O que é ser adepto? Em grande medida, é ser alguém que gosta especialmente de um clube, tendencialmente de modo irracional, e que se regozija com a vitória desse clube. Há, no entanto, um problema. De que serve uma vitória a um adepto? Isto é, por que razão uma vitória do clube de que gosta o deixa tão contente? Numa guerra, vencer o inimigo implica necessariamente evitar a aniquilação, ou a subjugação. Vencer, nesse caso, é sobreviver. Mas, em futebol, não é assim. Qual é o objectivo ulterior da vitória? Um só: sentir que se é melhor do que os vencidos. O Chelsea acabou de se sagrar campeão europeu, e muitos londrinos sentirão neste momento que são os melhores do mundo. Senti-lo-ão, sim, mas porque são estúpidos. Um adepto inteligente, havendo-o por aí, só poderia sentir vergonha, nesta altura. Aliás, a capacidade de sentir vergonha nos momentos certos é, não raro, um sintoma de inteligência.
Dir-me-ão que isto não tem nada a ver com inteligência. Respondo que defender a prática da celebração de vitórias recorrendo à estupidez em que consiste o exercício é provavelmente uma defesa idiota. Os adeptos do Chelsea que festejam hoje a vitória do seu clube são como jogadores de casino a quem saem os dados certos, com a diferença significativa de que, depois da jogada certeira, não ganham dinheiro nenhum. O que se festeja hoje em Londres é, à falta de melhor, a irracionalidade própria. Aquelas pessoas celebram porque estão convencidas - a cultura em que nasceram educou-as assim - de que as vitórias, por si só, merecem celebração. Mas não há razão nenhuma para que assim seja. Só há um tipo de sítios em que imagino que as coisas se festejem por si só: os hospícios. Londres é hoje um hospício gigante em que os doidos, apenas porque sim, apenas porque há qualquer coisa dentro deles que os faz sentirem-se embriagados de felicidade, festejam a sua doidice. Ser adepto, como é normalmente entendido, é pouco mais do que ser doido.
Ganhar, por si só, não é nada. A vitória só faz sentido enquanto materialização de uma certa superioridade. O que deve ser festejado, quando se festeja uma vitória, não é a vitória, mas a superioridade que essa vitória materializou. Quando a vitória cai do céu, quando não materializa rigorosamente coisa nenhuma, festejá-la é um absurdo. Assim é neste momento. O Chelsea não foi superior a ninguém, e a vitória que alcançou é ridícula. Festejar essa vitória é como ser muçulmano e festejar o triste episódio do World Trade Center em 2001. Pensando bem, aquilo que celebram as pessoas que celebram vitórias como a do Chelsea é o Acaso; celebram o terem tido sorte, o ter-lhes protegido os interesses qualquer força inexplicável. A conclusão surpreendente é estas pessoas celebrarem afinal o não terem livre-arbítrio. Não é extraordinário? Eis a melhor definição possível de um adepto: indivíduo que, por gostar irracionalmente de algo, reconhece inadvertidamente que esperar a morte é o único objectivo da sua vida.
Depois de, em Camp Nou, o Barcelona jogar e o Real Madrid vencer; depois de, outra vez em Camp Nou, o Barcelona jogar e o Chelsea vencer; depois de, em Bucareste, o Athletic de Bilbao jogar e o Atlético de Madrid vencer; eis que, em Munique, o Bayern jogou e o Chelsea venceu. Às vezes, no futebol, são os que menos fazem por isso que ganham. Este ano, sobretudo nesta fase final da época, aconteceu mais vezes do que é normal. É por isso um ano desastroso para o futebol. De tempos a tempos, acontece um ano assim. E o que dizer agora de André Villas Boas e de Di Matteo? Digo o mesmo que disse há uns anos de Juande Ramos e Harry Redknapp. Na altura, disse que o Tottenham não quisera crescer para onde podia. Harry Redknapp devolvera os resultados imediatos ao clube, mas o clube não tinha por onde crescer. Com o orçamento e o grupo de jogadores que o Tottenham tem, hoje em dia, não ser capaz de lutar pelo título é mau. Continua atrás do principal clube londrino, e vai tendo, no máximo, uma ou outra vitória circunstancial. Ao fim destes anos, confirmou-se a previsão: o Tottenham tem a força máxima que poderia ter com a qualidade do plantel que tem, mas estagnou enquanto colectivo. Preferiram-se os resultados a curto prazo, e não o projecto de longo termo. O Chelsea que Villas Boas desejava talvez desse frutos sustentados daqui a uns anos. Os jogadores não quiseram, e estou certo de que os adeptos estão, neste momento, felizes com a substituição de treinador. Ganharam um título muito importante, mas comprometeram, na minha opinião, o futuro. O Chelsea foi campeão europeu, mas, extraordinariamente, deu um passo atrás. De vez em quando, também acontece. É estranho pensar assim, mas é o único pensamento correcto. Ganhar nem sempre é dar um passo em frente. Por mais paradoxal que pareça, ao sagrar-se campeão europeu, o Chelsea tornou-se um clube mais fraco do que era.
