Para muitos, uma tabela é uma coisa relativamente banal, um truque com o qual se pode desequilibrar de vez em quando. Para alguns académicos, é uma forma muito útil de ultrapassar um adversário. Poucos há, no entanto, que vêem numa simples tabela mais do que isto. E, não raro, diverte-se muita gente a criticar aqueles que as procuram em demasia. Nos últimos quatro anos, uma equipa há que tem mostrado a todos que há ganhos extraordinários em cultivar a tabela. Falo, obviamente, do Barcelona de Guardiola, que parece cada vez mais proficiente a usar a tabela como forma de progredir no terreno e de penetrar nas defesas contrárias. Ainda assim, e apesar de muitos já reconhecerem as virtudes catalãs, a tabela continua a ser algo que as equipas procuram pouco, seja em que zona do terreno for. Apesar de tudo o que este Barcelona tem evidenciado, continua a pensar-se que a tabela só tem utilidade em situações de dois para um, ou em situações de clara vantagem numérica, ou em zonas com espaço suficiente para a executar. Discordo disto. E, para ilustrar a minha discordância, trago quatro lances em que uma simples tabela entre dois jogadores foi o suficiente para fazer ruir uma defesa inteira.
1. Para dizer a verdade, no primeiro destes lances há um terceiro interveniente, precisamente o que recebe o último passe para finalizar (neste caso, Messi). Mas é irrelevante que assim seja, para o que pretendo mostrar. O lance é o do quarto golo da já longínqua goleada imposta ao Villareal em Camp Nou, no início desta época. Apesar da finalização de Messi, e do passe extraordinário de Iniesta a isolar o companheiro, num lance que parece uma criança a brincar com um ioiô, aquilo para que quero chamar a atenção é para a tabela entre Iniesta e Thiago Alcântara, tabela essa que precede o passe. Thiago invade o espaço entre a linha defensiva e a linha de meio-campo, e até tem um adversário à ilharga, protegendo esse mesmo espaço. Praticamente nenhum jogador faria o que Iniesta fez, pondo nesse mesmo espaço a bola, porque Thiago não beneficiria em nada de receber ali a bola, já que ficaria rodeado de adversários. Acontece que este Barcelona usa a bola como engodo como nenhuma outra equipa, e o simples colocar da bola num espaço preenchido por adversários oferece ao adversário a tentação de recuperá-la, desposicionando-se. Repare-se que, no momento em que a bola se dirige para Thiago, há três jogadores do Villareal (os que estavam mais perto de Thiago) que saem ligeiramente das suas posições para se aproximarem do jogador que vai receber a bola naquele espaço. Parecendo que não, um pequeno passe aparentemente inútil e inofensivo, provoca desequilíbrios estruturais decisivos. Thiago dobra imediatamente o passe, entregando a bola novamente em Iniesta, mas tudo é agora diferente. Uma simples tabela vertical, sem progressão de qualquer espécie, serviu para desestabilizar a organização defensiva do adversário: um dos centrais avançou no terreno, criando um espaço nas suas costas, entre o outro central e o lateral; o médio que estava a acautelar o espaço entre linhas deslocou-se para a esquerda, abrindo uma linha de passe pelo centro; e o médio que estava mais perto de Iniesta afastou-se dele o suficiente para lhe permitir um passe em condições. Resta dizer que Messi interpretou isto de forma impressionante, e desmarcou-se precisamente para onde se devia desmarcar, recebendo o passe de Iniesta. O que me parece importante perceber neste lance não é tanto a extraordinária capacidade que os jogadores do Barça têm para inventar estes lances, mas mais a importância de algo aparentemente inútil, como seja um passe para um jogador que não pode senão devolver a bola ao colega que a passou. Sem o passe para Thiago, e a respectiva devolução, o Barcelona não teria sido capaz de criar as condições ideais para construir uma situação de perigo. É por isso que Guardiola dá tanta importância ao espaço. Em ataque organizado, tudo o que uma equipa tem de fazer é criar espaços. Para criá-los, tem de forçar o adversário a concedê-los. E a única forma de forçar um adversário que se posiciona bem em termos defensivos a concedê-los é fazendo coisas como esta, fazendo a bola entrar e sair em zonas que os adversários têm obrigatoriamente de fechar. É por isto que o futebol de toque curto, de passe e recepção, que caracteriza esta equipa não serve apenas, como muitos julgam, para adormecer o adversário, para esperar pelo momento certo para desferir o ataque, para não perder a bola à toa. Quem pensa assim não percebe nada deste Barcelona. É claro que fazer um uso cuidado da bola, como esta equipa o faz, é também uma forma de cínica de defender. Mas é muito mais do que isso, como este lance mostra. É a forma mais eficiente de atacar.
