domingo, 27 de abril de 2008

Compreender Futebol, em vez de o jogar...

Luís Freitas Lobo, numa passagem do seu livro, Planeta Futebol, cita Menotti acerca da perspectiva que este detém sobre os jogadores que prefere, ou que mais admira. Através desta frase – dando a entender a predilecção por Makélélé, em detrimento de Ronaldo, o “Gordo” – Menotti é claro nas suas preferências: a opção por um jogador que lhe permite defender um modelo de jogo e as idiossincrasias do mesmo, em detrimento de jogadores que, apesar de potenciarem uma maior individualidade, comprometem o indivíduo abstracto, o chamado colectivo, é clara. E, para isto acontecer, um jogador tem de compreender o que é o “jogar bem” futebol, enquanto desporto colectivo, e não como um espectáculo de circo.

O futebol, como desporto colectivo que é, deve assentar as suas bases na organização e coordenação entre os seus elementos. Não se trata apenas de um desporto, em que são as capacidades atléticas que definem as reais possibilidades de uma equipa se tornar vencedora; trata-se um jogo e, como tal, a componente cognitiva assume uma relevância determinante.
Por isso, mais do que ser brilhantes na execução, devemos ser bons na interpretação do jogo.


No entanto, a maior parte dos jogadores idolatrados são, na sua essência, jogadores que se destacam pelos seus desempenhos individuais, em detrimento dos que através da sua acção são, quando utilizados, de grande valia para o colectivo. Poderíamos pegar em vários casos: no Sporting, Liedson e Custódio; no Benfica, Petit e Nuno Gomes; no Porto, Assunção, e Quaresma. Todavia, este último exemplo difere dos dois primeiros em alguns aspectos. No que toca ao Assunção, a sua actuação tem sido exaltada por colegas, o que lhe veio conferir, de alguma forma, justiça às suas actuações. Se juntarmos a este facto a sua excessiva agressividade, de tão agrado do adepto, facilmente se vislumbra o porquê do seu reconhecimento junto das massas. Quanto a Quaresma, a situação é diferente. É um jogador alheado do colectivo, que vive para a satisfação dos seus caprichos; no entanto, a suas qualidades tornam legítimas as suas acções. Não é determinante para a “saúde” do colectivo, mas o facto de conseguir muitos desequilíbrios, através das suas acções individuais, acaba por beneficiar o colectivo. Alguns poderão alegar que este facto resulta da posição que Quaresma ocupa, e que esta obriga a um maior número de acções exclusivamente individuais. Para isso peço que tenham em consideração uma comparação entre Quaresma e Nani. Se ignorarmos os aspectos intelectuais, poderemos dizer que o extremo portista e o jogador do Manchester são em tudo muito semelhantes. Fortes no 1x1, rápidos, tecnicistas, e criativos. A diferença reside, acima de tudo, na forma como interpretam a sua integração no colectivo. Apesar de alguma “queda” para o individualismo, as acções de Nani compreendem, na maioria das vezes, as necessidades do colectivo, ao invés de Quaresma, que apenas o faz ocasionalmente e de forma desconexa.

Destes casos, a maior evidência vai, sem dúvida, para o caso dos leões, Custódio e Liedson (a minha ideia inicial seria de pegar em Farnerud, na vez de Custódio, mas como este assunto já tem sido tão debatido, achei por bem escolher um outro exemplo). Facilmente um jogador como Liedson agrada às massas: um jogador que vale exclusivamente de acções individuais, viradas para beneficio próprio, sobressaindo destes gestos, sobretudo, as qualidades físicas do mesmo. A diferença deste para um jogador como Quaresma, ou Ronaldo, – falo do “Gordo” – é que Liedson, apesar de optar demasiado pelas iniciativas individuais, oferece muito pouco à sua equipa com essas movimentações. Se não é raro observar os dois primeiros “resolverem” jogos com as suas acções individuais, não é fácil encontrar uma mão cheia de acções individuais do “levezinho” que tenham resultado num benefício real para a sua equipa. A grande valia do avançado sportinguista esgota-se no seu faro pelo golo (muitos não hesitariam em assinalar a sua disponibilidade em lutar pelo esférico, mas a verdade é que o facto de realizar estas acções de forma isolada da movimentação colectiva redunda numa inconsequência de esforços, maior parte das vezes), e esta virtude beneficia principalmente da movimentação colectiva, a mesma que Liedson, não poucas vezes compromete.

