quinta-feira, 2 de junho de 2011

Diferenças Incomensuráveis

Terminada a temporada futebolística com mais um inquestionável triunfo do Barcelona de Guardiola, é tempo de falar de disparates. Propagou-se, ao longo da temporada, com maior frequência no final, a ideia de que o Real Madrid de José Mourinho andou a par dos catalães e que a margem que os distinguiu foi mínima. Sustenta-se esta teoria com o número de pontos que os separaram na Liga, com a soma astronómica de golos de Ronaldo, com os golos marcados pelo Real, com a tensão dos quatros jogos entre as duas equipas, com a vitória na Taça do Rei, e com a polémica inventada por Mourinho para ajudar a criar a dúvida quanta à supremacia do seu adversário. É intenção deste texto defender que as diferenças entre o Barcelona e este Real foram incomensuráveis, que os números não as exprimem convenientemente, e que Barcelona, Guardiola e Messi estão a anos de luz de Real Madrid, Mourinho e Ronaldo.

Diferenças que os Números não Mostram

Comecemos pela asneira da contabilização final dos golos marcados e dos golos sofridos no campeonato, que certos papalvos usaram não só para tentar mostrar que Mourinho trouxe ao Real uma capacidade competitiva semelhante à do Barcelona, como para vender a ideia de que, ao contrário das críticas que se lhe foram fazendo, não é um treinador assim tão defensivo e não mudou de ideias quanto a isso ao longo da sua carreira. Já expus aqui, num texto escrito antes de Mourinho rumar a Madrid, aquilo que penso quanto à sua carreira, e esta época comprovou tudo isso. Muito resumidamente, Mourinho mudou de crenças sensivelmente na passagem da segunda para a terceira época em Londres. A razão para tal, defendi nesse texto, foi a obsessão crescente com a revalidação do título europeu, que lhe fugiu nos primeiros dois anos de Chelsea em eliminatórias com Barcelona e Liverpool. As equipas de Mourinho passaram por isso a ser mais especificamente orientadas para competições a eliminar, mais centradas nos pormenores. E perderam, com isso, capacidades em provas regulares. Isso foi o suficiente para, não perdendo competitividade, não ganhar o título inglês na terceira época. Em Itália, o seu Inter foi o espelho disto, uma equipa muito mais pobre em organização ofensiva que o seu Chelsea e que o seu Porto, mas letal em transição e muito bem organizada atrás. Venceu o campeonato italiano, não sem algumas dificuldades, porque a concorrência interna não era forte. Em Madrid, mais do mesmo, e uma Liga que começou a ficar resolvida muito antes do embate final, na trigésima-segunda jornada, entre os dois rivais. O seu Real, ainda que sem dificuldades em ultrapassar os obstáculos noutras provas, apenas constitui ameaça ao Barcelona na primeira volta do campeonato. E isso diz muito das competências dessa equipa.

Passemos agora aos números. Ao contrário do que alguns idiotas chegaram a escrever, ao ultrapassar a barreira dos cem golos, Mourinho não fez algo que o Barcelona de Guardiola nunca tinha feito. Na primeira época de Guardiola, a sua equipa averbou 105 golos. Em segundo lugar, 102 golos foi exactamente o que Pellegrini obteve o ano passado, com a agravante de que não teve 6 jornadas de descompressão para golear adversários, nem um último jogo com uma equipa despromovida. Aliás, à jornada 32, o ano passado, o Real já tinha 85 golos marcados, mais 12 que este ano, e levava mais 5, na altura, que o Barcelona. Não precisou de andar a golear 6 jornadas seguidas, sem pressão de outros objectivos, para superar a marca dos 100 golos. Por isso também por aqui não é algo de verdadeiramente extraordinário. Aliás, esquece-se esta análise, porventura, que o Real terminou o campeonato a 4 pontos do Barça, quando o ano passado Pellegrini o terminou a 3, e que fez 92 pontos, quando o ano passado o tinha feito 96. Além disso, ficou a 4 porque o Barcelona, virtualmente campeão, desacelerou e perdeu 4 pontos. Ao contrário da época passada, também, em que Pellegrini conseguiu arrastar a decisão do campeonato até à última jornada, o Barcelona este ano sagrou-se campeão ainda com 3 jornadas para disputar. O Real de Mourinho só foi superior ao de Pellegrini em outras competições, em competições a eliminar. No campeonato não o foi. E não se aproximou do Barcelona, como se quer fazer crer. Aliás, muito dessa análise vem dos 5 confrontos ao longo da época entre as 2 equipas, em que se achou que o Real fez tremer mais o Barcelona do que no passado recente. Mas se a indecisão da Champions e a vitória merengue na Taça podem sustentar essa teoria, ao mesmo tempo Pellegrini também não foi esmagado como o Real de Mourinho na primeira volta do campeonato, tendo perdido apenas por 1-0 e 0-2.

Mas analisemos de perto os números do Real. É que não é possível separar o registo final do facto de as últimas 6 jornadas terem sido jogadas sem pressão, com objectivo prioritário de fazer de Ronaldo o melhor marcador da prova. Nessas 6 jornadas, com uma equipa de tracção à frente, o Real marcou 29 golos, sofrendo 10. Ou seja, em 6 jornadas, marcou praticamente um terço dos golos que marcou no campeonato inteiro (no restante campeonato, a média de golos do Real era de 2,28 golos por jogo. Nessas 6 jornadas foi de 4,8 golos por jogo, o que significa que aumentou a sua produção ofensiva em mais de 100%, tendo feito a média geral subir para 2,68 golos por jogo) e sofreu quase um terço dos golos que tinha sofrido no campeonato inteiro. Em 6 jornadas! Ou seja, em 6 jornadas, o Real marcou e sofreu muito mais golos, em média, do que marcara e sofrera até aí. Isso demonstra que essas 6 jornadas não foram encaradas do mesmo modo que as restantes 32. E não o foram pelas 2 razões que apontei acima, por haver uma descompressão natural, devido à impossibilidade de chegar ao título, e por haver o desejo de fazer de Ronaldo o melhor marcador do campeonato. Por isso, devem-se analisar os números tendo isto em atenção. À 32ª jornada, o Real tinha 73 golos marcados, menos 12 que o Real de Pellegrini, o ano passado, à mesma jornada, por exemplo.