2. O segundo lance ocorreu na primeira mão da recente eliminatória frente ao Milan, a contar para os quartos de final da Liga dos Campeões. O lance acabou por não dar golo, mas foi notável o que Xavi e Messi fizeram. Quando Xavi recebe a bola, o Milan tem 9 jogadores atrás da linha da bola (os quatro defesas, os quatro médios, e Robinho), todos eles concentrados no meio. Com a invasão do espaço defensivo e uma simples tabela com Messi, Xavi termina o lance na cara do guarda-redes. Ou seja, dois jogadores e uma tabela chegaram para suplantar 9 adversários e criar uma situação clara de golo. No momento em que a tabela tem lugar, há 8 jogadores do Milan num raio de 5 metros. Se isto não é algo extraordinário, não sei o que dizer. É importante dizer que o Milan defende este lance o melhor que é possível defendê-lo, numa estrutura de quatro médios em linha. Ou seja, não há espaço suficiente entre a linha defensiva e a linha de meio-campo para que o adversário consiga fazer entrar um passe vertical, deixando um jogador receber a bola nesse espaço. O problema é que, se por alguma razão o portador da bola consegue entrar entre dois médios, como foi o caso, é um dos defesas que tem de sair para lhe obstruir a passagem. Se, nessa altura, o portador da bola tiver sido acompanhado por um colega que, a seu lado, lhe sugere uma tabela, então esse defesa acaba por ser facilmente ultrapassado. A meu ver, este lance resulta por duas razões essenciais: o facto de o Milan estar a defender em duas linhas apenas, e o facto de os jogadores catalães (neste caso, Messi) perceberem a utilidade de fornecer apoios próximos ao portador da bola. Repare-se que, assim que Xavi invade o espaço central, Messi inicia um movimento idêntico, aproximando-se dele, e adivinhando que o colega ia precisar da sua tabela. Qualquer outra equipa do mundo, perante a concentração de adversários naquele espaço central, procuraria atacar pelos flancos. Só este Barcelona é que tem a capacidade de identificar estas possibilidades de penetração centrais e só este Barcelona é que sabe o que é preciso para que essas penetrações possam ser bem sucedidas.
3. O terceiro lance é da última jornada da Liga Espanhola, e foi, na verdade, o lance que me motivou a escrever este texto. Por tudo o que disse acerca dos dois lances anteriores, é evidente que penso que este tipo de lances é aquilo que mais elogios merece, em futebol. Também por isso, e numa jornada em que voltou a haver um desses lances formidáveis em Camp Nou, merece ampla reprovação a generalização dos elogios aos golos que Cristiano Ronaldo marcou frente ao Atlético de Madrid. É claro que as pessoas, quando vêem um golo, tendem a prestar atenção apenas ao remate, ao sítio onde a bola entra, ao efeito da bola, à potência do remate, etc.. Nesse sentido, é muito mais fácil reparar nos golos de Ronaldo do que num golo deste tipo. Como acho que a avaliação da qualidade de um golo deve ter em conta muito mais que o remate final, os golos de Ronaldo, ainda que de belo efeito, não são para mim motivo de espanto. São resultado de alguém que tem, de facto, uma técnica de remate estupenda, e são bons golos. Mas não são golos extraordinários. E falar de qualquer um desses golos quando na mesma jornada Messi fez um golo dez vezes melhor parece-me estúpido. É mais ou menos como elogiar um general que venceu uma batalha por ter melhor artilharia do que o inimigo e ignorar outro general que venceu a sua batalha apenas com infantaria, mas fazendo uso de estratégias criativas para evitar a artilharia do inimigo. Ronaldo marcou um golo num remate à entrada da área, sem oposição, com um pontapé que fez a bola entrar a meio da baliza. A execução do seu remate foi extraordinária, mas o grau de dificuldade do lance era relativamente baixo. Tal não foi o caso do golo de Messi, em que, mais uma vez, dois jogadores apenas e uma tabela chegaram para vencer a oposição de 7 adversários. No início da jogada, Iniesta dá a bola a Messi, e entra no bloco defensivo do Getafe. Messi espera que