Por outro lado, um jogador que se distinga pela forma como defende o colectivo, distinguindo-se através de factores intelectuais, em detrimento do individual, dificilmente será reconhecido pelo adepto comum. Por mais irónico que pareça, Custódio, ao sacrificar a sua importância individual, em favor do colectivo, contribuía decisivamente para a sua parca popularidade entre os adeptos leoninos. E isto acontece por duas razões:

1 - A necessidade das pessoas se reverem no indivíduo e não no colectivo, pois este, sendo um elemento abstracto, é incomparavelmente mais complicado de compreender e quantificar.

2 - A mesma necessidade de quantificar as qualidades de cada jogador vai impor que se dê destaque àquelas que mais facilmente se vislumbram: os índices físicos. Este facto tem uma importância maior, na medida em que esta visão é partilhada por maior parte dos treinadores de futebol. Isto vai levar a que a selecção dos jogadores seja feita de uma forma semelhante à que fazemos no jogo PES, ignorando que não vale de nada a superioridade físico\técnica dos jogadores se não a conseguirem utilizar de forma a beneficiar o colectivo.

Assim, acredito que jogadores que se distingam pela forma como definem as suas actuações em prol do colectivo, em detrimento da evidência individual, continuarão a ser injustiçados pelo público. Já os que roubarem do colectivo para se evidenciaram, continuarão a ser os eleitos pelo povo, mesmo que no fim de contas a equipa não lucre, em nada, com esta situação...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Lição

