domingo, 30 de dezembro de 2012

Gente Irritante e Coisas Ilógicas

Ser mais irritante do que João Querido Manha, e dizer tantos disparates quantos o do comentador residente da TVI, não é obra ao alcance de qualquer um. Basta, a título de exemplo, lembrar o que disse hoje tal senhor, a respeito do futebol apresentado pelo Sporting. Segundo João Querido Manha, Adrien Silva e os extremos leoninos estavam muito apagados. Tendo em conta que passou o jogo a elogiar Ricardo Esgaio, ou não percebeu que Esgaio era um dos extremos, ou referia-se apenas a Jéffren. E é aqui, precisamente, que está o problema. É que, se o Sporting fez alguma coisa de interessante, sobretudo na primeira parte, fê-lo exactamente por força das acções de Adrien e Jéffren, de longe os únicos jogadores em campo que mostraram algumas ideias. João Querido Manha não viu isso, como não vê, geralmente, grande coisa, e distorceu de tal modo o que se passou que não compreendeu que os jogadores que, na sua opinião, estavam menos inspirados, eram afinal os que estavam mais inspirados. Podia alguém perceber menos de futebol?

Comecei, porém, por falar em irritação, e por dizer que bater João Querido Manha nesse particular não é fácil. Não é fácil, mas é possível, como o deixou bem claro, também hoje, mas umas horas antes, João Gonçalves, comentador da Sporttv, durante o desafio que opôs o Norwich City ao Manchester City. Durante a partida, fui percebendo nos comentários ao jogo uma certa embirração, aparentemente gratuita, com um jogador que não conhecia, o lateral direito do Norwich, Russell Martin, hoje em campo porque o habitual titular se encontrava lesionado. Tantos foram os reparos às acções de Martin em campo, na maioria dos casos quando nada se justificava, que comecei a prestar atenção ao desempenho do jogador. Não me pareceu extraordinário, mas também não me pareceu abaixo do exigível para uma equipa como o Norwich. Aliás, comparado com os dois centrais, era um prodígio. João Gonçalves, porém, insistia. A dada altura, sempre que tocava na bola (acho que às vezes bastava aparecer no ecrã), João Gonçalves dizia que era "fraquinho", que tinha medo de subir, que fazia asneira atrás de asneira. E o jogador, para quem o via sem os óculos especiais ou os estupefacientes de João Gonçalves, não fazia nem mais nem menos do que a maioria dos seus colegas. Percebi, por fim, que era qualquer embirração estúpida, que João Gonçalves tinha acordado de manhã, tinha ido ver a convocatória do Norwich, e tinha decidido, talvez por lotaria, que ia dizer mal daquele jogador em particular. Depois de perceber isto, pensei: "Bonito, bonito, era o rapaz marcar um golo". Só para ver como reagia quem tanto mal dele dizia. E, às vezes, desejar coisas apenas para ver gente estúpida envergonhada com a própria estupidez não é um desporto inútil. Hoje, pelo menos, não foi. É que, passados 5 minutos, Russell Martin marcava mesmo o segundo golo do Norwich na partida. Quando João Gonçalves se apercebeu da coisa, calou-se durante alguns segundos, e depois lembrou-se de se safar dizendo que, às vezes, o futebol tem destas coisas e o improvável acontece. Talvez por ainda me não me ver satisfeito, quem quer que exerça vontades sobre o que se passa no mundo decidiu que João Gonçalves ainda não tinha o que merecia. E eis que, alguns minutos mais tarde, o improvável voltou a acontecer: Russell Martin fazia o terceiro do Norwich e o segundo da conta pessoal. João Gonçalves riu-se, resignado com o que lhe acontecia. E o que lhe aconteceu foi simples: escolheu um jogador que não costuma jogar, ainda por cima um lateral direito, num jogo contra uma equipa bem superior, em que a probabilidade de cometer erros era algo elevada, escolheu um jogador a dedo com quem pudesse embirrar durante todo o jogo, na esperança de que, no final da partida, pudesse dizer que tinha percebido desde o início que o rapaz não era suficientemente bom para o nível que lhe era exigido, passando assim por alguém que percebe muito do que está a dizer. Infelizmente, o tiro saiu pela culatra, e a esperteza de João Gonçalves deixou antes a nu a sua falta de carácter.

