terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Virar o Flanco
Escrito por Nuno às 00:58:00 14 bolas ao poste
Etiquetas: Raciocínios Tácticos
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
O Golo do Ajax
Escrito por Nuno às 02:17:00 10 bolas ao poste
Etiquetas: Ajax, Lances, Raciocínios Tácticos
sábado, 26 de outubro de 2013
Notas sobre alguns Avançados
No lance do terceiro golo do Chelsea esta semana, por exemplo, Fernando Torres não toca na bola. E, no entanto, 80% do golo é dele. É-o porque é ele quem possibilita a Hazard passar com a facilidade com que passa pelo último defesa. Torres é um dos muitos mal amados do futebol actual, essencialmente porque é avançado, custou muito dinheiro, e não marca tantos golos como isso. Confesso que Torres não é o meu avançado predilecto, mas está longe de ser o trambolho com que é hoje em dia confundido. Duas coisas, a meu ver, contribuíram para que não facturasse no Chelsea como o fazia em Liverpool: o facto de as equipas jogarem de modo totalmente distinto (Torres era, em Liverpool, o único avançado de uma equipa que jogava, por sistema, em transição, não lhe sendo pedido mais do que algumas arrancadas por jogo, quando tinha espaço) e o facto de ter modificado substancialmente o seu corpo (a massa muscular actual de Torres não tem nada a ver com a que tinha quando chegou a Inglaterra), o que fez com que fosse perdendo agilidade e destreza técnica. À margem destas considerações, Torres continua a ser um avançado inteligente, sobretudo com espaço. Pode não ser um jogador extraordinário para funcionar como apoio frontal, mas é alguém que percebe muito bem as necessidades da equipa, em lances de pouca densidade numérica como sejam lances de contra-ataque típico. Neste tipo de situações, sabe geralmente o que fazer, protege-se muitíssimo bem da ratoeira do fora-de-jogo e é capaz de se adaptar rapidamente a mudanças de circunstâncias. Foi o que aconteceu neste lance. Acompanhou o lance até que Hazard ficasse de frente para o defesa e, nesse momento, iniciou o movimento nas costas do belga, criando a dúvida no defesa. Torres marcou dois golos, nesta partida, mas o seu melhor momento terá sido sem dúvida este.
Escrito por Nuno às 13:23:00 50 bolas ao poste
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quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Passe e Devolução: A Versão Bávara
Escrito por Nuno às 11:02:00 16 bolas ao poste
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domingo, 29 de setembro de 2013
O Caso Cardozo
Escrito por Nuno às 12:31:00 30 bolas ao poste
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domingo, 8 de setembro de 2013
Fala quem sabe
Qual foi a sua melhor temporada no Benfica?
«Sempre adorei jogar com o Saviola. Os meus melhores momentos foram todos os que partilhei com ele entre 2009 e 2012».
Tem saudades de jogar com o Saviola?
«Sempre nos demos muito bem. Seria fantástico voltar a jogar com ele e depois retirávamo-nos juntos.
Dos muitos argentinos que têm passado em Portugal, Lucho Gonzalez será porventura o mais parecido consigo. É um jogador que admira?
«Tenho um carinho enorme por ele. Uma grande admiração, mesmo. É das melhores pessoas que conheci no mundo do futebol. Agradeço tudo o que vivemos no futebol. Nunca o vi como um rival».
Há espaço no futebol moderno para o número dez puro? Um dez como Aimar?
«Tem de haver. O Barcelona joga com três números dez, no mínimo. Iniesta, Xavi e Messi são verdadeiros números dez, adaptados a funções diferentes. São jogadores que em qualquer outra equipa do mundo seriam um puro dez. Sabem, muito claramente, o que têm de fazer com e sem a bola. Inteligentíssimos».
Nos últimos anos apaixonou-se pelo futebol de alguma equipa?