O campeonato terminou à jornada 32, com o empate no Bernabéu. Nessa altura, o Barça tinha 86 golos marcados, mais 13 que o Real, que tinha 73. O que aconteceu daí para a frente foi consequência de um final de campeonato em que uns queriam apenas gerir esforços e outros queriam sair de cabeça erguida. O Real, sem nada a perder, sem pressões, fez 29 golos em 6 jogos. O Barcelona não manteve a bitola, concentrado noutras provas e a gerir a confortável vantagem pontual que adquirira, e marcou apenas 9 golos em 6 jogos. Aliás, nessa altura, Messi tinha mais 2 golos do que Ronaldo. As contas finais mostram uma realidade diferente, que ignora esta análise. Nem Ronaldo foi substancialmente mais eficaz que Messi, nem o Real se mostrou uma equipa mais concretizadora que o Barcelona. Simplesmente, o Barcelona tinha um objectivo que estava praticamente alcançado e deixou de se preocupar com objectivos menores, que o Real e Ronaldo perseguiram e que agora os devotos acham que revelam uma aproximação ao adversário. Não revelam nada disso, obviamente.

É este, muitas vezes, o problema da análise estatística: acha-se que analisar é olhar para números e tirar conclusões, mas não é. Para analisar, é preciso perceber o porquê das coisas. Sempre! E uma análise correcta destes números mostra aquilo que acabei de mostrar, que o Real só conseguiu a produção ofensiva e só conseguiu mais golos marcados que o Barcelona por o campeonato ter ficado resolvido tão cedo. Isto é absolutamente inequívoco e qualquer pessoa inteligente e honesta o percebe. Mas quando o argumentei, em discussão com pessoas que defendiam as teses acima criticadas, a resposta que me deram foi que faço inversões de raciocínio e que não percebo nada de números, o que é - diga-se - uma boa resposta, para quem não percebe nada de argumentos. Enfim, os devotos das calculadoras, assim como os tolos, acham que estes números revelam que o Real de Mourinho se aproximou do Barcelona de Guardiola, na esperança de que o monstro blaugrana caia num futuro próximo. Aquilo que os move, no fundo, é a uma determinada fé, uma qualquer irracionalidade que acreditam expressar-se em certos milagres como este, que depressa se percebe que não é milagre nenhum. De resto, acabam por valorizar o sucesso do Barcelona mais pelo medo, pelo mesmo medo do incompreensível que é aquilo que melhor caracteriza os que não percebem a profunda diferença que esta equipa representa. E, como têm medo de um monstro que não compreendem, acham sempre que aquele que está mais perto de vencê-lo é o maior dos heróis humanos, ou seja, o mais competente entre aqueles a quem conseguem perceber as competências. O problema é que, apesar de Mourinho ser o mais competente treinador de futebol do mundo, e o Real a mais competente equipa do mundo, e Ronaldo o melhor jogador do mundo, isso não chega. É que Guardiola, o Barcelona e Messi não são deste mundo. E aquilo que fazem nem sequer é jogar futebol; é outro desporto. A diferença entre eles não é de grau, mas de espécie.

As diferenças entre estas duas equipas não são expressas pela diferença final de 4 pontos; nem sequer pela diferença de 8 pontos após o clássico; nem pela diferença, favorável ao Barcelona, de 5 golos na diferença entre golos marcados e golos sofridos; nem pela indecisão quanto a quem seguia em frente na Liga dos Campeões. Isso são contingências das regras do jogo. Uma vitória, seja categórica ou não, conta apenas 3 pontos; uma eliminatória, sendo disputada até ao fim ou não, vale sempre pela vitória. Nada disso demonstra a real diferença entre estas duas equipas, que é incomensurável. A única coisa numérica que reflecte, ainda que de um modo pouco evidente, a diferença entre as duas equipas, é a média de posse de bola. A teoria convencional sobre a posse de bola diz que ter mais bola não significa ter o domínio de jogo. Concordo inteiramente com isso. O problema é que essa teoria é correcta para casos de posse de bola até aos 60%, que é o que uma equipa que domina um jogo normalmente consegue. 60% de posse de bola não é suficiente para que possa fazer a mínima diferença. Mas uma equipa que consegue ter, em média, uma posse de bola acima dos 70% não pode estar ao abrigo do mesmo tipo de teoria. O tipo de competências tem de ser necessariamente distinto e, para estes, realmente, a quantidade de posse de bola representa o domínio do jogo. Nenhuma outra equipa, na História do Futebol, conseguiu números de posse de bola sequer semelhantes a estes. E é por isso que nenhuma equipa na História foi tão claramente superior aos adversários como este Barcelona. Estes números incríveis, incomensuravelmente diferentes de quaisquer outros números até hoje vistos, são a causa principal da grande diferença que separa esta equipa de qualquer outra. Dizê-lo não é, como pode parecer, sustentar que a única causa desta supremacia é o que o Barcelona faz com a bola. Pelo contrário, é dizer que o que fazem com a bola está intimamente ligada a tudo o resto. Se o pressing não fosse extraordinário, se o colectivo não estivesse bem mecanizado e os jogadores não pensassem da mesma maneira, se a preservação da posse de bola não fosse o principal critério, deste a pequena área defensiva até à área adversária, se não houvesse competências técnicas e intelectuais extraordinárias em cada um destes jogadores, se a capacidade de decisão não fosse alta, esta quantidade de posse de bola não seria possível. A posse de bola é o retrato fisionómico deste Barcelona, e são os números avassaladores dessa posse de bola que mais e melhor definem o fosso que separa esta equipa das restantes equipas que praticam esta modalidade, a mesma apenas por força das circunstâncias.

