sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Certezas (12)

Classe. É a palavra que melhor o define. O que não deixa de ser notável, tendo em conta que tem apenas 19 anos. Possuidor de uma técnica absolutamente notável, o que impressiona mais neste miúdo é a maturidade, a frieza, a racionalidade. É, também, a aparente facilidade com que executa cada lance. Alia, portanto, aos atributos técnicos invejáveis uma velocidade de raciocínio ímpar. Ao chegar aos seus pés, a bola já tem um destino, previamente estudado e decidido com uma destreza invulgar. Apesar de muito talentoso, não parece cair nas vaidades de outros e muito menos abusar nos truques e na fantasia improfícua. Sabe, por isso, guardar o seu arsenal de recursos para quando necessita deles, não usando cada bola que lhe chega para demonstrar as coisas extraordinárias de que os seus pés são capazes. Essa é, aliás, uma das características da escola espanhola de que faz parte. Aqui abro um parêntesis. É certo que esta rubrica, até ao momento, se deteve apenas em jogadores portugueses, em jovens promessas do nosso futebol, e que foram escapando a esta distinção alguns jogadores estrangeiros que, inegavelmente, tinham valor para ser referidos. Lembro-me, assim de repente, pelo menos de Bojan Krkic, o fenómeno espanhol, de Carlos Vela, o avançado mexicano que entretanto já vai fazendo alguns jogos pelo Arsenal, e de Stevan Jovetic, o avançado montenegrino que no princípio da presente temporada rumou à Fiorentina. Embora, por razões óbvias, não nos seja possível acompanhar a evolução de jovens menos conhecidos do grande público que não sejam portugueses, queremos contudo, a partir de agora, sempre que faça sentido, referenciar valores oriundos de outros países e que sejam pouco falados. Afinal, é disso que esta rubrica se alimenta. Como tal, começamos, nas nossas "Certezas" internacionais, por apresentar este médio-ofensivo espanhol, formado no Real Madrid. No início desta época, foi emprestado ao Queens Park Rangers (apesar dos esforços, sobretudo do Arsenal, em contratá-lo) e treinado por Paulo Sousa. Ao fim de meio ano, porém, este campeão europeu de sub-19 volta à casa mãe, talvez fruto da inegável capacidade futebolística que possui. Será curioso ver como Juande Ramos conseguirá gerir um meio-campo com tantas unidades de ataque de grande qualidade como sejam os holandeses Van der Vaart e Sneijder e os espanhóis Ruben de la Red, Guti e este miúdo, sendo que, à partida, não terá regressado a Espanha a meio da temporada apenas para fazer número. Será, por isso, interessante, acompanhar nos próximos meses a evolução de Daniel Parejo...

domingo, 21 de dezembro de 2008

Hulk, o Sistema de Jesualdo e a Zona do Porto

Sobre Hulk haveria bastante a dizer. Reconheço-lhe enormes capacidades individuais. Tecnicamente, é um dos jogadores mais dotados da Liga Sagres. Atleticamente é soberbo. Tem um remate extraordinário. E é velocíssimo. Falta-lhe, contudo, aquilo que considero mais importante num jogador de futebol: as capacidades colectivas. Falta-lhe a capacidade de perceber quando é que as suas características podem servir a equipa; falta-lhe saber esperar pela bola junto a uma linha, para ter espaço para explorar o um para um; falta-lhe ter por prioridade os colegas e não a finta; etc. Nesse sentido, sendo um jogador que tem por vocação o drible, sendo um jogador que, ao receber a bola de costas para a baliza, nunca dá de frente, procurando sempre virar-se para rematar ou para fintar, a sua posição deveria ser extremo. É esta a principal razão pela qual não consigo apreciar o brasileiro. O extremo é aquele jogador que, no meu entender, dentro de uma equipa, maior liberdade pode ter para experimentar lances individuais. Um avançado, entre outras coisas, deve ser capaz de servir de apoio vertical, deve ser capaz de jogar de costas para a baliza, deve saber tabelar, de modo a permitir um jogo curto em zonas centrais, deve servir de referência para a equipa progredir com a bola controlada no terreno. Hulk não tem essa capacidade. É por isso que, como avançado, não lhe auguro um grande futuro. Já como extremo a conversa talvez fosse outra. Isto porque, como é óbvio, tudo aquilo que disse que um avançado deveria ter, um extremo não tem obrigatoriamente que ter. Um extremo raramente recebe a bola de costas e a capacidade de segurar a bola junto à linha não constitui um ganho significativo para uma equipa.