Iniesta apareça entre os quatro defesas e os três médios, e faz um passe vertical, iniciando de imediato um movimento na direcção do passe. De calcanhar, Iniesta amortece a bola para que Messi, que vinha na sua direcção, a apanhe em posição privilegiada. Uma simples tabela e Messi ultrapassa três médios e ainda fica com a linha de quatro defesas decisivamente desposicionada. Depois, foi só dominar e rematar; o trabalho mais difícil estava feito. A reacção de Guardiola ao golo diz tudo: dois dos seus pupilos, com uma simples tabela, como se fosse a coisa mais simples do mundo, tinham acabado de vencer a oposição de 7 adversários. Isto, sim, é um golo memorável!
4. Para o fim deixei o meu preferido, um golo de Iniesta frente ao Viktoria Plzen, na fase de grupos da edição deste ano da Liga dos Campeões. Ao contrário do que aconteceu nos três primeiros lances, neste lance são duas as tabelas, o que torna a coisa ainda mais complexa e difícil de realizar. Iniesta dá em Messi, que devolve a Iniesta. Com esta primeira tabela, o adversário que saíra a Iniesta inicialmente é ultrapassado. Quando Iniesta recebe a devolução, tem à sua frente um novo adversário, e aproxima-se rapidamente um terceiro pela sua esquerda. De primeira, Iniesta volta a devolver a Messi, afastando de si as atenções o suficiente para se voltar a desmarcar. Messi, que em toda a jogada funcionou como mero apoio, e praticamente não teve que se mexer, volta a jogar de primeira, desta vez para as costas do segundo opositor, entre ele e outro defesa, deixando Iniesta só com um adversário pela frente. O resto foi a habilidade individual de Iniesta a fazer. Com duas tabelas, sempre ao primeiro toque, dois jogadores ultrapassaram quatro adversários, e entraram numa estrutura defensiva bastante compacta e com coberturas suficientes para inutilizar a grande maioria dos ataques de qualquer adversário. O que este lance evidencia, talvez mais do que qualquer outro dos anteriores, é precisamente o porquê de uma tabela, de uma combinação entre dois jogadores, ser algo tão difícil de parar. Quando Iniesta endossa a bola a Messi, as atenções dos adversários, fossem eles quem fossem, centram-se em Messi e não em Iniesta, pois é Messi quem vai receber a bola. Isto dá tempo suficiente para Iniesta se movimentar para o espaço que pretende, sem que nenhum adversário o impeça. Preocupados momentaneamente com o receptor, perdem de vista aquele que fez o passe. Por mais que não quisesse, é assim que reage instintivamente qualquer defesa. Se, depois disto, Messi jogar de primeira em Iniesta, as atenções viram-se para o catalão, e é Messi quem fica livre para voltar a receber. Quando chegam a Iniesta, já este voltou a dar a bola a Messi, e as atenções voltam a virar-se para o argentino, permitindo a Iniesta uma segunda desmarcação.
Ao tabelarem, os jogadores que o fazem estão sempre à frente dos defesas que reagem à tabela. Sabendo disso, os jogadores catalães usam e abusam da tabela para iludir os adversários. Tais quais os mais competentes jogadores de xadrez, estão várias jogadas à frente dos adversários. Enquanto que, no momento seguinte ao primeiro jogador soltar a bola, os defesas estão preocupados com aquele que vai receber o passe, a jogada, para quem ataca, já está a desenrolar-se no momento posterior, no momento em que o primeiro jogador vai receber a devolução. É este o poder incomparável de uma tabela. Nenhuma outra equipa no mundo o sabe usar tão bem, e é também por isso que nenhuma outra equipa no mundo tem a capacidade deste Barcelona para entrar em blocos defensivos compactos. Cultivar, portanto, a tabela, é aquilo em que muitos treinadores deveriam procurar trabalhar, se querem realmente aproveitar alguma coisa dos ensinamentos desta equipa. Isso e perceber que, mais do que ensinar cada jogador a posicionar-se em relação aos restantes, trabalhar tacticamente é acima de tudo fazer compreender a cada jogador a mente dos colegas. Por outras palavras, criar onze almas gémeas. Tentarei voltar a este assunto brevemente.