Ronaldo e Messi

Ronaldo é o melhor jogador do mundo, mas Messi não é deste planeta, e esse vai ser sempre um problema para Ronaldo. O madeirense é uma máquina perfeita e a sua determinação qualquer coisa sem paralelo na História do Futebol. Mas não tem um talento extraordinário, como aqueles que figuram no Olimpo dessa História, e isso é talvez o mais importante. Surpreendeu-me sempre a sua evolução e reconheço que não esperava que vingasse com tanta facilidade em Espanha. Acontece que nunca parou de evoluir e que melhorou muito os seus pontos fracos, como a capacidade de decisão. É hoje um jogador praticamente completo, faltando-lhe apenas aquilo que o poderia fazer melhor que Messi, a genialidade. É um jogador que corresponde bem a tudo o que se espera dele, mas não tem génio. O seu futebol assenta na perfeição humana, não nas qualidades divinas, como o argentino. Compará-los, por isso, é absurdo, sim, mas não por a comparação ser inútil; não se podem comparar porque são de espécies diferentes. Se a qualidade de um jogador se medisse pela soma das coisas que consegue fazer, Ronaldo seria incomparável. Mas a qualidade de um jogador mede-se pelo talento, pelo génio, pela classe, pela capacidade para fazer coisas que ninguém espera. Messi é muito mais imprevisível e resolve problemas muito mais difíceis. Ronaldo supera a força com a força, a altura com a altura, a velocidade com velocidade. Messi supera esses obstáculos com o seu talento. A essas coisas responde com virtuosismo. É pela natureza das dificuldades que um determinado desafio impõe a quem o enfrenta que se descobre quais os melhores entre os que o enfrentam. É assim em qualquer arte. Se Ronaldo fosse pintor, pintaria muito, responderia a todas as encomendas que lhe fizessem, pintaria mais rápido que qualquer outro pintor, pintaria de forma mais perfeita aquilo que lhe encomendavam, e seria venerado pela sua competência. Mas Messi pintaria com mais virtuosismo, pintaria de um modo inesperado, vencendo todos os desafios técnicos não com competência mas com génio. Ronaldo é o protótipo do artífice; Messi o do artista genial. Aliás, nem Maradona, nem Zidane, porventura os mais geniais de todos os futebolistas da História, podem já ser comparados ao pequeno craque argentino. As coisas que faz em campo e a regularidade com que as faz são inequívocas. É verdade que ainda lhe falta atingir o sucesso ao nível de selecções que os outros atingiram, mas isso é apenas um pormenor. A genialidade de Messi já há muito ultrapassou a dos mais geniais de sempre. E quem quer que veja agora um jogo de Messi, deve vê-lo com a consciência de que, no futuro, é sobre ele que falarão os livros.

A Melhor Estratégia para Derrotar o Barcelona

Uma das coisas que tem sido mais debatida sobre este Barcelona tem a ver com a forma mais eficaz para contrariar o seu futebol. Aliás, a simples discussão acerca deste ponto demonstra o quão diferente é esta equipa. Nunca uma equipa fora alvo de um debate tão amplo acerca das possibilidades estratégicas para a derrotar. Ora, uns defendem que, não podendo contrariar o seu futebol na sua essência, que consistiria em retirar-lhe a bola, a melhor estratégia é, entregando-lhe a iniciativa, defender, mais alto ou mais baixo, provocar o erro, e jogar insistentemente em transição, no máximo com três toques. Foi isto que o Real Madrid fez, como já várias outras equipas o tinham feito, com mais ou menos sucesso. Onde me parece que o Real Madrid foi mais exigente foi precisamente no modo como nunca quis a bola, quando a recuperava. Sempre que, ao terceiro toque, a bola ainda não tinha passado o meio-campo, gerava-se imediatamente entre os jogadores um certo tipo de pânico característico de quem está preocupado com o que fazer. Dentro deste tipo de estratégia, é também possível discutir se é mais eficaz pressionar alto ou pressionar baixo, condicionar a saída de bola por um dos centrais ou pelo outro, ect.. Mas, na generalidade, o tipo de estratégia é idêntica: contrariar o futebol do Barcelona opondo-lhe um futebol antagónico, contrariar uma equipa que ataca muito bem defendendo ainda melhor. Há outra solução, até agora raramente tentada, que passa pela estratégia oposta, ou seja, contrariando uma equipa que ataca muito bem não a deixando ter o instrumento que faz dela uma equipa atacante, ou seja, a bola. Não deixar a outra equipa ter a bola só é possível de uma maneira, tendo a bola. Pressionar muito alto, ser muito agressivo, não permitir a circulação de bola do adversário, são tudo formas de defender sem bola. Mas, se se for competente a preservar a bola, defende-se de uma equipa que é forte quando tem a bola não lhe permitindo tê-la.

Poucas equipas, até agora, o tentaram, por duas razões diferentes: a primeira, por medo de que, ao tentar ter a bola, se cometam erros de que depois os catalães se aproveitem. Sobre isto, tenho várias coisas a dizer. Há maneiras e maneiras de ter a bola. Se, de facto, para ter a bola a equipa se desorganiza, mais vale não tê-la, porque o Barça irá aproveitar necessariamente essa desorganização. Mas há maneiras de ter a bola sem provocar desorganização própria. As melhores equipas do mundo a trocar a bola não ficam expostas quando a perdem porque a própria posse e circulação de bola correctas implica uma precaução com o momento da perda. O Barcelona, por exemplo, apesar de envolver sempre muita gente no processo ofensivo, tem sempre uma estrutura de apoios e coberturas que faz com que o momento da perda de bola não seja necessariamente danoso. Por isso, para uma equipa que sabe trocar a bola, que o faz bem, ter medo de perdê-la não deveria ser uma razão para abdicar dessa estratégia. Aliás, o Barcelona não é sequer uma equipa especialmente forte em transição. A segunda razão tem a ver com a competência para o fazer. É que não basta vontade. Não defendo que o Real Madrid deveria ter tido outra postura naqueles quatro jogos, pois passou a época inteira a trabalhar de uma maneira que os impedia de jogar de outro modo. A minha crítica a Mourinho não é pela opção estratégica desse jogo, mas pela forma como planeou a temporada, como pretendeu que o seu Real Madrid jogasse. E isso foi, desde o início, muito claro. O Real foi uma equipa de explosão, partida em duas metades, com quatro jogadores na frente com muita liberdade, muito habilidosos, e e uma estrutura defensiva sempre com seis jogadores atrás da linha da bola. Nunca se pretendeu impor pela posse e circulação da bola, e teve sempre muitas dificuldades em encontrar espaços nas defesas contrárias quando tinha de recorrer a um jogo mais rendilhado. Não fazia, por isso, sentido, que encarasse os duelos com o Barcelona procurando ter a bola, pois não se tinha preparado, ao longo da época, para o fazer.