O Barcelona é talvez a equipa que, a nível ofensivo, melhor representa aquilo que se defende neste espaço. Jogar ao ataque contra equipas que defendem com autocarros deve ser executado exactamente como o Barcelona o fez ontem contra o Manchester. Aliás, aproveito até um jogo em que o adversário se defendeu bem e em que o resultado não foi positivo para dar ênfase à forma extraordinária como a equipa de Rijkaard atacou. Embora não tenha conseguido materializar o seu futebol em golos, o jogo do Barça foi perfeito. Perante uma equipa que vinha para defender os 90 minutos e tentar aproveitar o avanço das linhas espanholas para lançar Ronaldo, o Barcelona fez um jogo quase irrepreensível. Muitos dirão que a vantagem na posse de bola, quase esmagadora, não reflecte um domínio do jogo. Em muitos casos, isso pode ser verdade. Mas, no jogo de ontem, não foi o caso. O Barcelona circulou a bola pelos seus jogadores com paciência, mas sempre em progressão, sempre com o objectivo claro de avançar no terreno, de vencer as linhas inimigas. De pé para pé, lentamente, com arranques individuais aqui ou ali a provocar desequilíbrios, com movimentos constantes dos jogadores que não tinham a bola, o Barcelona foi circundando a defesa do Manchester, composta por duas linhas, cada uma com quatro jogadores. O bloco baixíssimo do Manchester foi incapaz de pressionar com êxito os jogadores do Barcelona e a equipa soube sempre evitar perder a bola. Depois, aproveitava tabelas para romper entre linhas e ganhar espaços à entrada da área: não foram poucas as vezes que os jogadores "blaugrana" conseguiram aparecer, em posse, à entrada da área, e só mesmo a pouca espontaneidade e alguma falta de agressividade nesta fase impediram a equipa de criar mais perigo. Muitos dirão que a prova de que o Manchester defendeu bem foi que o Barcelona não conseguiu muitas oportunidades de golo. É verdade que assim foi, mas há explicações para isto. Além da já referida falta de agressividade na definição dos lances, creio que influenciou a equipa a eventualidade de sofrer um golo em casa. Assim, tentou não correr riscos desnecessários, tentou não executar passes mais arriscados, que tanto poderiam ter ajudado a romper a defensiva britânica como poderiam prejudicar a posse de bola e o controlo do jogo. Com vista a não perder nunca este controlo, o Barcelona foi uma equipa paciente, mas ao mesmo tempo menos audaz do que poderia ter sido. Deste ponto de vista, se bastava ao Barcelona arriscar um pouco mais e se só não o fez para não perder o controlo do jogo, é porque quem controlou as operações foi a equipa espanhola e nunca a inglesa. Aconteceu por diversas vezes ver o Manchester a pressionar com eficácia e os catalães a conseguirem manter a posse da bola, descongestionando e reiniciando a jogada por outro sítio, obrigando a equipa inglesa a esfalfar-se para não abrir espaços. O Barcelona controlou o jogo todo, mantendo sempre a posse de bola e conseguindo, não raras vezes, introduzir-se em zonas ameaçadoras. O futebol foi envolvente, de toque curto e rápido, dinâmico, progressivo e competente. Não andou apenas a circular a bola, a fugir à pressão do Manchester; foi capaz de superá-la e de se intrometer entre as duas linhas defensivas inglesas. É verdade que o Manchester defendeu muito bem em largura e pressionou com alguma eficácia. Mas isso só acrescenta mérito às vezes que o Barcelona conseguiu superar essa boa estratégia defensiva de Ferguson. Se a equipa não conseguiu ir muitas vezes à linha, conseguiu entrar com a bola controlada pelo meio por diversas vezes, dispondo de remates à entrada da área e até de algumas entradas em posse na área britânica. O jogo de ontem deixa tudo em aberto, é certo, mas foi uma verdadeira lição de futebol e de como se deve atacar contra equipas que defendam tão em baixo quanto o Manchester o fez. O simples facto de não ter conseguido marcar golos não deve constituir prova de que esse futebol foi inconsequente; apesar de não ter marcado, o Barcelona demonstrou um poder ofensivo fenomenal e nenhum adepto inglês, depois do jogo de ontem, pode não ficar apreensivo. Parecendo paradoxal aquilo que vou dizer, quero reiterar que o que se passou em Camp Nou foi um verdadeiro hino ao futebol de ataque e, embora o 0-0, é assim que se deve atacar, com ponderação, segurança, paciência e competência. Muitos dirão ainda que um hino ao futebol de ataque é um jogo que acabe com muitos golos. Errado! O futebol do Barcelona ontem, esse sim, foi uma demonstração do que é atacar: atacou, empurrou, massacrou, sem nunca perder a cabeça, sem nunca descuidar a defesa; atacou sempre de forma equilibrada, sem riscos loucos, respeitando a qualidade do adversário e reconhecendo a estratégia cínica do mesmo. O futebol de ataque do Barcelona ontem foi o melhor futebol de ataque que vi nos últimos tempos e uma brilhante lição que os manuais de futebol deveriam preservar.

domingo, 20 de abril de 2008

O que é um passe?

Foi aqui dito, há tempos, que o Entre 10 ensinaria a Pelé, o jovem internacional sub-21 português, em que consiste um passe. Chegou, pois, a altura de tão adiada tarefa. Ao contrário do que a generalidade das pessoas pensa, o passe é tudo menos um gesto técnico simples. Aliás, é até precipitado defini-lo como um gesto técnico, pois o que é mais relevante, para a obtenção de um bom passe, não tem rigorosamente nada a ver com condições técnicas. Assim sendo, enquanto a opinião do vulgo defende que um passe é um gesto técnico, eu defenderei, nestas linhas, que um passe é, isso sim, um gesto intelectual, ao qual a técnica serve apenas de intermediário. Ademais, defenderei que um passe, embora seja executado por um indivíduo, não é um gesto individual, mas sim um gesto colectivo, pois é resultado de diferentes dinamismos e só tem aproveitamento enquanto beneficiar uma acção colectiva.

