1. Lisandro e Lucho foram embora e com eles a capacidade de o Porto ser imprevisível. Agora sim, que ruíu o que restava do legado que Jesualdo encontrou quando chegou ao Porto, o treinador portista terá um teste a valer. Perder Lucho e Lisandro num ano não é o mesmo que perder Pepe, Paulo Assunção ou Quaresma. Lucho e Lisandro eram o motor da equipa, os jogadores mais importantes no desenvolvimente ofensivo do modelo e os principais responsáveis por o Porto não ser apenas a equipa rectilínea de transições velozes que Jesualdo pretende. Lucho e Lisandro conferiam ao modelo imprevisibilidade, espontaneidade, inteligência, variedade. Sem eles, o Porto não será só menos forte na soma das individualidades; será sobretudo menos forte colectivamente, pois eram os elementos que tornavam o colectivo de Jesualdo, reduzido a movimentações rápidas e previsíveis, numa equipa menos vertical, menos refém das transições. Arrisco mesmo a dizer que, tirando um ano em que Quaresma foi determinante individualmente, muito do que Jesualdo conquistou se deveu à possibilidade de contar com estes dois jogadores. Sem eles, a história será outra.
2. Para já, pelo início de temporada, mantém-se a impressão de que Jesualdo não sabe contratar. Falcão e Valeri serão jogadores a rever, mas parecem-me pouco capazes de fazer esquecer os dois argentinos que viajaram para França, sobretudo naquilo que de colectivo estes podiam oferecer. Quanto a Belluschi, aprecio algumas das suas qualidades, embora fique muito a dever, por exemplo, aos criativos dos rivais. O problema é que me parece que o argentino não tem nada a ver com o modelo de Jesualdo. E, ao contrário do que dizem, Jesualdo não adapta o modelo às características dos jogadores que tem. O modelo é rígido e só na frente conhece algumas variações. Tirando os três atacantes, que pelas suas características podem movimentar-se de forma diferente, do meio-campo para trás Jesualdo é inflexível. É por isso que jogadores menos tácticos e de toque mais curto, capazes de desequilibrar em espaços mais curtos, mas menos frios a jogar, têm poucas possibilidades de vingar. Veja-se os casos de Leandro Lima ou de Luis Aguiar. No modelo de Jesualdo, não há espaço para verdadeiros criativos. Os seus médios têm de ser competentes em transição, agressivos, capazes de definir com velocidade. Belluschi, por isso, terá dificuldades para se impor, uma vez que não é um jogador para um futebol tão veloz e objectivo como pretende Jesualdo. Quanto às restantes contratações, Álvaro Pereira é suficientemente bom para ser titular e dar alguma qualidade ao lado esquerdo da defesa. Mas Varela e Miguel Lopes são anedotas. Se pensarmos em Guarín, em Tomás Costa, em Kazmierczak, em Nélson Benitez e em tantos outros, vemos que Jesualdo, ao longo destas épocas, contratou essencialmente mal. Analisando concretamente, temos Rolando e Cissokho, que são jogadores razoáveis e que jogavam porque não tinham concorrência à altura, Fernando, que só encaixou na equipa porque não havia ninguém para o lugar e se conseguiu impor a Pelé e a Guarín, Rodriguez, que já tinha mostrado todo o seu valor no Benfica, e Hulk, que é um jogador que vale pelas suas qualidades individuais e que, por isso, não requer muita atenção. Jesualdo é competente na forma de trabalhar, mas é francamente fraco a avaliar jogadores e tem tido alguma sorte em poder contar com o poderio financeiro do clube.
3. Por falar nisso, para onde foi desta vez o Pelé? E, já agora, uma vez que era, a par do grande médio-centro formado no Guimarães, a grande estrela da selecção de sub-21 da altura, para onde vai também Manuel da Costa? Estes dois colossos continuam a sua descida vertiginosa em direcção ao esquecimento. O Entre Dez bem avisou...
