Para muita gente, o papel de um avançado resume-se a fazer golos, e a avaliação do seu rendimento depende exclusivamente desse factor. Para outros, mais moderados, o avançado deve fazer golos, mas deve também ser capaz de oferecer outras coisas à equipa. Para um terceiro grupo de pessoas, nas quais me incluo, um avançado, como aliás qualquer outro jogador, deve essencialmente ser alguém que oferece coisas à equipa, sendo os golos que marca um mau critério para lhe definir o rendimento sobretudo porque, dependendo do modelo de jogo da equipa, dos companheiros, daquilo que lhe é pedido, etc., tal competência pode não ser o que de mais importante tem para dar. No Real Madrid, por exemplo, acredito que Cristiano Ronaldo tem tendência a render mais quando Benzema joga (em vez de Higuain), pois o tipo de movimentos e de preocupações do francês facilitam as características do português. E isto mesmo durante os largos meses em que Benzema não fazia golos. O rendimento de um avançado, portanto, não pode ser avaliado nem pela quantidade de golos que marca, nem pela quantidade de outras coisas que oferece à equipa, mas pela forma como se enquadra nessa equipa, pela forma como, de acordo com o tipo de coisas que oferece, facilita ou dificulta o rendimento colectivo. É por pensar no rendimento colectivo e só nele que, por norma, avalio rendimentos individuais de modo muito diferente da grande maioria das pessoas. E é por essa razão que, uma vez mais, quero falar de Hélder Postiga.
Tal como nunca achei Benzema um mau finalizador, não acho sequer que Postiga o seja, como o sabe quem acompanha este blogue. Falha tantos golos como qualquer outro avançado de renome, e se não marca mais é essencialmente porque não está tantas vezes como outro tipo de avançados em posição privilegiada para o fazer. Sobre golos, aliás, a sua prestação na selecção sempre desmentiu a teoria de que era perdulário. E, aliás, a sua prestação em Espanha, até ao momento, tem sido boa para calar certas vozes. Recentemente, outra crítica lhe tem sido feita: a de que está constantemente fora-de-jogo. O que é curioso é que não me lembro de alguém criticar isto em Liedson, que era apanhado em fora-de-jogo muito mais vezes do que Postiga, e que era apanhado essencialmente por distracção, ao contrário do português. A meu ver, releva esta crítica essencialmente de dois tipos de coisas: um preconceito generalizado contra o jogador, e a incapacidade de analisar ao pormenor os lances em que tem sido apanhado em fora-de-jogo. Sobre a primeira dessas coisas, é pouco interessante falar. Postiga pertence ao tipo de jogadores sobre os quais as opiniões que se formam dependem de uma opinião pública negativa previamente formada. Como tenho pouca paciência para demover multidões, e como já escrevi o suficiente, no passado, acerca dos equívocos generalizados em relação ao jogador, não vou voltar ao assunto. Sobre a questão do fora-de-jogo, é verdade que Postiga, nos últimos tempos, tem sido apanhado muito mais vezes em fora-de-jogo do que antigamente. Mas é preciso analisar as situações e perceber os porquês dos factos. Tal como, na época passada, passou a rematar mais do que rematava porque Paulo Sérgio, inclusive publicamente, lhe ordenou que o fizesse, modificando-se portanto de maneira a tentar responder às críticas, parece-me que esta situação advém precisamente de uma tentativa de se tornar mais próximo dos golos, de procurar mais certos movimentos nas costas dos defesas, de modo a criar melhores condições de finalização para si. E da mesma forma que não se critica que Inzaghi, em 6 lances, tenha de ser apanhado 5 vezes em fora-de-jogo para poder usufruir de um sexto lance em condições de finalização privilegiadas, acredito que é injusto criticar Postiga pelas mesmas razões. Veja-se o quarto golo frente à Bósnia. Postiga tem arriscado mais certos movimentos, e isso tem feito com que esteja a ser apanhado em fora-de-jogo mais vezes. Mas se calhar também tem tido mais rendimento em termos de golos porque tem arriscado mais esse tipo de movimentos. Por isso, convém que as críticas se decidam. Se gostam de um avançado que faz golos, que joga no limite do fora-de-jogo para poder estar mais perto dos golos, então não podem criticá-lo por estar precisamente a fazer isso. Se não se importam com os golos que um avançado faz, então deixam-no em paz quando não faz golos.