P.S. Entretanto, pensar que há treinadores que, para criar dificuldades em certos exercícios de treino, determinam, por regra, que não se devolva a bola a quem fez o passe, parece adquirir toda uma nova dimensão. Para ser sincero, 99% dos exercícios de treino da grande maioria dos treinadores são absolutamente inúteis. Para quem treina convencionalmente, um exercício com o constrangimento de não se poder passar a bola a quem fez o passe anterior é sempre apetecível: é diferente, causa estranheza, implica obrigar os jogadores a pensar bem antes de passar. Esquecem-se é que o que deviam estar a fazer era a criar condições para que os jogadores precisassem cada vez de menos tempo para pensar antes de agir. Até nesse sentido, devolver a bola a quem fez o passe inicialmente é uma solução confortável. Mas negligenciar tudo o que uma tabela pode oferecer a uma equipa, apenas para incrementar a dificuldade do exercício, só mesmo na cabeça de alguém que não sabe o que é o jogo.
1. Para dizer a verdade, no primeiro destes lances há um terceiro interveniente, precisamente o que recebe o último passe para finalizar (neste caso, Messi). Mas é irrelevante que assim seja, para o que pretendo mostrar. O lance é o do quarto golo da já longínqua goleada imposta ao Villareal em Camp Nou, no início desta época. Apesar da finalização de Messi, e do passe extraordinário de Iniesta a isolar o companheiro, num lance que parece uma criança a brincar com um ioiô, aquilo para que quero chamar a atenção é para a tabela entre Iniesta e Thiago Alcântara, tabela essa que precede o passe. Thiago invade o espaço entre a linha defensiva e a linha de meio-campo, e até tem um adversário à ilharga, protegendo esse mesmo espaço. Praticamente nenhum jogador faria o que Iniesta fez, pondo nesse mesmo espaço a bola, porque Thiago não beneficiria em nada de receber ali a bola, já que ficaria rodeado de adversários. Acontece que este Barcelona usa a bola como engodo como nenhuma outra equipa, e o simples colocar da bola num espaço preenchido por adversários oferece ao adversário a tentação de recuperá-la, desposicionando-se. Repare-se que, no momento em que a bola se dirige para Thiago, há três jogadores do Villareal (os que estavam mais perto de Thiago) que saem ligeiramente das suas posições para se aproximarem do jogador que vai receber a bola naquele espaço. Parecendo que não, um pequeno passe aparentemente inútil e inofensivo, provoca desequilíbrios estruturais decisivos. Thiago dobra imediatamente o passe, entregando a bola novamente em Iniesta, mas tudo é agora diferente. Uma simples tabela vertical, sem progressão de qualquer espécie, serviu para desestabilizar a organização defensiva do adversário: um dos centrais avançou no terreno, criando um espaço nas suas costas, entre o outro central e o lateral; o médio que estava a acautelar o espaço entre linhas deslocou-se para a esquerda, abrindo uma linha de passe pelo centro; e o médio que estava mais perto de Iniesta afastou-se dele o suficiente para lhe permitir um passe em condições. Resta dizer que Messi interpretou isto de forma impressionante, e desmarcou-se precisamente para onde se devia desmarcar, recebendo o passe de Iniesta. O que me parece importante perceber neste lance não é tanto a extraordinária capacidade que os jogadores do Barça têm para inventar estes lances, mas mais a importância de algo aparentemente inútil, como seja um passe para um jogador que não pode senão devolver a bola ao colega que a passou. Sem o passe para Thiago, e a respectiva devolução, o Barcelona não teria sido capaz de criar as condições ideais para construir uma situação de perigo. É por isso que Guardiola dá tanta importância ao espaço. Em ataque organizado, tudo o que uma equipa tem de fazer é criar espaços. Para criá-los, tem de forçar o adversário a concedê-los. E a única forma de forçar um adversário que se posiciona bem em termos defensivos a concedê-los é fazendo coisas como esta, fazendo a bola entrar e sair em zonas que os adversários têm obrigatoriamente de fechar. É por isto que o futebol de toque curto, de passe e recepção, que caracteriza esta equipa não serve apenas, como muitos julgam, para adormecer o adversário, para esperar pelo momento certo para desferir o ataque, para não perder a bola à toa. Quem pensa assim não percebe nada deste Barcelona. É claro que fazer um uso cuidado da bola, como esta equipa o faz, é também uma forma de cínica de defender. Mas é muito mais do que isso, como este lance mostra. É a forma mais eficiente de atacar.
