quarta-feira, 3 de julho de 2013

Curtas da Época

Nos últimos dois anos, o blogue deixou de ser actualizado com a regularidade de antes, e muitas foram as efemérides cujo debate se dispensou. Ao contrário de outros sítios, que preservaram a sua natureza noticiosa, deixou talvez de ser lugar de reunião para se discutir os mais comezinhos assuntos e passou a ser lugar de discussões pontuais, mais sobre assuntos de carácter geral do que sobre particularidades desportivas do momento. Gostaria, evidentemente, de manter os dois tipos de discussão, mas, à falta de melhor, optei por discorrer sistematicamente sobre os temas que mais me interessam. Ora, embora muito tenha acontecido esta época, pouco foi sendo discutido aqui. Numa tentativa (que não o é mais do que isso) de sumariar algumas das mais importantes incidências da temporada que agora acabou, aqui fica um conjunto de breves observações a esse respeito.

1 - O Sporting cumpriu, talvez, a pior época de sempre. Muito se tem dito sobre a queda competitiva do clube nos últimos anos, quando comparado com os rivais, mas pouca coisa acertada se tem ouvido. Há que assumir, de uma vez por todas, que a maneira de reerguer o Sporting passa essencialmente por não copiar os exemplos do Benfica e do Porto, não só porque não há dinheiro para investir como também porque o Sporting é um clube diferente, com virtudes e defeitos diferentes.

2 - Por falar em Sporting, Liedson regressou ao campeonato português, mas para reforçar o ataque portista. O homem que simboliza, a meu ver, as causas dos principais problemas desportivos do Sporting na última década foi uma ameaça constante para as defesas adversárias. Como sempre, de resto.

3 - Vítor Pereira sagrou-se bicampeão nacional. Reconheço que a forma como a equipa pressiona é notável, mas a equipa azul e branca só foi realmente um colectivo quando os jogadores decidiram que deveria sê-lo. Sempre que o Porto não teve James (e não o teve durante muito tempo, se contarmos o tempo que demorou a adquirir a melhor forma) a entrar entre linhas, aproximando-se de Lucho, e sempre que Izmailov não pode dar o contributo à equipa, o Porto foi ofensivamente uma nulidade. Vivia das acelerações dos extremos, do suor dos médios e da qualidade individual de um ou outro jogador.

4 - O jogo do título foi no Dragão. O Porto acabou por ser um justo vencedor porque, apesar de não ter jogado bem, foi a única equipa que quis os três pontos. Mas a forma como venceu o jogo e, por conseguinte, o campeonato, não podia ter sido mais irónica. O Porto não estava a jogar bem, não estava a ser capaz de penetrar no bloco encarnado e não estava a conseguir ser ameaçador, sequer. Em vez de reagir a esta evidência como um treinador, ou seja, racionalmente, Vítor Pereira recorreu à superstição. De uma assentada, pôs dois amuletos da sorte em campo, Liedson e Kelvin. Do outro lado, Jesus tinha feito a melhor acção do dia, pois tinha acabado de fazer entrar Aimar. Mas foi a superstição que venceu. Acontece, de vez em quando. Liedson e Kelvin nunca serão jogadores de futebol, Vítor Pereira não sabe explicar o que aconteceu, mas o Porto ganhou e foi campeão. É assim a vida.

5 - Jorge Jesus é, possivelmente, um dos treinadores mais interessantes, do ponto de vista ofensivo, no campeonato português. Mas, como o escrevi no texto anterior, nas últimas temporadas foi progressivamente abdicando de ser quem é e, neste momento, é só mais um como tantos outros. Na minha opinião, esta época perdeu muito mais do que os três troféus que esteve perto de ganhar.

6 - Agora é de vez. Aquele que foi, muito provavelmente, o melhor de sempre a jogar em Portugal vai deixar o futebol português. Os verdadeiros amantes de futebol estão bem conscientes do que acabam de perder.