Voltemos bruscamente ao tema do texto, que tem essencialmente a ver com o tipo de coisas que um avançado pode oferecer a uma equipa, mas das quais as pessoas raramente se apercebem. Diz o Filipe Vieira de Sá, para quem o Postiga, pelas acusações praticamente diárias, deve ser presença assídua nos seus pesadelos, o seguinte acerca do avançado da selecção nacional:
"Os avançados são quem tem menor participação no jogo colectivo, o que é normal, mas na Selecção a sua acção não tem conduzido, nem a qualquer ocasião criada, nem tão pouco a um acréscimo positivo na fluidez de jogo. Ou seja, o contributo positivo do ponta de lança, na Selecção, tem-se resumido à finalização, e apenas à finalização."
Para o Filipe, o avançado, no modelo de jogo da selecção, tem pouca participação no jogo colectivo porque as acções sem bola, as movimentações, as acções com bola longe da baliza, e tantos outros pormenores aparentemente irrelevantes, não entram nas contas que faz para atribuir rendimentos individuais. Como discordo disto, e como acho que Ronaldo e Nani têm tudo a ganhar com a utilização de um ponta-de-lança que se preocupe com movimentos interiores, que sirva de apoio vertical aos médios, e que saia da sua posição, arrastando consigo adversários, é natural que tenha uma opinião diferente. O lance que trago, e a interpretação que vou dar do mesmo, têm por fim, essencialmente, mostrar como há mais do que golos, assistências, e coisas vistosas que devem entrar na análise do rendimento de um avançado, tornando ainda claro por que razão é Postiga útil a esta equipa, como o seria a muitas outras, caso houvesse uma percepção melhor das coisas extraordinárias que tem para oferecer.
Tal como nunca achei Benzema um mau finalizador, não acho sequer que Postiga o seja, como o sabe quem acompanha este blogue. Falha tantos golos como qualquer outro avançado de renome, e se não marca mais é essencialmente porque não está tantas vezes como outro tipo de avançados em posição privilegiada para o fazer. Sobre golos, aliás, a sua prestação na selecção sempre desmentiu a teoria de que era perdulário. E, aliás, a sua prestação em Espanha, até ao momento, tem sido boa para calar certas vozes. Recentemente, outra crítica lhe tem sido feita: a de que está constantemente fora-de-jogo. O que é curioso é que não me lembro de alguém criticar isto em Liedson, que era apanhado em fora-de-jogo muito mais vezes do que Postiga, e que era apanhado essencialmente por distracção, ao contrário do português. A meu ver, releva esta crítica essencialmente de dois tipos de coisas: um preconceito generalizado contra o jogador, e a incapacidade de analisar ao pormenor os lances em que tem sido apanhado em fora-de-jogo. Sobre a primeira dessas coisas, é pouco interessante falar. Postiga pertence ao tipo de jogadores sobre os quais as opiniões que se formam dependem de uma opinião pública negativa previamente formada. Como tenho pouca paciência para demover multidões, e como já escrevi o suficiente, no passado, acerca dos equívocos generalizados em relação ao jogador, não vou voltar ao assunto. Sobre a questão do fora-de-jogo, é verdade que Postiga, nos últimos tempos, tem sido apanhado muito mais vezes em fora-de-jogo do que antigamente. Mas é preciso analisar as situações e perceber os porquês dos factos. Tal como, na época passada, passou a rematar mais do que rematava porque Paulo Sérgio, inclusive publicamente, lhe ordenou que o fizesse, modificando-se portanto de maneira a tentar responder às críticas, parece-me que esta situação advém precisamente de uma tentativa de se tornar mais próximo dos golos, de procurar mais certos movimentos nas costas dos defesas, de modo a criar melhores condições de finalização para si. E da mesma forma que não se critica que Inzaghi, em 6 lances, tenha de ser apanhado 5 vezes em fora-de-jogo para poder usufruir de um sexto lance em condições de finalização privilegiadas, acredito que é injusto criticar Postiga pelas mesmas razões. Veja-se o quarto golo frente à Bósnia. Postiga tem arriscado mais certos movimentos, e isso tem feito com que esteja a ser apanhado em fora-de-jogo mais vezes. Mas se calhar também tem tido mais rendimento em termos de golos porque tem arriscado mais esse tipo de movimentos. Por isso, convém que as críticas se decidam. Se gostam de um avançado que faz golos, que joga no limite do fora-de-jogo para poder estar mais perto dos golos, então não podem criticá-lo por estar precisamente a fazer isso. Se não se importam com os golos que um avançado faz, então deixam-no em paz quando não faz golos.
