necessário que existam rotinas e uma estrutura sólida na equipa onde está inserido, como será com um jogador que se “destaca” pela harmonia e fluidez que confere ao jogo da sua equipa? Se não existe uma filosofia, uma directriz segundo a qual ele possa emprestar todo o seu poder de organização e equilíbrio? Seria tão incorrecto como exigir a um professor competência sem lhe entregarem o plano para o ano lectivo que este leccionasse.
Estes são, na minha opinião, os que mais sofrem com a falta de organização e sincronismos de uma equipa, pois é o próprio colectivo a renegar as características e idiossincrasias destes jogadores. Jogadores como Custódio, Farnerud, Medina, Mikel, não precisam de ser exuberantes para serem bons, precisam apenas de encontrar organização para poderem proporcionar um brilho mais intenso àqueles que pretendem revolucionar o mundo com o seu génio.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O melhor campeonato do mundo

Tem sido dito, e é quase unânime, entre as vozes da opinião pública, que o melhor campeonato do mundo é o inglês. Devo dizer que discordo inteiramente e passo a explicar por que razões.

Em primeiro lugar, há que definir o que deve ter um campeonato para ser considerado o melhor ou, por outras palavras, é fulcral perceber o que significa "melhor". Melhor é aquele em que há mais competitividade? Não creio. Ou, pelo menos, isso não é suficiente. A competitividade tanto pode significar muitas equipas a jogar bem como muitas equipas a jogar mal. O futebol africano é competitivo, mas nem por isso é bom. O futebol italiano é competitivo, mas apenas porque a cultura táctica em terras transalpinas assim o obriga. O futebol italiano é competitivo porque as equipas defendem todas como se não houvesse amanhã. Num futebol no qual a palavra de ordem é defender, não admira que não haja resultados dilatados. Mas isso não significa que as equipas estejam a um mesmo nível. A competitividade em Itália é, digamos, apenas aparente. E o futebol inglês, não é competitivo? Sim, mas por questões semelhantes. A competitividade em Inglaterra resulta essencialmente dos princípios de jogo que se aplicam no país de Sua Majestade. Está enraízado no futebol inglês um estilo directo, de entrega a cem por cento, um futebol rápido, que não se dá ao luxo de perder tempo a pensar. O futebol em Inglaterra é "sempre para a frente". Perante este hábito, todas as equipas encaram o jogo para o ganhar e jogam essencialmente ao ataque. Resulta daqui um futebol emocionante, com muitas oportunidades de golo, que provoca todo o tipo de sensações. É competitivo porque nunca se vira a cara à luta; é competitivo porque os mais pequenos encaram o jogo da mesma forma que os grandes. Mas isso não significa que não seja uma atitude ingénua. E ainda significa menos que seja um futebol bem jogado. Ora, se a competitividade não pode ser o critério usado para descobrir qual o melhor campeonato, que critério será esse? Melhor é aquele em que o futebol é mais agradável? Se sim, é preciso definir o que significa "agradável". Acredito que haja quem se delicie com o futebol brasileiro, no qual quase todos os jogadores têm uma finta personalizada e no qual as acções individuais constituem grande parte dos motivos de interesse. Mas isso não significa que o jogo seja bem jogado. Por agradável entendo bem jogado. Assim, o campeonato melhor deve ser aquele em que o futebol é mais bem jogado. E o que significa ser bem jogado?