7 - O Braga de Peseiro foi, em alguns momentos da época, a equipa que melhor futebol praticou em Portugal. Como é evidente, Peseiro tem inúmeros defeitos, principalmente a nível defensivo, e a sua equipa acabou por pecar por isso. Não obstante, fez um trabalho bastante bom.

8 - De Paulo Fonseca é preciso ver mais do que uma época de trabalho em que teve as condições certas para triunfar. O Paços jogou bom futebol, em alguns momentos, mas não é certo que muito disso não se tenha devido à extraordinária reunião de alguns jogadores bem acima da média, André Leão, Vítor e Josué, para falar apenas dos três que me parecem mais evidentes. Devo lembrar, aliás, que Josué só se tornou titular indiscutível a meio da temporada, e que, portanto, é pouco claro que as ideias de Paulo Fonseca sejam exactamente aquelas que esses três, quando jogaram juntos, conseguiram pôr em prática.

9 - Em Inglaterra, o Arsenal voltou a ficar à frente do Tottenham. Como o referira a meio da época, contra a opinião de alguns papalvos, a equipa de Villas-Boas não é melhor que a de Redknapp, e o trabalho do português em Londres foi uma decepção. A equipa é mais inglesa do que nunca e sem Gareth Bale, então, nem nos lugares europeus teriam ficado.

10 - Para o ano que vem, a Liga Inglesa será uma prova totalmente diferente. Por um lado, o Manchester United, com a saída de Ferguson, será com certeza menos hegemónico. Por outro, os novos treinadores de Chelsea e City quererão decerto desafiar essa hegemonia. Por fim, o Arsenal prepara-se finalmente, ao fim de alguns anos, para conseguir manter os seus principais jogadores. Com os reforços certos, e com a manutenção das ideias, Wenger pode finalmente voltar a sonhar com uma equipa candidata ao título.

11 - Em Espanha, aconteceu o que previa há mais de um ano: o Real Madrid de Mourinho, ao contrário do que se dizia na altura, não era uma equipa regular. O futebol dos merengues não teve nunca qualidade para se impor numa competição de regularidade e os 15 pontos de diferença para o Barcelona expressam isso mesmo. Foi a época transacta, não esta, que foi anormal. Mourinho trabalhou sempre para bater os catalães, e a equipa foi-se transcendendo até conseguir esse objectivo. Depois disso, o balão esvaziou-se, a irregularidade exibicional veio ao de cima e os níveis motivacionais baixaram drasticamente. Sim, é verdade que continuou a ter uma equipa competitiva, que foi sempre às meias-finais da Champions, que manteve o seu Real sempre num patamar relativamente elevado, mas a passagem de Mourinho por Espanha foi um tremendo fracasso. E foi-o sobretudo porque o Real Madrid tinha a obrigação de ser uma equipa diferente.

12 - Diego Simeone é um treinador banalíssimo. Soube convencer um excelente conjunto de jogadores de que podiam fazer mais do que lutar pelos lugares europeus, soube transformar o Atlético de Madrid numa equipa fortíssima, em termos mentais, capaz de encarar todos os jogos como uma final, e isso valeu-lhe um excelente campeonato e mais um troféu. Mas o futebol da equipa, também neste caso, depende excessivamente da motivação individual e colectiva. Como noutros casos, a pedra de toque de que me sirvo para avaliar o desempenho de um treinador é a qualidade do futebol apresentado, e essa nunca foi extraordinária.

13 - Em Itália, o campeonato voltou a ser um passeio para a Juventus. Há uns anos, achei que o futebol italiano se preparava para renascer, mas os sucessivos escândalos desportivos, as dificuldades financeiras de muitas equipas e o desinteresse dos investidores estrangeiros encarregaram-se de manter as equipas italianas num patamar inferior às espanholas e às inglesas. Tacticamente, é a par da Liga Espanhola o campeonato mais interessante. Mas perdeu muita qualidade individual, nos últimos anos, e tanto o futebol francês como o alemão parecem ter agora melhores argumentos para discutir o estatuto de terceira potência europeia.