4. Ainda no Porto, cheira-me que este ano o lema vai ser: "Passem ao Hulk que ele resolve..." O problema é mesmo que a única coisa que ele resolve fazer é não passar a ninguém e continuar a estragar jogadas de ataque. Se é verdade que as suas qualidades individuais poderão solucionar alguns problemas ofensivos, não é menos verdade que o Porto será menos equipa, será muito mais previsível e estará dependente da inspiração de um jogador. Será muito pouco... E será sobretudo a confirmação de que o modelo de Jesualdo se baseia nas individualidades e não no colectivo...
5. Por fim, o caso Cissokho. Vender Lucho e Lisandro pelas quantias conseguidas é normal. Vender Cissokho por 15 milhões é estupidamente absurdo. O senegalês é um jogador mediano, que soube ocupar um lugar para o qual não havia concorrência, mas que tem ainda muito a melhorar. Soube cumprir os princípios defensivos exemplarmente, apesar de um início um tanto ou quanto displicente, e valeu-se da sua melhor característica, a força. É um jogador capaz de ser regular, mas sobre o qual não antevejo um futuro brilhante que justifique um investimento tão arriscado quanto o do Lyon. Dito isto, não é possível esquecer todo o processo negocial. O Lyon foi a primeira equipa a mostrar interesse no jogador, mas não ia além dos 7 ou 8 milhões de euros, quantia muito mais consentânea com o valor e com o potencial de Cissokho. O Porto, procurando esticar a corda, ia adiando o negócio. E, de repente, aparece o Milan a oferecer o dobro pelo mesmo jogador. Ninguém com um mínimo de imaginação terá ficado indiferente a este brusco e peremptório interesse do Milan. A primeira coisa que pensei foi que isto era um esquema para que o Lyon decidisse oferecer a mesma quantia. Mas a verdade é que o negócio se consumou. Não querendo acreditar, imaginei ingenuamente que o jogador chumbaria nos testes médicos e voltaria ao Porto, valorizado por uma oferta que afinal não passara de um embuste para fazer crer a terceiros que o jogador tinha mercado e valia o dobro daquilo por que estava a ser pretendido. Quando saiu a primeira notícia sobre os testes médicos falhados, percebi que aquilo que pensara na forma de um gracejo, na forma de uma tentativa de justificar algo que me parecia absurdo, estava afinal bem próximo da realidade. Por coincidência, imaginara exactamente aquilo que veio a acontecer. As razões que me levaram a imaginar o sucedido não poderiam diferir, por certo, das razões que fizeram com que isso acontecesse de facto. Não tenho dúvidas que o interesse manifestado pelo Milan nos dias seguintes não foi mais do que uma forma de reforçar a ideia de que o clube italiano estivera mesmo interessado no lateral do Porto. E o Lyon acreditou. E aceitou pagar o dobro daquilo a que estava disposto. Qualquer pessoa dotada de bom senso perceberá que o Milan nunca esteve interessado em Cissokho. Além da desculpa esfarrapada dos dentes e da oferta repentina e descabida pelo jogador, razões suficientes para fazer desconfiar qualquer pessoa, a equipa italiana, depois de gorado o negócio, não procurou contratar outro lateral-esquerdo. Ora, estavam dispostos a dar 15 milhões de euros por um lateral e afinal nem sequer precisavam de laterais? Não faz sentido. É por demais evidente que o Milan e o Porto negociaram uma transferência fictícia de maneira a valorizar Cissokho para que o único e verdadeiro interessado no jogador, o Lyon, ficasse com a impressão de que havia emblemas dispostos a pagar 15 milhões e que o jogador talvez valesse assim tanto. Expus esta ideia ainda o Lyon não tinha avançado para a contratação de Cissokho, logo após o senegalês ser rejeitado pelo Milan, e houve quem achasse ridículo que um jogador que tinha chumbado nos testes médicos pudesse ficar valorizado. A mim, contudo, parece-me ridículo o contrário, tendo em conta que o jogador sempre esteve apto para jogar futebol. O interesse do Milan - repito - foi uma ficção, uma impostura, e teve a finalidade de impressionar e de acirrar o interesse do Lyon. Tendo em conta a actual conjuntura legal que envolve as negociações de atletas, este embuste, mais do que o reflexo da capacidade negocial dos dirigentes portistas, consiste numa actividade fraudulenta que merecia uma investigação cuidada.