«Sim, pelo Barcelona de Pep Guardiola. Sobretudo por ter demonstrado ao mundo o prazer que é possível ter com uma bola nos pés. Se tivermos a bola, o adversário não a tem. E não só por isso. Se perdem a posse, recuperam na perfeição a posição defensiva e recuperam a bola com facilidade. Além do Barcelona, tenho de elogiar o Borussia Dortmund. Seja como for, nos últimos anos todas as equipas ficaram muito longe desse Barcelona».
Os adeptos puristas do futebol querem mais equipas como esse Barcelona? Ou, se preferir, quem gosta de futebol gosta desse Barça?
«Eu creio que sim, mas todas as opiniões são válidas. Por um simples motivo: o futebol não é uma ciência exata e está aberto às mais variadas influências. Tudo é aceitável. Do meu ponto de vista, não há dúvidas: o Barcelona é a melhor equipa da última década».
Qual foi o treinador que melhor entendeu o futebol de Pablo Aimar?
«O melhor treinador que tive foi Marcelo Bielsa. Ramón Diaz, no River, até Jorge Jesus, no Benfica, também me aproveitaram bem e entenderam o meu futebol.
E no futebol atual, qual é o treinador que mais admira?
«Vejo o Bayern Munique a jogar e percebo que o Guardiola conseguiu impor muito rapidamente o que pretende: ter bola, pressionar, reduzir o espaço do campo. E fazer isto numa cultura radicalmente distinta não é para qualquer um. Para mim, Guardiola é o melhor treinador do mundo».
Escrito por Nuno às 01:50:00 20 bolas ao poste
Etiquetas: Pablo Aimar
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Para Guardiola ver
Escrito por Nuno às 02:03:00 205 bolas ao poste
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quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Passar nas costas
Para que fique claro, acho um exercício destes um perfeito disparate, por várias razões. A razão principal, aquela de que quero falar, tem a ver com o movimento de passar nas costas do portador da bola. É comum ouvirmos dizer, e é comum que os treinadores o peçam aos jogadores, que um colega sem bola, estando perto do portador da mesma, deve movimentar-se por trás do colega. Mas porquê? A grande maioria dos treinadores (e dos comentadores) achará sem dúvida que passar nas costas serve para dar uma linha de passe e que, por conseguinte, é dever de quem tem a bola respeitar esse movimento e pôr lá a bola. Como se está mesmo a ver, não acho que esta gente esteja certa. Passar nas costas não serve para dar linhas de passe ao portador da bola; serve para criar a dúvida no adversário que tenta travar a progressão de quem tem a bola. Passar nas costas do portador da bola, sobretudo se feito de forma rápida, cria no defesa a indefinição quanto ao seguimento da jogada. A indefinição, evidentemente, é momentânea, e estabelece-se no exacto momento em que o jogador sem bola passa pelo que a tem. Nesse momento, o defesa não pode prever se o atacante vai fazer o passe, se vai driblar, se vai rematar. É esse também, de resto, o momento ideal para que quem tem a bola tome a iniciativa.
É por achar que passar nas costas serve apenas para diminuir as probabilidades de êxito de quem defende e não para possibilitar que a jogada se desenrole por onde é sugerido que acho que este tipo de coisas não pode ser objecto de especialização através do treino. Se o que interessa é criar a dúvida no defesa e não exigir ao portador da bola que respeite a desmarcação, de que adianta treinar isto centenas de vezes? No jogo, será sempre o portador da bola, de acordo com as restantes circunstâncias da jogada (quantidade de coberturas que o defesa tem, reacção do defesa ao movimento do colega que passa nas costas, outras desmarcações de colegas, proximidade da baliza, etc.) a tomar a decisão que achar mais adequada. Isto pode ser objecto de treino, é verdade, mas nunca para forçar rotinas ou comportamentos-padrão nos jogadores. É por isso também que a crença de que certas equipas mecanizam um certo tipo de acções para levar o adversário a comportar-se de certa maneira e para que, depois, possam pôr em prática uma certa jogada, é um absurdo. Em futebol, planos com princípio, meio e fim, planos de ataques muito bem desenhadinhos, são um absurdo e terminam necessariamente em insucesso. Tirando em bolas paradas, as grandes equipas não têm planos nem jogadas estudadas. O jogo é demasiado complexo e imprevisível para que jogadas estudadas possam ter algum sucesso.