O futebol é um jogo colectivo. Durante muito tempo, esta noção viciou as ideias de treinadores, jogadores, comentadores, críticos, etc. Que o futebol é um jogo colectivo, já todos sabemos. O que muito pouca gente sabe é em que medida o futebol é um jogo colectivo. Por colectivo entendeu-se sempre que cada jogador deveria ajudar o conjunto de acordo com as suas características específicas. Por outras palavras, o conjunto deveria ter os altos e fortes na defesa, para cortar os lances adversários, os aguerridos no meio-campo defensivo, para recuperar bolas, os cerebrais no meio-campo ofensivo, para distribuir jogo, os tecnicistas nas alas, para desequilibrarem individualmente, etc. Nada mais errado. Isto não é colectivo. Isto são onze individualidades com a missão de ajudarem uma coisa abstracta chamada "colectivo". Só é possível jogar verdadeiramente em colectivo quando não se achar que os passes decisivos devem estar a cargo dos médios-ofensivos, ou quando não se achar que as idas à linha devem acontecer após o ala se desembaraçar individualmente do seu opositor. Jogar colectivamente implica predispor os jogadores para terem todas as funções que os outros têm. Ou seja, só há colectivo quando a incumbência de marcar golos é tanto do central como do avançado; só há colectivo quando a incumbência de distribuir jogo é tanto do médio-defensivo como do médio-ofensivo. As características dos jogadores não devem servir para que este desempenhe um papel individual dentro de um colectivo; as características de um jogador devem servir para que ele desempenhe um papel colectivo. Por jogar bem entendo jogar colectivamente, neste sentido específico. Como tal, o melhor campeonato será aquele em que isto aconteça com mais frequência. E que campeonato é esse então?

Acredito que seja unânime a opinião de que os três melhores campeonatos do mundo são o italiano, o espanhol e o inglês. Isto porque os melhores atletas se encontram distribuídos por estes campeonatos. Como é óbvio, o melhor campeonato do mundo terá de ser sempre um destes três. Em qual destes três, então, se joga melhor futebol, no sentido em que referi? Ou seja, qual é, destes, o campeonato em que se joga mais em colectivo? A resposta é simples: no espanhol. Em Inglaterra, pelo estilo do futebol, o jogo assenta essencialmente numa base individual. O futebol é de pontapé para a frente e aqueles que tiverem melhores intérpretes na frente são os que ganham mais bolas, os que conservam melhor a posse de bola, os que concretizam mais. Em Inglaterra, o futebol pode ser mais emocionante e mais competitivo que noutro lado qualquer, mas não é mais colectivo. E, como não é mais colectivo, é mais ingénuo, está mais sujeito à acção da sorte e à inspiração das individualidades. Embora o mais competitivo, não é o mais bem jogado. Em Itália, passa-se algo idêntico. As equipas privilegiam uma defesa sólida e um estilo directo. Assim, confiam a sorte à organização defensiva, que tanto pode ser conseguida através da presença das melhores unidades para essas posições como pode ser fruto de uma arrumação colectiva, e à inspiração dos avançados, que devem aproveitar o melhor possível as bolas que lhes chegam. Em Itália, joga-se em dois blocos, o defensivo e o ofensivo. Uns têm missão de defender, outros de atacar. Isto não é jogar colectivamente. Se é verdade que as equipas defendem muito, não é menos verdade que não o fazem em colectivo. São recrutados alguns jogadores para essas funções e esses jogadores, nunca os onze, devem defender para que os restantes possam atacar. Esta é a filosofia de jogo italiana: uma equipa partida em duas. Ora bem, resta a Espanha. Sem a pressão da tradição, como acontece em Inglaterra ou em Itália, o futebol espanhol é mais livre. Não está preso a um estilo obsoleto de futebol rápido, impensado, que assenta na força e na vontade de ganhar, como em Inglaterra. Também não está preso à obsessão italiana de defender para depois poder atacar. O futebol espanhol, de uma maneira geral, é hoje em dia o mais moderno. E, como tal, é aquele em que se joga mais em colectivo, no sentido que defini. Não é preciso, sequer, recorrer ao Ranking da UEFA para atestar esta certeza. As equipas espanholas comandam o futebol europeu, mas nem sequer é isso que faz do campeonato espanhol o melhor do mundo. Enquanto que no campeonato inglês ou italiano há, talvez, uma maior aproximação das equipas pequenas às grandes, essa aproximação não acontece por essas ditas equipas pequenas terem crescido. Isso acontece porque o estilo de futebol nesses dois países assim o permite. Em Espanha, talvez não haja tanta competitividade. Não há, também, a emoção perante a incerteza do resultado que há em Inglaterra. Mas, a nível europeu, as mesmas equipas que conseguem bater-se de igual para igual com os grandes em Inglaterra e em Itália não conseguem bons resultados. Em Itália, há muito tempo que não se houve falar de êxitos de outras equipas que não o Milan, o Inter, a Juventus e a Roma. Em Inglaterra, além de Manchester United, Liverpool, Arsenal e Chelsea, pouca coisa têm feito os outros. Em Espanha, para além de Barcelona, Real Madrid e Valência, temos outras equipas a dar cartas na Europa nos últimos anos: o Villareal, no ano em que encontrou o Benfica nos grupos, chegou às meias-finais da prova; no ano anterior, o mesmo Villareal tinha ficado nas meias-finais da UEFA; o Sevilha ganhou as duas últimas edições da UEFA; o Espanhol, o ano passado, foi até à final; o Deportivo da Corunha, embora desaparecido nos últimos anos, andou durante várias épocas entre os melhores da Europa. Não me lembro de equipas de segundo plano em Itália fazerem coisas destas desde os tempos áureos do Parma, ou da Fiorentina de Rui Costa e Batistuta, ou da Lázio na altura em que lá jogava o Sérgio Conceição. Não me lembro de equipas inglesas de segundo plano terem boas campanhas europeias desde o Leeds de David O'Leary. É por tudo isto que o campeonato espanhol é, no meu entender, o melhor do mundo, isto é, aquele em que se joga melhor futebol e aquele que produz um maior número de equipas capazes de atingir grandes feitos a nível europeu.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Luis Sobral (4)