6. O Sporting, ao contrário dos seus rivais, não contratou muito. Matías Fernandez, Saleiro e Caicedo renderam Romagnoli, Derlei e Tiuí. Não tenho nada contra a política financeira e desportiva do clube de Alvalade e acho até absurdo argumentar que tem menos meios que os rivais. Não tendo um poderio financeiro tão elevado, tem uma formação mais competente, o que compensa. E o valor do plantel, por causa disso, não se ressente. Aliás, o plantel leonino não é inferior ao do Porto, por exemplo. Desculpabilizar campeonatos mal conseguidos por incapacidade de competir com o Porto é ridículo. Revela um comportamento hipócrita e tacanho. Se o Sporting não tem conseguido competir com o Porto, é porque não tem sido tão competente. Afirmar que Paulo Bento tem feito o possível e repetir chavões como "sem ovos não se fazem omeletas" é uma atitude bem portuguesa que revela conformismo e servilismo. O Sporting tem argumentos tão ou mais válidos que os rivais, tem "ovos" de categoria com os quais pode fazer "omeletas" formidáveis. Quem pensa o contrário, engana-se.
7. Pela pré-época leonina, auguro uma época sombria. Paulo Bento tem perdido, gradualmente, as suas melhores características. O jogo do Sporting, agora, resume-se a um marasmo sem explicação. Não há motivação, não há alegria. E assim é difícil que haja vontade. O problema do Sporting - repito - é de liderança. Não tem a ver com liderança, porém, no sentido psicológico. Tem a ver com o saber extrair dos atletas o seu melhor, de ser capaz de puxar pela sua vaidade, pelo seu brio. E isso não se faz apenas com um discurso de líder. Faz-se sobretudo usando um modelo de jogo no qual os atletas ao seu dispor se sintam valorizados. No actual modelo, uma coisa feia, rectilínea, que tem por fim chegar à frente o mais depressa possível, que valoriza essencialmente a velocidade e a força física, que pretende jogar apenas pelas alas e não pelo meio, os virtuosos, os inteligentes, os criativos estão amordaçados. O Sporting é, dos três grandes, a equipa com mais jogadores cuja principal característica é a inteligência. Deveria aproveitar esse facto para praticar um futebol inteligente, de posse e circulação de bola, e não o contrário. Pratica um futebol de distrital, um futebol de equipa pequena. Por essa razão, os jogadores entram em campo com os colossos europeus a pensar que lhes são muito inferiores. Daí os desastres com o Bayern; daí o facto de jogadores como Pereirinha e Djaló permanecerem acanhados; daí a estagnação de Moutinho e Veloso; daí a pouca preponderância de Romagnoli e Matías Fernandez; daí a aparência de que Liedson é Deus.
8. As exibições com o Twente foram das piores que vi desde que Paulo Bento assumiu as rédeas da equipa. E não acredito que o Sporting melhore muito ao longo da época. Não acho Paulo Bento péssimo, mas neste momento é prejudicial ao Sporting. Enquanto não sair, a equipa não ganhará nada de importante, permanecerá amarrada a ideias que não podem vingar e os jogadores não evoluirão. Uma vez que a política do Sporting necessita da valorização dos seus activos, Paulo Bento já nem sequer é o homem certo à frente do leme. Os primeiros jogos do campeonato e a eliminatória com a Fiorentina deveriam servir para se reflectir sobre o futuro do Sporting, até porque, muito provavelmente, esses jogos comprometerão toda a temporada.
9. Liedson leva mais de 500 minutos sem marcar, não é? Isso dá o quê, 6 jogos? E Postiga foi o melhor marcador da equipa na pré-época, não foi? E quem é que Paulo Bento tirou para fazer entrar Caicedo, o rapaz que ainda não marcou um golo esta temporada e que não ganhou um lance durante o jogo, ou o melhor marcador da equipa na pré-temporada? É por haver estes tipo de indiscutíveis que há "azias" permanentes no balneário. É de todo irresponsável e errado censurar Miguel Veloso, Djaló ou Vukcevic por ficarem chateados por não jogar. A responsabilidade não é deles; é de Paulo Bento e das suas ideias preconcebidas.