Acontece, porém, que Hulk não joga numa equipa qualquer. Joga no Porto. E no Porto de Jesualdo. O Porto de Jesualdo, bem como o seu Braga, é uma equipa extraordinariamente objectiva, arrumada atrás e promovendo transições rápidas. Não sabe jogar de outra maneira. É uma equipa que aproveita bem os espaços em transição, mas que não é tão boa a encontrar soluções em ataque organizado, com o adversário bem fechado lá atrás. Uma das coisas que considero essenciais (cada vez mais essenciais), numa equipa que jogue em ataque organizado contra equipas bem fechadas, é a capacidade de fazer passes verticais. Por passes verticais entendo passes rasteiros, não muito longos, que quebrem linhas defensivas, passes entre dois adversários, solicitando um colega que recua para, jogando de costas, saltar etapas de construção. Em equipas que defendem bem, sobretudo em largura, a verticalidade, neste sentido, é essencial. Nas últimas fases de construção, então, é obrigatória. Este tipo de passes pode parecer trivial, mas além de constituir um ganho enorme para qualquer equipa, não são de execução nada fácil, nem para quem o executa (que tem de ter em conta muitas coisas, sobretudo os apoios que terá o colega que vai receber a bola), nem para quem recebe. Ora, o Porto de Jesualdo é uma equipa que ignora esta necessidade. O ano passado, no entanto, soube contrariar esta negligência de duas formas. Primeiro, porque Lisandro tem essa capacidade e o seu entendimento com Lucho resultava, muitas vezes, em passes verticais do último a solicitar o primeiro que, recebendo de costas, conseguia entregar num colega que entretanto se desmarcara. Segundo, porque tinha a arma de Bosingwa. Muitas vezes, o ataque organizado do Porto obrigava o adversário a concentrar os seus números do lado esquerdo e depois, saindo rapidamente da zona de pressão à esquerda, a equipa lançava Bosingwa, que subia pela direita e recebia a bola com possibilidades de apostar, invariavelmente, no um para um. Este ano, sem essas possibilidades, uma vez que não há Bosingwa nem Lisandro tem jogado ao meio, o Porto tem-se ressentido.

Ora bem, é aqui que pretendo chegar. Uma vez que Jesualdo não define como prioritário, no ataque, a formação de apoios verticais, os seus avançados não necessitam de ter as características que identifiquei como essenciais. Como o Porto joga sistematicamente em velocidade, os seus avançados querem-se velozes e individualmente dotados. Nos últimos jogos, tem jogado Rodriguez, Lisandro e Hulk, com o último no centro apenas no desenho, uma vez que há liberdade para todos eles se movimentarem ao longo de toda a linha da frente. O Porto não utiliza um avançado de referência, mas sim três jogadores de quem se espera muita espontaneidade e desequilíbrios. Se é verdade que, em transição, a equipa pode estar melhor apetrechada (ainda que não pareça existir, como no passado, uma referência como era Quaresma, sempre encostado à linha para dar início à transição), os problemas que vêm das épocas anteriores têm tendência a agravar-se. O jogo com o Shalke 04, da segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões da época transacta ilustra bem a incapacidade que o Porto de Jesualdo tem para jogar contra equipas bem fechadas lá atrás. Essa incapacidade advém, essencialmente, de a equipa não ter, em muitas ocasiões, uma referência que possa servir de apoio vertical nas imediações da área. Com Lisandro ainda mais longe do centro do terreno, maiores dificuldades terá o Porto nesses jogos.

Resumindo, vejo em Hulk muito mais um jogador de linha ou um segundo avançado, para jogar solto ao lado de um avançado mais fixo, do que um ponta-de-lança. Como avançado num 433, não penso que seja uma boa opção. Apesar de tudo, e porque Jesualdo privilegia, nos seus homens da frente, a profundidade e a capacidade de acelerar o jogo, Hulk pode ser o avançado do seu 433. Agora, não se espere que o Porto seja uma equipa competente a jogar contra equipas bem organizadas lá atrás e que seja capaz, sem recorrer à inspiração individual dos seus atletas (esse argumento tão incerto), de resolver partidas difíceis.