Escrito por Nuno às 23:13:00 15 bolas ao poste
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segunda-feira, 29 de julho de 2013
Xavi e Iniesta: a Incompatibilidade Compatível
Quando era jovem, Guardiola achava que precisava de mais do que de passar bem a bola para vingar na modalidade, mas acabou por triunfar única e exclusivamente porque Cruyff era diferente dos outros treinadores. Não tivesse Guardiola sido treinado por alguém assim, dificilmente teria sido o jogador que foi. Poucos há que percebam isto. Para muita gente, quando se tem talento, tem-se talento e ponto final, e quem o tem acaba por triunfar, mais tarde ou mais cedo. Não podia estar mais em desacordo. Para que um jogador triunfe, sobretudo um jogador cujas principais virtudes são as tais características "relacionais", é preciso que o treinador seja especial, que prefira um determinado tipo de atributos e não outros. Ao longo dos anos, muitos dos jogadores que aqui fomos defendendo e que não conseguiram triunfar são jogadores deste tipo, jogadores que, ao contrário de Guardiola, não tiveram a sorte de ser treinados por alguém especial e que, por isso, não atingiram o máximo do seu potencial. Quanto a Xavi e Iniesta, alguém acredita que eles seriam o que são hoje se não fosse Guardiola? Basta ver como se queixavam, em 2006, por todos acharem que não podiam jogar juntos. Toda a gente gaba as habilidades de Iniesta, a capacidade de manter a bola, de rodar sobre si mesmo, a calma com que sai de situações complicadas, etc.. Mas Iniesta é capaz disso tudo porque está inserido num contexto que o favorece, porque sabe que tem sempre alguém muito perto de si e que, por tê-lo, tem também uma solução de recurso a toda a hora, o que lhe permite forçar certos movimentos, arriscar certas iniciativas. Iniesta é o jogador que é porque cresceu no ambiente mais favorável possível; tem aquelas características individuais notáveis, que todos elogiam e que a todos espanta, não porque as tenha e pronto, mas porque tem também certas características "relacionais" e está inserido num modelo que privilegia as últimas.
Ser um jogador de futebol a sério é essencialmente isto: ser extraordinário a relacionar-se com os colegas de equipa. Evidentemente, há jogadores de outro tipo, jogadores cujas habilidades individuais definem o seu talento. A estes é relativamente fácil medir a qualidade; basta contabilizar o sucesso e o insucesso de cada uma das suas acções. Medir o futebol de Xavi ou Iniesta, por exemplo, é muito mais difícil. E é-o porque cada uma das suas acções não se esgota em si mesma. Cada coisa que fazem beneficia o que faz um colega e beneficia o que faz o colectivo. É o talento individual de Xavi que faz com que consiga aquela quantidade absurda de passes por jogo? É Xavi sozinho o responsável por todos aqueles passes de régua e esquadro? É unicamente por ser Xavi o maestro que é que todos reconhecem que é dos pés dele que se inicia boa parte das jogadas do Barcelona? Não. Xavi é o que é porque os colegas fazem com que o seja. Dão-lhe opções constantes de passe, aproximam-se dele para lhe permitir várias decisões, garante-lhe proximidade e segurança para que não tenha de se apressar a tomar uma decisão. Xavi é o que é por força do que o rodeia. E o que o rodeia é um conjunto de jogadores que pensa como ele, que percebe quais possam ser as suas intenções e que fazem tudo para que ele as possa cumprir. Xavi é o que é porque joga com almas gémeas. É o próprio Xavi quem o reconhece, nesta entrevista:
