Para muita gente, o papel de um avançado resume-se a fazer golos, e a avaliação do seu rendimento depende exclusivamente desse factor. Para outros, mais moderados, o avançado deve fazer golos, mas deve também ser capaz de oferecer outras coisas à equipa. Para um terceiro grupo de pessoas, nas quais me incluo, um avançado, como aliás qualquer outro jogador, deve essencialmente ser alguém que oferece coisas à equipa, sendo os golos que marca um mau critério para lhe definir o rendimento sobretudo porque, dependendo do modelo de jogo da equipa, dos companheiros, daquilo que lhe é pedido, etc., tal competência pode não ser o que de mais importante tem para dar. No Real Madrid, por exemplo, acredito que Cristiano Ronaldo tem tendência a render mais quando Benzema joga (em vez de Higuain), pois o tipo de movimentos e de preocupações do francês facilitam as características do português. E isto mesmo durante os largos meses em que Benzema não fazia golos. O rendimento de um avançado, portanto, não pode ser avaliado nem pela quantidade de golos que marca, nem pela quantidade de outras coisas que oferece à equipa, mas pela forma como se enquadra nessa equipa, pela forma como, de acordo com o tipo de coisas que oferece, facilita ou dificulta o rendimento colectivo. É por pensar no rendimento colectivo e só nele que, por norma, avalio rendimentos individuais de modo muito diferente da grande maioria das pessoas. E é por essa razão que, uma vez mais, quero falar de Hélder Postiga.
Tal como nunca achei Benzema um mau finalizador, não acho sequer que Postiga o seja, como o sabe quem acompanha este blogue. Falha tantos golos como qualquer outro avançado de renome, e se não marca mais é essencialmente porque não está tantas vezes como outro tipo de avançados em posição privilegiada para o fazer. Sobre golos, aliás, a sua prestação na selecção sempre desmentiu a teoria de que era perdulário. E, aliás, a sua prestação em Espanha, até ao momento, tem sido boa para calar certas vozes. Recentemente, outra crítica lhe tem sido feita: a de que está constantemente fora-de-jogo. O que é curioso é que não me lembro de alguém criticar isto em Liedson, que era apanhado em fora-de-jogo muito mais vezes do que Postiga, e que era apanhado essencialmente por distracção, ao contrário do português. A meu ver, releva esta crítica essencialmente de dois tipos de coisas: um preconceito generalizado contra o jogador, e a incapacidade de analisar ao pormenor os lances em que tem sido apanhado em fora-de-jogo. Sobre a primeira dessas coisas, é pouco interessante falar. Postiga pertence ao tipo de jogadores sobre os quais as opiniões que se formam dependem de uma opinião pública negativa previamente formada. Como tenho pouca paciência para demover multidões, e como já escrevi o suficiente, no passado, acerca dos equívocos generalizados em relação ao jogador, não vou voltar ao assunto. Sobre a questão do fora-de-jogo, é verdade que Postiga, nos últimos tempos, tem sido apanhado muito mais vezes em fora-de-jogo do que antigamente. Mas é preciso analisar as situações e perceber os porquês dos factos. Tal como, na época passada, passou a rematar mais do que rematava porque Paulo Sérgio, inclusive publicamente, lhe ordenou que o fizesse, modificando-se portanto de maneira a tentar responder às críticas, parece-me que esta situação advém precisamente de uma tentativa de se tornar mais próximo dos golos, de procurar mais certos movimentos nas costas dos defesas, de modo a criar melhores condições de finalização para si. E da mesma forma que não se critica que Inzaghi, em 6 lances, tenha de ser apanhado 5 vezes em fora-de-jogo para poder usufruir de um sexto lance em condições de finalização privilegiadas, acredito que é injusto criticar Postiga pelas mesmas razões. Veja-se o quarto golo frente à Bósnia. Postiga tem arriscado mais certos movimentos, e isso tem feito com que esteja a ser apanhado em fora-de-jogo mais vezes. Mas se calhar também tem tido mais rendimento em termos de golos porque tem arriscado mais esse tipo de movimentos. Por isso, convém que as críticas se decidam. Se gostam de um avançado que faz golos, que joga no limite do fora-de-jogo para poder estar mais perto dos golos, então não podem criticá-lo por estar precisamente a fazer isso. Se não se importam com os golos que um avançado faz, então deixam-no em paz quando não faz golos.