Do meu ponto de vista, a equipa que mais problemas causou ao Barcelona esta época foi o Arsenal. Foi a única equipa que conseguiu, em alguma altura, manter incerto o destino de uma eliminatória. O Real condicionou o ataque catalão, sim, mas nunca, por um momento, esteve mais próximo de seguir em frente do que o Barcelona. O Arsenal, no jogo de Londres, fez exactamente o que se deve fazer contra este Barcelona: roubou-lhe a bola. É verdade que houve algum demérito dos catalães, nesse jogo, que descontraíram após o golo, mas também é verdade que tiveram sempre dificuldades em impor-se como se costumam impor. E isso porque o Arsenal geriu a posse de bola, retirando-a sistematicamente de zonas de pressão com qualidade e não caindo no erro de querer atacar rapidamente, com poucos toques, arriscando perder a bola para um adversário que vive da sua posse. O segredo para ganhar a este Barcelona reside num modo de jogar parecido com o que o Arsenal apresentou em Londres e o desfecho da eliminatória poderia ter sido muito diferente se, em Camp Nou, Wenger tivesse mantido o modelo da primeira mão. Como não o fez, como caiu no erro de tentar defender a vantagem, ainda que de um modo estranho, cedeu os 90 minutos ao Barcelona e acabou derrotado. O ponto do argumento é simples: o melhor método para vencer o Barcelona passa por trabalhar a longo prazo para adquirir uma competência parecida com a dos catalães com bola. Só através dessa competência é possível depois sujeitar os pupilos de Guardiola a um jogo com menos bola do que aquele a que estão habituados. E aí sim, modificando-lhes o habitat, pode um adversário do Barcelona reduzir-lhe as possibilidades de êxito. Não é certo que vença, mas é seguro que torna estranho o jogo ao adversário.

28 comentários:

Batalheiro disse...

Antes de deixar a minha opinião acerca do conteúdo do post, queria dizer que este é um dos melhores artigos até hoje deste blogue! (e isso é dizer muito)

Apreciei, em particular, a tua argumentação quando estabeleces a diferença entre Ronaldo e Messi, fez-me lembrar o estilo de escrita que se vê nos primeiros posts do blog (acerca do Pedro Barbosa, por exemplo...) e que já não sentia tão presente nos posts mais recentes. Talvez porque o blogue seja alvo frequente de ataques um bocado disparatados, te tenha feito abandonar uma prosa mais ambiciosa por uma argumentação mais... cientifica (à falta de uma palavra melhor).

Concordo em relação ao Mourinho e às diferenças para o Real Madrid.

Em relação à melhor forma de contrariar o Barcelona, segundo percebi, defendes que a única equipa capaz de derrotar o Barcelona... seria o Barcelona! Ou seja, uma equipa que tenha na posse de bola o principio fundamental do seu jogo. Não existe tal equipa, ainda...

Cantinho do Morais disse...

O texto que faltava e espero que não seja ignorado.
Até mete dó os argumentos anti-Barça e as constantes "palas" que deturpam a visão de muitos adeptos e comentadores.

É uma sorte viver no tempo deste Barça, deste Guardiola e deste Messi.

Agora até se ouve que o jogo do Barça não é cativante e que cansa... Enfim, eu até acho que isso deveria ser um elogío. É que o domínio é tão grande que equipas como o Real, Manchester, Arsenal, Shaktar, Villareal, Inter, etc, ficam banais quando jogam com este Barça. Se isto não é poder...

Relativamente à forma como bater este Barça, concordo claramente. Aliás, quando vi os primeiros 10 minutos da final da Champions pensei que o Man United ia conseguir contrariar o Barça. Até se viu "pontapés para frente" por parte dos defesas do Barça. Mas o Man United perdeu-se e partiu-se, abrindo buracos que depois foi o que se viu.

Mike Portugal disse...

Eu continuo a dizer que gostaria de ver este Barcelona com os mesmos jogadores e o mesmo treinador, mas sem o Messi. Não posso provar, mas aposto que não conseguiria ganhar tantos jogos, nem ser campeão com tanta facilidade. E se assim for, a dependência do sistema de jogo em relação ao Messi é grande.

De resto, a melhor maneira de vencer este Barça é fazer o que o Manchester fez nos 1ºs 10 minutos da final.

Ricardo disse...

Não há muito a dizer porque está tudo dito. E de forma perfeita.

Concordo com o Batalheiro quando refere que este registo é sem dúvida onde és melhor e por onde deves seguir. Notou-se muito que as críticas constantes e as imbecilidades de quem aqui vem dizer mal sem quaisquer outros interesses condicionaram o teu jogo. Mantém-te fiel a esta cultura de posse de bola que ficas sempre mais perto de ganhar os jogos. Deixa o jogo directo para outros universos.

Este é o melhor blogue sobre futebol de toda a blogosfera nacional. De muito, muito, muito longe.

MM disse...

Subscrevo tudo, e acrescentaria apenas que quando a cultura de posse se associa ao benfiquismo, aparece goleada.
Vou ser franco: parei de ler em "idiotas". Porem, senti-me um bocadinho "assim-assim" por nao ter parado em "papalvos". Pena, porque dessa forma nao pude no fim de tudo ler afirmar qualquer coisa que levasse "temporizacao em posse". Melhor ainda - ou pior, na minha perspectiva - e que nao pude dizer qualquer coisa do genero, "... de facto esta tudo dito. Entendido que sou: esta tudo dito."

O futebol directo nao e de facto para qualquer um. Ao contrario de outros, que sao para muitos ...

�pah, coisas disse...

