Há quem ache que João Pereira é isto e aquilo, o melhor lateral-direito de Portugal e arredores, um lateral moderno, veloz, agressivo, intenso, que dá profundidade ao corredor. Não alinho em tais disparates. Reconheço que pode ser uma mais valia colectiva em termos de profundidade, se a equipa o souber potenciar, como por exemplo era Bosingwa no Porto, mas pouco mais. Com bola, raramente decide pelo melhor e só a sua boa capacidade técnica faz com que se safe minimamente. Sem bola, então, é francamente mau. Defensivamente, por exemplo, e apesar de jogar há vários anos em equipas em que se exige dos defesas que saibam ocupar os espaços e relacionar-se com os colegas a cada momento, de ter tido treinadores tão exigentes a esse respeito como são Jorge Jesus e Domingos Paciência, continua muito displicente.
O início de época no Sporting, apesar de pouca gente parecer ter reparado, foi desastroso, com a grande maioria dos golos sofridos pela equipa a resultarem de maus ajustamentos defensivos precisamente de João Pereira, de erros que, a este nível, normalmente se pagam caros. Quis-se justificar o mau início leonino com os bodes expiatórios do costume, a falta de eficácia, a baixa estatura dos centrais, a inexperiência dos jovens, o Carriço, o Postiga, etc., e ignoraram-se todas as asneiras de João Pereira. Não é, contudo, sobre o início de época do Sporting que quero falar. Há dias, referi os erros de principiante de Bosingwa, e muitos podem achar que a minha opinião acerca do melhor lateral direito português coincide com a de Paulo Bento. Não coincide. Acho que, defensivamente, tanto um como outro são jogadores banalíssimos, que cometem erros que ao mais alto nível não se deviam cometer, e que estão sobrevalorizados por isso mesmo. São rápidos, e muitas vezes isso ajuda a compensar o mau posicionamento, os disparates e as distracções. Mas cometem demasiados deslizes para o que se deve exigir em equipas de topo. Aliás, o melhor lateral-direito português, em meu entender, é Sílvio.
O lance que trago ocorre aos 80 minutos do jogo com a Bósnia (aliás, quanto mais perto do final da partida, maior me parece a tendência de João Pereira para errar), aos 9:15 do vídeo, e resulta naquele que foi, talvez, o principal lance de perigo dos bósnios, a par de outro lance pouco tempo depois. A bola vem da esquerda para um jogador bósnio que ocupa um espaço entre linhas, e este, de primeira, isola o avançado. João Pereira está 3 metros atrás da linha defensiva portuguesa, e é ele quem coloca o avançado em jogo, e quem permite que os bósnios transformem um lance aparentemente controlado numa ocasião clara de golo. É verdade que Pepe sai à última da hora (embora Pepe não deva ser exemplo para ninguém), mas, num lance que é conduzido pela esquerda, a responsabilidade do lateral-direito (assim como da linha defensiva), é perceber a referência dada pelo lateral-esquerdo. Se Coentrão e Bruno Alves estão adiantados, e a jogada é conduzida pelo lado deles, Pepe e João Pereira têm de subir para a linha destes. Não o fazendo, permitem que um avançado que se coloque entre Bruno Alves e Pepe adquira uma vantagem decisiva no caso de a bola ser metida pelo meio. João Pereira, provavelmente preocupado com o jogador bósnio que andava ali perto, não percebeu a referência defensiva certa, e ficou 3 metros atrás da linha defensiva. Não subindo no terreno, não só não ajudou a apertar o espaço onde a bola entra em primeiro lugar, permitindo, juntamente com Pepe, que houvesse um espaço entre o meio-campo e a defesa para os bósnios aproveitarem (há também responsabilidades do meio-campo, e nomeadamente de um jogador que não fecha tão dentro quanto devia), como possibilitou que o avançado bósnio escapasse por entre os centrais, pelo simples facto de estar a colocá-lo em jogo.