Não tanto falta de carácter, mas falta de inteligência é coisa que abunda na arbitragem pelo mundo fora. E não me refiro apenas a árbitros; as próprias leis são, muitas deles, profundamente ilógicas. Por que raio parece indiscutível que agredir seja mais grave do que uma entrada por trás? Não faz sentido. Quando, então, alguém agride um adversário porque este acabou de ter uma entrada violenta e o primeiro é expulso por agressão e o segundo vê apenas um mísero amarelo, não há uma profunda injustiça em causa? Falo disto porque é algo que defendo há já muito tempo e porque, hoje, também no jogo entre o Norwich e Manchester City, voltou a acontecer. Nasri foi atropelado, quando se preparava para receber a bola, por uma entrada de Bassong que o virou ao contrário, mas que o podia ter deixado inutilizado durante muito tempo. Percebendo o que acontecera, e o perigo que acabara de correr, levantou-se irreflectidamente e foi tirar satisfações do adversário. Encostou-lhe a cabeça, e parecia com vontade de ir mais longe. Não chegou propriamente a agredir, mas terá tido vontade, e ainda fez uma meia-tentativa, meio fruste, de dar uma cabeçada. Tal tentativa, ou o que quer que tenha sido, valer-lhe-ia a expulsão. Quanto a Bassong, ficou em campo, como não podia deixar de ser, com apenas um amarelo. Para a esmagadora maioria das pessoas, tal desfecho foi normal e condizente com as acções de cada um dos jogadores: um cometeu uma falta dura; o outro agrediu, ou tentou agredir, sem bola, um adversário. O problema de quem pensa assim é que não pensa assim. Deixem-me explicar: quem pensa assim por eles é o mundo que os rodeia. Acham que tal desfecho é normal porque estão habituados a que seja isso que acontece em situações idênticas. Mas que alguma coisa seja habitual não implica que seja correcta.

Imaginemos que Nasri agrediu mesmo, para facilitar a explicação. Que acção é mais danosa à integridade física do jogador: uma entrada violenta numa jogada, ou uma cabeçada no nariz? Que acção merece maior punição: uma entrada violenta que pode inutilizar um adversário, ou uma agressão que não põe em risco a integridade física de ninguém e não é senão uma reacção perfeitamente compreensível de alguém que acabou de ser vítima de uma entrada que o podia inutilizar? Que pessoa merece maior castigo: quem comete uma entrada dessas, ou quem, por sentir ameaçada a sua integridade, reage intempestivamente a essa entrada? E, já agora, que acção é mais cobarde: aproveitar o pretexto da disputa da bola para aleijar a sério um adversário pelas costas, ou agredi-lo frente a frente, em condições iguais? Como quer que se coloque a pergunta, parece-me óbvio que nada justifica que o segundo agressor mereça maior punição do que o primeiro. Na minha perspectiva, nem sequer merecem punição igual. Nunca compreendi muito bem aqueles jogadores que ficam muito ofendidos quando alguém os agride frontalmente (não falo de pisões, de cuspidelas, nem do que quer que seja feito sorrateiramente). Enquanto jogador, sempre fiquei muito mais ofendido com adversários que tinham entradas violentas, fossem elas deliberadamente maldosas ou simplesmente irresponsáveis, do que com adversários que me tentavam agredir. A menos que fosse alguma coisa muito grave (e a maioria das agressões, em futebol, não são graves), agressões não põem em causa a possibilidade de se continuar a jogar. E esse é que deveria ser o critério. Nasri - deixem-me dizê-lo - tinha toda a legitimidade para agredir o seu adversário. Mais do que isso: tinha legitimidade para agredi-lo e, fosse qual fosse a punição que sofresse, teria de ser menor que a do seu adversário. Lembrando-me de uma situação parecida famosa, num encontro entre o Barcelona e o Athletic de Bilbau, Maradona foi vítima de uma autêntica caça ao homem durante todo o jogo. A caça durou até à altura em que o argentino perdeu a cabeça e respondeu a uma entrada por trás que o poderia ter aleijado gravemente (e ele tinha vindo de uma lesão recentemente) com uma agressão que desencadeou uma batalha campal. De quem foi a culpa daquilo? Dos jogadores do Athletic e do árbitro da partida (ou das próprias leis do jogo, que não protegem quem deviam). A agressão de Maradona, como a de Nasri, é perfeitamente aceitável. E é por isso que não acho que agressões deste tipo (isto é, agressões que sejam consequência ou de outras agressões ou de coisas deste tipo) devam ser punidas do mesmo modo que faltas em jogo. O que estou a dizer pode parecer profundamente radical e ilógico, mas, pensem bem: que razão lógica há para que um jogador mereça a punição de não poder continuar a jogar só porque agrediu alguém que fez algo que poderia ter a consequência de impedir que ele continuasse a jogar? Coisas deste tipo deveriam merecer punições de outro tipo; nunca cartões vermelhos como os que merecem aqueles que motivaram a agressão.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Quiz (2)


1. Qual foi a primeira equipa italiana a marcar presença numa final da Taça dos Campeões Europeus?

2. Nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta, Portugal fez uma campanha extraordinária, ficando no 4º lugar, atrás de Nigéria, Argentina e Brasil. Quem compunha a equipa técnica que comandava essa selecção?