Muito mais que saber colocar a bola num local preciso, do que ter a capacidade de executar com perfeição um passe, é importante, para o jogador que tem a bola e a quer endossar a um colega, perceber como, quando e por que razão o deve ou não fazer. Num passe, a técnica cumpre um papel meramente secundário: mais importante que conseguir colocar a bola onde se quer é querer colocar a bola no sítio correcto. A um passe preside uma intenção e é essa intenção e não o passe em si que concorre para a qualidade do mesmo. Por mais certeiro que um passe seja, são as condições em que o colega vai receber a bola, assim como aquilo que a equipa pode extrair desse passe, que verdadeiramente interessa. Se um jogador consegue colocar a bola a cinquenta metros no pé de um colega, mas este não tem qualquer espécie de apoios e está rodeado de adversários, o passe efectuado pelo primeiro, ainda que tecnicamente perfeito, não produz consequências positivas. É por isso que, num passe, a componente técnica é completamente independente da componente intelectual. Aquilo que defendo é que, para que um passe seja considerado bom, a segunda componente é muito mais decisiva que a primeira.

Assim, poder-se-ia dividir um passe, à partida, em ideia e execução. Em termos de ideia, contudo, há várias sub-divisões a fazer. Um jogador, ao pensar em fazer um passe, deve ter em conta várias coisas: condições de recepção do colega; apoios que o colega tem ou vai receber; ganhos colectivos; situação e necessidades presentes do jogo (se a equipa está a ganhar ou a perder); etc. Por exemplo, um bom passe a nível técnico não é necessariamente um bom passe se o jogador que receber a bola não tiver condições suficientemente boas para tal. Pelé, por exemplo, é um jogador, a nível do passe, de grande qualidade técnica: os seus passes, por norma, encontram o colega a que se destinam. A sua qualidade técnica não é, porém, condizente com a opção de passe. Não raro, o jogador do Inter, embora executando com qualidade, não tem em conta tudo aquilo que deve ter. Um passe seu é, do ponto de vista estético, de boa qualidade, mas, não pensando Pelé se o mesmo representa a melhor opção para a equipa e se o colega vai poder dar seguimento à jogada, o mesmo passe é, muitas vezes, inconsequente. Não são poucas as vezes que alonga o jogo sem necessidade nem poucas as vezes que faz o passe pelo ar quando pode fazê-lo pelo chão. Pelé não se preocupa com o que vai acontecer a seguir ao seu passe, mas apenas com o passe em si, o que é errado. Aquilo que define um bom passe é muito mais tudo o que vem depois do passe do que o próprio passe.