É talvez ainda cedo para que se
perceba verdadeiramente o que se passou nestes 4 anos, e acredito que há
pouca gente, neste momento, consciente do que isto representou para a
História do jogo. Tal como a 14 de Julho de 1789, Luís XIV escrevia no
seu diário a palavra "Rien", a grande maioria dos amantes de futebol não
estará a par da Bastilha que Guardiola e os seus pupilos tomaram. Por
esta ou por aquela razão, ainda que admirados com o que esta equipa fez,
não entendem a revolução a que deu lugar. À distância, todos os grandes
momentos da História da Humanidade nos parecem grandes o suficiente
para que as pessoas que os tenham vivido tenham sabido aproveitá-los.
Mas quantas das pessoas que os viviam estariam conscientes da sua
importância futura? Saberia, quem conversava com Sócrates em Atenas, o
privilégio que tinha? Conheceriam os marinheiros a bordo da Santa Maria
as repercussões daquela viagem histórica? Que espécie de sentimentos
guardariam os espectadores do "The Globe", em Londres, depois de cada
representação? Hoje em dia, as suas vidas parecem-nos invejáveis pelo
simples facto de que puderam desfrutar de momentos irrepetíveis. Vistos à
escala a quem têm de ser vistos, estes 4 anos propiciaram-nos coisas
muito semelhantes, e o seu impacto na História do Futebol depressa se
evidenciará.
Pessoalmente,
poder ter assistido ao futebol apresentado por esta equipa foi um dos
maiores privilégios da minha vida, e só posso agradecer a oportunidade.
Quando Guardiola, na época de 2008/2009, pegou no leme catalão, poucos o
conheciam e poucos esperariam o que se viria a passar. Muitas das
ideias que defendíamos aqui, já na altura, não tinham materialização
prática, e nenhuma equipa, até então, jogava o tipo futebol que
acreditávamos ser o mais eficaz. No início dessa época, José Mourinho
rumava a Itália, e tínhamos bastantes expectativas em relação ao seu
trabalho. O Porto de Mourinho, assim como o seu Chelsea dos primeiros
dois anos, jogava de modo muito interessante, e esperávamos que, em
Milão, tentasse levar mais longe algumas das suas ideias mais antigas.
Infelizmente, Mourinho tinha mudado a sua maneira de pensar. A
mentalidade competitiva falou mais alto, e o querer ganhar a todo o
custo sobrepôs-se à ideologia anterior. No ano anterior, o modelo
ofensivo de Frank Rijkaard tinha-se desmoronado com a deterioração das
capacidades individuais de alguns dos principais jogadores da equipa,
mostrando que os feitos alcançados dependiam excessivamente da
competência individualizada dos atletas ao seu dispor. Nessa época de
2008/2009, talvez mais do que nunca, imperava no futebol mundial a
ideia, contra a qual sempre quisemos lutar, de que as capacidades
individuais são o que, no limite, distinguem uma grande equipa, e a
ideia, ainda mais rudimentar, de que os atributos atléticos são os mais
relevantes numa modalidade que está a chegar ao ponto máximo da sua
evolução.
Inesperadamente,
portanto, começou a aparecer na Catalunha, em jogadas reais, aquilo que
nos ia na cabeça. Ainda me lembro da primeira troca de ideias que eu e o
Gonçalo tivemos a respeito da equipa de Guardiola: "Aquilo é a nossa
praia!", disse um para o outro. E era! E foi-o sendo cada vez mais, à
medida que os jogadores iam interiorizando melhor e melhor a radical
diferença do que estavam a fazer. Guardiola ainda não deveria ter 6
meses ao comando dos catalães e já era para nós o melhor treinador da História do Jogo. Isto
pela simples razão de que fora o primeiro a conseguir que os seus
jogadores jogassem de modo sistemático da maneira que nós acreditávamos
ser a melhor para se jogar futebol. Por esta altura, talvez só Xavi e
Iniesta entendessem a proposta de Guardiola na sua plenitude. Era por
isso que, nessa altura, só entre eles se passasse o tipo de coisas que,
mais tarde, se começou a passar entre todos os jogadores em campo. A
pouco e pouco, o modelo foi ganhando consistência, sofisticou-se o mais
possível, e foi nesta quarta época que atingiu o seu zénite. Na hora da
despedida, Guardiola agradeceu aos jogadores por terem posto em campo
aqueles lances que antes só podia imaginar. Foi precisamente a
quantidade e a qualidade desses lances que Guardiola só podia imaginar
que esta equipa foi melhorando ao longo das quatro épocas. Hoje em dia,
não podiam melhorar mais. E Guardiola sentiu que tinha o dever cumprido.