Absolutamente genial a parte em relação ao Messi e ao Ronaldo. Finalmente alguém que expressou em palavras tudo aquilo que eu sinto. Não se pode comparar o incomparável! Messi é sem duvida de outro planeta. Sem duvida, o jogador mais imprevisível que o futebol já viu! Tenho 20 anos, não vi jogar Maradona, mas toda a gente que o viu jogar, continua a dizer que falta o Mundial a Messi para ser considerado o Melhor Jogador de Sempre. Em certa parte, até concordo, mas não se pode esquecer, é que com 23 anos, Leo já tem 3 Ligas dos Campeões,e já foi considerado o melhor do Mundo durante 2 vezes, e penso que se não houver nenhum problema de lesões, vai continuar a sê-lo pelo menos durante mais 6 anos. No entanto, só para que toda a gente o assuma, vou torcer pela Argentina no próximo Mundial

Anónimo disse...

Boas Nuno,

Fabuloso texto!

Sei que não defendes os números, o que me impressiona não são os 70% de posse de bola, e sim a qualidade com que estes são aproveitados. Lógico que existe uma ligação, mas a posse do Barça é diferente de todas as outras. É utilizada para progredir, para atrair e progredir, para roubar jogo ofensivo defendendo com bola... a diferença é mesmo a qualidade!

Messi é mesmo o melhor de todos os tempos.

Ainda bem que a tecnologia vai possibilitar ver estes génios daqui por 50 ou 60 anos, para que as próximas gerações possam perceber o que é/era este Barça.

E claro, para derrotar este Barça, tem de se lhe roubar jogo, mas duvido que alguma equipa tenha capacidade para o fazer (acredito que o Real o consiga, se se sustentar com outro tipo de princípios). Defensivamente algo que ninguém ainda fez, juntar linhas (retirando assim jogo de coberturas)mas roubando profundidade, ou seja, faze-lo o mais a frente possível, o Arsenal teve fases em que o conseguiu, mas sem cadencia, dava impressão de ser obra do acaso e da espontaneidade de certos momentos.

Mesmo com tudo isto, há outro problema Nuno, e não nos podemos alhear dele. O Barça é uma equipa de comportamento "situacionista", mesmo com este tipo de organização contra, dentro da sua mentalidade, a ligação entre as respostas para obter sucesso está tão bem identificada, que dão a volta a qualquer problema. Porque a sua organização se baseia na criação adaptada, e não em teorias rígidas.

Se em tempos tiveram o Futebol Total, agora têm o Futebol Totalmente Perfeito.

Texto fabuloso, mais uma vez..

Abraço.

JFC disse...

depois de um texto que considerei que houve comentários muito inoportunos, eis um grande exemplo de boa escrita. arrepiei-me no excerto Messi vs Ronaldo. muito bom, parabens!

Bruno Pereira disse...

Mais um "Gosto"(muito!) a juntar aos elogios já recebidos. Texto muitíssimo bem estruturado e que se calhar, por partilhar das minhas idéias, encapsula o porquê de gostar tanto.
O juntar as linhas (de forma a diminuir o espaço passível de ser jogado), fazendo uma pressão alta sobre a bola (para impedir passes nas costas) e uma marcação individual ao trio do meio campo (para obrigar a defesa a jogar directamente com o ataque) poderão ser algumas idéias que "talvez(!)" ajudem a bater este Barça.
De salientar o descanso em posse que a equipa faz (os jogadores movem-se sempre mas a um ritmo "salutar" sem bola) e os sprints que são feitos quando defendem de forma a recuperar a bola rapidamente são feitos de uma forma divinal!!! NADA a ver com o que o FCPorto fez este ano, ao contrário do que defendem muitos analistas.
Abraço!

Bruno Pinto disse...

"Muito do que Ronaldo é deve-se ao facto de jogar em Inglaterra; muitos dos seus êxitos individuais não são indissociáveis do campeonato em que joga. Em Inglaterra, há muito mais espaço do que em Itália, logo é desonesto esperar que Kaká marque tantos golos como Ronaldo. O próprio Milan marca menos golos que o Manchester, em parte porque o campeonato é menos propício a isso. Além disto, num campeonato como o inglês é muito mais fácil um jogador destacar-se individualmente do que em Itália ou em Espanha. Se juntarmos a essa facilidade as características de Ronaldo, percebemos que um jogador como ele está muito potenciado em Inglaterra. A velocidade e a explosão de Ronaldo tornam-se ainda mais fundamentais num tipo de futebol com mais espaço, no qual as transições sejam mais rápidas. Em Inglaterra, um jogador essencialmente individualista (que vive muito das acções individuais) está sempre no seu habitat preferido. Não tenho a menor dúvida de que, em Itália ou em Espanha, Ronaldo marcaria menos golos e seria menos decisivo e que Kaká e Messi, em Inglaterra, jogariam mais e marcariam mais."

Gostava aqui de salientar a frase "não tenho a menor dúvida". Genial. Ou melhor, divinal, para estar ao nível do Messi.

Nuno disse...

Batalheiro, Cantinho do Morais, Ricardo, pah coisas, Centro de Jogo, JFC, e Bruno Pereira, obrigado!

Batalheiro, há mais equipas que podem derrotar o Barcelona, pontualmente. O que digo é que, para reduzir as probabilidades de êxito ao Barcelona, só uma equipa que assente a sua filosofia de jogo em algo muito parecido.

Mike Portugal diz: "Eu continuo a dizer que gostaria de ver este Barcelona com os mesmos jogadores e o mesmo treinador, mas sem o Messi. Não posso provar, mas aposto que não conseguiria ganhar tantos jogos, nem ser campeão com tanta facilidade. E se assim for, a dependência do sistema de jogo em relação ao Messi é grande."

Mike, nenhuma equipa vale apenas pelo seu colectivo. As individualidades emprestam valor ao conteúdo. Agora, isso é certo, o Barcelona é a equipa no mundo que menos depende das suas unidades. Sem Messi não ganharia tantos jogos, claro. Mas o Real também não ganharia tantos jogos sem o Ronaldo, como qualquer equipa não ganharia tantos jogos sem os seus melhores jogadores. Este argumento não faz sentido.

MM, ???