Voltemos bruscamente ao tema do texto, que tem essencialmente a ver com o tipo de coisas que um avançado pode oferecer a uma equipa, mas das quais as pessoas raramente se apercebem. Diz o Filipe Vieira de Sá, para quem o Postiga, pelas acusações praticamente diárias, deve ser presença assídua nos seus pesadelos, o seguinte acerca do avançado da selecção nacional:
"Os avançados são quem tem menor participação no jogo colectivo, o que é normal, mas na Selecção a sua acção não tem conduzido, nem a qualquer ocasião criada, nem tão pouco a um acréscimo positivo na fluidez de jogo. Ou seja, o contributo positivo do ponta de lança, na Selecção, tem-se resumido à finalização, e apenas à finalização."
Para o Filipe, o avançado, no modelo de jogo da selecção, tem pouca participação no jogo colectivo porque as acções sem bola, as movimentações, as acções com bola longe da baliza, e tantos outros pormenores aparentemente irrelevantes, não entram nas contas que faz para atribuir rendimentos individuais. Como discordo disto, e como acho que Ronaldo e Nani têm tudo a ganhar com a utilização de um ponta-de-lança que se preocupe com movimentos interiores, que sirva de apoio vertical aos médios, e que saia da sua posição, arrastando consigo adversários, é natural que tenha uma opinião diferente. O lance que trago, e a interpretação que vou dar do mesmo, têm por fim, essencialmente, mostrar como há mais do que golos, assistências, e coisas vistosas que devem entrar na análise do rendimento de um avançado, tornando ainda claro por que razão é Postiga útil a esta equipa, como o seria a muitas outras, caso houvesse uma percepção melhor das coisas extraordinárias que tem para oferecer.
szólj hozzá: 3-1
Que eu tenha conhecimento, não se elogiou, no lance do terceiro golo da selecção, senão o passe de Moutinho e a conclusão de Ronaldo. De facto, quem vê o jogo, está atento à bola, e é por esses dois jogadores que ela passa até chegar ao fundo das redes. Evidentemente, tanto um como outro, definiram bem a jogada, e são os principais responsáveis pelo lance. Mas, e agora pergunto eu, não haverá quem tenha facilitado que aquilo acontecesse como aconteceu? Isto é, será o mérito apenas dos dois jogadores, ou terá havido alguém que, muito discretamente, sem tocar nem sequer se ter aproximado da bola, tenha permitido à equipa gozar daquela oportunidade? A meu ver, isso é inequívoco. Estou a falar, naturalmente, de Postiga. Quando a bola está a ser disputada no meio-campo, já Postiga, tendo percebido o espaço que havia entre os médios e os defesas bósnios, se disponibilizara, ocupando esse espaço, para vir receber a bola, na eventualidade de um colega ter tempo e espaço para executar o passe na sua direcção. Ao mesmo tempo, inadvertidamente ou não, o seu posicionamento baixo criou hesitação no defesa central que estava mais perto de si. Foi por isso que Ronaldo, ao receber o passe de Moutinho, se isolou de imediato, porque o defesa, hesitando entre dar um passo à frente para apertar Postiga e ficar recuado, vigiando o posicionamento de Ronaldo, acabou por reagir demasiado tarde. Ao se colocar onde se colocou, ao perceber o espaço que deveria ocupar e ao se disponibilizar para o fazer, muito antes de ser evidente que a equipa ia ficar com a bola, Postiga forçou a indecisão do defesa, o que, por sua vez, facultou a Ronaldo o espaço suficiente para arrancar sozinho para a baliza. Se, por outro lado, Postiga tivesse ficado enfiado entre os centrais, se não estivesse interessado naquele espaço, o defesa, até porque tinha a ajuda do outro central, facilmente se teria concentrado apenas em Cristiano Ronaldo, e nunca ficaria para trás apenas com o passe de Moutinho.