Pois é, o ilustre Luis Sobral foi promovido a crónica. Mas não é caso para espanto... Sobre a situação actual do Sporting, muito se tem dito. O desaire em Braga aconteceu após um óptimo jogo diante da Roma, mas tem sido dito que as coisas vão muito mal no reino do Leão. Neste artigo, Sobral também o faz. Diz o seguinte:

"Paulo Bento colocou a questão no plano da atitude, ao dizer que não tinham feito por merecer a camisola do clube."

Paulo Bento não falou em atitude. Por se dizer que os jogadores não fizeram um bom jogo, não quer dizer que não tenham suado. Disse Paulo Bento que a equipa, em certos momentos, jogou devagar. Isto não significa que não tenha tido atitude. Significa apenas que não jogou a um ritmo adequado. Aliás, os primeiros minutos da segunda parte são de grande qualidade.

Continua Sobral, dizendo:

"Com Paulo Bento, o Sporting passou a guardar melhor a sua baliza. Um jogo mais sólido, um caminho menos directo para o golo, mas suficientemente eficaz."

O futebol do Sporting do Peseiro era mais directo?? Em que dicionário é que o senhor Sobral aprendeu o significado da palavra "directo"?

Continua Sobral:

"Em minha opinião, mais do que erros pontuais, estes golos resultam da má colocação do meio-campo. Nessa zona não existe um jogador em boa forma."

Esquisito. Ia jurar que a única coisa que não está mal no Sporting era o meio-campo. Mas se calhar estou enganado.

Mas antes diz isto:

"Esta época, o Sporting raramente joga o que se espera e defende mal, somando erros."

Pois, deve ser o meio-campo que está a defender mal e a somar erros. Era trocá-los todos, esses incompetentes...

Mas Sobral diz mais:

"Miguel Veloso tem sido a referência, mas atravessa uma fase em que parece jogar mais para ele do que a equipa. Cai pouco nas alas, não é tão firme a desarmar e marca o adversário sem rigor."