Centro de Jogo diz: "Mesmo com tudo isto, há outro problema Nuno, e não nos podemos alhear dele. O Barça é uma equipa de comportamento "situacionista", mesmo com este tipo de organização contra, dentro da sua mentalidade, a ligação entre as respostas para obter sucesso está tão bem identificada, que dão a volta a qualquer problema. Porque a sua organização se baseia na criação adaptada, e não em teorias rígidas."

É verdade. Essa parece de facto uma diferença difícil de contornar por qualquer adversário.

Bruno Pereira, o Porto fez algumas coisas semelhantes ao que este Barcelona faz. Não é o suficiente para ser dominador como os catalães, mas tem ideias parecidas.

Monsieur Homais, para ti, uma história à parte, já a seguir.

Nuno disse...

O mundo está cheio de gente estúpida e, para ser sincero, sou apologista de um sistema de morte clinicamente assistida (ou pelotão de fuzilamento, que dá igual) àqueles cujo QI for insuficiente para os padrões de uma sociedade que se pretende exigente. Assim, a partir de determinada idade, as pessoas eram testadas, de tanto em tanto tempo, para se perceber se tinha inteligência suficiente para escapar ao matadouro. Não era bonito? E agora a história de um homem que só sabe ladrar:

Monsieur Homais: Ó Nuno! Ó Nuno! Ehehe! O Ronaldo não marcava tantos golos em Espanha como em Inglaterra, não era? Tens a mania que és esperto! Toma e embrulha.

Nuno: Monsieur Homais, admito o erro e admito que o Ronaldo melhorou de uma maneira que não estava à espera. Mas isto explica-se...

Monsieur Homais: Explica, explica! O que eu sei é que o Ronaldo marcou mais golos do que em Inglaterra e tu dizias que não.

Nuno: Sim, dizia, e admito que estava enganado. Mas marcou mais por várias razões. Porque melhorou praticamente todas as suas características, porque o futebol espanhol, nos últimos anos, se aproximou muito do inglês, perdendo qualidade, e porque estava numa equipa montada para o beneficiar individualmente. Mas admito que estava enganado.

Monsieur Homais: Isso não interessa nada. Disseste que o Ronaldo não era capaz de marcar tantos golos em Espanha como em Inglaterra e agora marcou. Estavas enganado!

Nuno: Sim, foi isso que eu disse.

Monsieur Homais: Não venhas com coisas. Estavas enganado e mais nada.

Nuno: Pois estava. Mas por que é que repetes isso? Estás com algum problema nas cordas vocais?

Monsieur Homais: O que eu sei é que estavas enganado.

Nuno: A respeito de quê?

Monsieur Homais: A respeito de o Ronaldo não marcar tantos golos em Espanha como em Inglaterra.

Nuno: Pois estava. Dou-te razão.

Monsieur Homais: Sim, mas olha que o Ronaldo afinal mostrou que consegue marcar tantos golos em Espanha como em Inglaterra.

Nuno: Pois. Mas, olha, não tens outra coisa para dizer? Tipo... uma ideia inteligente?

Monsieur Homais: Não desconverses. O Ronaldo calou-te e mostrou que estavas enganado.

Nuno: E nozes com beterraba e iogurte de pêssego, já provaste?

Monsieur Homais: O que eu acho bonito é o Ronaldo afinal ter marcado tantos golos em Espanha como em Inglaterra.

Nuno: A tua mãe é um bocado pêga.

Monsieur Homais: Sim, sim. Mas o que me interessa é que o Ronaldo marcou mais golos em Espanha do que em Inglaterra.

Nuno: Isso! Ladra lá, Monsieur Homais!

Monsieur Homais: O Ronaldo marcou tantos golos em Espanha como em Inglaterra! O Ronaldo marcou tantos golos em Espanha como em Inglaterra! O Ronaldo marcou tantos golos em Espanha como em Inglaterra!

Nuno: Sabes que é um bocado esquisito um ser humano ladrar, não sabes, Monsieur Homais?

Monsieur Homais: O Ronaldo marcou tantos golos em Espanha como em Inglaterra! O Ronaldo marcou tantos golos em Espanha como em Inglaterra! O Ronaldo marcou tantos golos em Espanha como em Inglaterra!

Nuno: Pois, está bem! Tens as vacinas em dia?

Monsieur Homais: O Ronaldo marcou tantos golos em Espanha como em Inglaterra! O Ronaldo marcou tantos golos em Espanha como em Inglaterra! O Ronaldo marcou tantos golos em Espanha como em Inglaterra!

Nuno: Se calhar ias para abate, não?

Monsieur Homais: Desde que o Ronaldo tenha marcado tantos golos em Espanha como em Inglaterra, por mim tudo bem...

E pronto, foi isto. E agora fiquem com um silogismo:

1) Numa sociedade exigente, do ponto de vista intelectual, pessoas com QI de Castro Laboreiro deviam ser abatidas.
2) Pessoas que, em vez de conversar, ladram, têm um QI mais ou menos idêntico ao de um Castro Laboreiro.
3) Monsieur Homais, em vez de conversar, ladra.
4) Monsieur Homais tem um QI mais ou menos idêntico ao de um Castro Laboreiro.
5) Monsieur Homais, numa sociedade exigente do ponto de vista intelectual, deveria ser abatido.
6) Ainda bem para Monsieur Homais que a sociedade é uma grande família de atrasados mentais com os quais pode partilhar a sua mediocridade.

Miguel Nunes disse...

Nuno, ainda perdes tempo com tipos incapazes de produzir uma única ideia?

Brilhante o texto. Nunca ng tinha colocado em palavras aquilo que sinto que separa o Messi do Ronaldo.

Só não linkei no meu blog, porque depois de muito recentemente o ter feito com o texto dos franceses, não queria estar a aproveitar-me do teu "talento" para produzir posts.

Abraços

Miguel Nunes disse...

Bruno Pinto,

epa, não me leves a mal, mas, a verdade é que venho imenso a este blog e o Nuno tem razão no que diz. Em todas as caixas de comentários a textos do EntreDez, apareces tu com a história do Ronaldo ter marcado mais golos em Espanha que em Inglaterra. O Nuno disse que tal não sucederia, eu não disse o mesmo, mas de certeza que pensei. E como nós, muitos outros ficaram espantados com a performance obtida do Ronaldo em Espanha. E então? Qual é o problema e porque o repetes incessantemente?! Porque não procuras entrar nas discussões de forma produtiva?! Abraços para ti, apesar de confessar que essa postura irrita um bocado.