Agora pode talvez ficar em casa, enquanto outro lhe segue os passos,
com a certeza de que poderá continuar a ver aquilo que antes não podia.
Guardiola
justificou a decisão de terminar o vínculo contratual que o ligava ao
Barcelona com a necessidade de descanso. Visivelmente, já não se
entusiasmava como antes, já não vivia intensamente os jogos como no
passado. O que Guardiola não disse, mas que talvez lhe estivesse na
cabeça, é que o cansaço se devia também ao sucesso. Não falo do sucesso a
nível de conquistas, mas num outro sucesso maior. Para muitos,
Guardiola ficará na História do Futebol pelos 13 (ainda poderão ser 14)
títulos em 4 épocas. Para mim, os seus maiores feitos são outros.
Guardiola mudou o jogo! Os seus jogadores interpretavam tão bem aquilo
que ele idealizara que sentiu que não tinha mais nada para lhes ensinar.
Podia continuar a acumular títulos, mas corria o risco de criar
habituações perniciosas. Ao contrário de outros, que usam como estímulo a
conquista de troféus, os records, os adversários impossíveis de
vencer, Guardiola tinha por estímulo a revolução que levou a cabo.
Terminada que está essa revolução, decidiu recolher-se, e merece todo o
respeito pela coragem com que o fez. Como bem disse, precisa de sentir
novamente que o futebol precisa dele. Talvez nessa altura, com outro
projecto, com outras aspirações, regresse para revolucionar mais um
pouco. Pessoalmente, não tenho curiosidade nenhuma em saber o que fará
noutras paragens. Isto é, gostaria de vê-lo a treinar outra equipa, mas
não me preocupa que não o faça. Aquilo que deu ao futebol nestes 4 anos é
tão importante que, mesmo que não volte a treinar, terá dado mais do
que qualquer treinador em 30 ou 40 anos de carreira. Mal ou bem,
Guardiola deixou para a posteridade lições suficientes para que o
futebol do futuro não precise de regressar ao tempo das cavernas.
Disse
acima que os seus maiores feitos não foram os títulos, e é nisso em que
acredito. Ganhar coisas todos ganham. Ganhar muitas coisas também há
quem o faça. Mas mesmo os mais titulados dos treinadores, em muitos e
muitos anos de carreira, não foram capazes de fazer as coisas que
Guardiola fez nestes 4 anos. E é disso que quero falar até ao fim. Terá dito José Mourinho que
venceu uma das melhores equipas da História, e que com isso provou que
não há só uma maneira de jogar futebol. Que há muitas formas de ganhar e
de jogar futebol parece-me inequívoco. Que haja muitas formas de
exercer o tipo de supremacia que o Barcelona de Guardiola exerceu nestes
quatro anos é que me parece mais difícil de sustentar. Sim, Mourinho
ganhou. Como já o havia feito com o Inter de Milão. Mas o Barcelona de
Guardiola fez algo muito mais importante do que simplesmente ganhar.
Além de ter ganho sistematicamente, fez coisas que nenhuma outra equipa
na História do Jogo conseguiu fazer. É esse o legado de Guardiola.
Ganhar todos podem fazê-lo. E Mourinho até é dos que ganha muito. Mas
revolucionar o jogo como este Barcelona fez não está ao alcance de
qualquer um. É claro que não há um só tipo de futebol vencedor. Mas há
um só tipo de futebol que, para além de habilitar quem o pratica a
vencer, o habilita a ficar na História do Futebol bem acima de qualquer
outra equipa. Deixo abaixo algumas evidências daquilo que nos legou esta
equipa, coisas que nunca tinha visto acontecer noutros sítios e noutros
contextos, e coisas que não voltarão a acontecer tão depressa. São
estas coisas que diferenciam esta equipa de qualquer outra. No dia em
que houver outra equipa a conseguir estes feitos, então talvez possamos
conversar.
1. POSSE DE BOLA
Nunca
tinha visto uma equipa passar 4 anos seguidos sem ter menos de 50% de
posse de bola num jogo, nem nunca tinha visto uma equipa conseguir
médias de posse de bola a rondar os 70%.
2. PASSES COMPLETADOS
Nunca tinha visto o guarda-redes de uma equipa realizar
mais passes do que a maioria dos jogadores adversários, nem nunca tinha
visto um só jogador ter mais passes completados que a equipa adversária
inteira (ainda na recente meia-final da Liga dos Campeões com o Chelsea,
no jogo da segunda mão, Xavi fez mais passes do que toda a equipa
inglesa).
