quarta-feira, 28 de abril de 2010
Orgulho
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Agonia Leonina...
Cada vez que vejo a Académica jogar reconheço algo de diferente nesta equipa: a qualidade colectiva, nada condizente com a capacidade individual de grande parte dos seus jogadores, impressiona não só pela organização defensiva, mas principalmente pela qualidade que a equipa demonstra em posse. E isto ainda impressiona mais se tivermos em conta as características dos jogadores que compõem o plantel da Académica, que em nada (à excepção de um ou dois jogadores) ajudam a este estilo de jogo.
Vemos vários treinadores que demonstram qualidade na maneira como organizam a equipa nas situações defensivas, optando por restringir os seus processos ofensivos a transições rápidas, revelando alguma desorientação e dificuldade em confrontos com equipas que possuam a mesma filosofia. Outros aparentam revelar qualidade nos processos ofensivos sem que, no entanto, se consiga destrinçar as ideias do treinador das características dos seus jogadores. É o caso do Vitória de Guimarães. A equipa orientada por Paulo Sérgio revela qualidade com bola. O que não se percebe é se este aspecto é resultado do modelo pretendido pelo técnico ou se é, acima de tudo, uma manifestação inequívoca das características dos seus jogadores. E a mesma questão se pode colocar quando analisamos a equipa orientada por Domingos, o Braga. Nesta parte final do campeonato, entre jogos ganhos de uma forma um pouco esquisita (este esquisito nada tem a ver com arbitragens, mas sim com a forma feliz com que alcançou os resultados positivos, caso da vitória sobre o Guimarães, ou sobre o Leiria) e vitórias muito sofridas, as suas exibições têm estado abaixo do demonstrado no inicio da época, relegando para segundo plano a posse de bola, preocupando-se apenas com as transições rápidas e deixando o processo ofensivo entregue a 4 jogadores, essencialmente rápidos e com propensão para procurar duelos individuais (Alan, Paulo Sérgio, Renteria, Luís Aguiar, etc.).
Não é inocente a chamada destes três treinadores a este texto. E nem dá para disfarçar a minha costela sportinguista no mesmo. Numa altura em que se especula bastante sobre o novo treinador da equipa leonina, a certeza de que esse treinador não será Villas Boas deixa-me algo céptico em relação ao futuro do Sporting. Não estou a dizer que Villas Boas seja único treinador capaz de garantir um futuro recheado de sucessos ao clube de Alvalade, ou que os outros dois não sejam capazes de alcançar títulos em Alvalade. No entanto, o técnico da Briosa demonstra acreditar no modelo que melhor se adequa à matéria humana que, por enquanto, predomina no clube de Alvalade. Pelas referências constantes à posse de bola, pela preocupação em demonstrar qualidade, pela personalidade que incute na equipa, nunca abdicando dos princípios que regem o conjunto por si orientado, por tudo isto aliado à perspicácia que vem ostentando, permitindo-lhe entre outras coisas perceber que Hugo Viana era o jogador que transformava o futebol do Braga em algo de interessante. Por tudo isto, e porque o Benfica de Jesus será cada vez mais forte, Villas Boas parece-me a única solução capaz de permitir ao Sporting ombrear com o clube da Luz num futuro próximo. Já não vem. Espero, assim como todos os sportinguistas, que Costinha e Bettencourt tenham uma solução ao nível de Villas Boas, até porque, como já antes disse, o Sporting encontra-se num momento de viragem. Para ou bem ou para o mal. Por isso mesmo, seria óptimo que, na hora de decidir, se baseassem nas qualidades e características de jogo que as equipas do técnico eleito manifestam, e não na experiência ou nas declarações que proferem. Mourinho e Guardiola são apenas os maiores exemplos do que defendo.
Escrito por Gonçalo às 20:40:00 27 bolas ao poste
Etiquetas: André Villas Boas, Domingos, Paulo Sérgio, Raciocínios Tácticos, Sporting
terça-feira, 6 de abril de 2010
Atentados intelectuais
1. Tem vindo a lume, nas últimas semanas, a notícia da possível saída de Pereirinha do Sporting. Não sei se há algum fundamento nestas notícias, mas desconfio que não, até porque é prematuro falar do que quer que seja em relação ao plantel antes de se saber quem é o treinador que o vai comandar. Ora, sendo assim, parece-me claro que a notícia é escrita de um modo absolutamente especulativo e tendo como fundamento o facto de o jogador estar há 3 anos para se afirmar e ainda não o ter conseguido. Trata-se de uma opinião de uma ou mais pessoas que, na urgência de produzir novidades jornalísticas, foi transformada em notícia. O que é cobarde e constitui um atentado intelectual é que este tipo de notícia condiciona opiniões e cola rótulos que, maior parte dos leitores, por não ter convicções fortes, aceita facilmente. Não é certamente o caso mais grave, mas é um exemplo perfeito de como, às vezes, uma opinião aparentemente inocente tem um lado criminoso.