Mike Portugal disse...

Nuno,

É aqui que nós discordamos:

"Mas o Real também não ganharia tantos jogos sem o Ronaldo"

Lá está, não tenho como provar a não ser que a situação aconteça mesmo, mas acredito muito mais que o Mourinho arranjaria outro jogador (menos bom que o ronaldo, claro) e outra forma de meter a equipa a ganhar jogos, muito mais do que o Guardiola se perdesse o Messi. E digo isto apenas baseado no facto do Mourinho já ter sido campeão com outros jogadores, outras equipas e em campeonatos diferentes, coisa que o Guardiola ainda não provou.

Batalheiro disse...

Mike,

Podia perfeitamente "virar o bico ao prego" ao teu argumento. Porque razão ser campeão com equipas diferentes é mais difícil do que ser campeão em épocas sucessivas com a mesma equipa? São desafios diferentes mas não me parecem parâmetro para definir qualidade do treinador!

Mike Portugal disse...

Batalheiro,

Precisamente porque mostra a versatilidade de um treinador em adaptar-se ao que tem.

Bruno Pinto disse...

Nuno,

Já te disse e volto a repetir que não venho para aqui argumentar, perder tempo com patetas. Venho aqui divertir-me com as tuas baboseiras. Pelo que vejo, andas bastante irritado. Calma, homem, ainda morres cedo!

O Pereirinha já explodiu?
E o Ronaldo, esse sacana, marcou mais em Espanha que em Inglaterra! Toma e embrulha bem embrulhadinho. Ehehehe... Embrulha.. Não sei de nada, só sei que o Ronaldo marcou mais em Espanha que em Inglaterra! Eu sei que tu gostas de argumentar e diálogos intermináveis completamente inúteis, mas sabes o que te digo: o Ronaldo marcou mais em Espanha que em Inglaterra. Embrulhaaaaaaaaaaa!

Ah e a tua irmã ainda dá o cu à equipa toda de juniores do Sporting?

Batalheiro disse...

Mike,

Concordo! Um treinador que mude de clube de 3 em 3 anos, como faz o Mourinho, precisa de ter uma grande capacidade de adaptação. Mas, de certa maneira, o mesmo acontece a um treinador que fique muito tempo no mesmo clube pois os jogadores vão mudando e como tal também requer adaptação da parte do treinador... é claro que em menor escala, pois não tem de se adaptar a um estilo de jogo diferente.

Mas isso demonstra, talvez, que o Mourinho é mais versátil do que o Guardiola. Mas porque razão versatilidade é um factor decisivo para definir qualidade?

O Mourinho já provou que consegue vencer quando confrontado com desafios diferentes. Certo. Mas nunca provou que consegue ganhar de forma contínua no mesmo clube durante várias épocas. Não estou a dizer que um desafio é mais dificil do que o outro. Apenas que são desafios diferentes e não são decisivos para determinar a qualidade de um treinador.

Mike Portugal disse...

Batalheiro,

É a 1ª época que o Mourinho tem o Ronaldo na sua equipa. Ele já venceu sem o Ronaldo incluindo este Barcelona de Messi e Guardiola. Guardiola nunca venceu sem o Messi e é apenas isso que eu quero ver se ele consegue. Não discuto a qualidade de Guardiola.

Anónimo disse...

Boas,

Só queria deixar aqui uma opinião. Quando Messi começou a jogar pela equipa principal do Barcelona, era um miúdo cheio de potencial, com indicadores de desenvolvimento incríveis, mas não era, de todo, a "super estrela" que é hoje. Só depois de Guardiola assumir a equipa principal, se viu Messi "ganhar asas"!

Sempre foi muito bom, e disso ninguém duvida, mas Guardiola teve uma importância extrema no seu desenvolvimento, assim como com outros elementos do plantel.

Talvez Messi seja tão importante para o projecto de jogo de Guardiola, como este ultimo para o emergir da individualidade de Messi! É sem duvida uma sociedade de sucesso.

Abraço.

JD.

João Duarte disse...

OK, o texto tá bom e tal, e eu, que nutro um ódio pelo Barcelona tenho que meter algumas violas no saco face à superioridade q demonstra.

Mas discordo do seguinte:
1. o Guardiola ainda tem q provar, noutro clube, noutro campeonato. É bom, mas joga sempre em casa...
2. Fazes uma comparação tão idiota entre Pelegrinni e o Mourinho como a que fazem aqueles q dizem q o Real foi melhor este ano e está mais proximo do Barça. Só faltava dizer q o Pelegrini era melhor do q o Mourinho... os que dizem q o Real está mais próximo do Barça, dizem-no não baseado nos pontos ou nos golos, mas baseado no facto do Real ter o melhor treinador do Mundo e arredores (o Guardiola é o melhor treinador de... Barcelona, nem da Europa é)e um plantel muito mais competitivo.
3. Dizer q Messi é melhor do que o Maradona é uma anormalidade de destroi a tua credibilidade. Maradona carregou sozinho uma equipa de caca em Napoles contra os poderosos clubes do Vale do Pó. SOZINHO!! O Maradona carregou uma selecção mediocre a um titulo num mundial e a uma final noutro mundial. SOZINHO!! O Messi na selecção nao joga um corno pq nao tem o Xavi e o Iniesta, e nunca jogou noutra equipa e noutro sistema q não o do Barcelona. Maradona era o sistema de jogo...
Aqueles q dizem q o Messi é melhor não percebem nada de futebol e só viram os resumos do Maradona.

Guilherme disse...

@ joão duarte.