14 - Quando se soube que Guardiola ia para o Bayern, Mourinho disse que nunca treinaria na Alemanha. No fim da época, mostrou-se que as duas equipas mais fortes da Europa jogavam na Alemanha, e que, se calhar, o campeonato alemão anda demasiado subestimado.

15 - Por falar em Guardiola, soube-se há pouco tempo que o treinador catalão quis levar Pirlo, ainda este jogava no AC Milan, para o meio-campo do Barça. A intenção, segundo contou o próprio jogador, seria ir rodando com Busquets, Xavi e Iniesta. Numa altura em que Césc Fabregas ainda não chegara a Camp Nou, já Guardiola pensava num meio-campo só de artistas. Se dúvidas houvessem, Guardiola não pensa como os outros. Para o meio-campo, pensa-se sempre num equilíbrio entre artistas e trabalhadores. No meio-campo de Guardiola só há espaço para artistas. Teria sido a cereja no topo do bolo, um meio-campo de anões, alguns dos quais parecem jogar de bengala. O futebol não tem nada a ver com capacidades físicas, e é por perceber isso como nenhum outro alguma vez o percebeu que Guardiola é diferente de toda a gente.

16 - O novo desafio germânico de Guardiola é, aliás, um dos principais aperitivos da época que aí vem. Para muitos, Guardiola terá muitas dificuldades em fazer melhor do que Jupp Heynckes, pelo simples facto de o Bayern ter vencido tudo esta temporada. Para mim, há muita coisa a melhorar. Ganhar tudo numa época é óptimo, mas não é o que define uma grande equipa. Ter a capacidade para ganhar tudo, época após época, isso sim, é uma equipa. Heynckes ganhou tudo esta temporada porque os jogadores se superaram. Tenho enormíssimas dúvidas de que, com Heynckes, o Bayern ganhasse alguma coisa na época que vem. A motivação da equipa atingiu o seu máximo, e a tendência natural seria relaxar. Com Guardiola, porém, tudo será diferente: os jogadores estarão motivados nem que seja para aprenderem a jogar de uma maneira que não sabem. O que há a melhorar? A qualidade do futebol da equipa. Em termos de qualidade colectiva, o Bayern não foi excepcional, e é aí que Guardiola deverá manobrar. Se, no final, ganha alguma coisa ou não, é pouco relevante.

17 - Miguel Rosa voltou a fazer uma época deslumbrante, desta vez no Benfica B. Como é que não se lhe dá uma hipótese na equipa principal?

18 - O Europeu de sub-21 terminou, e mais uma vez a diferença da selecção espanhola para as outras foi abismal. Como é que é possível não perceber que, mais do que os elogios, é preciso imitar o trabalho que se faz no país vizinho?

19 - A equipa ideal do euro sub-21, em 433, apesar de os extremos não serem extremos (Isco) ou de serem inferiores aos dois melhores extremos do torneio (Munian e Sarabia), os quais foram pouco utilizados, todavia: GK: David De Gea; DR: Ricardo van Rhijn; DE: Daley Blind; DC: Marc Bartra e Stefan de Vrij; MD: Kevin Strootman; MC: Marco Verratti e Thiago Alcântara; E: Isco e Wijnaldum; AC: Álvaro Morata.