É por este tipo de lances, frequentíssimo para quem acompanha com atenção os jogos de João Pereira, que não consigo compreender como é que, hoje em dia, havendo tanta informação, havendo tanta preocupação com o detalhe, tanto interesse em questões tácticas, se continua a achar que João Pereira é isto e aquilo, só porque sabe correr, sabe mostrar os dentes, e sabe dar dois toques numa bola. O futebol, pelo menos o futebol moderno, é mais, muito mais, do que velocidade, força de vontade e habilidade. Numa selecção que aspira a pertencer, se não a mais, a um segundo grupo de selecções candidatas a vitórias em certames internacionais, não pode dar-se ao luxo de ter entre os seus titulares indiscutíveis alguém que comete erros sistemáticos deste tipo, erros básicos que podem prejudicar todo o trabalho feito em 90 minutos. E é por ter jogadores como este, jogadores que ombreiam com os melhores do mundo em termos técnicos e em termos atléticos, mas que possuem carências intelectuais relevantes, e por ter não um, mas vários destes jogadores entre os seus titulares, que não me parece que Portugal deva aspirar a tanto quanto tem aspirado nos últimos anos. Sim, em termos atléticos e em termos técnicos, Portugal está entre os melhores do mundo. E, sempre que conseguir levar um jogo para a dimensão física do mesmo, terá possibilidades de vencer qualquer outra selecção. Mas em termos intelectuais está mais perto de uma selecção sul-americana do que do rigor e da eficiência das maiores potências europeias. Temos hoje mais jogadores conceituados do que, por exemplo, há dez anos, mas esquecemo-nos que os jogadores que temos hoje se distinguem por atributos muito diferentes. Apesar, por isso, de mais reputada, de ter mais jogadores espalhados pelos melhores clubes europeus, parece-me esta selecção bem mais pobre do que algumas selecções anteriores. Se continua a ser suficiente para marcar presença nos maiores torneios de selecções, creio que sim. Mas sobre isso tiraremos todas as dúvidas dentro de poucos dias.
O início de época no Sporting, apesar de pouca gente parecer ter reparado, foi desastroso, com a grande maioria dos golos sofridos pela equipa a resultarem de maus ajustamentos defensivos precisamente de João Pereira, de erros que, a este nível, normalmente se pagam caros. Quis-se justificar o mau início leonino com os bodes expiatórios do costume, a falta de eficácia, a baixa estatura dos centrais, a inexperiência dos jovens, o Carriço, o Postiga, etc., e ignoraram-se todas as asneiras de João Pereira. Não é, contudo, sobre o início de época do Sporting que quero falar. Há dias, referi os erros de principiante de Bosingwa, e muitos podem achar que a minha opinião acerca do melhor lateral direito português coincide com a de Paulo Bento. Não coincide. Acho que, defensivamente, tanto um como outro são jogadores banalíssimos, que cometem erros que ao mais alto nível não se deviam cometer, e que estão sobrevalorizados por isso mesmo. São rápidos, e muitas vezes isso ajuda a compensar o mau posicionamento, os disparates e as distracções. Mas cometem demasiados deslizes para o que se deve exigir em equipas de topo. Aliás, o melhor lateral-direito português, em meu entender, é Sílvio.
O lance que trago ocorre aos 80 minutos do jogo com a Bósnia (aliás, quanto mais perto do final da partida, maior me parece a tendência de João Pereira para errar), aos 9:15 do vídeo, e resulta naquele que foi, talvez, o principal lance de perigo dos bósnios, a par de outro lance pouco tempo depois. A bola vem da esquerda para um jogador bósnio que ocupa um espaço entre linhas, e este, de primeira, isola o avançado. João Pereira está 3 metros atrás da linha defensiva portuguesa, e é ele quem coloca o avançado em jogo, e quem permite que os bósnios transformem um lance aparentemente controlado numa ocasião clara de golo. É verdade que Pepe sai à última da hora (embora Pepe não deva ser exemplo para ninguém), mas, num lance que é conduzido pela esquerda, a responsabilidade do lateral-direito (assim como da linha defensiva), é perceber a referência dada pelo lateral-esquerdo. Se Coentrão e Bruno Alves estão adiantados, e a jogada é conduzida pelo lado deles, Pepe e João Pereira têm de subir para a linha destes. Não o fazendo, permitem que um avançado que se coloque entre Bruno Alves e Pepe adquira uma vantagem decisiva no caso de a bola ser metida pelo meio. João Pereira, provavelmente preocupado com o jogador bósnio que andava ali perto, não percebeu a referência defensiva certa, e ficou 3 metros atrás da linha defensiva. Não subindo no terreno, não só não ajudou a apertar o espaço onde a bola entra em primeiro lugar, permitindo, juntamente com Pepe, que houvesse um espaço entre o meio-campo e a defesa para os bósnios aproveitarem (há também responsabilidades do meio-campo, e nomeadamente de um jogador que não fecha tão dentro quanto devia), como possibilitou que o avançado bósnio escapasse por entre os centrais, pelo simples facto de estar a colocá-lo em jogo.