3. Em toda a História do Barcelona, qual foi o jogador que mais vezes foi expulso?

sábado, 8 de dezembro de 2012

Górgias

Uma das coisas engraçadas de um ser humano adulto, saudável e que vive em sociedade é o ter com quem falar acerca do que bem lhe apetecer. Acho muito bem que o possa fazer. É pena, porém, que seres humanos adultos, saudáveis e que vivem em sociedade não tenham por hábito falar em São Tomás de Aquino, ou discutir entre si os pressupostos teóricos da Teoria da Relatividade. É verdade que não o fazem ou por não saberem nada do assunto, ou porque, mesmo que calhem a sabê-lo, dificilmente estarão constantemente rodeados de quem também o saiba. Como acham, contudo, que devem conversar sobre alguma coisa, decidem escolher assuntos sobre os quais toda a gente acha que sabe alguma coisa. E, ainda que de Filosofia ou de Física Teórica poucos saibam falar, muitos são os assuntos que, normalmente, se consideram acessíveis a toda a gente. De música, de política e, claro está, de futebol, todos acham que sabem qualquer coisa. Dirá quem assim pensa que é natural que assim seja. Música, política e futebol são coisas simples, para as quais basta ter vista (ou audição, no caso da música). São assuntos que não exigem reflexões profundas, que não exigem conhecimentos abstractos, sobre os quais somos bombardeados todos os dias, e sobre os quais, mesmo que inconscientemente, formamos opiniões. Devo dizer que, obviamente, não concordo com isto. O pressuposto errado é o de que há assuntos cujo conhecimento requer esforços intelectuais profundos e assuntos cujo conhecimento é imediato. E a ideia de que se possa conhecer empiricamente o que quer que seja  é suficientemente absurda para que não mereça reprovação.

Para dizer a verdade, conheço tanta gente que sabe falar de São Tomás de Aquino quanta a que sabe falar de futebol. Não significa isto que conheça muita gente que saiba falar de São Tomás; pelo contrário, conheço é poucas que saibam falar de futebol. A principal diferença é que, embora o número dos que sabem falar de uma coisa e de outra seja sensivelmente o mesmo, o número dos que não sabem falar de futebol mas que, ainda assim, insistem em fazê-lo é bem maior do que o número dos que não sabem falar de São Tomás mas falam. Como referi acima, assim é porque se julga que futebol, ao contrário de São Tomás, é coisa de que se pode saber empiricamente. Como nos conta Platão, dos idiotas que, por saberem uns truques de retórica, julgavam que podiam falar de todos os assuntos melhor até do que os especialistas em tais assuntos, tratou exemplarmente Sócrates quando se encontrou com Górgias. Tipicamente, pessoas como Górgias não sabem nada de nada, não têm qualquer arte; mas, como falam, por exemplo, de medicina para plateias de não-médicos, podem persuadir essa plateia. Para Sócrates, tais pessoas eram nocivas à cidade, e aquilo que faziam, disseminar opiniões, era uma das actividades menos nobres que conhecia. A prática da lisonja, se aplicada aos Górgias que falam hoje sobre futebol, encontraria extraordinária manifestação no blogue 442. Aqui fala-se de futebol como as massas gostam que se fale; é-se clubista, fala-se de escândalos e de controvérsias públicas, dizem-se banalidades e contam-se mentiras acerca de tudo e mais alguma coisa. Tal como Sócrates, acho que pessoas como as que por lá falam fazem mais mal do que bem. Os disparates que dizem e a lisonja que praticam são consequência da sociedade livre em que habitam. Mas a liberdade de que gozam não os isenta de serem estúpidos. Tal estupidez reside (e para isso serviu o primeiro parágrafo) em acharem que percebem de futebol só porque têm olhos e já viram muitos jogos. Aliás, também falam de música, de vez em quando. Acontece, todavia, que perceber de futebol não depende nem do tempo que se despende a ver futebol nem da capacidade de visão de ninguém; depende, sim, de saber pensar, como aliás depende qualquer tipo de conhecimento, a respeito de qualquer outra coisa. O que estou a afirmar, para quem ainda não percebeu, é que os palermas do 442, que a dada altura da vida terão percebido que eram demasiado estúpidos para que pudessem falar de assuntos mais complexos e acharam que se deviam dedicar a assuntos mais simples, não percebem que o assunto de que tratam é tão complexo como aqueles dos quais, por serem estúpidos, decidiram não falar. Perceber de futebol, perceber a sério de futebol, é tão complicado como perceber de Filosofia ou de Física Teórica. E todos aqueles que acham o contrário (e são muitos), como reconhecem que são demasiado estúpidos para falar de coisas complicadas, mas conservam, ainda assim, o desejo de dar à língua, devotam-se a falar de assuntos sobre os quais, no entender deles, é fácil ter opiniões. Tal como, para Sócrates, a sociedade seria melhor se as pessoas passassem mais tempo caladas, o debate sobre futebol seria bem melhor se não existisse.