20 - No mundial de sub-20, é a euforia do costume com uma selecção nacional banal. Num grupo paupérrimo (a selecção cubana nem para as distritais tem qualidade), Portugal até parece uma super-potência. Mas o futebol português volta a pecar por uma falta de imaginação gritante, por um conjunto de jogadores cujas principais virtudes são as aptidões atléticas, e por uma falta de competência, a nível de equipa técnica, que já não se usa. Edgar Borges é do século passado, e é por isso que Ricardo Esgaio, que poderia jogar quer a lateral, quer a médio-direito, não joga para jogar João Cancelo e Ricardo. Tiago Silva é, também, o melhor médio ofensivo desta geração, mas parece ser a última das opções de Edgar Borges. É verdade que esta selecção não é tão fraca como aquela que, há dois anos, chegou à final do mundial. Não tem, pelo menos na onze inicial, picaretas como Mário Rui, Danilo Pereira ou Saná. Mas o onze que tem sido escolhido não é muito melhor. Aproveitam-se talvez o guarda-redes José Sá, o central Tiago Ilori, e o médio João Mário, sobretudo se perceber que não é médio de ataque. Mika não é nada, Tiago Ferreira é tudo o que um central não devia ser e João Cancelo, se tivesse neurónios, até podia vingar. Ricardo Alves não sabe o que é ser médio defensivo, Ricardo tem tanta imaginação como uma couve de bruxelas e Tozé tem vontade e pouco mais.

21 - Bruma é a grande estrela da companhia, quer para portugueses, quer para estrangeiros. Reconheço que é forte no um para um e que está moralizado, mas continuo a achar que a euforia em torno dele é excessiva. Quando chegarem os jogos a sério é que será possível perceber o quanto pode dar. Bruma tem algumas dificuldades a pensar em espaços curtos, e só quando tiver pouco espaço e pouco tempo é que se poderá perceber se as suas qualidades são mesmo qualidades, ou se são fogo-fátuo.

22 - Quanto a Aladje, a ideia que fica é que já tem idade para ter filhos a jogar no mesmo torneio. Continuo sem perceber a insistência em formar equipas jovens com atletas com idades propositadamente falsificadas. O que é que se ganha com isto?

23 - Uma vez que faltam neste mundial algumas das habituais potências mundiais em escalões jovens (Brasil, Argentina, Alemanha, Holanda, etc.), reúnem-se as condições para que Portugal chegue longe. Um jogo com a Espanha é o que todos pedem, e seria, sem dúvida alguma, o adversário mais indicado para testar a real competência deste conjunto de jogadores.

24 - A selecção espanhola é, uma vez mais, o alvo a abater. Embora seja impressionante como o consegue ser, em quase todos os escalões, considero esta selecção, em termos de colectivo, bem inferior a outras. Não obstante a qualidade individual, que me parece muito semelhante à de outros escalões, vê-se pouca paciência a circular a bola, pouca capacidade para criar apoios próximos, demasiadas variações de flanco, de iniciativas individuais (sobretudo dos homens da frente e de alguns laterais), e uma verticalidade que não condiz com aquilo a que o futebol espanhol nos habituou. Não gostei particularmente do trabalho de Lopetegui nos sub-21, apesar da vitória claríssima, e ainda estou a gostar menos deste. É uma pena que, embora os espanhóis consigam formar fornadas de jogadores todos os anos, não sejam capazes de manter a bitola a nível de treinadores.

25 - Ainda sobre esta selecção espanhola, continua a falar-se demasiado em Delofeu e Jesé Rodriguez. São, claramente, os jogadores mais maduros desta selecção, e os mais reputados, mas estão longe de ser os melhores. É notável, no entanto, que se junte agora a estes o jogador do Liverpool, Suso. Há dois anos, ninguém falava em Suso. Agora, como já fez alguns jogos na Premier League, já tem reputação suficiente para merecer umas palavras. Os comentadores desportivos não vêem os jogos que estão a comentar; têm uma ficha à frente com os apontamentos que tiraram, repetem meia-dúzia de ladainhas, e acabam invariavelmente a gabar o que toda a gente gaba.