Voltemos bruscamente ao tema do texto, que tem essencialmente a ver com o tipo de coisas que um avançado pode oferecer a uma equipa, mas das quais as pessoas raramente se apercebem. Diz o Filipe Vieira de Sá, para quem o Postiga, pelas acusações praticamente diárias, deve ser presença assídua nos seus pesadelos, o seguinte acerca do avançado da selecção nacional:
"Os avançados são quem tem menor participação no jogo colectivo, o que é normal, mas na Selecção a sua acção não tem conduzido, nem a qualquer ocasião criada, nem tão pouco a um acréscimo positivo na fluidez de jogo. Ou seja, o contributo positivo do ponta de lança, na Selecção, tem-se resumido à finalização, e apenas à finalização."
Para o Filipe, o avançado, no modelo de jogo da selecção, tem pouca participação no jogo colectivo porque as acções sem bola, as movimentações, as acções com bola longe da baliza, e tantos outros pormenores aparentemente irrelevantes, não entram nas contas que faz para atribuir rendimentos individuais. Como discordo disto, e como acho que Ronaldo e Nani têm tudo a ganhar com a utilização de um ponta-de-lança que se preocupe com movimentos interiores, que sirva de apoio vertical aos médios, e que saia da sua posição, arrastando consigo adversários, é natural que tenha uma opinião diferente. O lance que trago, e a interpretação que vou dar do mesmo, têm por fim, essencialmente, mostrar como há mais do que golos, assistências, e coisas vistosas que devem entrar na análise do rendimento de um avançado, tornando ainda claro por que razão é Postiga útil a esta equipa, como o seria a muitas outras, caso houvesse uma percepção melhor das coisas extraordinárias que tem para oferecer.
Tal como nunca achei Benzema um mau finalizador, não acho sequer que Postiga o seja, como o sabe quem acompanha este blogue. Falha tantos golos como qualquer outro avançado de renome, e se não marca mais é essencialmente porque não está tantas vezes como outro tipo de avançados em posição privilegiada para o fazer. Sobre golos, aliás, a sua prestação na selecção sempre desmentiu a teoria de que era perdulário. E, aliás, a sua prestação em Espanha, até ao momento, tem sido boa para calar certas vozes. Recentemente, outra crítica lhe tem sido feita: a de que está constantemente fora-de-jogo. O que é curioso é que não me lembro de alguém criticar isto em Liedson, que era apanhado em fora-de-jogo muito mais vezes do que Postiga, e que era apanhado essencialmente por distracção, ao contrário do português. A meu ver, releva esta crítica essencialmente de dois tipos de coisas: um preconceito generalizado contra o jogador, e a incapacidade de analisar ao pormenor os lances em que tem sido apanhado em fora-de-jogo. Sobre a primeira dessas coisas, é pouco interessante falar. Postiga pertence ao tipo de jogadores sobre os quais as opiniões que se formam dependem de uma opinião pública negativa previamente formada. Como tenho pouca paciência para demover multidões, e como já escrevi o suficiente, no passado, acerca dos equívocos generalizados em relação ao jogador, não vou voltar ao assunto. Sobre a questão do fora-de-jogo, é verdade que Postiga, nos últimos tempos, tem sido apanhado muito mais vezes em fora-de-jogo do que antigamente. Mas é preciso analisar as situações e perceber os porquês dos factos. Tal como, na época passada, passou a rematar mais do que rematava porque Paulo Sérgio, inclusive publicamente, lhe ordenou que o fizesse, modificando-se portanto de maneira a tentar responder às críticas, parece-me que esta situação advém precisamente de uma tentativa de se tornar mais próximo dos golos, de procurar mais certos movimentos nas costas dos defesas, de modo a criar melhores condições de finalização para si. E da mesma forma que não se critica que Inzaghi, em 6 lances, tenha de ser apanhado 5 vezes em fora-de-jogo para poder usufruir de um sexto lance em condições de finalização privilegiadas, acredito que é injusto criticar Postiga pelas mesmas razões. Veja-se o quarto golo frente à Bósnia. Postiga tem arriscado mais certos movimentos, e isso tem feito com que esteja a ser apanhado em fora-de-jogo mais vezes. Mas se calhar também tem tido mais rendimento em termos de golos porque tem arriscado mais esse tipo de movimentos. Por isso, convém que as críticas se decidam. Se gostam de um avançado que faz golos, que joga no limite do fora-de-jogo para poder estar mais perto dos golos, então não podem criticá-lo por estar precisamente a fazer isso. Se não se importam com os golos que um avançado faz, então deixam-no em paz quando não faz golos.