Vem isto a propósito de uma recente opinião do Master Kodro no seu clube de sofistas da bola, a respeito do jogo que opôs o Barcelona ao Benfica. Diz o seguinte este Górgias de meia-tigela, acerca daquilo a que decidiu chamar "a pureza do sistema":

"o Barcelona, na primeira parte, foi um buraco defensivo. Parece que não é preciso esperar para ver o que será o trabalho de Guardiola noutro lado. Ontem, com muitos outros nomes, já se conseguiu perceber onde é que começa e acaba o peso do sistema e o dos nomes que brilhantemente o interpretam."

Implícita no comentário está a ideia, aliás bem consensual, de que o trabalho de Guardiola dependeu praticamente apenas dos jogadores que interpretavam o seu modelo. Como é sabido, discordo inteiramente disto. E confesso que, pelo contrário, se houve coisa que ficou bem visível no jogo de quarta-feira foi que o modelo catalão tem tanta força que sobrevive à ausência dos seus melhores intérpretes. O nosso Górgias acha que um jogo serve de exemplo para alguma coisa; acha que problemas defensivos, ainda por cima apenas manifestos na primeira parte, permitem fazer inferências gerais; e acha ainda que o trabalho de Guardiola, que já não tem nada a ver com este Barcelona, tem a ver com o que se passou na quarta-feira. Se isto não são três ideias das mais estúpidas que se podem ter, não sei o que serão. Disse-se, acerca do jogo, que o Benfica dispôs de oportunidades suficientes para ganhar o jogo, que o Benfica foi superior ao Barcelona, e que o Barcelona, sem as suas principais pedras, foi uma equipa banal. O que posso dizer disto é que é uma idiotice pegada. Não sei que jogo viram estas pessoas, mas sendo verdade que o Benfica podia ter ganho (houve até quem dissesse que podia ter goleado), não é menos verdade que o Barcelona também o podia (aliás, o Barça teve mais oportunidades claras do que o Benfica). Na segunda parte, o Benfica não existiu. E, mesmo na primeira, as oportunidades que conseguiu criar foram mais a partir de erros catalães do que propriamente depois de jogadas desenhadas com critério. O Barcelona, com dez suplentes em campo e um que costuma ser titular mais vezes do que os outros (David Villa) a fazer um frete, com metade da equipa a rondar os 20 anos, a jogar a feijões, contra uma equipa que pressionou alto, teve 72% de posse de bola (e não foi só na sua defesa, como o disse Jorge Jesus), criou variadíssimas ocasiões, e, não obstante alguns erros defensivos, quase sempre erros individuais (de Montoya e de Adriano, a maioria das vezes), controlou amplamente a partida. Mas, ainda assim, há quem ache que o jogo tornou evidente que o sistema não tem nada a ver com o sucesso de Guardiola. Perdoe-se-lhes a estupidez.