26 - Parece-me que Gerard Delofeu melhorou significativamente, nos últimos anos. De resto, estando no Barcelona, seria natural que isso acontecesse. Agora já não aproveita cada bola que ganha para experimentar ultrapassar o seu opositor directo. Já tem na cabeça mais do que as suas competências individuais e já procura vir para o meio, à procura de apoios frontais. Está, por isso, no bom caminho, e reconheço-lhe finalmente algumas competências para que possa vir a ser um jogador de topo. Quanto a Jesé Rodriguez, nem pensar. Mantém as mesmas características de há 2 anos, e não espero grandes coisas dele.

27 - Já há dois anos Suso me pareceu um jogador muito interessante. Tendo sido aposta em Liverpool, aparece moralizado neste torneio, e tem assumido algum protagonismo. Embora lhe reconheça talento, continuo a achar que os dois melhores jogadores desta geração são Denis Suárez e Oliver Torres. E destes, talvez por serem pouco exuberantes, ou talvez por não terem a reputação dos outros três, poucos falam. São os jogadores mais inteligentes, e aqueles que, por isso mesmo, melhor preparados me parecem estar para enfrentar as exigências do futebol sénior.

28 -Na final da taça das Confederações, vitória justa do Brasil. Foi a equipa mais compenetrada e, não obstante um futebol excessivamente musculado e aos trambolhões, com muitos problemas quer ao nível da decisão com bola, quer a nível posicional, foi a melhor equipa em campo. Os brasileiros acabaram por ter sorte por marcarem nos momentos em que marcaram, e da forma como o fizeram, mas a verdade é que o mau jogo espanhol não justificava um resultado positivo. É verdade, também, por outro lado, que as condições climatéricas favorecem quem está habituado a elas, e que o desgaste a que a Espanha foi sujeita na meia-final terá certamente condicionado a equipa na final. A Del Bosque pede-se que tire desta competição as devidas conclusões: se quer ser campeão do mundo no ano que vem, em condições climatéricas como estas, vai ter de rodar muito os seus jogadores, sobretudo os cinco mais adiantados, e desde o primeiro dia.

29 - Várias conclusões poderiam ser tiradas do que aconteceu nesta competição: que o Brasil é o principal candidato ao título mundial do ano que vem, que o reinado da Espanha chegou finalmente ao fim, que Scolari é um óptimo treinador. Há que perceber, no entanto, várias coisas. Para os espanhóis, como de resto para os italianos, esta competição não tinha a mesma importância que para os brasileiros. Basta ver como, numa meia-final, depois de 120 minutos desgastantes, quando a capacidade de concentração dos atletas não podia ser mais baixa, só à sexta grande penalidade é que alguém falhou. Espanhóis e italianos abordaram as grandes penalidades com que se poderiam apurar para uma final sem qualquer pressão porque, precisamente, a Taça das Confederações era só uma prova de fim de época. Acresce a isto que os espanhóis já ganharam tudo e têm pouco a provar. A única conclusão a tirar, do que aconteceu neste torneio, é que o mundial do Brasil do ano que vem vai ser tão mau ou pior do que o de 2002, no Japão e na Coreia. O futebol não é, definitivamente, um jogo de climas tropicais, e a qualidade de jogo será muitíssimo afectada pelas temperaturas e pela humidade a que se jogar daqui a um ano. Em condições destas, as competências intelectuais dos jogadores e as competências tácticas das equipas têm menos peso, enquanto os detalhes terão certamente maior importância. Não me surpreenderá, por isso, se algumas equipas europeias ficarem pelo caminho logo na primeira fase, como não me surpreenderá que as equipas sul-americanas (e talvez uma ou outra africana) façam uma boa prova. Será, creio, um mundial de fraca qualidade, em que os mais fracos verão as discrepâncias para os mais fortes serem drasticamente reduzidas. Mais do que um mundial de futebol, será um mundial dos que têm muita força de vontade.