Voltemos bruscamente ao tema do texto, que tem essencialmente a ver com o tipo de coisas que um avançado pode oferecer a uma equipa, mas das quais as pessoas raramente se apercebem. Diz o Filipe Vieira de Sá, para quem o Postiga, pelas acusações praticamente diárias, deve ser presença assídua nos seus pesadelos, o seguinte acerca do avançado da selecção nacional:
"Os avançados são quem tem menor participação no jogo colectivo, o que é normal, mas na Selecção a sua acção não tem conduzido, nem a qualquer ocasião criada, nem tão pouco a um acréscimo positivo na fluidez de jogo. Ou seja, o contributo positivo do ponta de lança, na Selecção, tem-se resumido à finalização, e apenas à finalização."
Para o Filipe, o avançado, no modelo de jogo da selecção, tem pouca participação no jogo colectivo porque as acções sem bola, as movimentações, as acções com bola longe da baliza, e tantos outros pormenores aparentemente irrelevantes, não entram nas contas que faz para atribuir rendimentos individuais. Como discordo disto, e como acho que Ronaldo e Nani têm tudo a ganhar com a utilização de um ponta-de-lança que se preocupe com movimentos interiores, que sirva de apoio vertical aos médios, e que saia da sua posição, arrastando consigo adversários, é natural que tenha uma opinião diferente. O lance que trago, e a interpretação que vou dar do mesmo, têm por fim, essencialmente, mostrar como há mais do que golos, assistências, e coisas vistosas que devem entrar na análise do rendimento de um avançado, tornando ainda claro por que razão é Postiga útil a esta equipa, como o seria a muitas outras, caso houvesse uma percepção melhor das coisas extraordinárias que tem para oferecer.
szólj hozzá: 3-1
Que eu tenha conhecimento, não se elogiou, no lance do terceiro golo da selecção, senão o passe de Moutinho e a conclusão de Ronaldo. De facto, quem vê o jogo, está atento à bola, e é por esses dois jogadores que ela passa até chegar ao fundo das redes. Evidentemente, tanto um como outro, definiram bem a jogada, e são os principais responsáveis pelo lance. Mas, e agora pergunto eu, não haverá quem tenha facilitado que aquilo acontecesse como aconteceu? Isto é, será o mérito apenas dos dois jogadores, ou terá havido alguém que, muito discretamente, sem tocar nem sequer se ter aproximado da bola, tenha permitido à equipa gozar daquela oportunidade? A meu ver, isso é inequívoco. Estou a falar, naturalmente, de Postiga. Quando a bola está a ser disputada no meio-campo, já Postiga, tendo percebido o espaço que havia entre os médios e os defesas bósnios, se disponibilizara, ocupando esse espaço, para vir receber a bola, na eventualidade de um colega ter tempo e espaço para executar o passe na sua direcção. Ao mesmo tempo, inadvertidamente ou não, o seu posicionamento baixo criou hesitação no defesa central que estava mais perto de si. Foi por isso que Ronaldo, ao receber o passe de Moutinho, se isolou de imediato, porque o defesa, hesitando entre dar um passo à frente para apertar Postiga e ficar recuado, vigiando o posicionamento de Ronaldo, acabou por reagir demasiado tarde. Ao se colocar onde se colocou, ao perceber o espaço que deveria ocupar e ao se disponibilizar para o fazer, muito antes de ser evidente que a equipa ia ficar com a bola, Postiga forçou a indecisão do defesa, o que, por sua vez, facultou a Ronaldo o espaço suficiente para arrancar sozinho para a baliza. Se, por outro lado, Postiga tivesse ficado enfiado entre os centrais, se não estivesse interessado naquele espaço, o defesa, até porque tinha a ajuda do outro central, facilmente se teria concentrado apenas em Cristiano Ronaldo, e nunca ficaria para trás apenas com o passe de Moutinho.