Regressando à questão da compatibilidade, posso aceitar que um determinado jogador não seja compatível com outro igual a ele, mas apenas se forem jogadores que se distingam pelos seus atributos individuais. Mas, nesse caso, não acho sequer que um só jogador seja compatível com a equipa. Como entendo o jogo, uma equipa de futebol a sério tem de ter onze jogadores que se caracterizem essencialmente pela capacidade com que se relacionam com os colegas. Se for esse o caso, não me interessa ter um jogador de cada tipo, apto para uma coisa específica, mais indicado para um tipo de função e menos para outros tipos. Interessa-me, isso sim, ter jogadores todos do mesmo tipo, jogadores parecidos entre si, que valorizem as mesmas coisas, que se compreendam com facilidade, que percebam quais as dificuldades de cada colega, consoante as circunstâncias em que se encontrem. Não só acho, portanto, que Xavi e Iniesta são compatíveis, como sempre achei, como acho que Xavi é compatível com dez Iniestas, e vice-versa. Para muita gente, Xavi e Iniesta são compatíveis porque Guardiola mostrou que podiam sê-lo. Não pensavam assim há 5 anos, no entanto. E mesmo aceitando agora que o são, aceitam-no por razões erradas, porque acham que, afinal, até dá para ter dois criativos no meio-campo. Eu acho que são compatíveis, mas não por achar que haja espaço para dois médios criativos numa equipa de futebol; acho que são compatíveis porque o futebol é um jogo de médios criativos. E é por isso, em última análise, que acho não só que são compatíveis entre eles como são compatíveis com mais nove jogadores idênticos. O futebol é um jogo para criativos, e o modelo ideal de um jogo que se caracteriza assim é necessariamente aquele em que a criatividade dos jogadores for melhor potenciada. O papel do treinador ideal, deste ponto de vista, não é propriamente trazer ao de cima o melhor de cada atleta, não é conceber as melhores estratégias possíveis para contrariar os adversários, não é ser capaz de manter motivados os seus jogadores; é fazer com que cada jogador aprenda a relacionar-se com os colegas. Só isso: criar almas gémeas. E, para criá-las, há um atributo indispensável: a criatividade, entendendo-se criatividade como imaginação, ou seja, o atributo intelectual que permite a cada um perceber o tipo de soluções que pode empreender para fazer face ao que o rodeia e, por conseguinte, o que permite a cada um perceber aquilo de que precisa cada um dos seus colegas a cada instante.
Escrito por Nuno às 16:17:00 25 bolas ao poste
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domingo, 14 de julho de 2013
Os melhores de 2012/2013
Mais atrasado do que nunca, fica o onze da época, em 433:
Escrito por Nuno às 18:54:00 17 bolas ao poste
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quarta-feira, 3 de julho de 2013
Curtas da Época
14 - Quando se soube que Guardiola ia para o Bayern, Mourinho disse que nunca treinaria na Alemanha. No fim da época, mostrou-se que as duas equipas mais fortes da Europa jogavam na Alemanha, e que, se calhar, o campeonato alemão anda demasiado subestimado.
16 - O novo desafio germânico de Guardiola é, aliás, um dos principais aperitivos da época que aí vem. Para muitos, Guardiola terá muitas dificuldades em fazer melhor do que Jupp Heynckes, pelo simples facto de o Bayern ter vencido tudo esta temporada. Para mim, há muita coisa a melhorar. Ganhar tudo numa época é óptimo, mas não é o que define uma grande equipa. Ter a capacidade para ganhar tudo, época após época, isso sim, é uma equipa. Heynckes ganhou tudo esta temporada porque os jogadores se superaram. Tenho enormíssimas dúvidas de que, com Heynckes, o Bayern ganhasse alguma coisa na época que vem. A motivação da equipa atingiu o seu máximo, e a tendência natural seria relaxar. Com Guardiola, porém, tudo será diferente: os jogadores estarão motivados nem que seja para aprenderem a jogar de uma maneira que não sabem. O que há a melhorar? A qualidade do futebol da equipa. Em termos de qualidade colectiva, o Bayern não foi excepcional, e é aí que Guardiola deverá manobrar. Se, no final, ganha alguma coisa ou não, é pouco relevante.