A capacidade de uma equipa fazer posse de bola advém muito mais da capacidade que os jogadores têm para entender o que vai acontecer a seguir a cada passe do que da capacidade e da qualidade de passe de cada um deles. Para que a equipa permaneça com a posse de bola, um jogador, ao passar, deve perceber que opções de passe terá o jogador que receber a bola, no momento em que a receber. Muito mais do que perceber se há uma linha de passe aberta, um jogador que tem a bola e a vai passar tem de conseguir perceber se, assim que receber a bola, o seu colega terá forma de dar continuidade à jogada. Se não tiver esta capacidade, o jogador que passa só poderá fazer bons passes por acaso: todos os passes que permitirem a continuidade da posse de bola ou que permitirem progressão acontecem então por acidente, porque o jogador que recebe, felizmente, soube encontrar uma solução, ou porque o adversário não tinha capacidade para inviabilizar a continuidade da jogada. O acto de passar, em futebol, é um pouco como cada jogada de xadrez: se não se tiver em conta as próximas jogadas, se não se imaginarem possibilidades futuras, uma jogada por si só é facilmente contrariada. Uma equipa cujos jogadores não tenham capacidade para imaginar aquilo que o colega vai ser capaz de fazer assim que receber a bola jogará muito em função da sorte e da capacidade individual dos jogadores. Os melhores jogadores, ao nível do passe, são aqueles que, ao entregarem a bola, percebem imediatamente quais as soluções que o colega vai ter. Pelé não é um destes casos. Os seu passes não são ponderados e, embora encontrem com regularidade o destinatário, colocam invariavelmente dificuldades ao mesmo, ou à equipa. Abusa dos passes longos em ocasiões em que, além de uma recepção difícil, o jogador que recebe não tem apoios para dar continuidade à jogada, o que torna um passe, já por si arriscado, numa jogada completamente ineficaz. Não se preocupa com as condições de recepção dos colegas e, muitas vezes, quando pode jogar curto e seguro, prefere arriscar e dificultar a acção dos mesmos. Além de tudo isto, não é capaz de perceber que uma equipa que ataca deve fazê-lo progressivamente e que, sem apoios, um passe só funciona como último passe. Apesar de revelar algum critério no descongestionamento dos flancos, ou demora a fazer o passe quando deveria apressá-lo, ou fá-lo rápido quando deveria contemporizar. É com alguma facilidade que vemos a equipa onde joga não ser capaz de progredir ou perder tempo relevante após um passe seu.

O passe é, na minha opinião, o elemento mais importante no processo ofensivo de uma equipa. Mas o passe em si, isto é, o gesto técnico, é uma parte muito irrelevante do mesmo. O passe engloba coisas como a visão de jogo, a imaginação, a capacidade de perceber movimentações colectivas, a velocidade de raciocínio, etc. E é a competência em todos estes processos que define um jogador com uma boa capacidade de passe. Por isso, porque são aspectos intelectuais e não técnicos que definem um bom passe, dificilmente um jogador pouco inteligente será bom nesse capítulo. Sem o auxílio do intelecto, um jogador não poderá compreender mais que o trivial e nunca fará bons passes para além daqueles mais fáceis do ponto de vista do raciocínio. É também por isso que me fascinam certos jogadores que, para a grande generalidade do público, são banais, jogadores esses que são capazes de pensar, a cada momento, o que é melhor para a equipa e de que forma uma acção aparentemente simples como um passe pode ser aproveitada nos momentos seguintes ao mesmo. Para a grande generalidade do público, o passe é uma coisa simples e qualquer um é capaz de fazê-lo. Por isso, um jogador que se destaque apenas neste capítulo não é, para esses, suficientemente bom. Para mim, como o passe é praticamente tudo no futebol, um jogador capaz de fazer bons passes com frequência (e por bons passes entende-se, por tudo o que foi dito, passes consequentes) deveria reunir maior apoio que qualquer outro tipo de jogador.

O passe é, pois, para a maior parte das pessoas, um gesto técnico individual. Para mim, não é nem um gesto técnico nem um gesto individual. É um gesto intelectual, porque o intelecto tem muito mais peso que a técnica na definição do mesmo, e é um gesto colectivo (engloba passe do jogador, recepção do colega, movimentação de toda a equipa, preocupação com posicionamento do adversário, preocupação com as eventualidades seguintes, etc.) porque só naquilo de bom que a equipa pode usufruir de um passe é que se pode medir a qualidade do mesmo.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Sondagem (5)

Segundo os leitores do Entre Dez, dos últimos 4 treinadores do Benfica, Trapattoni foi o melhor. Com 35 votos, contra 13 de José António Camacho, a velha raposa parece ter deixado saudades. Os restantes 6 votos foram distribuídos pelos outros dois candidatos, sendo que Fernando Santos arrecadou 4 votos e Koeman apenas 2. Reconheço que esta votação era um pouco um voto no "menos mau". A mediocridade dos treinadores do Benfica tem sido tanta que a votação teria de ser mesmo assim. Não sou fã de nenhum dos 4 treinadores em questão, mas o menos mau, para mim, seria Fernando Santos, seguido de Trapattoni. Se posso, de certa maneira, perceber a votação no italiano, não entendo, porém, o segundo lugar do espanhol.