30 - Como se deve ter percebido, não gostei minimamente do futebol do Brasil. Além de haver jogadores incrivelmente sobrevalorizados (como David Luiz, Hulk e Paulinho), o colectivo é banalíssimo. Defensivamente, desposicionam-se com facilidade, ocupam mal os espaços e reagem erradamente ao que quer que o jogo lhes peça. Ofensivamente, dependem excessivamente da inspiração individual. Há, no entanto, uma boa notícia: Neymar. O jovem craque mostrou finalmente mais do que dribles estonteantes, capacidade para irritar defesas e números de circo. Mostrou que pode jogar ao mais alto nível, que percebe a utilidade de procurar apoios curtos, de tabelar, etc.. Há dois anos, quando foi copiosamente derrotado pelo Barcelona, foi humilde em reconhecer a supremacia catalã. Na altura, tal atitude podia querer dizer várias coisas. Hoje percebe-se que era mesmo "humildade", que Neymar estava mesmo convencido de que o adversário lhe tinha ensinado alguma coisa. Não estava apenas resignado; tinha aprendido uma lição. Nos últimos dois anos, aplicou essa lição ao craque que era e tornou-se finalmente jogador de futebol. Há dois anos, procurava insistentemente Paulo Henrique Ganso. Fazia-o, parece-me, por diversão e por respeito, porque Ganso era dos mais habilidosos e lhe dava gozo fazê-lo. Hoje procura quem quer que lhe ofereça um apoio, e isso é o suficiente para que vingue no clube em que oferecer apoios ao portador da bola é o principal requisito de qualquer jogador. Dou a mão à palmatória: nunca fui demasiado hostil a Neymar, mas também nunca me encantou por aí além. Hoje, no entanto, ainda que por razões certamente diferentes daquelas pelas quais é aplaudido, acho que Neymar me provou que devia ter sido mais paciente a formar a minha opinião. Não alinho pela teoria de António Tadeia, de que Neymar é super-inteligente a jogar futebol, mas reconheço que perdeu alguns vícios e que pode melhorar bastante a esse nível no futuro. E isso costuma ser decisivo.

31 - Xavi a olhar para o chão, com a mão sobre a testa, no momento da grande penalidade que Sergio Ramos haveria de falhar, na final da competição - eis o momento mais interessante do torneio. Aliás, Sergio Ramos tem tanto a ver com esta selecção como um cristão tem a ver com a teoria do Big Bang.

19 comentários:

Hugo disse...

9- Claro era tão pior equipa que até bateu o recorde de pontos na Premier. E se o Bale jogou como nunca, tambem algo se deve ao mérito de AVB.
Mas isto sou eu que sou um papalvo que não percebe nada disto ao contrário de V.Exa.

E o Redknapp fez um trabalho fantástico no QPR...

Mike Portugal disse...

21 - Sobre o Bruma digo-te o seguinte. Estive a observá-lo bem durante a época e tenho estas conclusões, que até já partilhei no blog do Lateral Esquerdo:

- quando o Bruma está no seu meio-campo defensivo e a equipa está a ser pressionada, ele é excelente. Consegue sempre enviar a bola para o colega melhor posicionado, nunca a perde e se os colegas o acompanharem no raciocinio, consegue sempre entrar no meio-campo adversário com ela controlada e com bom posicionamento;

- tem movimentos interiores muito interessantes quando ataca;

- quando está no último terço do terreno ainda tem dificuldades em perceber a melhor opção, seja o seu posicionamento se não tiver bola, seja a quem passar se tiver bola;

Acredito que possa evoluir muito na fase atacante da equipa, especialmente se for bem treinado. Vejo ali um potencial ala para a nossa seleção.

João Mendes disse...

16 - (...) Se, no final, ganha alguma coisa ou não, é pouco relevante.

Diz isso a um adepto!

Lisboa disse...

o ponto 6) é referente a quem mesmo?

Mike Portugal disse...

Lisboa,

Acho que ele deve estar a falar do Aimar.

Lisboa disse...

Também foi em quem pensei.. mas da maneira k foi escrito ainda tive medo que falasse de alguma maça podre ou um tropeças...

Unknown disse...