Antes de terminar, gostaria ainda de falar do modo como o Porto de Jesualdo defende. Há que dar mérito a quem merece e Jesualdo, não sendo um treinador que aprecio em demasia, soube evoluir. Instruiu-se e melhorou bastante os seus conhecimentos ao longo da sua carreira. Ainda que o seu Porto seja um pouco autista e só saiba jogar de uma forma, tem competências extraordinárias. Uma delas é a forma como efectua a sua pressão, assente em princípios zonais. Neste momento, com Rodriguez, Hulk e Lisandro, é bem visível como o Porto inicia o seu processo defensivo. Os três atacantes reúnem-se em zonas centrais, pressionando em profundidade, o que obriga os adversários a procurarem as linhas. Ao acontecer isto, a equipa efectua uma pressão à zona quase perfeita, procurando asfixiar o portador da bola contra a linha lateral. Nenhuma equipa, em Portugal, o faz melhor que o Porto. Os seus adversários são, não raro, obrigados a jogar longo ou para trás, de modo a iniciar o processo ofensivo. A ocupação das zonas é do melhor que se vê em Portugal e tem sido, para mim, um dos segredos da capacidade competitiva desta equipa ao longo dos últimos anos. Aliás, creio, tem sido talvez a característica que melhor distingue a regularidade do Porto de Jesualdo da irregularidade do Sporting de Paulo Bento, que não é, nem por sombras, capaz de uma pressão tão alta e tão eficaz quanto a dos campeões nacionais.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Sondagens (10)

À pergunta "Quem vai ser o campeão europeu esta época?", responderam 48 votantes. Para surpresa minha, a votação deteve-se quase em exclusivo em duas equipas, o que, numa prova a eliminar, com pelo menos 10 equipas de nível semelhante, não deixa de ser estranho. Assim, o Barcelona reuniu 16 votos e o Inter 15. Para mim, são as duas equipas que mais gostaria de ver ganhar a prova e as duas que, a meu ver, têm melhores argumentos para se degladiarem com Manchester United, Chelsea e Liverpool. O Liverpool foi precisamente a terceira equipa mais votada, com 3 votos, enquanto que, no Arsenal e no Atlético de Madrid, votaram duas vezes. Chelsea, Roma, Bayern e Juventus tiveram 1 voto. Surpreendentemente, ninguém votou no Manchester United. Houve ainda 5 votos noutros candidatos. Tentando pensar em possíveis outros candidatos, será o Lyon? O Villareal? Fica a dúvida. De qualquer modo, penso que o maniqueísmo que esta votação ilustra não se reflectirá na prova e há que contar com outros candidatos além do Inter de Mourinho e deste Barcelona fantástico de Guardiola. Em Junho se verá...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O "problema" de Quique...

Quique Flores (treinador a quem reconheço qualidades e cuja filosofia de jogo, baseada em pressupostos ofensivos, me agrada bastante), na sequência da ausência de Ruben Amorim, optou por alterar o sistema de jogo com o qual vinha trabalhando. O treinador espanhol afirmou que, sem Amorim, era complicado apresentar um sistema equilibrado, optando então pelo losango, sob o pretexto de que este sistema lhe "permitia ter mais bola".

O 442 "clássico" é um sistema favorável a ataques rápidos. A sua estrutura permite-nos fazer "campo grande" de forma célere e sem grande dificuldade (com dois médios-alas, concedendo largura, e dois avançados, proporcionando profundidade). Este facto, aliado à capacidade de colocar muitos homens na parte final do processo ofensivo, permite que o conjunto de Quique alterne momentos em que consegue colocar o adversário sob grande pressão, através de um vendaval de futebol ofensivo, com outros em que os desequilíbrios inerentes à estrutura do próprio sistema saltam à vista. Por outras palavras, não é fácil encontrar meio-termo neste Benfica.