Não é por não os conheceres que eles não tinham qualidade. No Napoli, ao longo das várias décadas, e só falando de meio-campo e ataque, o Maradona teve ao seu lado: Salvatore Bagni, Fernando de Napoli, Luca Fusi, Francesco Romano, Massimo Crippa, Bruno Giordano, Andrea Carnevale, Massimo Mauro, Alemão, Careca, Zola.
Tudo jogadores entre o sólido e o genial. Essa história de levar a equipa às costas sozinho tem que ser matizada, parece-me que é coisa de vídeos de youtube. É quem em 1986 o Maradona tinha ao seu lado: Baptista, Valdano, Passarella, Burruchaga... Nunca ninguém vence realmente sozinho, nunca. A prova é que a passagem do Maradona pelo Barça foi um fracasso, e em termos colectivos, se calhar foi a pior equipa pela qual jogou.

Guilherme disse...

mas há outro ponto, ainda mais importante, e que serve para alertar para os perigos de comparações directas e anacrónicas.
o maradona do napoli era filho da conjuntura táctica do futebol italiano dos anos 80. era a fase pré-sacchi, do chamado "gioco all'italiana", basicamente um sistema assimétrico per se (um dos laterais avançava muito mais no terreno que o outro), com líbero que subia no terreno quando em posse (caso do Scirea, melhor líbero de sempre ao lado do beckenbauer, uma carreira inteira sem levar um cartao amarelo ou vermelho que fosse): portanto: 1-3-4-2, com variantes, defesa homem a homem.
O importante é que neste sistema toda a condução de jogo passava pelo 10.
Portanto, naquele futebol, o nº10 tinha uma relevância directa no fluir do jogo que deixou progressivamente de ter.
Ou seja, se o Maradona aparentava levar a equipa ao colo, era porque o próprio estilo de jogo em Itália, que é o caso de que se fala, o permitia. O mesmo vale para outros nº10, como o Rivera. E por isso também se pode dizer que o Platini levou a Juventus ao colo: o que não é verdade, apesar desse ser o sentimento comum em itália e de facto e do Platini ser um génio.
Esta prevalência dada ao n.º10 não é exclusiva do futebol italiano, mas sempre me pareceu demasiado acentuada nele. Em Espanha, o jogador tipo Xavi encontra-se mesmo em décadas anteriores (Luís Suarez), em Itália é mais dificil. No meio campo vai um mediano (o rebenta canelas, tipo Trapattoni, Romeo Benetti, Gattuso), um centrocampista faz-tudo (hoje personificado no Marchisio) e um nº10. Um jogador como o Pirlo é uma relativa novidade no futebol italiano, daí o impacto que teve, até aí, as funções desempenhadas pelo Pirlo eram assumidas pelo 10.
Hoje em dia o futebol já não permite que um único jogador assuma toda a condução do jogo e ainda vire os jogos, daí, por exemplo, o suposto falhanço do diego na juve de 2009-10: foi adquirido com base num paradgima ultrapassado e depois de ter sido o melhor da equipa, aquele que organizava sozinho todo o jogo, rodeado de um meio-campo miserável, acabou por ser fulminado por não marcar golos...
O jogo hoje é mais diversificado, intelectualmente e fisicamente exigente.
Tenho toda a certeza que nos dias de hoje o Maradona teria mais dificuldades em fazer aquilo que fez: o que só me faz admirar ainda mais o Messi por ser o jogador que mais dele se aproxima.

Por outro lado, o facto dos nº10 estarem fora de moda não é um dado adquirido: as modas vão e vêem...
Deixo estes links que explicam mais sucintamente as linhas acima:

http://www.zonalmarking.net/2010/05/04/how-the-2000s-changed-tactics-1-the-fall-and-rise-of-the-passing-midfielder/

http://www.zonalmarking.net/2010/03/26/trequartista-engance-classic-no-10sstruggle/

http://www.zonalmarking.net/2010/01/21/how-the-2000s-changed-tactics-9-versatile-attacking-players/

Batalheiro disse...

@Mike ok! Já percebi o que queres dizer.

@Joao Duarte E volta o argumento que o Guardiola tem de ganhar noutros campeonatos para ser considerado um dos melhores do mundo. Porquê? Porque razão ganhar em sítios diferentes é mais difícil do que ganhar no mesmo sitio de forma continuada? Ainda para mais, com tantas Champions pelo meio! Porquê?

Nuno disse...

João Duarte, nutrir um determinado ódio por um clube é capaz de não ser bom para analisá-lo isentamente. De resto, não faço comparação idiota nenhuma. Acho o Mourinho muito melhor que o Pellegrini e acho que o Real, com o Mourinho, se pode aproximar muito mais do Barcelona. O que fiz foi dizer que os argumentos usados para justificá-lo, que foram sempre baseado em números, não lhes dão razão. Quanto ao Messi e ao Maradona, pois, criou-se esse mito de que o Maradona levou tudo às costas. Não foi bem assim, nem em Nápoles, nem na Argentina. O Guilherme explicou exemplarmente por que razão não se pode pensar assim.

Pedro disse...

Nuno, excelente texto. Brilhante análise.

Permite-me uma provocação/desafio:

A análise Messi vs Ronaldo está perfeita. Dás ao Messi o Olimpo por ele ser genial, por conseguir com o talento algo transcendente que o Ronaldo não consegue com o trabalho. Concordo em absoluto. Mas não choca com o q anteriormente defendeste de q o talento pode ser criado?

Parece-me que tudo o q dizes de Messi, com o qual concordo em absoluto, contraria tudo o que defendeste em debates anteriores sobre a natureza nata/inata do talento. Ronaldo, o mais trabalhador dos jogadores de futebol, não consegue ter o talento, a genialidade de Messi.

Nuno disse...

Pedro, o talento não é adquirido de acordo com uma questão de quantidade de trabalho. Era preciso que se focasse no trabalho "certo". De qualquer modo, e foquei sempre isso, é especialmente relevante aquilo que se adquire em idades precoces. O talento não é inato, mas começa-se a desenvolver desde muito cedo. Não é por o Ronaldo, em idade adulta, trabalhar muito, ainda por cima mais em quantidade do que em qualidade, que vai fazê-lo adquirir "talento". Ele adquire outras competências, melhora certas coisas, mas não pode modificar o seu talento significativamente porque esse foi sendo criado ao longo da sua vida e agora há pouco a fazer a esse respeito.