Sugere então esta votação que, apesar de ter posto o Benfica a praticar o futebol mais agradável dos últimos 15 anos (com resultados significativos), Fernando Santos não reuniu amigos. Já Trapattoni, embora seja de louvar o facto de ter sido campeão com parcos recursos, foi sempre um treinador pouco audaz, sobretudo para um grande. O seu Benfica acabou por ter alguma sorte na forma como conquistou o campeonato e isso terá certamente contribuído para que, hoje, seja visto como o melhor dos últimos tempos. Camacho, por seu lado, teve uma equipa completamente desnorteada, como já não se via desde Jupp Heynckes, mas ainda assim tem quem o apoie. Completamente esquecido estará Koeman, embora tenha levado o Benfica, em termos europeus, mais longe do que qualquer outro treinador nos últimos tempos.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Melhor o resultado...

Na jornada que consagrou o “tri-campeão”, nem só os adeptos portistas têm razões para se sentirem felizes. Depois dos tropeções dos “Vitórias” e posteriormente do rival da segunda circular, os sportinguistas não só levaram o Braga de vencida como recuperaram Djaló.

O jogo começou da forma esperada, com um Braga recuado, apostando principalmente na capacidade de luta dos seus jogadores para suster o ímpeto ofensivo leonino. Carlos Fernandes e Rodriguez destacavam-se no sector defensivo: o português pela forma inteligente como fechava o flanco e iniciava os lances de ataque do Braga – quase sempre com uma solicitação em Matheus - o sul-americano na maneira como fechava os espaços, cortando várias linhas de passe.
Não conseguiu ter bola a equipa minhota, mas, apesar disso, conseguiu criar dois lances perigosos, sempre pela ala esquerda, com Linz a revelar-se muito perigoso (aquele toque de calcanhar...).

Mas foi na desorganização do meio-campo bracarense que surgiu o ascendente, ainda que tímido, da equipa leonina. Com Brum sozinho a pensar o jogo, - Contreras e Vandinho apenas se destacavam pela agressividade - a equipa arsenalista perdia demasiadas bolas, facilitando a tarefa à equipa leonina.

Do lado do Sporting, destaque, mais uma vez, para Farnerud. Não gostam do sueco, mas a verdade é que Pontus pensa e executa com grande qualidade. No meio-campo leonino foi o único a conseguir dar “traço” ao jogo da equipa de Alvalade. Com Moutinho escondido a “dez”, e Veloso a definir as suas acções mais vezes mal do que bem, tornando o jogo leonino muito confuso, eram o sueco e Izmailov que iam criando as soluções mais conseguidas do futebol verde-e-branco: o sueco através dos seus passes verticais, solicitando de forma soberba os avançados leoninos, e o russo com importantes movimentos verticais.

Com o primeiro golo (muito bem Liedson – por que é que ele não faz sempre “aquilo”, em vez das habituais tentativas, frustradas, de remate ou drible? –) apareceram, em bom estilo, os avançados, Liedson e Djaló. Logo após a obtenção do primeiro golo, surgiu o segundo, com mais uma excelente combinação entre o duo da frente.

Aqui um pequeno parêntesis: tem sido frequente neste espaço criticar o futebol de Liedson, defendendo que um avançado tem de ser, forçosamente, muito mais que o jogador do último toque. Defendemos que um avançado, como qualquer outro jogador, tem de compreender o que é melhor para a equipa em cada momento. Seja um toque para o lado, ou para trás, seja a opção de rematar, ou fintar, um jogador tem de compreender qual a melhor opção para a equipa. Não embarco no velho dogma que defende que um avançado, para ser útil, tem de ser egoísta. Liedson, sem fazer qualquer golo, fez dos melhores 45 minutos que já o vimos fazer. Infelizmente, na segunda parte, voltou ao seu estilo habitual.