Este aspecto só não ganha mais destaque devido à (grande) qualidade dos jogadores à disposição do treinador espanhol. No processo ofensivo, por exemplo, é notória a necessidade de os jogadores (principalmente os alas e os avançados) resolverem através de iniciativas individuais, problemas que (supostamente) são do foro colectivo. São "espremidos" até à última gota jogadores como Reyes, Aimar, Suazo, etc (isto só para citar os casos mais gritantes).

A velocidade que caracteriza as várias fases do processo ofensivo, associada ao facto de apenas existirem dois jogadores no centro do terreno (médios-centros), deixa demasiadas vezes os jogadores sem "rede"(apoios), não lhes deixando outra solução para além da iniciativa individual.

Transições

É nestes dois momentos (defesa/ataque e ataque/defesa, mas principalmente nesta última) que são evidenciadas as várias debilidades do sistema benfiquista.

Se na transição defesa/ataque os perigos de jogar demasiado aberto e com poucos jogadores na zona da bola (o que impossibilita a saída de zonas de pressão de forma apoiada e segura), são dissimulados com a qualidade individual dos seus jogadores, na transição ataque/defesa a história é diferente.

O deficiente povoamento central, aliado à escassez de linhas, torna o conjunto da luz demasiado permeável, quer a passes verticais, quer a movimentações entre linhas. Por outro lado, o facto de apresentar poucas linhas "obriga" a um grande deslocamento posicional dos seus jogadores. Na sequência do processo ofensivo, os jogadores (os dois médios-centro), no intento de criar apoios, desposicionam-se, (através de movimentos verticais, que geralmente leva a que cubram grandes distâncias) resultando desta evidência uma grande vulnerabilidade às transições ataque/defesa.

É importante, a meu ver, que uma equipa se apresente equilibrada em todos os momentos do jogo, e não me parece que o conjunto de Quique o consiga, pelo menos neste sistema - um sistema que dá demasiado ênfase à largura, quando o centro do jogo se determina em função da bola e não só na intenção de colocar mais dificuldades ao adversário portador da bola. Uma equipa que privilegie o lado "forte" do jogo poderá não ter a hipótese de conseguir uma variação de flanco tão rápida, por exemplo, mas ganha em segurança no seu processo ofensivo, assim como em capacidade de reacção sobre o esférico, assim que este é recuperado pelo adversário.

Tudo isto dá origem aos seguintes sintomas:

- Dificuldade em controlar o jogo sem sofrer: o conjunto benfiquista experimenta grandes dificuldades quando não consegue encostar a equipa adversária ao seu último reduto.

- Demasiada permeabilidade frente a equipas que apresentem uma boa posse e circulação de bola.

- Grandes dificuldades para jogar em ataque continuado contra equipas que sejam organizadas e que não assumam uma postura demasiado submissa.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Coisas da Semana

1. O Sporting venceu. Liedson marcou. Rochemback assistiu. Se o futebol fosse matemática da primeira classe, estes dois seriam as estrelas do encontro. Como não é, embora 99,9% das pessoas que o vêem o reduzam a isso, não foram. Nem são.

2. Por falar em não saber ver futebol, o que dizer de quem está apaixonado por Hulk? O rapaz tem força, tem técnica, tem velocidade. Só não é é jogador de futebol.

3. Num fim-de-semana de gente burra, Quaresma foi considerado a maior desilusão do Calcio. Tendo em conta o que este tipo de votações diz de quem vota, este resultado é um espelho da incompetência da generalidade do público que vê futebol.

4. Por falar em prémios, Ronaldo recebeu finalmente a Bola de Ouro. Justo prémio, numa época em que não deu hipóteses à concorrência. Não considero que tenha sido injustiçado na época passada, uma vez que Kaká fora claramente melhor, mas seria muito injusto se não ganhasse este ano, pois quer a nível individual, quer a nível colectivo, ninguém esteve tão em foco como ele. Ainda assim, não é, para mim, em termos absolutos, o melhor jogador do mundo. E muito menos o melhor jogador português de todos os tempos.