2. O segundo lance ocorreu na primeira mão da recente eliminatória frente ao Milan, a contar para os quartos de final da Liga dos Campeões. O lance acabou por não dar golo, mas foi notável o que Xavi e Messi fizeram. Quando Xavi recebe a bola, o Milan tem 9 jogadores atrás da linha da bola (os quatro defesas, os quatro médios, e Robinho), todos eles concentrados no meio. Com a invasão do espaço defensivo e uma simples tabela com Messi, Xavi termina o lance na cara do guarda-redes. Ou seja, dois jogadores e uma tabela chegaram para suplantar 9 adversários e criar uma situação clara de golo. No momento em que a tabela tem lugar, há 8 jogadores do Milan num raio de 5 metros. Se isto não é algo extraordinário, não sei o que dizer. É importante dizer que o Milan defende este lance o melhor que é possível defendê-lo, numa estrutura de quatro médios em linha. Ou seja, não há espaço suficiente entre a linha defensiva e a linha de meio-campo para que o adversário consiga fazer entrar um passe vertical, deixando um jogador receber a bola nesse espaço. O problema é que, se por alguma razão o portador da bola consegue entrar entre dois médios, como foi o caso, é um dos defesas que tem de sair para lhe obstruir a passagem. Se, nessa altura, o portador da bola tiver sido acompanhado por um colega que, a seu lado, lhe sugere uma tabela, então esse defesa acaba por ser facilmente ultrapassado. A meu ver, este lance resulta por duas razões essenciais: o facto de o Milan estar a defender em duas linhas apenas, e o facto de os jogadores catalães (neste caso, Messi) perceberem a utilidade de fornecer apoios próximos ao portador da bola. Repare-se que, assim que Xavi invade o espaço central, Messi inicia um movimento idêntico, aproximando-se dele, e adivinhando que o colega ia precisar da sua tabela. Qualquer outra equipa do mundo, perante a concentração de adversários naquele espaço central, procuraria atacar pelos flancos. Só este Barcelona é que tem a capacidade de identificar estas possibilidades de penetração centrais e só este Barcelona é que sabe o que é preciso para que essas penetrações possam ser bem sucedidas.