Veio o intervalo e também um Braga mais atrevido. Jaílson, no lugar de Vandinho, mexeu com o jogo bracarense. Deu mais profundidade, assim como mais capacidade ofensiva. Valeu ao Sporting, nos momentos de maior aperto, Patrício, a barra, e Bruno Paixão (aquele golo foi anulado porquê?). O clube de Alvalade voltou a manifestar dificuldade na gestão da posse de bola. Daí não ter conseguido cruzar os últimos 45 minutos sem sobressaltos. Só nos últimos minutos, já com Pereirinha em campo, é que logrou ameaçar novamente a baliza minhota. Pereirinha, com dois remates perigosos, assim como uma excelente jogada de Farnerud, que provavelmente só não deu golo porque o Levezinho optou pelo remate, em vez de lhe devolver o esférico, foram os lances mais perigosos da equipa lisboeta no segundo tempo.

No fundo, uma vitória que se aceita, mas não por estes números. O Braga pagou a factura da pouca ambição demonstrada no primeiro tempo. Mas não é só nos aspectos ofensivos que a equipa de Machado merece reparos. A equipa é mal organizada nos processos defensivos, e nem o facto de jogar num bloco baixo consegue disfarçar este factor.

Do lado do clube leonino, destacar a incapacidade em circular a bola entre os seus sectores, sem o fazer em nítido esforço. O futebol sportinguista é confuso e vive apenas de momentos individuais e da inspiração, aleatória, dos jogadores. A sua organização defensiva, prejudicada por erros individuais (Abel tem sido simplesmente horrível na maneira como fecha o lado direito), e pela incapacidade da equipa em manter a posse de bola, expondo-se em demasia às iniciativas dos adversários, tem sido muitas vezes colocada em causa.

Depois, existe a velha questão dos avançados. À excepção de Derlei, e do inoperante Purovic, os avançados leoninos são, acima de tudo, jogadores explosivos, que não se destacam pela forma como conseguem segurar o esférico. Esta debilidade veio a tornar-se decisiva, de forma negativa, de diferentes formas, e em diferentes momentos: numa primeira fase, porque o losango leonino abriu em demasia, e neste caso era importante que os avançados soubessem contemporizar e assumir um maior protagonismo na gestão da posse de bola. Como isto não sucedia, a equipa ficava demasiado dependente das transições feitas através das alas, ficando sem apoios para variar o jogo de forma sustentada e segura. Numa fase posterior, a ineficácia dos avançados leoninos em segurar o esférico, veio-se a revelar contraproducente para o estilo de jogo quer de Veloso, que de Adrien. Ambos são jogadores com uma grande apetência ofensiva, e que baseiam as suas actuações numa grande mobilidade. Isto vai retirar ao jogo leonino apoios, pois muitas vezes estes jogadores, ao envolverem-se directamente na condução dos processos ofensivos, não conseguem criar apoios recuados. Desta forma, era importante que os avançados recuassem, criando superioridade, propiciando desta forma um maior número de apoios ao portador da bola. Sem um jogador como Custódio, o futebol leonino fica sem uma saída de emergência, ficando desta forma comprometida a possibilidade de descongestionar o jogo de forma segura. Daí a nossa insistência: Por que não Farnerud a trinco?

sábado, 5 de abril de 2008

Breves da Semana

1. Antes do jogo com o Porto, Jorge Jesus disse que, qualquer que fosse o resultado, uma coisa era certa: o Belenenses iria ser melhor tacticamente que o Porto. Jesualdo, após a vitória suada, fez questão de deixar bem claro que o Porto tinha sido tacticamente superior ao Belenenses. Adoro pessoas que, quando ganham, precisam de rebaixar os outros para se sentirem homenzinhos.

2. Já o Sporting, ganhou folgadamente à Naval, mas a exibição foi medíocre. É gritante, por exemplo, a falta de ideias da equipa no último terço do terreno.