Naquilo que Postiga fez, porém, ninguém reparou. Como não tocou na bola, como Moutinho nem sequer olhou para ele, para a grande maioria das pessoas não teve qualquer acção no lance. Para mim, que não vejo as coisas com a mesma linearidade, teve, e teve muita. Não digo que se tenha posicionado com a intenção de dificultar o comportamento ao defesa. Mas, porque estava preocupado com a equipa, com o dar o apoio certo, com a ocupação do espaço certo, naquele momento, acabou por ajudar a equipa, mesmo que o seu posicionamento entre linhas não tenha sido utilizado para fazer passar a bola. A simples colocação correcta em campo de Postiga, naquele momento, permitiu à equipa (sim, à equipa!), que os dois jogadores que intervieram activamente no lance gozassem das condições ideais para criar uma ocasião de golo. E isto, porque é invisível, é para muitas análises uma acção inútil. É por estas e por outras que as análises que estão preocupadas apenas com acções com bola são redutoras. Neste caso específico, sem ter tocado na bola, sem sequer ter estado perto da zona por onde a bola passou, Postiga foi decisivo para o desfecho do lance. De resto, é este um bom exemplo, a meu ver, de como um avançado não precisa de fazer golos, nem precisa de assistir os colegas para que estes façam golos, nem precisa de ganhar bolas de cabeça, nem precisa de ir ao choque com os defesas, nem precisa sequer, cúmulo dos cúmulos, de tocar na bola para ser útil, enquanto avançado, às necessidades da equipa. A utilidade de um avançado, e aliás de qualquer jogador, nem sempre é visível a olho nu, nem se caracteriza por acções evidentes. E é por isso que o rendimento individual não pode ser condignamente avaliado senão tendo em conta toda a utilidade, visível e invísivel, que esse indivíduo tem na obtenção do rendimento colectivo.
Naquilo que Postiga fez, porém, ninguém reparou. Como não tocou na bola, como Moutinho nem sequer olhou para ele, para a grande maioria das pessoas não teve qualquer acção no lance. Para mim, que não vejo as coisas com a mesma linearidade, teve, e teve muita. Não digo que se tenha posicionado com a intenção de dificultar o comportamento ao defesa. Mas, porque estava preocupado com a equipa, com o dar o apoio certo, com a ocupação do espaço certo, naquele momento, acabou por ajudar a equipa, mesmo que o seu posicionamento entre linhas não tenha sido utilizado para fazer passar a bola. A simples colocação correcta em campo de Postiga, naquele momento, permitiu à equipa (sim, à equipa!), que os dois jogadores que intervieram activamente no lance gozassem das condições ideais para criar uma ocasião de golo. E isto, porque é invisível, é para muitas análises uma acção inútil. É por estas e por outras que as análises que estão preocupadas apenas com acções com bola são redutoras. Neste caso específico, sem ter tocado na bola, sem sequer ter estado perto da zona por onde a bola passou, Postiga foi decisivo para o desfecho do lance. De resto, é este um bom exemplo, a meu ver, de como um avançado não precisa de fazer golos, nem precisa de assistir os colegas para que estes façam golos, nem precisa de ganhar bolas de cabeça, nem precisa de ir ao choque com os defesas, nem precisa sequer, cúmulo dos cúmulos, de tocar na bola para ser útil, enquanto avançado, às necessidades da equipa. A utilidade de um avançado, e aliás de qualquer jogador, nem sempre é visível a olho nu, nem se caracteriza por acções evidentes. E é por isso que o rendimento individual não pode ser condignamente avaliado senão tendo em conta toda a utilidade, visível e invísivel, que esse indivíduo tem na obtenção do rendimento colectivo.