10. No Benfica, nem tudo são rosas, apesar de o início de época ser auspicioso. A indefinição quanto ao guarda-redes titular, a incapacidade de se perceber que Sidnei é evidentemente o melhor central encarnado e que David Luiz, neste momento, não só não pode ser lateral como não tem lugar a central, as desconfianças em relação a Shaffer, o melhor defesa-esquerdo a actuar em Portugal, a discrepância entre o aplauso constante a Javi Garcia e o apupo permanente a Yebda, quando são jogadores de um nível idêntico, um melhor posicionalmente, outro mais ágil e agressivo e tecnicamente superior, a dificuldade que se adivinha em gerir expectativas quando há jogadores de estatuto idêntico que vão ficar necessariamente de fora (entre Carlos Martins, Ruben Amorim e Ramires só vai jogar um), o excesso de avançados, etc., são alguns dos problemas individuais que poderão comprometer a temporada. Há que ter em conta essas coisas no momento de elevar as expectativas.
11. Outro problema, para mim o principal em termos colectivos, está relacionado com o sistema táctico e com a abertura que se nota no meio-campo. O Benfica de Jesus, ao contrário do que tem sido apontado, não joga em 442 losango, mas sim em 4132, com Aimar a jogar na mesma linha dos interiores. Não sendo alas, estes dois homens jogam então necessariamente mais abertos do que num 442 losango, em que seriam responsáveis mais pelo trabalho interior do que pelo exterior. No Benfica de Jesus, esta amplitude permite à equipa maior largura, mais velocidade, mas compromete o centro do terreno e os apoios pelo miolo. Além de a ligação entre meio-campo e ataque não ser garantida com tanta facilidade, pois o 10 joga mais afastado da dianteira, o que afasta os sectores e prejudica necessariamente a pressão, a equipa perde ainda um apoio frontal, um homem a aparecer frequentemente no espaço entre linhas, tão útil no futebol moderno. Sem isso, o Benfica terá de ser constantemente dinâmico, terá de cair na vertigem de jogar sempre com uma intensidade elevadíssima e será incapaz de controlar o ritmo de jogo quando lhe convier que este seja mais pausado. O Benfica será, por isso, uma equipa muito dependente dos dois momentos de transição e aí terá de se defender com a sua capacidade posicional. Se o posicionamento de um médio-defensivo garante o equilíbrio em relação à defesa, é à frente dele e sobretudo ao lado que me parece que há espaços indevidos. Os interiores, sendo responsáveis pelo trabalho exterior, não estão constantemente a fechar no meio e isso, sobretudo em transição, pode ser fatal. Nesta pré-época, o principal problema defensivo do Benfica foi precisamente o espaço entre o médio-defensivo e os outros três médios, coisa que, não sendo corrigida, pode trazer amargos de boca nada agradáveis.
12. Escalpelizados os principais defeitos do Benfica de Jesus, resta uma palavra de apreço pelo futebol praticado, provavelmente o melhor nesta década para os lados da Luz. Considero o Benfica o principal candidato ao título esta época. Individualmente, tem um plantel fortíssimo. Colectivamente, tem o homem certo à frente do leme. E a concorrência parece bastante debilitada, seja o Porto pelo muito músculo e pouca cabeça, seja o Sporting pela incapacidade de compreender a força do seu plantel.
13. Para os detractores de Aimar, esta será uma época de poucas palavras. O argentino é o jogador mais talentoso do campeonato português e, inserido num modelo de jogo que potencia o verdadeiro talento, vai certamente encantar. A inteligência de Jesus começou a ser revelada no preciso momento em que reconheceu que Aimar era o jogador mais importante da equipa, entregando-lhe a batuta e construindo o resto em função da sua existência.
14. Aimar e Saviola formarão a dupla mais temível da Liga Portuguesa. A importância da relação entre dois ou mais jogadores costuma ser pouco valorizada. Já referi que essa era a principal arma do Porto nas últimas épocas e que Lisandro e Lucho se entendiam como ninguém. Agora que saíram de Portugal e que, no Sporting, Paulo Bento insiste em não aproveitar a capacidade intelectual dos seus jogadores para criar duplas ou triplas que se entendam muito bem, é no Benfica e nesta dupla de argentinos que reside o grupo de jogadores que melhor se entende no futebol português. É de assinalar a facilidade com que jogam um com o outro, caindo às vezes no exagero saudável de trocarem a bola entre si num espaço de três metros, enquanto os adversários andam à rabia.