3. O Benfica também goleou e Rodriguez fez um golaço. Custa compreender como é que não se conserva uma unidade tão rentável como o uruguaio.

4. Na Champions, Manchester e Liverpool gozaram de uma sorte inacreditável. O futebol de qualidade da Roma e o massacre dos Gunners mereciam mais.

5. O Fenerbahce continua a surpreender e promete não facilitar na segunda mão. Sendo, com o Shalke, a equipa mais modesta em prova, nutro alguma simpatia pelos turcos. Dar-me-ia, sem dúvida, algum gozo que, depois de eliminarem o Sevilha, fossem capazes de derrubar dois colossos ingleses e marcar presença na final.

6. Neste momento, um cenário perfeitamente possível para as meias-finais da Champions faz jogar Barcelona com Manchester e Fenerbahce com Arsenal. O futebol de ataque, alegre e bem trabalhado estaria, nesse caso, em força, nas meias-finais da prova, coisa da qual, provavelmente, não haverá memória. Melhor, só mesmo se a Roma fosse capaz de eliminar o Manchester em Old Trafford.

7. Na UEFA, o Sporting tem boas condições de atingir as meias-finais. O resultado, no entanto, ao contrário do que se pode pensar, não me parece favorável aos leões. Sendo o factor casa cada vez menos determinante e mantendo-se a lei dos golos fora, marcar golos como visitante na primeira mão de uma eliminatória é fundamental. É que, também ao contrário do que se diz, a eliminatória já não está no intervalo. O Rangers já não pode sofrer golos em casa, pelo que cada golo que marque significa que o Sporting tem de marcar esse golo e mais um. Empatar a 0-0 na primeira mão chega a ser, às vezes, para a equipa que joga em casa, melhor do que ganhar por 2-1, por exemplo. Apesar de tudo, considero o Sporting superior e creio que tem condições para seguir em frente. Aliás, até talvez nem fosse mau o Rangers marcar mesmo um golo em Alvalade: obrigava o Sporting a jogar para marcar golos e impedia que a eliminatória fosse para penaltys, o que seria mau para os portugueses.

8. O futebol do Rangers poderia ser mais primitivo? Não foi um 442 clássico apenas pela disposição em campo do Sporting. Marcando homem a homem no meio-campo, jogar contra o losango do Sporting implicava jogar em 451/541. O Rangers marca ao homem a todo o terreno, joga um futebol directo, e tem na vontade a sua única arma. Em termos individuais, a equipa é banal; colectivamente, funciona por impulsos individuais, ou seja, pela vontade de cada elemento. O público, então, não poderia mesmo ser mais primitivo. A exultação nunca foi por uma sucessão de passes correctos ou por lances bem gizados, mas por iniciativas em que os jogadores revelavam aplicação. A cada disputa de bola, a cada desarme ou tentativa de desarme, os adeptos exaltavam-se de uma maneira quase absurda. É ridículo que o futebol britânico continue a viver deste tipo de coisas. E em Inglaterra não é diferente. O poderio financeiro é que disfarça esta forma bizarra de ver o mundo. O ser humano, sobretudo o ser humano britânico mas não só, já se educava esteticamente, não?

9. O Zenit de São Petersburgo está demolidor. Depois de limpar o Marselha, deu cabo do Bayer Leverkusen. Um amigo russo dizia-me, antes da eliminatória, que o único problema do Zenit, até à final, seria o Bayern de Munique. Achei-o demasiado optimista, mas parece que, para já, a razão está do lado dele. Uma perguntinha: como é que Arshavin ainda está a jogar na Rússia?

10. Se o Zenit é sensação, o que dizer do Getafe de Laudrup? Tenho pena de não ter podido assistir a nenhum dos jogos do Getafe contra o Benfica, mas no país vizinho diz-se que o futebol dos pupilos de Laudrup é admirável. Pode ser que continuem em prova...

11. O meu prognóstico para as meias-finais da UEFA: Sporting vs Fiorentina e Zenit vs Getafe.