Quanto ao que diz o nosso Górgias, é razoável que se lhe conceda que os suplentes do Barcelona não façam um Barcelona tão forte quanto o fariam os titulares. Mas também não sei em que equipa do mundo é que tal acontece. O que sei é que, mesmo com os suplentes, mesmo com uma base de miúdos, mesmo contra uma das 20 melhores equipas da Europa, o Barcelona impôs o seu estilo. Sim, teve alguns erros defensivos, é verdade. Mas, talvez o Górgias não tenha visto os jogos do Barcelona esta época, erros defensivos (sobretudo quando Piqué e Puyol não são a dupla de centrais) têm sido coisas que têm acontecido muito. Achar que permitir 4 ou 5 oportunidades a um adversário tornam evidente que um modelo de jogo não presta, quando o mesmo modelo lhes permitiu 72% de posse de bola contra uma equipa que pressionou alto (não foi o Celtic, enfiado na toca), ou seja, uma posse de bola sempre dentro do bloco do adversário e não à volta, é francamente estúpido. É evidente que, com estes jogadores, o modelo não é tão forte. Mas isso não invalida que, por si só, o modelo não tenha virtudes que nenhum outro tem. Também concordo com o Górgias: não é preciso esperar pelo próximo trabalho de Guardiola. Mas, ao contrário dele, não acho que seja preciso esperar por tal coisa não porque o jogo desta semana tenha evidenciado alguma coisa, mas porque não preciso de ver outra equipa a jogar à Barcelona para perceber que o que Guardiola fez não foi simplesmente adequar um conjunto de jogadores ao modelo que melhor os servia. Os estúpidos precisam invariavelmente de ver coisas e de verificar hipóteses. E mesmo os estúpidos que dizem que já não precisam de verificar nada dizem-no depois de terem verificado alguma coisa (ou julgam que verificaram). Também assim se distingue quem deveria estar calado.

Antes de terminar, 2 reflexões:

1) Pedro Henriques passou o jogo a dizer que aquele Benfica era mais forte do que aquele Barcelona. O Pedro Henriques, para além de estúpido, também é um bocado Górgias. Há 2 coisas a dizer sobre isto. A primeira é que, ao contrário do que Pedro Henriques pensa, o valor de uma equipa não é simplesmente a soma do valor absoluto de um jogador. Mas também não vou argumentar contra alguém que passou o jogo a dizer que era preciso marcar individualmente no meio-campo, pois o Barcelona tinha superioridade numérica nessa zona. As jaimepachequices não merecem esforços deste tipo. A segunda coisa é que, aceitando ainda assim o argumento de Pedro Henriques de que o valor de uma equipa depende da soma do valor das suas unidades, não é claro que aquele Benfica fosse assim tão superior àquele Barcelona. Disse o antigo defesa-esquerdo de segunda categoria, entretanto promovido a comentador e a macaquinho amestrado, que o único jogador do onze catalão que encaixava no onze benfiquista era David Villa. Será que ele viu Puyol em campo? E Song? E Thiago Alcântara? Será que Melgarejo é melhor do que Planas? E não era o Benfica que andava atrás do Tello? Se calhar ficava por aqui. Não, não fico. O André Gomes até tem qualidade, mas dizer que o Thiago Alcântara, o Rafael Alcântara, e sobretudo o Sergi Roberto não jogavam no seu lugar é no mínimo falta de medicamentos. Pelo contrário, eu é que vejo muito poucos jogadores do Benfica que pudessem tirar o lugar aos que jogaram na quarta-feira pelo Barcelona: Artur, Garay e Nolito seriam os únicos.

2) Há quem critique Rodrigo por não ter passado a bola a Nolito, na primeira grande ocasião do jogo. Gosto muito de gente que gosta de certos jogadores, mas que depois os critica por fazerem aquilo que sempre fizeram, ou seja, tomar más decisões. Se gostam de um tipo que é rápido e tem um bom pé esquerdo, e se o preferem ver em campo a alguém como Saviola, que não parecia fazer a diferença em termos individuais, não podem gostar apenas das coisas boas que ele tem. Têm de gostar de tudo. O Rodrigo sempre foi isto e nunca será outra coisa. Se dão tanta importância aos seus atributos técnicos e físicos, não podem ser incoerentes ao ponto de lhe criticarem aquilo em que nunca foi bom. Se gostam de ananás, não podem criticar um vendedor de ananás por não vender alperces no dia em que há apetite por alperces. Eu, que nunca gostei dele, estou à vontade para dizer mal do rapaz. É um jogador banalíssimo, que tem apenas uma característica interessante: as diagonais nas costas da defesa a solicitar o último passe. Tirando isso (o que dá para aí 99% do jogo), Rodrigo é banal. As suas decisões raramente são boas, e nunca jogaria numa equipa como eu entendo que uma equipa deve ser. O pai de Rodrigo veio defender o filho, tentando isentá-lo com uma frase maravilhosa, dizendo que ele não vira Nolito. Se não fizesse parte de um jogador de futebol ver os colegas, sobretudo em lances como este, tal frase podia ser uma boa desculpa. Como faz, não é desculpa nenhuma; é estupidez. Prova que o pai de Rodrigo não sabe que jogo o filho joga. Tal como o filho, de resto.