16 comentários:
Também acho, do que acompanho do modelo do Filipe, que a pecha é exactamente o jogo sem bola.
Não há dados que possam medir a movimentação do jogador, o seu posicionamento em campo, a forma como trabalha para receber, etc etc.
Mas não estaria o Filipe a falar, relativamente ao impacto do ponta-de-lança na Selecção, apenas dos momentos com bola do jogador...?
Já agora, Nuno...
O que é que tens achado do Ricky van Wolfswinkel?
Acho-o um avançado-centro muito completo, forte a todos os níveis. O que me surpreende, tendo apenas 22 anos...
Isto é falar de futebol a um nível que não tem comparação. Não tem na televisão, não tem nas rádios, não tem nos blogues, não tem em lado nenhum. É um post extraordinário.
Não vou sequer discutir o assunto específico do Postiga, se rende ou não, se é mais jogador do que os outros. Isso fica para outro dia. O que me importa relevar aqui é a análise, totalmente correcta, do que deve ser o estudo de um jogador. Muito para além das acções com bola ou perto dela, para além dos toques que dá, das faltas que faz, dos cabeceamentos, se tem ou não apetência para finalização. A dificuldade na compreensão total do jogo reside precisamente aqui: o que não é visível facilmente, o que só é entendível por quem tem o instinto; por quem conhece, dentro de si, o pano de bilhar e a forma como se se movimentar para um certo espaço deixa outros livres, pela forma como se intui (espectadores e jogadores - e alguns intuem - Postiga é um deles) a jogada (ou a possibilidade dela, porque muitas vezes a aleatoridade do jogo faz perder a ocasião pensada) segundos antes, momentos antes.
Porque não há regras para isso. Podemos ensinar um jogador várias coisas ao longo do seu crescimento desportivo - e há exemplos de jogadores que se tornam dos melhores do mundo, por terem a capacidade de explorar ao máximo as suas características e aprenderem tudo o que pode ser aprendido e apreendido. Mas não podemos ensinar ao jogador (e, já agora, ao espectador) a ver que, 15 jogadas à frente, vai ter oportunidade de matar o Rei. Não sei como chamar-lhe. Talento? Talvez, mas é mais do que isso, até porque a palavra caiu no poço da banalidade.
Postiga tem isso. Há quem o tenha mais, muito mais. Ainda assim, está claramente acima da média dos jogadores de futebol. Mas o que me importa aqui é destacar este texto e o que ele produz. Que também é, à semelhança do objecto de estudo, bastante invisível não só para quem não quer ver como para quem não vê. Está cá tudo do que é o futebol. E, por isso mesmo, não está nada à luz visível.
Nuno, no entanto o Filipe já mostrou alguns lances onde o Postiga estragou uma possivel jogada de perigo.
Não iremos nunca concordar sobre o valor do Postiga, pois tu acha-lo um grande avançado e eu não, mas tens que admitir que o nº de lances que ele estraga (e já o fazia no SCP) é superior ao nº de lances que não estraga.
É a velha discussão: será que ninguém o percebe e ele está muito à frente de todos os outros ou é ele que tem paragens cerebrais de vez em quando?
Muito Bom mesmo! Mas só uma ressalva, pq sei que também deste por tal facto. Se Postiga não tem marcado 2 golos, teria da mesma forma tido parte activa em todos os golos da selecção nessa noite. Acredites ou não, tive para escrever sobre isso.