5. José Mota perdeu a liderança. Vejamos o que perderá mais, nas próximas jornadas.

6. O Benfica ganhou por 6 ao Marítimo e toda a gente achou que se tratou de um resultado muito bom e de uma prestação muito boa. Não foi. O resultado não pode ser dissociado do lance que ditou a expulsão de Marcos e que acabaria por ditar o primeiro golo benfiquista. Antes disso, apenas uma oportunidade de golo, com Suazo a aproveitar um lançamento de Reyes para se isolar. Mas até ao segundo golo só deu Marítimo. Quem tiver visto o jogo com atenção, viu um Benfica frágil, incapaz de tomar conta do jogo, com a sorte de ter ficado desde muito cedo a jogar contra dez e com unidades que resolvem a qualquer momento. Mas, colectivamente, foi mais uma má exibição. Acho que o jogo, depois do segundo golo, não pode servir de exemplo. Ainda assim, é talvez importante referir que os primeiros três golos são de bola parada e que, em lances de bola corrida, o Benfica criou apenas uma oportunidade de golo, a tal acima citada. Assim, até ao segundo golo, o Marítimo mandou no jogo, trocando a bola a seu bel-prazer no meio-campo encarnado, aproveitando o muito espaço entre sectores. Mesmo com menos um jogador, o Marítimo foi sempre mais autoritário, dominou sempre a partida, sendo que o pressing encarnado raramente foi eficaz. Com bola, igualmente, o Benfica foi patético, caindo quase sempre no erro de lançar Suazo em profundidade ou de procurar Reyes na esquerda, para que este resolvesse individualmente. Passes verticais, progressão com bola, foi coisa que não se viu. Daí Aimar ter estado fora da partida. Nunca foi bem servido porque o Benfica não procura a não ser passes em profundidade, quer seja para as costas da defesa, quer seja para a velocidade dos alas. É muito pouco. O 6-0 foi apenas o corolário de um aproveitamento quase 100% eficaz, coisa em que o Benfica, este ano, parece estar bastante forte. Mas não ilustra, de maneira nenhuma, a superioridade encarnada. É um resultado mentiroso...

7. Em Itália, o Inter de Mourinho começa a distanciar-se. 6 pontos de avanço, para já, sobre os rivais, deixa antever boas coisas.

8. Em Espanha, o Barcelona de Guardiola é como o Inter de Mourinho: no início, auguraram-lhe mau desempenho, os primeiros resultados deixaram em pulgas os seus opositores, mas agora também já têm 6 pontos de avanço sobre a concorrência. Neste fim-de-semana, dois resultados semelhantes: o Barcelona venceu por 4 um adversário difícil, assim como o Inter, por 3. São, talvez, as duas equipas que melhor oposição poderão oferecer aos grandes de Inglaterra, no que toca à vitória final na Liga dos Campeões.

9. Schuster já não é treinador do Real. O seu sucessor, Juande Ramos, poderá fazer um trabalho interessante e ainda ir a tempo de conseguir alguma coisa este ano. A ver vamos.

10. Referência ainda para o Braga de Jorge Jesus que, num grupo complicado, conseguiu o apuramento para a fase seguinte da Taça UEFA. Já o Benfica de Quique deverá ficar vergonhosamente pelo caminho. Em termos de plantel, se exceptuarmos as equipas que virão da Liga dos Campeões, provavelmente só o Milan teria melhores jogadores. Ficar por aqui, ainda por cima num grupo claramente acessível e ocupando o último lugar do mesmo à partida para a última jornada, não pode ser esquecido só porque, no campeonato, a equipa lidera.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Carlos Martins: um estudo

O jogo foi o Benfica-Vitória de Setúbal, do passado fim-de-semana; o espécime em estudo, Carlos Martins. Antes da descrição dos lances e das conclusões, dizer que terá sido dos jogos menos positivos de Carlos Martins, o que em parte se deveu à falta de apoios perto de si.

1 minuto: Mau passe. (Saída de jogo para o Benfica e Martins, como consequência de um lance estudado, tenta lançar em profundidade um dos avançados do Benfica; o passe é interceptado.)

1 minuto: Boa opção. (Sofre falta no grande círculo a tentar proteger a bola.)

1 minuto: Boa opção. (Apertado, roda e joga de frente no apoio.)

2 minutos: Boa opção. (Passe curto a solicitar Jorge Ribeiro)

2 minutos: Boa opção. (No seguimento da jogada, entrega a bola, num passe curto, para Reyes e este cruza.)

2 minutos: Boa opção. (A bola sobra novamente para Martins, que por sua vez faz um passe vertical para Cardozo, que se encontra a entrada da área.)