17 - Miguel Rosa voltou a fazer uma época deslumbrante, desta vez no Benfica B. Como é que não se lhe dá uma hipótese na equipa principal?
18 - O Europeu de sub-21 terminou, e mais uma vez a diferença da selecção espanhola para as outras foi abismal. Como é que é possível não perceber que, mais do que os elogios, é preciso imitar o trabalho que se faz no país vizinho?
19 - A equipa ideal do euro sub-21, em 433, apesar de os extremos não serem extremos (Isco) ou de serem inferiores aos dois melhores extremos do torneio (Munian e Sarabia), os quais foram pouco utilizados, todavia: GK: David De Gea; DR: Ricardo van Rhijn; DE: Daley Blind; DC: Marc Bartra e Stefan de Vrij; MD: Kevin Strootman; MC: Marco Verratti e Thiago Alcântara; E: Isco e Wijnaldum; AC: Álvaro Morata.
20 - No mundial de sub-20, é a euforia do costume com uma selecção nacional banal. Num grupo paupérrimo (a selecção cubana nem para as distritais tem qualidade), Portugal até parece uma super-potência. Mas o futebol português volta a pecar por uma falta de imaginação gritante, por um conjunto de jogadores cujas principais virtudes são as aptidões atléticas, e por uma falta de competência, a nível de equipa técnica, que já não se usa. Edgar Borges é do século passado, e é por isso que Ricardo Esgaio, que poderia jogar quer a lateral, quer a médio-direito, não joga para jogar João Cancelo e Ricardo. Tiago Silva é, também, o melhor médio ofensivo desta geração, mas parece ser a última das opções de Edgar Borges. É verdade que esta selecção não é tão fraca como aquela que, há dois anos, chegou à final do mundial. Não tem, pelo menos na onze inicial, picaretas como Mário Rui, Danilo Pereira ou Saná. Mas o onze que tem sido escolhido não é muito melhor. Aproveitam-se talvez o guarda-redes José Sá, o central Tiago Ilori, e o médio João Mário, sobretudo se perceber que não é médio de ataque. Mika não é nada, Tiago Ferreira é tudo o que um central não devia ser e João Cancelo, se tivesse neurónios, até podia vingar. Ricardo Alves não sabe o que é ser médio defensivo, Ricardo tem tanta imaginação como uma couve de bruxelas e Tozé tem vontade e pouco mais.
21 - Bruma é a grande estrela da companhia, quer para portugueses, quer para estrangeiros. Reconheço que é forte no um para um e que está moralizado, mas continuo a achar que a euforia em torno dele é excessiva. Quando chegarem os jogos a sério é que será possível perceber o quanto pode dar. Bruma tem algumas dificuldades a pensar em espaços curtos, e só quando tiver pouco espaço e pouco tempo é que se poderá perceber se as suas qualidades são mesmo qualidades, ou se são fogo-fátuo.
22 - Quanto a Aladje, a ideia que fica é que já tem idade para ter filhos a jogar no mesmo torneio. Continuo sem perceber a insistência em formar equipas jovens com atletas com idades propositadamente falsificadas. O que é que se ganha com isto?
23 - Uma vez que faltam neste mundial algumas das habituais potências mundiais em escalões jovens (Brasil, Argentina, Alemanha, Holanda, etc.), reúnem-se as condições para que Portugal chegue longe. Um jogo com a Espanha é o que todos pedem, e seria, sem dúvida alguma, o adversário mais indicado para testar a real competência deste conjunto de jogadores.