3. GOLEADAS
Nunca tinha visto uma equipa com capacidade para golear
quem quer
que fosse o adversário (em Espanha, nenhuma das principais equipas
escapou a goleadas com 5 ou mais golos), nem nunca tinha visto uma
equipa capaz de vencer por 7-0 em terreno alheio, num jogo da Liga,
perfazer 73% de posse de bola, com apenas 4 titulares em campo.
Aconteceu a semana passada, diante do Rayo Vallecano (Pinto, Montoya,
Puyol, Mascherano, Adriano, Busquets, Keita, Thiago, Pedro, Alexis e
Messi foram os onze que entraram em campo).
4. GOLOS
Nunca tinha visto uma equipa marcar tantos golos através de
combinações colectivas, nem nunca tinha visto uma equipa funcionar de
modo tão exemplar que
propiciasse ao seu melhor jogador a possibilidade marcar mais de 70
golos, em jogos oficiais, numa só época.
5. ESTILO
Nunca
tinha visto uma equipa capaz de criar um estilo tão distinto (um estilo
que, ao mesmo tempo, todos gostariam replicar e ninguém se atreve a
fazê-lo), nem nunca tinha visto uma equipa a dominar tão claramente os
seus adversários, pondo-os sistematicamente à rabia.
6. TRANSCENDÊNCIAS
Nunca
tinha visto 2 só jogadores conseguirem furar entre 8 ou 9 adversários
bem fechados, recorrendo a tabelas sucessivas, nem nunca tinha visto 2
ou 3 jogadores conseguirem superar sistematicamente 5 ou 6 adversários
através de combinações entre eles.
7. LIÇÕES
Nunca
tinha visto uma equipa a destruir tantos preconceitos acerca do jogo
como esta (o de que não se pode sair a jogar quando se é pressionado; o
de que não se deve arriscar atrás; o de que se deve cruzar a bola para a
área quando se chega à linha de fundo; o de que se deve aproveitar
sempre o espaço em transição; o de que se deve ter, pelo menos, alguns
jogadores altos e fortes em campo; o de que não se deve ter mais do que
um médio criativo em campo ao mesmo tempo; o de que se deve adaptar pelo
menos parte do modo de jogar ao adversário que se enfrenta; o de que se
deve jogar pelas alas quando o meio está fechado; o de que uma equipa
se deve compor de jogadores para defender e de jogadores para atacar; o
de que cada jogador deve ter uma função específica em campo; o de que o
ponta-de-lança deve servir essencialmente para marcar golos; o de que
coisas inconsequentes, como tabelas sem progressão ou passes para
jogadores rodeados de adversários, devem ser evitadas; o de que se deve
rematar à baliza sempre que se tem possibilidade; o de que se deve
variar entre o passe curto e o passe longo; o de que o futebol moderno
tornou utópico jogar apenas com 3 defesas; o de que o portador da bola
deve respeitar sempre a desmarcação do colega, passando-lhe a bola; o de
que a vaidade é um atributo a eliminar numa equipa de futebol; o de que
a força ofensiva de uma equipa depende da soma da competência
individual dos seus atacantes; o de que, com bola, a equipa deve fazer
campo grande, espalhando os seus jogadores o melhor possível pelo
terreno de jogo; o de que se deve jogar sempre com a máxima intensidade
possível; o de que os extremos devem estar o mais abertos possíveis;
etc.), nem nunca tinha visto uma equipa forçar a que os teóricos do
jogo reformulassem tanto as suas teorias acerca do mesmo.
8. MONSTRUOSIDADES
Nunca tinha visto uma equipa gerar tantos anticorpos, assustado tanta
gente, e motivado tanto esforço para ser derrubada, nem nunca tinha
visto uma equipa promover tantos debates teóricos, e motivar tanta
discussão em torno da melhor estratégia com que pudesse ser derrotada.
9. APOIO INCONDICIONAL
Nunca tinha visto 90 mil pessoas, instantes depois do golo
que impedia a equipa de chegar à final da Liga dos Campeões, três dias
depois de a equipa ter também perdido o campeonato para o rival de
Madrid, juntar as vozes e, em coro, entoar: "Olele, olala, ser del barça
es el millor que hi ha!", nem nunca tinha visto uma equipa ficar em segundo lugar no campeonato, e
celebrar tanto quanto a que ganhou o título (aconteceu na despedida de
Guardiola, este fim-de-semana).
10. REVOLUÇÃO
Nunca
tinha visto nada destas coisas, nem nunca tinha visto uma equipa
revolucionar tanto esta modalidade. É este o legado de Guardiola. Que se aprenda alguma coisa com ele! O Entre Dez, que faria justiça à decisão de Guardiola emulando-a, decide por enquanto permanecer activo, a fim de que se possam continuar a educar os espíritos mais difíceis de convencer. Agora que Guardiola mostrou que é possível jogar desta maneira, é também mais fácil pensar no jogo como sempre exigimos que se pensasse. A revolução está feita. Resta-nos continuar a defender-lhe a necessidade.