Ponto prévio: Miguel Veloso, a nível defensivo, está menos rigoroso, sem dúvida. Mas não é por cair poucos nas alas, ou por não ser tão firme a desarmar ou a marcar o adversário. Veloso, sobretudo em lances rápidos, perde um pouco a noção da sua posição, encostando-se em demasia aos centrais e não ocupando a zona à frente deles. Isto, repito, só acontece em lances em que a equipa adversária ataca rápido, como o lance do primeiro golo da Roma em Alvalade. De resto, a nível posicional, tem estado impecável. Não cai nas alas? Nem tem que o fazer. Daria o mesmo resultado que recuar para junto dos centrais. Pressupor que um médio-defensivo tem de cair nas alas é uma admirável forma de dizer ao mundo que não se é muito sabido. Não é firme a desarmar? Como assim? Firme como o Binya? Há firmeza, há, senhor Sobral. Quando não se sabe muito bem o que dizer para se argumentar uma intuição inventam-se coisas? Isso sim, é de quem percebe. Marca o adversário sem rigor? Mas quem é que lhe disse a si que o Miguel Veloso tem de marcar alguém? Pressupor que um médio-defensivo tem de marcar um adversário já não é só não ser muito sabido; é imaginar que não há uma coisa chamada "marcação à zona". Tenho uma novidade para si, senhor Sobral: o que os seus pais lhe disseram que não existia não era a "marcação à zona"; o que não existe é o Pai Natal.

Diz mais ainda, Luis Sobral:

"Ao lado, João Moutiho mantém a alma de outros dias. Mas só isso."

Ficamos a saber que João Moutinho ainda é João Moutinho. Estava convencidíssimo de que João Moutinho tinha agora a alma de Yannick Djaló. João Moutinho tem sido vítima não da descoordenação geral da equipa, não do desnorte colectivo, mas de uma alteração estratégica que Paulo Bento pareceu querer incutir à sua equipa este ano. A principal diferença do Sporting deste ano é a maior amplitude do losango quando a equipa tem a bola. Os interiores abrem muito e as transições têm de ser necessariamente menos curtas. A ideia é possibilitar um futebol mais objectivo, no qual os médios interiores têm um papel sem bola muito mais relevante do que aquele que tinham. As suas movimentações, contudo, são muito mais para criar espaços e provocar desequilíbrios do que para receber a bola. Logo, estes jogadores, principalmente, estão mais tempo sem a bola no pé. Resulta de tudo isto um futebol menos envolvente, menos curto, com transições mais rápidas e, não raro, predefinidas. Neste cenário, Moutinho toca menos vezes na bola e tem um papel mais discreto, mas igualmente preponderante, na equipa.

Continua Sobral:

"Izmailov simplesmente não percebeu a forma de jogar da equipa e Romagnoli tem sido de menos como «10», perdendo muitas vezes a bola e com isso desequilibrando a equipa."

Izmailov não percebeu a forma de jogar? É por isso que tem sido dos melhores em campo? Romagnoli perde muitas vezes a bola? Quando? Ao intervalo, nos balneários? E, ao perder a bola, desequilibra a equipa? Mas além de perder a bola imaginariamente, também a perde imaginariamente em zonas comprometedoras? É que perder a bola só desequilibra a equipa em zonas recuadas ou quando a equipa parte para um ataque rápido. E em nenhuma destas situações Romagnoli perde bolas. E o que significa "ter sido de menos como «10»? Não entendi estas duas opções do senhor Sobral. Quer dizer, até entendi. Precisava de dizer que os quatro do meio-campo não estavam bem e toca à dizer mal deles todos, inventando coisas.

E continua Sobral:

"Os dois golos sofridos frente à Roma são um bom exemplo de má colocação, com o meio-campo a defender demasiado atrás, concedendo espaço para remates de longe."

Não, não são. O primeiro golo resulta daquilo que disse do Miguel Veloso. Num lance rápido pela esquerda do ataque da Roma, recuou para junto de Polga. Cassetti, ao tirar do caminho Tonel, não encontrou oposição na zona de Veloso, precisamente porque ele tinha recuado indevidamente. Já o segundo golo não é nada. Pizarro remata a cerca de quarenta metros. Ninguém tem de sair a um remate a quarenta metros. Aconteceu que os italianos tiveram sorte. Só isso.

E, para acabar, Sobral, como qualquer tipo que acha que consegue mudar o mundo, tem sugestões:

"Por mim, a chave é amarrar Miguel Veloso, estabilizar Moutinho, escolher entre Izmailov e Romagnoli e utilizar mais um médio de trabalho. E depois esperar que Liedson resolva. Até que a confiança regresse."