3 minutos: Recuperação de bola. (Recupera a posse de bola.)

4 minutos: Bate canto. (Canto tenso, ao segundo poste; Cardozo por pouco não consegue cabecear.)

5 minutos: Recuperação de bola. (Recupera a posse de bola.)

6 minutos: Boa opção, embora arriscada. (Passe vertical para Reyes (opção arriscada).)

7 minutos: Mau passe. (Lançamento em profundidade a solicitar Suazo. A opção (tentava apanhar desprevenida a equipa do Vitória de Setúbal, visto que esta estava em transição ofensiva quando perdeu a possse de bola) era correcta, mas o passe saiu demasiado longo.)

8 minutos: Lance dividido. (Perde uma disputa pela bola.)

10 minutos: Boa opção. (Passe de primeira para o jogador que lhe estava a dar cobertura (apoio).)

10 minutos: Boa opção. (Tabela com Reyes e falta sofrida no seguimento da mesma jogada.)

11 minutos: Bate livre. (Bate livre curto, a meio do meio-campo ofensivo.)

14 minutos: Lance dividido. (Perde lance em bola dividida.)

14 minutos: Mau passe. (Passe transviado para Maxi Pereira.)

15 minutos: Mau passe. (Passe transviado.)

15 minutos: Participação na recuperação de bola. (Participa de forma decisiva na recuperação da posse de bola, pressiona o adversário de forma a que a bola sobre para Reyes.)

16 minutos: Bate livre. (Livre directo frontal de meia-distância; obriga Pedro Alves a defesa apertada.)

17 minutos: Bate canto. (Deste canto resulta jogada de perigo para a baliza sadina.)

20 minutos: Boa opção. (Passe vertical para Suazo.)

21 minutos: Boa opção. (Passe lateral a solicitar Katsouranis.)

23 minutos: Faz falta. (Falta cometida a meio-campo, com o intuito de parar o contra-ataque adversário.)

23 minutos: Mau passe. (Boa opção no passe para Suazo, mas este é interceptado.)

24 minutos: Remate. (Remate à entrada da area, defesa apertada de Pedro alves.)

26 minutos: Boa opção. (Passe atrasado para Miguel Vítor.)

27 minutos: Boa opção. (Passe lateral a solicitar Maxi Pereira.)

29 minutos: Recuperação de bola. (Recupera a bola.,)

29 minutos: Boa opção. (Dribla adversário e faz passe vertical para Cardozo.)

30 minutos: Bate livre. (Livre lateral, batido de forma tensa; obriga Perdo Alves a socar a bola.)

31 minutos: Bate canto. (A defesa sadina corta sem dificuldade.)

32 minutos: Boa opção. (Envolvimento com Amorim. No seguimento da jogada proporciona cruzamento a Amorim com um toque de calcanhar.)

33 minutos: Boa opção. (Passe lateral para Maxi Pereira.)

33 minutos: Mau passe. (Passe transviado.)

34 minutos: Mau passe. (Passe precipitado, sem olhar. No entanto não possuia apoios e a bola vinha pelo ar, pelo que se torna injusto crucificá-lo por não ter arriscado ficar com ela.)

40 minutos: Perda de bola. (Tentou desenvencilhar-se de um adversário, mas não conseguiu.)

43 minutos: Recuperação de bola. (Recupera a bola.)

43 minutos: Má opção. (Apesar de ter acabado de recuperar a bola, precipita-se e perde-a novamente.)

45 minutos: Remate. (Remate à entrada da àrea, bate num adversário, e ganha canto.)

46 minutos: Bate canto. (Sem perigo.)

Primeira parte em que o benfica demonstrou grandes dificuldades, quer no processo ofensivo (vivendo sobretudo de movimentos individuais dos seus jogadores). No processo defensivo, revelaram dificuldades, consentindo muito espaço entre linhas.

46 minutos: Boa opção. (Passe lateral para Maxi Pereira.)

47 minutos: Boa opção. (Passe atrasado para Miguel Vitor.)

48 minutos: Boa opção. (Passe lateral para Jorge Ribeiro.)

49 minutos: Boa opção. (Tabela com Maxi; no seguimento deste lance, o uruguaio sofre falta.)