3. O terceiro caso é, porém, aquele que me parece mais grave, aquele em que há, além de incompetência, verdadeira má fé. Deparei recentemente com uma notícia que dava conta de que Hulk era o rei das assistências do campeonato português. O anúncio deixou-me imediatamente desconfortável, pois a minha intuição dizia-me que algo de muito errado havia no mesmo. A notícia foi veiculada por um reputado diário desportivo e baseava-se numa estatística alegadamente séria. Segundo a teoria, Hulk, com duas assistências no Restelo e uma diante do Marítimo, tinha passado para o topo da lista dos jogadores com mais assistências no campeonato, com 5 assistências. A minha primeira reacção foi pensar que não se consideravam assistências provenientes da marcação de bolas paradas, mas duas destas assistências recentes de Hulk tinham sido obtidas desse modo, o que invalidava esta suposição. Fiz questão de rever todos os golos do Benfica, porque estava em crer que Aimar, só na primeira volta, tinha mais do que 5 assistências. Não me enganei. Pablo Aimar tem 8 assistências: duas ao Setúbal (para Javi e para Luisão, na transformação de livres), uma ao Belenenses (para Javi, na transformação de um canto), uma ao Leixões (para David Luiz, na transformação de um livre) uma ao Leiria (para Saviola, na transformação de um livre), uma ao Guimarães (num passe atrasado para Carlos Martins), uma ao Setúbal (para David Luiz, na transformação de um canto), e uma agora à Naval (para Weldon, na transformação de um canto). Desconfio ainda que as contas não batem certo em relação a Hugo Viana, Coentrão e Di Maria, pelo menos. Já se sabe que, para mim, uma tabela de assistências pouco ou nada significa, em relação aos méritos de um jogador. Mas não é assim que pensa maior parte das pessoas. E publicar uma notícia com este grau de irregularidade, ainda por cima eivada de preconceitos e claramente tendenciosa (referindo-se por exemplo com amargura em relação ao lance do golo anulado a Falcao no Restelo, que garantiria a Hulk mais uma assistência), é algo que condiciona fortemente quem lê e não tem espírito crítico para contestar o que lê. Este tipo de acção constitui, na verdade, um atentado intelectual e é uma das mais perigosas consequências da liberdade de imprensa. Assim se constroem mitos e se manipulam verdades. Assim se inflacionam ideias e se conquistam simpatias. É por causa de coisas como estas que as opiniões erradas abundam na praça pública. Se em parte a falta de espírito crítico dos leitores explica a situação, não deixa de haver culpas de quem escreve atrocidades como estas. Lamentavelmente, claro.
Escrito por Nuno às 12:13:00 9 bolas ao poste
Etiquetas: David Luiz, Hulk, Mau Jornalismo, Pereirinha
sábado, 3 de abril de 2010
De tirar o chapéu...
A eliminatória está longe de estar resolvida. A própria Liga dos Campeões tem outros candidatos em boa forma. O campeonato está ao rubro. Esta época, a glória catalã pode até vir a ser significativamente inferior à da época anterior. Mas esta equipa continua a mandar às urtigas tudo aquilo com que pretendem diminui-la. Este é o futebol do futuro, como o referiu Ibrahimovic há uns meses, ainda ao serviço do Inter; este é o futebol que vale a pena, que não só é belo, como é eficaz; este é o futebol que convence e pasma. Esta é a melhor forma de ganhar, querendo mais a bola, pressionando mais alto, fazendo menos faltas, privilegiando mais o intelecto que a vontade, mais a concentração que a força bruta, mais a troca de bola que o transporte. Esta é a melhor equipa de sempre. Nunca o mundo assistiu a um jogo com igual assombro. O Barcelona continua a ser, e a tendência é para que isto prevaleça, uma afirmação categórica de uma nova era, uma nova era que, embora deixe em êxtase quase todos, teima em agarrar-se aos predicados do passado. Faz-me confusão que, depois deste Barcelona, seja possível continuar a idolatrar tractores agrícolas ou moinhos de café, que se continue a falar de rapazes com músculos e de tipos que fazem muitos golos. Se há coisa que este Barcelona deveria estar a fazer era a mudar mentalidades. No entanto, parece que o comum mortal, que assiste abismado a um jogo do Barcelona, persiste em achar possível que há algum mérito em ser diferente do que vê. É o instinto conservador das massas e contra isso não há muito a fazer. Resta admirar Guardiola e esperar que o tempo lhe preste a justa homenagem.
P.S. As declarações de Guardiola no final da partida, acerca da sua mentalidade ofensiva, são algo que vale a pena ver e rever. Não se trata somente de um treinador a transmitir aquilo em que acredita. Trata-se da própria essência do melhor futebol possível. Entre outras coisas, confessou Guardiola que "o risco é não arriscar." Não se trata aqui de ganhar somente, de estar em vantagem por marcar golos fora. Trata-se de continuar a atacar, estando a perder ou estando a golear. Trata-se de jogar sempre - sempre! - o mais ao ataque possível. É este o recado, aparentemente trivial, que poucos perceberão.
Escrito por Nuno às 00:25:00 29 bolas ao poste
Etiquetas: Arsenal, Barcelona, Guardiola, Raciocínios Tácticos