A verdade é que o Vitor Pereira não tinha outras opções sem ser o Kelvin e o Liedson, não havia muito que ele pudesse fazer nesse momento.

Porque achas que o Kelvin nunca irá dar jogador de futebol? Nos jogos pela equipa B esteve medíocre, mas também aí era difícil fazer alguma coisa tirando a altura da época em que o Pedro Moreira pegou na equipa antes de se lesionar, mas nos minutos que teve na equipa A nesta fase final pareceu bem melhor, dando mais importância às tabelas com os jogadores próximos do que em andar às fintinhas.

Tens visto os jogos da Colômbia no Mundial? O que achas do Quintero?

Pedro disse...

"Se, no final, ganha alguma coisa ou não, é pouco relevante."

É e será sempre um dos teus "defeitos". Mas já te conhecemos pelo que não vale a pena voltar a discutir o mesmo. :)

Pablo Aimar. Que pena!

zorg disse...

9. Por acaso li acompanhei a discussão sobre o Arsenal aqui no blog e passei a prestar mais atenção à liga inglesa por causa disso. Neste caso, acho que estavas coberto de razão.

17. Eh pá, eu vi alguns jogos da equipa B e não achei que o Miguel Rosa fosse nada de impressionante. Mas também, a equipa B do Benfica jogava muito mal à bola. Algumas das opções do Norton de Matos eram completamente incompreensíveis para mim. Se calhar tinha a ver com isso.

31. Fala-se em David Luiz para o Bayern. Achas que é só especulação?

Nuno disse...

Se formos pela amostra deste Mundial, o Ilori é bom porquê?

JFC disse...

Nuno

Diz-me uma coisa que gostava de ver respondida há algum tempo, qual é a tua opinião sobre o Matic?

JFC disse...

Nuno

Qual a tua opinião do Matic??

E cadê o 11 do ano?? Era sempre um post incendiário mas útil. foste tu que me chamaste a atenção para o rafael miranda, por exemplo.

Unknown disse...

a

Unknown disse...

paulinho é ridiculo, sobrevalorizado demais, apenas por ser um volante artilheiro, nao consegue um passe vertical de qualidade e da pouca opcao como apoio quando se desfaz da bola, assim como a maioria do time tem uma tomada de decisao banalissima. Neymar esta evoluindo, mostrou que sabe jogar com toques curtos e principalmente como apoio interno, a posicao que melhor rendera e como avancado assim como joga messi no barcelona, nao consigo ver neymar tendo o mesmo rendimento como extremo, quem acompanha o futebol aqui no Brasil sabe disso

Nuno disse...

Hugo diz: "E o Redknapp fez um trabalho fantástico no QPR.."

Hugo, quem segue este blog sabe o que eu penso do Redknapp. Tinha era uma estima muito maior pelo Villas Boas. Para mim, não fez nada que o Redknapp não tivesse conseguido fazer, e a sua equipa nem sequer jogou um futebol suficientemente diferente para que pudesse dizer que ele trouxe algo de novo. O Tottenham foi uma equipa competitiva, que nunca baixou os braços, mas nunca foi uma equipa com um futebol agradável. É esse o problema.

E que record de pontos é que bateu?

Mike Portugal diz: "Vejo ali um potencial ala para a nossa seleção."

Pois, o problema é esse. Uma selecção em que o Bruma venha a jogar é uma selecção medíocre.

Lisboa diz: Também foi em quem pensei.. mas da maneira k foi escrito ainda tive medo que falasse de alguma maça podre ou um tropeças...

Lisboa, era mesmo o Aimar.

Tiago Campos diz: Porque achas que o Kelvin nunca irá dar jogador de futebol?"

Porque não percebe o que é o jogo. Quanto ao Quintero, só vi os golos. Parece-me ter um bom pé esquerdo, mas não posso dizer mais do que isso.

zorg diz: "Fala-se em David Luiz para o Bayern. Achas que é só especulação?"