3. O terceiro lance é da última jornada da Liga Espanhola, e foi, na verdade, o lance que me motivou a escrever este texto. Por tudo o que disse acerca dos dois lances anteriores, é evidente que penso que este tipo de lances é aquilo que mais elogios merece, em futebol. Também por isso, e numa jornada em que voltou a haver um desses lances formidáveis em Camp Nou, merece ampla reprovação a generalização dos elogios aos golos que Cristiano Ronaldo marcou frente ao Atlético de Madrid. É claro que as pessoas, quando vêem um golo, tendem a prestar atenção apenas ao remate, ao sítio onde a bola entra, ao efeito da bola, à potência do remate, etc.. Nesse sentido, é muito mais fácil reparar nos golos de Ronaldo do que num golo deste tipo. Como acho que a avaliação da qualidade de um golo deve ter em conta muito mais que o remate final, os golos de Ronaldo, ainda que de belo efeito, não são para mim motivo de espanto. São resultado de alguém que tem, de facto, uma técnica de remate estupenda, e são bons golos. Mas não são golos extraordinários. E falar de qualquer um desses golos quando na mesma jornada Messi fez um golo dez vezes melhor parece-me estúpido. É mais ou menos como elogiar um general que venceu uma batalha por ter melhor artilharia do que o inimigo e ignorar outro general que venceu a sua batalha apenas com infantaria, mas fazendo uso de estratégias criativas para evitar a artilharia do inimigo. Ronaldo marcou um golo num remate à entrada da área, sem oposição, com um pontapé que fez a bola entrar a meio da baliza. A execução do seu remate foi extraordinária, mas o grau de dificuldade do lance era relativamente baixo. Tal não foi o caso do golo de Messi, em que, mais uma vez, dois jogadores apenas e uma tabela chegaram para vencer a oposição de 7 adversários. No início da jogada, Iniesta dá a bola a Messi, e entra no bloco defensivo do Getafe. Messi espera que Iniesta apareça entre os quatro defesas e os três médios, e faz um passe vertical, iniciando de imediato um movimento na direcção do passe. De calcanhar, Iniesta amortece a bola para que Messi, que vinha na sua direcção, a apanhe em posição privilegiada. Uma simples tabela e Messi ultrapassa três médios e ainda fica com a linha de quatro defesas decisivamente desposicionada. Depois, foi só dominar e rematar; o trabalho mais difícil estava feito. A reacção de Guardiola ao golo diz tudo: dois dos seus pupilos, com uma simples tabela, como se fosse a coisa mais simples do mundo, tinham acabado de vencer a oposição de 7 adversários. Isto, sim, é um golo memorável!
4. Para o fim deixei o meu preferido, um golo de Iniesta frente ao Viktoria Plzen, na fase de grupos da edição deste ano da Liga dos Campeões. Ao contrário do que aconteceu nos três primeiros lances, neste lance são duas as tabelas, o que torna a coisa ainda mais complexa e difícil de realizar. Iniesta dá em Messi, que devolve a Iniesta. Com esta primeira tabela, o adversário que saíra a Iniesta inicialmente é ultrapassado. Quando Iniesta recebe a devolução, tem à sua frente um novo adversário, e aproxima-se rapidamente um terceiro pela sua esquerda. De primeira, Iniesta volta a devolver a Messi, afastando de si as atenções o suficiente para se voltar a desmarcar. Messi, que em toda a jogada funcionou como mero apoio, e praticamente não teve que se mexer, volta a jogar de primeira, desta vez para as costas do segundo opositor, entre ele e outro defesa, deixando Iniesta só com um adversário pela frente. O resto foi a habilidade individual de Iniesta a fazer. Com duas tabelas, sempre ao primeiro toque, dois jogadores ultrapassaram quatro adversários, e entraram numa estrutura defensiva bastante compacta e com coberturas suficientes para inutilizar a grande maioria dos ataques de qualquer adversário. O que este lance evidencia, talvez mais do que qualquer outro dos anteriores, é precisamente o porquê de uma tabela, de uma combinação entre dois jogadores, ser algo tão difícil de parar. Quando Iniesta endossa a bola a Messi, as atenções dos adversários, fossem eles quem fossem, centram-se em Messi e não em Iniesta, pois é Messi quem vai receber a bola. Isto dá tempo suficiente para Iniesta se movimentar para o espaço que pretende, sem que nenhum adversário o impeça. Preocupados momentaneamente com o receptor, perdem de vista aquele que fez o passe. Por mais que não quisesse, é assim que reage instintivamente qualquer defesa. Se, depois disto, Messi jogar de primeira em Iniesta, as atenções viram-se para o catalão, e é Messi quem fica livre para voltar a receber. Quando chegam a Iniesta, já este voltou a dar a bola a Messi, e as atenções voltam a virar-se para o argentino, permitindo a Iniesta uma segunda desmarcação.