Se Sobral fosse médico, estaria certamente a soldo dos alemães para receitar cianeto a judeus. 1) Amarrar Veloso? O que significa amarrar? Há pouco, o senhor Sobral disse que ele deveria cair mais nas alas e agora é preciso amarrá-lo? Não entendo. 2) Estabilizar Moutinho? O que significa estabilizar? Amarrar? E os outros nove, será que também devemos amarrá-los? Amarravam-se todos uns aos outros e punham-se à frente da baliza? Também não entendo. 3) Escolher entre Izmailov e Romagnoli e utilizar mais um médio de trabalho? O senhor Sobral não acha que o problema do Sporting seja um problema de atitude, mas pretende resolvê-lo recorrendo a trabalho? Isto não é um bocado contraditório? E que médio de trabalho? Paredes mal se mexe; Farnerud não é um médio de trabalho; Vukcevic e Pereirinha muito menos. Será que está a pensar em Adrien? Ainda entendi menos esta. 4) Esperar que Liedson resolva? Como resolveu em Braga? Ou como resolveu no Dragão? Ou como resolveu na Luz? Sugerir que, numa equipa grande, se espere que o seu avançado resolva as coisas é parvo; sugerir que o faça, sendo esse avançado o Liedson, ainda é mais parvo; mas o mais parvo é conceber um tipo de futebol em que se espera que a sorte caia do céu ou que as individualidades façam o que o colectivo deve fazer. 5) Mas isto só até que a confiança regresse. Depois é voltar ao esquema habitual, porque já não é preciso que o Liedson resolva. Para o senhor Sobral, Liedson é como a Nossa Senhora de Fátima. É ter fé que vai ajudar, mesmo quando já se viu que não tem poder para o fazer. Aliás, quando estiver mal da ciática, vou a Alcochete pedir um milagre e saudinha ao Liedson.

Para finalizar, Sobral ainda tem um "post-scriptum" onde diz coisas acertadíssimas, mas das quais saliento esta:

"Talvez esta análise esteja errada."

Pois. Se calhar, está.

Diz depois:

"Como explicar que Paulo Bento, a perder por 1-0 em Braga, com 45 minutos pela frente, decida alterar o sistema que mais vezes utilizou, trocando-o por um improviso?"

Pois é. Isto é dificílimo de explicar. Será que teve vontade de ganhar? É capaz, até porque arriscou e tirou um defesa. Se calhar, queria ganhar, o sacana. Improviso? Um sistema que já utilizou várias vezes e que está treinado é um improviso? Será que Sobral aprendeu esta palavra no mesmo dicionário que a outra?

E completa, dizendo:

"A entrada de Had, depois do 3-0, foi uma confissão pública da má avaliação anterior."

Sim, foi. Aliás, o Had trazia uma camisola por baixo, escrita pelo Paulo Bento, a dizer "Não percebo nada de futebol!" Paulo Bento explicou por que é que voltou à estrutura de quatro defesas. Se o senhor Sobral decidiu ignorar isso para escrever um texto, não é só ser idiota; é querer sê-lo.

Também tenho direito a um P.S. com conteúdos parvos, por isso, aqui vai ele:

P.S. "Talvez esta análise esteja errada", mas quer-me parece que o senhor Luis Sobral não acabou o liceu.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Injustiça...

Do jogo Sporting-Roma sobra uma sensação de injustiça.
O Sporting tirando o primeiro quarto de hora, em que a Roma com um bloco subido causou problemas à equipa leonina, foi sempre superior à equipa italiana.
Durante esse período, os primeiros quinze minutos, a formação romana circulou melhor a bola, retirando com isso a posse da mesma ao opositor, criando alguns desequilíbrios. Alcançou o golo e ameaçou a área adversaria por mais uma ou duas vezes.E só.
Depois a equipa verde e branca assumiu o controlo do jogo embalando para uma exibição de qualidade. O domínio do Sporting foi avassalador, contundo, esse domínio apesar de se reflectir numa boa exibição não permitiu à formação leonina construir tantas jogadas de golo como seria de supor.