A questão é mesmo essa, é que Postiga coloca em crise muitas da organizações q defronta quase sem tocar na bola, mas nem sempre é perceptível.
O papel de um avançado não começa nem acaba no marcar ou no falhar de um golo. É muito mais que isso, é tão importante como todos os outros, apenas joga mais perto da baliza adversária.
Perceber o "porquê" do rendimento colectivo está muito para lá da constatação da análise ou do conhecimento pragmático. Entender o que proporciona o "resultado" é muito mais difícil que a percepção do mesmo (com toda a sinceridade, não estou de forma alguma a criticar o Filipe).
Deixa-me só acrescentar algo à segunda frase do texto. Há quem veja o futebol, há quem o compreenda e há quem o faça desenvolver pela consciencialização de terceiros. Tu e Postiga encontram-se neste último grupo! :)
Grande abraço e parabéns pelo excelente texto. Jorge D.
Gonçalo, gosto bastante do Van Wolfswinkel. É um avançado elegante, que sabe colaborar com o jogo da equipa, que sabe dar os apoios certos e participar em quase todos os momentos. É um avançado, a meu ver, muito parecido com Postiga, embora menos forte que o português em termos técnicos, parece-me. O que me surpreende (ou não) é que tenha agarrado a massa associativa, sendo este tipo de jogador. É claro que os golos têm a ver com isso, mas mesmo assim. Enfim, o futebol é um jogo absurdo, muitas vezes, por causa da falta de lógica de coisas como esta. Bastou o rapaz fazer alguns golos (nada de especial, uma vez que boa parte foi obtida de penalty) e a equipa estar num bom momento para a massa associativa ficar com uma opinião positiva dele.
Ricardo, obrigado pelos comentários.
Mike, estás a falar do último post do Jogo Directo? Vi-o apenas hoje, e tenho 2 opiniões acerca dele: 1) é o tipo de posts que mais me agrada, ou seja, um tipo de post que procura perceber as razões mais fundas das coisas, e não apenas um post sobre factos visíveis, e, dito isto, 2) tudo o que o Filipe observa, corrompido ou não pela sua necessidade de mostrar que tem razão acerca do que diz, está praticamente errado, assim como a conclusão que depois extrai. Deixa-me comentar alguns dos lances de que ele fala e apontar para algumas falhas do seu raciocínio. Primeiro, há um lance em que o Ronaldo invade o espaço do Postiga e o Filipe acha que o Postiga estorva a acção do Ronaldo. Eu pergunto: por que é que é ele que estorva e não o contrário? Depois, não me parece necessariamente mau que dois jogadores, num dado momento, ocupem espaços próximos. Isso cria instabilidade e indefinição defensiva. Noutros 3 lances, o extremo vem para o espaço central, para receber a bola ou apenas para criar superioridade numérica no centro do terreno, e o Filipe acha que a largura (o espaço que o extremo deixou livre na linha, ao vir dentro) deve ser ocupado pelo avançado. Eu não acho. Acho que esse espaço deve manter-se livre para a eventualidade de ser aproveitado pela subida do lateral, e que portanto o Postiga fez bem em não trocar simplesmente de espaço com o extremo. Depois ainda há lances que ele espera não sei bem o quê do Postiga, provavelmente que se transforme em super-guerreiro. Enfim, a conclusão que ele tira, e que tu tiras, é a de que estraga mais lances do que não estraga. Eu concluo que isso é falso. Aliás, o Filipe fala sobretudo de complementaridade, e o erro dele, apesar de estar sempre a dizer que não há uma maneira melhor de jogar do que outra, é pensar que o avançado deve complementar os movimentos de todos os outros colegas. Para ele, se um extremo decide vir para dentro, o avançado deve abrir na linha; para ele, se o extremo ou o médio fizer um movimento nas costas do avançado, o avançado deve baixar obrigatoriamente. Parece que, para ele, o avançado é uma espécie de moço de recados dos outros, que deve agir apenas de acordo com as acções dos outros. E quando o avançado se movimenta para certos sítios, será que os colegas lhe complementam a movimentação como o Filipe acha que se deve complementar? Os lances que ele traz, analisados como ele os analisa, são bons para provar o que ele quer provar. O problema é que estão mal analisados, não representam a totalidade de lances relevantes para análise, nem sequer são os mais significativos, e o problema é que há lances em que os colegas também não complementam coisa nenhuma. Além disso, ignora-se propositadamente tudo o que o Postiga fez, nesse jogo, de discreto com bola. As vezes que solucionou com simplicidade uma situação de pressão, jogando simples, de frente, foram muitas. Para o fazer, teve necessariamente de invadir os espaços certos e de ser solicitado nesses espaços. Contribuiu, em muito, neste jogo, para que a equipa saísse de certas zonas de pressão, garantindo assim mais fluidez ao jogo. Mas o Filipe acha que não. E mostra 5 ou 6 lances, mal analisados para mostrar às pessoas como tem razão, e as pessoas são enganadas pelo engodo. Muito bem!