Ao tabelarem, os jogadores que o fazem estão sempre à frente dos defesas que reagem à tabela. Sabendo disso, os jogadores catalães usam e abusam da tabela para iludir os adversários. Tais quais os mais competentes jogadores de xadrez, estão várias jogadas à frente dos adversários. Enquanto que, no momento seguinte ao primeiro jogador soltar a bola, os defesas estão preocupados com aquele que vai receber o passe, a jogada, para quem ataca, já está a desenrolar-se no momento posterior, no momento em que o primeiro jogador vai receber a devolução. É este o poder incomparável de uma tabela. Nenhuma outra equipa no mundo o sabe usar tão bem, e é também por isso que nenhuma outra equipa no mundo tem a capacidade deste Barcelona para entrar em blocos defensivos compactos. Cultivar, portanto, a tabela, é aquilo em que muitos treinadores deveriam procurar trabalhar, se querem realmente aproveitar alguma coisa dos ensinamentos desta equipa. Isso e perceber que, mais do que ensinar cada jogador a posicionar-se em relação aos restantes, trabalhar tacticamente é acima de tudo fazer compreender a cada jogador a mente dos colegas. Por outras palavras, criar onze almas gémeas. Tentarei voltar a este assunto brevemente.
P.S. Entretanto, pensar que há treinadores que, para criar dificuldades em certos exercícios de treino, determinam, por regra, que não se devolva a bola a quem fez o passe, parece adquirir toda uma nova dimensão. Para ser sincero, 99% dos exercícios de treino da grande maioria dos treinadores são absolutamente inúteis. Para quem treina convencionalmente, um exercício com o constrangimento de não se poder passar a bola a quem fez o passe anterior é sempre apetecível: é diferente, causa estranheza, implica obrigar os jogadores a pensar bem antes de passar. Esquecem-se é que o que deviam estar a fazer era a criar condições para que os jogadores precisassem cada vez de menos tempo para pensar antes de agir. Até nesse sentido, devolver a bola a quem fez o passe inicialmente é uma solução confortável. Mas negligenciar tudo o que uma tabela pode oferecer a uma equipa, apenas para incrementar a dificuldade do exercício, só mesmo na cabeça de alguém que não sabe o que é o jogo.
17 comentários:
Nuno,
Quando vi este golo do Barça, na televisão, fiquei maravilhado. Pensei: tive sorte em nascer e poder ver este futebol.
Toque, desmarca, o colega brinca com os adversários e devolve. Numa fracção de segundo, com um toque genial, deixa para o colega que sabe que vai aparecer (e que aparece) e ele, no meio de três adversários, tem uma finalização de classe.
Futebol!
Por ser um exemplo nacional, deixo o seguinte lance ás tuas considerações.
http://www.youtube.com/watch?v=zrm8W5D5IIc&feature=related
É este o vídeo. Aos 4:25 (é o primeiro golo do Sporting).
Uma combinação bonita, digo.
Nuno,
Aqui tens um golo de Maradona feito através de várias tabelas: http://www.youtube.com/watch?v=jyekACZBMeU
Deves recordar-te dele certamente. Pelo que se vê do video o golo em si é resultado duma jogada muito boa entre colegas de equipa, mas também se pode argumentar que Maradona, embora um grande génio, ainda poderia ter feito um último passe para o colega que estava na cara do GR.
Boas!
Também não percebo porque não se dá mais valor às tabelas. Mas queria discutir outra coisa que disseste:
«Em ataque organizado, tudo o que uma equipa tem de fazer é criar espaços»
Eu acrescentava «e linhas de passe». Acho que não faz muito sentido criar os espaços, se não houver movimento a aproveitar esse mesmo espaço.
Cumprimentos,
Luís
Gonçalo, é exactamente assim que me sinto quando vejo o Barcelona jogar. Isto é um privilégio inacreditável, do qual acho que a maioria das pessoas que gostam de futebol não se apercebem e que estão a desperdiçar. Salvo as diferenças, é mais ou menos como ter tido oportunidade de viver no final do século XVI e no início do século XVII em Londres, e poder acompanhar as produções do Shakespeare à medida que iam sendo estreadas.