24 - A selecção espanhola é, uma vez mais, o alvo a abater. Embora seja impressionante como o consegue ser, em quase todos os escalões, considero esta selecção, em termos de colectivo, bem inferior a outras. Não obstante a qualidade individual, que me parece muito semelhante à de outros escalões, vê-se pouca paciência a circular a bola, pouca capacidade para criar apoios próximos, demasiadas variações de flanco, de iniciativas individuais (sobretudo dos homens da frente e de alguns laterais), e uma verticalidade que não condiz com aquilo a que o futebol espanhol nos habituou. Não gostei particularmente do trabalho de Lopetegui nos sub-21, apesar da vitória claríssima, e ainda estou a gostar menos deste. É uma pena que, embora os espanhóis consigam formar fornadas de jogadores todos os anos, não sejam capazes de manter a bitola a nível de treinadores.
25 - Ainda sobre esta selecção espanhola, continua a falar-se demasiado em Delofeu e Jesé Rodriguez. São, claramente, os jogadores mais maduros desta selecção, e os mais reputados, mas estão longe de ser os melhores. É notável, no entanto, que se junte agora a estes o jogador do Liverpool, Suso. Há dois anos, ninguém falava em Suso. Agora, como já fez alguns jogos na Premier League, já tem reputação suficiente para merecer umas palavras. Os comentadores desportivos não vêem os jogos que estão a comentar; têm uma ficha à frente com os apontamentos que tiraram, repetem meia-dúzia de ladainhas, e acabam invariavelmente a gabar o que toda a gente gaba.
26 - Parece-me que Gerard Delofeu melhorou significativamente, nos últimos anos. De resto, estando no Barcelona, seria natural que isso acontecesse. Agora já não aproveita cada bola que ganha para experimentar ultrapassar o seu opositor directo. Já tem na cabeça mais do que as suas competências individuais e já procura vir para o meio, à procura de apoios frontais. Está, por isso, no bom caminho, e reconheço-lhe finalmente algumas competências para que possa vir a ser um jogador de topo. Quanto a Jesé Rodriguez, nem pensar. Mantém as mesmas características de há 2 anos, e não espero grandes coisas dele.
27 - Já há dois anos Suso me pareceu um jogador muito interessante. Tendo sido aposta em Liverpool, aparece moralizado neste torneio, e tem assumido algum protagonismo. Embora lhe reconheça talento, continuo a achar que os dois melhores jogadores desta geração são Denis Suárez e Oliver Torres. E destes, talvez por serem pouco exuberantes, ou talvez por não terem a reputação dos outros três, poucos falam. São os jogadores mais inteligentes, e aqueles que, por isso mesmo, melhor preparados me parecem estar para enfrentar as exigências do futebol sénior.
28 -Na final da taça das Confederações, vitória justa do Brasil. Foi a equipa mais compenetrada e, não obstante um futebol excessivamente musculado e aos trambolhões, com muitos problemas quer ao nível da decisão com bola, quer a nível posicional, foi a melhor equipa em campo. Os brasileiros acabaram por ter sorte por marcarem nos momentos em que marcaram, e da forma como o fizeram, mas a verdade é que o mau jogo espanhol não justificava um resultado positivo. É verdade, também, por outro lado, que as condições climatéricas favorecem quem está habituado a elas, e que o desgaste a que a Espanha foi sujeita na meia-final terá certamente condicionado a equipa na final. A Del Bosque pede-se que tire desta competição as devidas conclusões: se quer ser campeão do mundo no ano que vem, em condições climatéricas como estas, vai ter de rodar muito os seus jogadores, sobretudo os cinco mais adiantados, e desde o primeiro dia.