49 minutos: Bate livre. (Bate tenso ao primeiro poste; Katsouranis não consegue desviar com sucesso.)

54 minutos: Perda de bola. (Perde a posse de bola ao tentar desembaraçar-se de um adversário.)

54 minutos: Recuperação de bola. (Recupera a bola e entrega curto.)

56 minutos: Boa opção. (Passe lateral para Jorge Ribeiro.)

56 minutos: Boa opção. (Na sequênca da jogada, tabela com Reyes.)

56 minutos: Boa opção. (Passe atrasado para Miguel Vítor.)

57 minutos: Cruzamento. (Cruzamento interceptado por defesa sadino.)

58 minutos: Sofre falta. (Sofre falta na zona de meio-campo.)

61 minutos: Faz Falta. (Falta inteligente.)

64 minutos: Recuperação de bola. (Recupera a bola.)

64 minutos: Má opção. (Na sequência da jogada, perde a bola.)


Coloquei em negrito aquilo que de negativo Carlos Martins fez. Vamos às conclusões:

1) 55 acções durante o tempo em que esteve em campo; 44 acções positivas; 80% de acções positivas.
2) Em 35 lances com a bola nos pés e com condições para fazer algo (exclui-se, portanto, os lances de bola parada ou as disputas de bola, ou os lances em que procura recuperar a bola, ou os lances em que não tem a bola totalmente dominada), teve 25 boas acções contra 10 más acções; 71% de boas acções.
3) Destas 10 más acções, só 4 foram resultado de más opções, sendo que as restantes 6 foram más execuções.
4) Embora destas 4 más opções tenham resultado 4 perdas de bola, Carlos Martins recuperou 6 bolas e participou activamente, pelo menos, em mais uma, que acabou por sobrar para Reyes. Se o índice de perdas de bola não é tão baixo quanto desejável, já as recuperações confirmam, de certo modo, além da entrega ao jogo (também confirmada pelas estatísticas oficiais, segundo as quais foi dos jogadores que mais correu) uma clara capacidade de se integrar em processos defensivos, desmentindo outra coisa que também, muitas vezes, lhe é apontada.
5) Efectuou 21 passes correctos contra 9 passes errados; 70% de passes acertados. Tem sido dito que Carlos Martins não lateraliza e não joga para trás, com segurança, preferindo invariavelmente solicitar os companheiros da frente e querendo sistematicamente fazer o último passe, mas a verdade é que, destes 30 passes, 22 foram para trás, para o lado, ou passes curtos, quer em tabelas, quer de segurança relativamente alta, e só 8 foram passes em progressão, sendo que 5 deles foram passes verticais, rasteiros, cujo grau de risco é pouco elevado. Ainda assim, contando apenas os primeiros, temos que Carlos Martins fez 73% de passes de baixo risco, o que invalida, de certo modo, a teoria de que perde demasiadas bolas tentando fazer coisas que não são para ele, assim como prejudica os ataques da equipa querendo saltar etapas.
6) Raramente recorreu ao drible, usando-o, ainda assim, só em último caso, tendo sido bem sucedido 1 vez e mal sucedido 2 vezes.
7) Sofreu 3 faltas e cometeu 2.
8) Fez 3 remates, sendo que um deles foi de livre.
9) Foi dos jogadores que mais se preocupou em dar apoios perto dos seus colegas, respeitando não só o colega que tinha a bola como o princípio da posse de bola como nenhum outro, tentando ao máximo atenuar a falta de ligação entre sectores, bem como a distância larga entre elementos. Esteve muito bem, neste aspecto, revelando uma cultura táctica e uma noção das necessidades ofensivas da sua equipa bem acima da média.
10) Dizer ainda que, apesar de não possuir dados estatísticos que o comprovem, leva-me a intuição a afirmar que Ruben Amorim, o tal jogador que tem sido tão elogiado (e com razão) pela forma como equilibra a equipa à direita, perdeu, neste encontro, mais bolas que Carlos Martins, tomando igualmente mais vezes a opção errada. Tendo em conta que a distinção que tem sido feita entre os dois é que Ruben Amorim, ao contrário de Carlos Martins, confere mais segurança aos processos da equipa e não arrisca tanto, este dado não deixa de ser curioso.