Dito tudo isto, Mike, ninguém diz que o Postiga é o melhor avançado de todos os tempos. O que digo é que é o melhor avançado português actualmente, um jogador muito útil para qualquer equipa que pretenda um futebol organizado, de toque curto, que se preocupe com os espaços certos para progredir, etc. Num país como o nosso, em que há pouca base de recrutamento, e em que há sempre posições mais carenciadas, não é nada mau ter um jogador como ele como avançado. Aliás, na última década só houve outro do nível dele, e foi o Nuno Gomes. E é talvez preciso recuar muito no tempo para que nos lembremos de um avançado de nível internacional como ele. Aliás, quando temos jogadores no onze tão banais como o Raúl Meireles, queixarmo-nos do Postiga é uma idiotice. Era muito bom termos um Van Nistelrooy, ou um Klose, ou um avançado de renome, mas para o país que somos o Postiga é bem bom. E chateia-me bastante a campanha de desvalorização que se criou em torno dele, baseada em imbecilidades de imbecis que só olham para os golos e em imbecilidades de tipos como o Filipe, que até percebe minimamente do jogo, mas que insiste em disparates e em criar bodes expiatórios, faça o Postiga o que fizer.
Jorge D., és certamente das poucas pessoas cujas ideias acerca do jogo conheço que incluiria no terceiro grupo, entre aqueles que percebem que o avançado é essencialmente igual a qualquer outro jogador da equipa, e que o seu rendimento não pode esgotar-se apenas em golos, assistências, e coisas que as pessoas costumam ver em estatísticas. Obrigado pelas palavras.
"Primeiro, há um lance em que o Ronaldo invade o espaço do Postiga e o Filipe acha que o Postiga estorva a acção do Ronaldo."
"E quando o avançado se movimenta para certos sítios, será que os colegas lhe complementam a movimentação como o Filipe acha que se deve complementar?"
São boas perguntas para lhe fazeres ;)
O Filipe até acha que o Nuno Gomes seria melhor solução que o Postiga, portanto vocês não discordam tanto assim como queres fazer parecer.
Ai o Meireles é banal e o Postiga é que é bom?...
Nuno, q valor tem um jogador que dê à equipa tudo aquilo que consideras útil de dar sem bola mas no momento em que tem bola estraga tudo?
Mike, o Filipe não está interessado em fazer das suas ideias tema de discussão. Está interessado em professar uma religião, e isso não me interessa.
Pinto, é isso mesmo.