29 - Várias conclusões poderiam ser tiradas do que aconteceu nesta competição: que o Brasil é o principal candidato ao título mundial do ano que vem, que o reinado da Espanha chegou finalmente ao fim, que Scolari é um óptimo treinador. Há que perceber, no entanto, várias coisas. Para os espanhóis, como de resto para os italianos, esta competição não tinha a mesma importância que para os brasileiros. Basta ver como, numa meia-final, depois de 120 minutos desgastantes, quando a capacidade de concentração dos atletas não podia ser mais baixa, só à sexta grande penalidade é que alguém falhou. Espanhóis e italianos abordaram as grandes penalidades com que se poderiam apurar para uma final sem qualquer pressão porque, precisamente, a Taça das Confederações era só uma prova de fim de época. Acresce a isto que os espanhóis já ganharam tudo e têm pouco a provar. A única conclusão a tirar, do que aconteceu neste torneio, é que o mundial do Brasil do ano que vem vai ser tão mau ou pior do que o de 2002, no Japão e na Coreia. O futebol não é, definitivamente, um jogo de climas tropicais, e a qualidade de jogo será muitíssimo afectada pelas temperaturas e pela humidade a que se jogar daqui a um ano. Em condições destas, as competências intelectuais dos jogadores e as competências tácticas das equipas têm menos peso, enquanto os detalhes terão certamente maior importância. Não me surpreenderá, por isso, se algumas equipas europeias ficarem pelo caminho logo na primeira fase, como não me surpreenderá que as equipas sul-americanas (e talvez uma ou outra africana) façam uma boa prova. Será, creio, um mundial de fraca qualidade, em que os mais fracos verão as discrepâncias para os mais fortes serem drasticamente reduzidas. Mais do que um mundial de futebol, será um mundial dos que têm muita força de vontade.
30 - Como se deve ter percebido, não gostei minimamente do futebol do Brasil. Além de haver jogadores incrivelmente sobrevalorizados (como David Luiz, Hulk e Paulinho), o colectivo é banalíssimo. Defensivamente, desposicionam-se com facilidade, ocupam mal os espaços e reagem erradamente ao que quer que o jogo lhes peça. Ofensivamente, dependem excessivamente da inspiração individual. Há, no entanto, uma boa notícia: Neymar. O jovem craque mostrou finalmente mais do que dribles estonteantes, capacidade para irritar defesas e números de circo. Mostrou que pode jogar ao mais alto nível, que percebe a utilidade de procurar apoios curtos, de tabelar, etc.. Há dois anos, quando foi copiosamente derrotado pelo Barcelona, foi humilde em reconhecer a supremacia catalã. Na altura, tal atitude podia querer dizer várias coisas. Hoje percebe-se que era mesmo "humildade", que Neymar estava mesmo convencido de que o adversário lhe tinha ensinado alguma coisa. Não estava apenas resignado; tinha aprendido uma lição. Nos últimos dois anos, aplicou essa lição ao craque que era e tornou-se finalmente jogador de futebol. Há dois anos, procurava insistentemente Paulo Henrique Ganso. Fazia-o, parece-me, por diversão e por respeito, porque Ganso era dos mais habilidosos e lhe dava gozo fazê-lo. Hoje procura quem quer que lhe ofereça um apoio, e isso é o suficiente para que vingue no clube em que oferecer apoios ao portador da bola é o principal requisito de qualquer jogador. Dou a mão à palmatória: nunca fui demasiado hostil a Neymar, mas também nunca me encantou por aí além. Hoje, no entanto, ainda que por razões certamente diferentes daquelas pelas quais é aplaudido, acho que Neymar me provou que devia ter sido mais paciente a formar a minha opinião. Não alinho pela teoria de António Tadeia, de que Neymar é super-inteligente a jogar futebol, mas reconheço que perdeu alguns vícios e que pode melhorar bastante a esse nível no futuro. E isso costuma ser decisivo.
31 - Xavi a olhar para o chão, com a mão sobre a testa, no momento da grande penalidade que Sergio Ramos haveria de falhar, na final da competição - eis o momento mais interessante do torneio. Aliás, Sergio Ramos tem tanto a ver com esta selecção como um cristão tem a ver com a teoria do Big Bang.
Escrito por Nuno às 11:03:00 19 bolas ao poste
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quarta-feira, 29 de maio de 2013
O Síndroma de Mourinho
Escrito por Nuno às 12:52:00 34 bolas ao poste
Etiquetas: Benfica, Jorge Jesus, Mourinho, Raciocínios Tácticos, Real Madrid