Muitos cairão na tentação de tornar a culpa ao facto de se ter defrontado uma equipa italiana, por tradição muito defensivas, consentindo esse domínio, às custas de um maior povoamento no primeiro terço do terreno. Nada mais errado. A Roma joga à bola, e precisa da posse da mesma para defender bem.
O mérito do Sporting começa neste ponto. Por conseguir se impor e mandar no jogo, perante uma equipa que o gosta de fazer. Graças aos seus principios de jogo, e à forma "autista" como encara cada jogo.

Da formação leonina critica-se o facto de não explorar as alas da melhor forma, muito por culpa do seu losango. O que é errado, senão, experimentem contar o sem número de situações em que concluem os seus ataques através de cruzamentos para a área adversária. E no jogo desta quarta-feira este facto voltou-se a constatar. Portanto, o mito de que só com extremos, é que se consegue flanquear o jogo está posto de lado. E nem será por aqui que reside o problema do Sporting. É no corredor central do seu ataque que o futebol do Sporting encontra a sua maior resistência. A qualidade das penetrações centrais fica seriamente comprometida sem Derlei, o único avançado com qualidade, e características, para permitir aos médios movimentos de ruptura na área adversária.
Mas não é aqui que se esgotam os problemas do Sporting. Tacticamente há uma questão que demora a ser sanada, e que tem causado dissabores à equipa de Paulo Bento. Geralmente comete-se o erro de associar esta questão a um erro táctico. Nada mais errado, é um erro sim, mas de casting.

Ao vértice mais avançado do losango não compete ficar estático, resumindo a sua movimentação à posição inicial. Antes pelo contrário, na posse do esférico Romagnoli tem de procurar as faixas laterais, os espaços entre os centrais e laterais, para assim conseguir os desequilíbrios na equipa adversária. Este factor vai proporcionar uma superioridade nas faixas laterais, mas um descongestionamento na zona central. Neste cenário é aqui que entram os avançados. Com a desmobilização desta zona, alcançada através movimentações do médio argentino, é importante que os homens da frente dêem linhas de passe, e apoios ao jogador que transporta a bola, esteja ele numa zona interior, ou exterior. E por este meio surgem muitos dos problemas da formação de Paulo Bento. Não tendo nenhum avançado capaz de segurar a bola, ou de incorporar de forma satisfatória nas transições ofensivas, - Liedson “apenas” se destaca na conclusão das mesmas graças ao faro pelo golo que demonstra. - a dinâmica de jogo, assim como a criação de situações de golo fica muitas vezes fragilizada. O colectivo vê-se amputado de duas unidades que, pela posição que ocupam no campo, deveriam ser determinantes no desenho das movimentações ofensivas.

No jogo para a Liga dos Campeões este facto é gritante. O Sporting cilindrou a Roma? Sim. Mas criou quantas oportunidades claras de golo? Alguma delas que não resultasse de um remate de fora da área? Ou de um cruzamento? Existiu alguma situação de rotura que permitisse a um jogador aparecer na cara do guarda-redes italiano? Não. Quase que o Vukcevic e Izmailov, repetiam a façanha concretizada contra o Vitória, mas de resto...

Se uma equipa não sofrer golos na sua pequena área, para além da organização defensiva da equipa teremos de reconhecer algum mérito à dupla de centrais. Então se uma equipa que até joga bem, mas não consegue criar situações de golo como as que eu enumerei anteriormente poderá dizer o quê?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

10 coisinhas que precisam de ser ditas

1. Será que os árbitros receiam que, ao expulsar Quaresma, Scolari lhes bata para proteger o "minino"?

2. O Braga demitiu Jorge Costa e ainda não contratou ninguém para o substituir. Será que estão a tentar convencer o Mourinho?

3. Pedro Proença voltou a assinalar um atraso de um defesa para o respectivo guarda-redes, desta feita depois de uma rosca do defesa. Parece-me que Proença inventou um mundo para si, em que qualquer bola que chegue ao guarda-redes vinda de um defesa é um passe. Se acreditar muito que o homem consegue voar, pode ser que se atire do Cristo-Rei sem se magoar muito.