Pedro, no comentário ao Mike, falei de como o Postiga, neste jogo, por exemplo, foi extraordinário com bola, em momentos mais discretos, ou seja, longe da baliza e afastado dos momentos de decisão. Como sabes, discordo completamente da ideia de que o Postiga estraga o que quer que seja com bola, portanto, não percebo a lógica da pergunta. Mais, a esmagadora maioria das acções de um jogador, nos 90 minutos, é sem bola, e essas acções são invariavelmente esquecidas. Hoje em dia, fala-se muito da diferença de rendimento do Messi no Barcelona e na Argentina. A minha resposta a isso é simples: vejam o que fazem os colegas dele sem bola nas duas equipas e encontram a explicação para a diferença de rendimento. Hoje em dia, o trabalho sem bola é decisivo para o rendimento daquele que tem a bola, mas isso continua a ser negligenciado como se ainda estivéssemos nos anos 50.
Só tenho pena que o postiga não volte para a lagartada, ele e o jaló faziam um duo dinâmico de valor. De resto, quanto aos golos dele em espanha contra a real sociedade marcou 2 - uma equipa que está abaixo da linha de água, contra o atlético de madrid e contra o gijon que têm 16 e 17 golos sofridos em 12 jornadas (boas defesas não haja dúvida, especialmente quando se comparam com o saragoça que mamou 26 golos).
Vamos ver se nos entenddemos, será que o xavi ou o iniesta são considerados os melhores do mundo ? Excelentes jogadores, são campeões da europa e do mundo, ganham a liga dos campeões (com as ajudas dos árbitros, mas enfim) e no entanto ficam quase sempre atrás do messi e do cristiano ronaldo. Porquê ? Talvez porque estes fazem golos atrás de golos, como fazia o eusébio, ou o pélé, ou o ronaldo fenómeno. Desdde tempos imemoriais como o Stanley Matthews, que os melhores são os que marcam golos, querem apoios centrais, invertam o triângulo, tirem aquelas 3 abéculas e coloquem lá um 10, ou um avançado que jogue nas costas do ponta de lança, mas foda-se o avançado é para ser letal (não é letal contra a bósnia essa super potência), procurar as falhas dos defesas, dar linhas de passe privilegiadas na área aos construtores (alas, médios ofensivos, laterais, etc.) fugindo dos defesas e metendo a bola onde conta, na baliza do adversário, independentemente de quem seja, a alemanha, o brasil, a frança ou a bósnia. E tirando os cepos, muito raramente o postiga marca contra defesas de qualidade. Mas lá está, esse trabalho sem bola é muito importante, em especial para as selecções que ficam sempre quase lá, mas (temos pena) não são suficientemente boas para ganhar títulos.
Quanto à Argentina, o problema é que os treinadores não têm perfil para pôr os jogadores nos seus lugares e pô-los a jogar segundo modelos simples em vez de deixar as estrelas andarem por ali a atrapalharem com lavezzis a alas direitos, com o kun no banco, com o tevez a atrapalhar-se com o messi no meio. No dia em que a vedeta seja a alviceleste em vez do messi, do tevez, do lavezzi, do di maria, do higuain, etc. etc., a Argentina é campeã do mundo pois tem os jogadores mais talentosos. E esse colectivismo e solidariedade só pode ser imposto pelo treinador que tiver no banco.
Quanto ao postiga, continuo a aguardar ardentemente a volta dele à lagartada, em especial se pagarem 10 vezes o que receberam por ele.
A lógica da pergunta é a pergunta em si:
Qual a importância de um jogador muito bom sem bola mas fraco com bola? A pergunta não é para o Postiga.
oh BCool973, a espanha é uma defesa fraca?
A Espanha nao e uma defesa fraca, mas nos amigaveis Foram goleados tbm pela argentina e estiveram desastrosos contra inglaterra e costa rica. Nao e por ai.
Quem me dera a mim que o Postiga continuasse no Sporting.
Meirelea banal? Um belíssimo médio, banal so se for em equipas de TOP mas é um bom jogador em 95% das equipas. Claro que nunca vai ser de classe mundial. Mas o Postiga tbm nao. Coitado. E a jogar contra quem saiba o valor real dele nao havia problemas com o seu jogo sem bola. É deixa-lo ir, pq com bola é um autentico defesa.
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