quinta-feira, 1 de março de 2007

Rotatividade ou Lotaria?

Numa altura em que o Sporting parece começar a perder o gás, muitos se levantam e gritam a plenos pulmões os erros de Paulo Bento. Poder-se-iam referir muitos, mas há um em particular que me parece significativo. Desde que chegou ao clube, Paulo Bento experimentou uma rotatividade de jogadores que, em abono da verdade, parece saudável. Creio, contudo, que esse excesso de rotatividade tem sido um dos principais factores a contribuir para o rendimento inconstante da equipa. Paulo Bento não tem, nem teve ainda, uma equipa de base. Tem 3 ou 4 jogadores que jogam sempre e vai trocando os outros. Os que costumam jogar sempre são aqueles a quem não se atrevem a apontar defeitos: Ricardo, Polga, Moutinho, Liedson. A estes a titularidade confere uma confiança inabalável. O problema são os outros. Há apenas dois estados de graça num jogador: ou é titular e ganha, com isso, confiança; ou não é titular e, se for uma pessoa determinada, esforçar-se-á sempre para recuperar esse estatuto. O problema é que, de uma forma geral, os jogadores de Paulo Bento não são nem titulares nem suplentes. Uns jogos jogam, outros não. E não importa a exibição que realizem. Não há pior que isto para desmotivar um jogador.

Vítimas de não conhecerem o seu estatuto dentro do plantel são, por exemplo, Carlos Martins, Custódio, Romagnoli e Nani. São jogadores talentosos, mas não têm motivação para explanarem o seu futebol. Na época passada, Carlos Martins estava constantemente lesionado. Mas era titular indiscutível da equipa e, sempre que regressava, notava-se-lhe uma vontade enorme em mostrar o seu valor. Agora, parece custar-lhe entrar, sabendo que um bom jogo pode valer-lhe, no jogo seguinte, um regresso ao banco. Ainda recentemente entrou 15 minutos, abanou o jogo com a sua irreverência e, para o jogo seguinte, nem sequer foi convocado. Isto é incompreensível! Nani, no princípio da época, estava no seu melhor momento de forma. Estava de tal forma confiante que a estreia na selecção foi auspiciosa. Aos poucos, com o desenrolar do campeonato, foi efectuando exibições menos conseguidas. Isso, em vez de lhe valer a colocação no banco, o que poderia motivá-lo a tentar alcançar os níveis do início da época, valeu-lhe uma utilização intermitente, que não pode ser boa para si. O argentino Romagnoli esteve em evidência na pré-epóca e no início da época. Desceu de rendimento, por esta ou aquela razão. E é mais um que vai tendo uns minutos aqui, outros ali. Isto é uma má gestão do plantel.

Resumindo, o problema principal do Sporting é, neste momento, a confiança. Muitos advogam que os níveis de confiança estão baixos por isto ou por aquilo. Para uns, é devido à imaturidade e à juventude do plantel. Para outros, é porque, em momentos decisivos a equipa tem falhado e os jogadores, sabendo disso, perdem confiança. É certo que os resultados menos positivos foram o catalisador desta situação. Se virmos bem, antes da derrota em Alvalade perante o Benfica este problema de confiança não se punha: a equipa estava a praticar um bom futebol e estava bem no campeonato, a pouquíssimos pontos do Porto. Mas estes factores poderiam ser contornados. O problema é outro. O problema reside na falta de confiança, por natureza, que os jogadores sentem devido à indefinição do seu estatuto, devido à lotaria a que estão sujeitos. E esse é um problema de gestão de recursos humanos. De má gestão de recursos humanos...

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