4. Belleti marcou um golo banal, mas José Marinho chamou-lhe "assombroso". Assombrosa é a estupidez de quem acha isto. Antes de concluir o lance com uma "biqueirada", Belleti caminhou 60 metros com a bola, mas só passou por um adversário e em velocidade. Só no futebol inglês é que uma equipa pode ser ingénua ao ponto de conceder golos como este.

5. Por falar em golos, Liedson marcou um. Foi um bom remate, sim. Mas resulta de uma opção errada. Tirando esse lance, tem um pontapé de bicicleta e uma boa tabela com Moutinho. Mais nada. Rigorosamente mais nada. Em 90 minutos, teve 3 acções positivas. O resto foram más opções, bolas perdidas, maus movimentos, vários golos falhados, burrice em doses industriais. Luis Sobral disse que Liedson foi, de longe, o melhor em campo. Recuso-me a insultar pessoas que não pensam: tenho medo que, por não pensarem, julguem que um insulto serve para comer. Só para citar alguns: Romagnoli voltou a fazer um grande jogo; Izmailov esteve excelente; Polga foi uma vez mais imperial. Se basta marcar um golo para ser o melhor em campo ou, por outras palavras, se basta um único lance, se mais nada conta, ai de quem me diga que o Liedson foi o melhor em campo, mas que o Quaresma, no último jogo da selecção, não o foi.

6. João Querido Manha cortou o cabelo. As ideias não estavam lá escondidas.

7. Postiga voltou a ser decisivo para o Porto. O que é pena é que, esta época, sempre que o Postiga foi decisivo, mais alguém o foi também.

8. O Benfica jogou mal, muito mal. Não desejo melhor a um clube no qual a maioria dos adeptos continua a gostar do futebol de Binya.

9. Há quem diga que Rovércio não fez falta sobre Léo. Gosto de pensar que sou o único a achar o contrário. Qual é o argumento de quem acha que não há falta? Rovércio estava parado e não se mexeu para impedir que Léo chegasse à bola. Isto é falso. Rovércio não se mexeu, é verdade, mas ao não o fazer, impediu que Léo passasse por ele. E fê-lo de forma intencional. Dirão que um jogador não tem obrigação de se mexer. Errado. Um jogador não tem obrigação de se mexer, mas pode evitar o contacto. Não interessou a Rovércio evitar o contacto. Outra coisa que não lhe interessou foi virar-se para correr atrás da bola. Rovércio não tirou os olhos de Léo. Se ficou parado foi porque Léo ia em desequilíbrio e na sua direcção. Se Rovércio não estivesse preocupado em travar Léo, ter-se-ia virado para a bola e tentado disputá-la. Não o fez e nem sequer discutiu a decisão do árbitro. Ele, melhor que ninguém, sabia que tinha feito falta. Ainda que, para isso, não tenha sido preciso mexer-se.

10. Ainda não vi um jogo ou um resumo do Arsenal este ano em que Fabregas não marcasse um golo. Grande Fabregas. O melhor do mundo, daqui a uns anitos.

sábado, 3 de novembro de 2007

Sondagem

Chegou ao fim a primeira sondagem do Entre 10. À pergunta "Que comentador desportivo tens vontade de atropelar?" responderam 29 pessoas. Desde cedo se limitou a luta a três dos seis candidatos. Luis Sobral e José Marinho acabaram mesmo por não somar qualquer voto, enquanto que António Tadeia arrecadou apenas 2. Dos três restantes, cedo também se começou a distanciar Rui Santos, acabando por vencer a eleição com 12 votos. O segundo lugar coube a João Querido Manha e a Joaquim Rita, ex aequo, com 7 votos. Que ilações se devem tirar de tudo isto? 1) Há 29 pessoas cuja vida é tão desinteressante que participam em votações perfeitamente idiotas. 2) João Querido Manha e Joaquim Rita geram ódios pelo país fora e talvez fosse tempo de se começarem a instruir. Ou então a não dizerem parvoíces. 3) Acredito profundamente que Rui Santos, com um cabelo decente, não ganharia esta sondagem. Embora, é certo, também ajudasse saber alguma coisa de futebol...