15. Das restantes equipas da Liga, destaco Braga e Vitória de Guimarães, por me parecerem aquelas que reúnem melhores elementos a nível individual. Com Madrid, Possebon, Hugo Viana, Mossoró, Alan e Linz, Domingos Paciência está obrigado a fazer um grande trabalho. De igual modo, com Custódio, Desmarets, Nuno Assis, Rui Miguel, Jorge Gonçalves e Douglas, Nelo Vingada também não se poderá queixar de falta de qualidade do meio-campo para a frente. O Marítimo de Carlos Carvalhal, pela competência que lhe reconheço, terá também uma palavra a dizer no que diz respeito aos lugares europeus. Estou com alguma curiosidade para ver o que Jorge Costa fará neste regresso à primeira Liga, pelo que não sei até que ponto o Olhanense não será uma surpresa agradável. O Nacional é um clube estável e ocupará, por certo, posições confortáveis. O Vitória de Setúbal, a Naval, o Rio Ave, o Leiria, o Belenenses, o Paços, a Académica e o Leixões parecem-me as equipas mais débeis e prevejo que sairão deste grupo as duas despromovidas.
16. Em Inglaterra, o Manchester perdeu Ronaldo e Tevez de uma assentada. Vieram Owen e Valencia, o que deixa a equipa bastante inferiorizada. Poderá ser a época de explosão de Nani, mas creio que o reinado dos Red Devils estará ameaçado. Liverpool e Chelsea são, para mim, os principais favoritos à conquista do campeonato.
17. O Arsenal de Wenger reúne talento que nunca mais acaba, mas o sistema táctico manter-se-á o principal problema do treinador francês. As saídas de Adebayor e Touré não são graves, se pensarmos que há Fabregas, Rosicky, Nasri, Arshavin, Van Persie, Walcott, Eduardo e Carlos Vela, mas teriam de ser incluídos num modelo que os beneficiasse... Na rigidez de um 442 clássico, não há médios vocacionados para preencher tanto espaço, nem tantos criativos como Wenger tem ao seu dispor usufruem da liberdade que seria desejável.
18. O Manchester City contratou muito, mas mantém um treinador incompetente. Apesar de ter contratado bastante para o ataque, a defesa não está mal apetrechada. Zabaleta, Micah Richards, Kompany, Touré e Wayne Bridges deverão conferir qualidade ao sector. No meio-campo, há também alguns jogadores de qualidade, como Gareth Barry ou Martin Petrov. Mas Robinho, Santa Cruz, Adebayor e Tevez mereciam um treinador a sério.
19. Em Itália, continua a revolução de mentalidades. Ainda há muita gente que acredita que o futebol italiano é fechado, mas a verdade é cada vez menos condizente com esse preconceito. Há muito que o futebol italiano deixou de ser defensivo e este ano parece-me que se dá mais um passo rumo à desacreditação de tais ideias. Mourinho jogará de forma completamente diferente, pressionando provavelmente muito mais alto, e, contratando convenientemente para o meio-campo, terá equipa para lutar novamente pela Liga dos Campeões.
20. A Juventus será talvez o mais sério rival do Inter. Diego, Tiago, Camoranesi e Filipe Melo seriam as minhas escolhas para o meio-campo. Del Piero e Amauri constituíriam a dupla ofensiva. Não esquecer Giovinco, que este ano deverá aparecer em força.
21. O Milan de Leonardo parece-me estar um pouco abaixo da concorrência. A chegada de Huntelaar trará qualidade ao ataque, mas, pelo que pude ver na pré-época, os processos ofensivos passam muito por esperar que Ronaldinho esteja inspirado. Se Beckham regressar a Milão, como se diz, um 442 losango com Pirlo, Beckham, Seedorf, Ronaldinho, Huntelaar e Pato, bem trabalhado, seria demolidor.
22. Em Espanha, as contratações milionárias do Real Madrid fizeram furor. O Barcelona será novamente campeão e o resto é conversa.