É por este tipo de lances, frequentíssimo para quem acompanha com atenção os jogos de João Pereira, que não consigo compreender como é que, hoje em dia, havendo tanta informação, havendo tanta preocupação com o detalhe, tanto interesse em questões tácticas, se continua a achar que João Pereira é isto e aquilo, só porque sabe correr, sabe mostrar os dentes, e sabe dar dois toques numa bola. O futebol, pelo menos o futebol moderno, é mais, muito mais, do que velocidade, força de vontade e habilidade. Numa selecção que aspira a pertencer, se não a mais, a um segundo grupo de selecções candidatas a vitórias em certames internacionais, não pode dar-se ao luxo de ter entre os seus titulares indiscutíveis alguém que comete erros sistemáticos deste tipo, erros básicos que podem prejudicar todo o trabalho feito em 90 minutos. E é por ter jogadores como este, jogadores que ombreiam com os melhores do mundo em termos técnicos e em termos atléticos, mas que possuem carências intelectuais relevantes, e por ter não um, mas vários destes jogadores entre os seus titulares, que não me parece que Portugal deva aspirar a tanto quanto tem aspirado nos últimos anos. Sim, em termos atléticos e em termos técnicos, Portugal está entre os melhores do mundo. E, sempre que conseguir levar um jogo para a dimensão física do mesmo, terá possibilidades de vencer qualquer outra selecção. Mas em termos intelectuais está mais perto de uma selecção sul-americana do que do rigor e da eficiência das maiores potências europeias. Temos hoje mais jogadores conceituados do que, por exemplo, há dez anos, mas esquecemo-nos que os jogadores que temos hoje se distinguem por atributos muito diferentes. Apesar, por isso, de mais reputada, de ter mais jogadores espalhados pelos melhores clubes europeus, parece-me esta selecção bem mais pobre do que algumas selecções anteriores. Se continua a ser suficiente para marcar presença nos maiores torneios de selecções, creio que sim. Mas sobre isso tiraremos todas as dúvidas dentro de poucos dias.
4 comentários:
E sobre a exibição do Pepe o que tens a dizer? Devo ser dos únicos a achar que não fez uma exibição assim tão monstruosa. Cumpriu (muito) bem no momento defensivo - fruto de alguma impetuosidade e de "vai a todas" - mas depois todas as bolas que recuperava perdi-as novamente em alívios e passes longos sem sentido. Acho que não deve ter dado seguimento a nenhuma jogada da selecção
Nuno,
Não consegui ver o jogo, só a parte final, mas assim que liguei a TV este foi o primeiro lance que vi. Pensei logo nisso... Sílvio está a milhas dele e Bosingwa. Até acho que foste demasiado benevolente com ele, tecnicamente também não me diz nada. Tem apenas resistência ao esforço, mas pouco lhe vale pois corre sempre ao contrário.
Depois a opinião publica só vê virtudes em J. Pereira, sinceramente não sei como conseguiu ele isso. O único defeito que lhe apontam é ser demasiado emotivo. No caso dele nem defeito é, pois se não fosse isso era ainda pior jogador.
Jorge D.
Jorge D.,
O João Pereira ataca bastante bem espaços interiores e tem uma técnica acima da média, para lateral direito. No entanto tem bastantes desatenções a defender, deixando muitas vezes jogadores aparecer nas suas costas. E tem as paragens cerebrais que já sabemos, onde se exalta com muita facilidade.
Boas Mike,
Sendo sincero, o conceito de "técnica", para mim, torna-se abstracto quando a mesma provoca ou se deixa levar por más decisões. E esse é o caso do J. Pereira.
Para Lateral direito? Eu penso que no futebol tudo o que são factores de rendimento, como o é a técnica, não podem ser perspectivado por posições. O critério destes factores tem de existir em todas elas.
E neste caso ele deveria mesmo ter deixado o adversário nas suas costas, ou melhor, para lá da sua linha.
Mas respeito a tua opinião. Para mim, J. Pereira está abaixo de alguns jogadores no SCP, mas é só uma opinião, provavelmente eu é que estou errado, visto que toda a gente o coloca a jogar :)
Abraço. Jorge D.
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