Naquilo que Postiga fez, porém, ninguém reparou. Como não tocou na bola, como Moutinho nem sequer olhou para ele, para a grande maioria das pessoas não teve qualquer acção no lance. Para mim, que não vejo as coisas com a mesma linearidade, teve, e teve muita. Não digo que se tenha posicionado com a intenção de dificultar o comportamento ao defesa. Mas, porque estava preocupado com a equipa, com o dar o apoio certo, com a ocupação do espaço certo, naquele momento, acabou por ajudar a equipa, mesmo que o seu posicionamento entre linhas não tenha sido utilizado para fazer passar a bola. A simples colocação correcta em campo de Postiga, naquele momento, permitiu à equipa (sim, à equipa!), que os dois jogadores que intervieram activamente no lance gozassem das condições ideais para criar uma ocasião de golo. E isto, porque é invisível, é para muitas análises uma acção inútil. É por estas e por outras que as análises que estão preocupadas apenas com acções com bola são redutoras. Neste caso específico, sem ter tocado na bola, sem sequer ter estado perto da zona por onde a bola passou, Postiga foi decisivo para o desfecho do lance. De resto, é este um bom exemplo, a meu ver, de como um avançado não precisa de fazer golos, nem precisa de assistir os colegas para que estes façam golos, nem precisa de ganhar bolas de cabeça, nem precisa de ir ao choque com os defesas, nem precisa sequer, cúmulo dos cúmulos, de tocar na bola para ser útil, enquanto avançado, às necessidades da equipa. A utilidade de um avançado, e aliás de qualquer jogador, nem sempre é visível a olho nu, nem se caracteriza por acções evidentes. E é por isso que o rendimento individual não pode ser condignamente avaliado senão tendo em conta toda a utilidade, visível e invísivel, que esse indivíduo tem na obtenção do rendimento colectivo.
Naquilo que Postiga fez, porém, ninguém reparou. Como não tocou na bola, como Moutinho nem sequer olhou para ele, para a grande maioria das pessoas não teve qualquer acção no lance. Para mim, que não vejo as coisas com a mesma linearidade, teve, e teve muita. Não digo que se tenha posicionado com a intenção de dificultar o comportamento ao defesa. Mas, porque estava preocupado com a equipa, com o dar o apoio certo, com a ocupação do espaço certo, naquele momento, acabou por ajudar a equipa, mesmo que o seu posicionamento entre linhas não tenha sido utilizado para fazer passar a bola. A simples colocação correcta em campo de Postiga, naquele momento, permitiu à equipa (sim, à equipa!), que os dois jogadores que intervieram activamente no lance gozassem das condições ideais para criar uma ocasião de golo. E isto, porque é invisível, é para muitas análises uma acção inútil. É por estas e por outras que as análises que estão preocupadas apenas com acções com bola são redutoras. Neste caso específico, sem ter tocado na bola, sem sequer ter estado perto da zona por onde a bola passou, Postiga foi decisivo para o desfecho do lance. De resto, é este um bom exemplo, a meu ver, de como um avançado não precisa de fazer golos, nem precisa de assistir os colegas para que estes façam golos, nem precisa de ganhar bolas de cabeça, nem precisa de ir ao choque com os defesas, nem precisa sequer, cúmulo dos cúmulos, de tocar na bola para ser útil, enquanto avançado, às necessidades da equipa. A utilidade de um avançado, e aliás de qualquer jogador, nem sempre é visível a olho nu, nem se caracteriza por acções evidentes. E é por isso que o rendimento individual não pode ser condignamente avaliado senão tendo em conta toda a utilidade, visível e invísivel, que esse indivíduo tem na obtenção do rendimento colectivo.