23. Dispensar Huntelaar e Van der Vaart é uma palermice. Se acrescentarmos a esta lista a pouca vontade de Pellegrini em contar com Sneijder, Robben, Guti ou até mesmo Gago, parece-me evidente que o Real vai ser uma equipa de gente com músculos, mas sem muitas ideias. E duvido que Kaká consiga compensar tanta desorientação. Depois, contratar Granero, um jovem da cantera que regressou este ano do Getafe que pouco ou nada vai jogar e ceder o jovem Daniel Parejo, um jogador muito mais talentoso e com uma margem de progressão assombrosa, revela muito do que é este clube. Em resumo, o Real contratou em demasia e terá muitos problemas em formar uma equipa.
24. O Barcelona manteve a estrutura e contratou pouco e bem, como se recomenda. Não será por acaso que as duas contratações dos catalães, Maxwell e Ibrahimovic, passaram pelo Ajax. Também não é por acaso que Bruno Alves não foi para Barcelona e que Guardiola tenha optado por fazer regressar o central brasileiro Henrique. E também não é por acaso que o Barcelona se manterá como o mais forte candidato à vitória na Liga dos Campeões.
25. Para finalizar, um pequeno aparte sobre um momento da pré-época. Gosto de defender quem merece ser defendido e atacar quem merece ser atacado. Del Piero falhou um penalty na final da Peace Cup e a Juventus acabou por não ganhar a competição. Aos risos, que são naturais, juntou-se a estupidez de quem gosta de ser estúpido e falou-se em um dos piores penalties de sempre. A estupefacção tomou conta de mim. É verdade que Del Piero falhou, mas o penalty não foi mal marcado. Antes pelo contrário, Del Piero fez tudo o que o que deveria ter feito. Repare-se que ele modifica a corrida no momento anterior ao remate, tentando enganar o guarda-redes. Tecnicamente, não foi displicente. Ele sabia exactamente o que ia fazer e a sua ideia era fazer o guarda-redes cair para um lado e chutar para o meio. Aliemos a isto o facto de o guarda-redes, nas quatro penalidades anteriores, ter sempre tentado adivinhar o lado para onde o avançado ia chutar. Del Piero esteve certamente com atenção a isso. Sabia que o guarda-redes preferia adivinhar o lado e não haveria melhor forma de convertê-lo do que chutando para o meio da baliza. Tendo em conta que Del Piero raramente bate para o meio, o penalty foi até imprevisível. Por paradoxal que pareça, o guarda-redes defendeu a bola porque foi burro. E com a burrice dos outros é difícil de contar. Se o guarda-redes fosse inteligente, jamais decidiria ficar quieto. O que ele imaginou foi que Del Piero, por ser um craque, iria tentar bater à Panenka. Mas isso não é ser esperto. É ser burro. Porque Del Piero nunca bate à Panenka. Teve sorte e a bola bateu-lhe nos pés. Às vezes os burros têm sorte. E os comentadores, sem se darem ao trabalho de raciocinar, nem perceberam que o penalty foi bem batido, quer em termos de decisão, quer em termos técnicos, e que não houve displicência alguma. Houve sim sorte do guarda-redes. Catagolar um penalty bem batido que não deu golo porque o guarda-redes teve sorte como um dos piores penalties é uma doença grave. Ou então é aquele impulso de homem das cavernas de relatar factos surpreendentes aos outros, de contar histórias mirabolantes, como se conhecer tais histórias fizessem essas pessoas mais sábias, e que conduzem ao exagero de falar de coisas normais como se fossem coisas extraordinárias. Veja-se o que a redacção do Mais Futebol escreveu a seguir: "Curiosamente aquele não era mesmo o momento de Del Piero: para além de falhar o penalty, o internacional italiano falhou também a «recarga» - que de qualquer forma não ia valer, mas que fez em desespero de causa." Pois, o que o Del Piero queria era mesmo fazer a recarga. Claro. Nem estava irritado por não ter marcado nem nada. Ele queria mesmo era fazer a recarga... E chamam a isto jornalismo? Isto não é jornalismo; isto são bandalhos a dizer asneiras...