Acho que é especulação, até porque o Dante é mil vezes melhor do que ele.

Pinto diz: "Se formos pela amostra deste Mundial, o Ilori é bom porquê?"

E não é porquê?

JFC diz: "Diz-me uma coisa que gostava de ver respondida há algum tempo, qual é a tua opinião sobre o Matic?"

Acho-o muito bom.

"E cadê o 11 do ano?? Era sempre um post incendiário mas útil. foste tu que me chamaste a atenção para o rafael miranda, por exemplo."

Tens razão. Era para fazer um post sobre isso, mas depois acabei por não ter tempo e por deixar passar o momento. Talvez ainda o faça, nos próximos dias.


Nuno disse...

Defensivamente, mostrou ser uma "casa a arder". A desculpa do nível dos colegas de setor também serviria para os próprios colegas de setor.

Mal posicionado bastantes vezes, pareceu-me bastante lento também a reagir e no desarme. Saber sair de cabeça levantada por si só não chega. No golo do Gana parecia um amador em câmara lenta.

Nuno disse...

Mostrou ou mostrou-te a ti? Eu não vi os jogos todos. Dos que vi, foi o defesa mais sereno, com e sem bola. Não concordo com o mau posicionamento, por exemplo. Quanto à velocidade de reacção, não sei a que te referes. O Ilori é rapidíssimo. Sobre o desarme, tenho algumas suspeitas. Se estavas à espera que ele desse nas vistas pela antecipação ou pela capacidade de desarme, é natural que tenhas ficado decepcionado. Mas também, deixa-me que te diga, defesas que dão nas vistas pelas antecipações e pelos desarmes geralmente não são grande coisa.

Quanto ao golo do Gana, não sei bem o que querias que ele fizesse ali. O avançado ganês controlou a bola e rodou. Podia ter feito mais? Talvez. Mas podia sobretudo ter cometido penalty, se tivesse sido mais agressivo. Pareceu-me que ele não o quis arriscar, o que deu algum espaço ao adversário. De resto, ninguém está isento de erros. Parece-me é um absurdo comparar os erros do Ilori (ou os seus eventuais pontos fracos) com os dos seus colegas.

Bernard öZilva disse...

O Paulinho parece o Renato Neto,que tristeza este Brasil...

Idem Portugal U20;Ié,Cá,Aladje,Ricardo... Ouch!Nunca vi tanta mediocridade reunida...

Edgar Borges não deve mesmo gostar de futebol!

Triste ver a Rojita(que puta de crack este Oliver Torres!)ser atropelada pelo o autocarro Uruguaio(que puta de tradição de jogo tem este país!)...
E a França agora com os seus Aladjes com via verde para o título... :(

Este Mundial em termos de jogo é mesmo pra esquecer!

Tiago Santos disse...

Oliver Torres tem o perfil de Xavi.. incrível jogar, tem um toque de bola e uma maturidade nas decisões que não engana. Temo no entanto que não vá ter a medio prazo o espaço necessário no At.Madrid. Jogador fantástico, precisa rapidamente de se impor acho que poderá ser um dos melhores da sua geração.
Jese é um segundo avançado que finaliza bem e é rápido, mas tenho muita dificuldade em velo jogar numa equipa de topo. Não tem o potencial de jogadores como Mata, ou Silva, até porque pensa apenas como um avançado.
Deulofeu tem uma capacidade de aceleração incrível, tecnicamente é excecional, mas precisa de jogar mais vezes e a outro nível. Tenho algumas duvidas do empréstimo ao Everton, penso que tem um futebol demasiado vertical que pode prejudicar uma futura integração no Barcelona.
Suso foi inacreditavelmente emprestado. Não consigo perceber os dirigentes do Liverpool, até porque tenho duvidas que Coutinho seja de facto um jogar para o futuro do clube no modelo de Rodgers. Na próxima temporada atenção a este jogador por parte de Benfica e Porto poderia estar aqui um belo negocio.