Quanto ao lance do Sporting-Liverpool, já tinha visto há tempos. É, de facto, uma boa jogada. E revela um entrosamento interessante. Esta equipa de juniores, com o Sá Pinto, prometia. Agora, com o Abel, é uma coisa hedionda. Terem deixado o João Carlos (é o que marca o golo) sair também diz muito daquilo que o Sporting pensa, neste momento, da sua formação. Era provavelmente o mais talentoso, e foi embora. Entretanto, o Yuri, o Chaby, e o Betinho, os mais talentosos dos que ficaram, nem sempre são opção para o Abel. Contra o Benfica, no Seixal, ficaram os três no banco. Inadmissível.
Mike, é verdade, é um golo extraordinário, o último do Maradona com a camisola da Argentina, se não me engano. Mas juntar o Redondo e o Maradona também era arriscar-se a coisas incríveis como estas.
Luis, claro. A ideia de criar espaços é criá-los para depois beneficiar deles. Ou seja, criar espaços para tornar mais fácil o aparecimento de linhas de passe. Acho que, por exemplo, o primeiro lance ilustra isso muito bem. O Villareal estava arrumadinho, mas uma tabela fez com que se criasse o espaço ideal não só para que o Messi entrasse nas costas da defesa como para que o Iniesta tivesse uma linha de passe para pôr lá a bola.
Cumprimentos
Nuno,
Não achas que o Chaby e o Iuri, que são mais novos um ano, é que eram os grandes valores desta geração?
E dos habituais laterais (Esgaio e Mica), não gostas?
Mesmo tendo em conta toda a qualidade do João Carlos (já foi convocado esta temporada para pelo menos 1 jogo oficial dos seniores).
Sobre o recente jogo com o Benfica, salvo erro o Chaby e o Iuri tinham jogado 2 vezes durante a semana pelos sub-18 (e foram dos mais utilizados nesses dois jogos).
O Betinho não jogou, tendo jogado o Etock (desconheço o que vale).
PS-
A forma como "o que o Sporting pensa, actualmente, a sua formação" não será tão linear assim.
Não sei se tens acompanhado o que tem sido sobre a Equipa B (particularmente, as justificações que têm sido dadas sobre o porquê de se avançar com esta ideia no Sporting)...
epa,tenho de meter este golo do Maradona no meu blog...
ora c licença!
e um meio campo Redondo-Pirlo-Scholes-Xavi a jogar sempre em tabelas?
era o fim do futebol.
Nuno,
Gabar e admirar o Ronaldo e admirar o engenho da peca de artilharia: e um futebolista unico e a tecnica de remate e apenas uma das muitas virtudes que tem. A maior de todas: forma como pelo treino e dedicacao encaixou em si muito diferente atributo, precisamente. Imensos.
Essa e a admiracao e o que faz dele especial. Nem o Xavi nem o Iniesta conseguiriam fazer aqueles golos ao Atletico, mesmo que tentassem.
Quem sao os melhores jogadores? Os segundos, claro, porque tem (plural) os elementos mais dificeis de encontrar - dom - que o Ronaldo nao tem. Mas esses so, tudo o resto o Portugues tem. Os outros, nao.
Sao produtos muito diferentes.
Quem e melhor:
Iniesta ou Messi? Iniesta.
Certo, mas quem e melhor?
Iniesta ou Messi: Messi.
Nao e facil. No fundo e preciso saber aquilo para que olhamos e nessa medida subscrevo tudo o que dizes. Revejo-me nisso, mas apenas fundamentalismo retirara o Ronaldo do lugar que tem: futebolista unico que faz coisas que mais nenhum faz.
Podes dizer o mesmo do Messi?
Nao. Houve Maradona por exemplo, que dentro da mesma linha era melhor.
A linha do Ronaldo e a mesma do Maradona? Nao, nem se tocam. Qual e linha do Ronaldo? So existe a partir dele, foi criada por ele.
MM, concordo totalmente contigo.
Gonçalo, o Iuri e o Chaby parecem-me muito bons, assim como o Betinho. Mas o João Carlos parecia, de todos, o que estava mais preparado, em termos de maturidade, para o futebol sénior. Parecia-me o mais inteligente. Pode ser, de facto, por serem de primeiro ano, mas havia movimentos e intenções no João Carlos de que gostava muito.
Quanto aos laterais, o Esgaio é muitíssimo maduro e pode dar jogador. Será interessante perceber a sua evolução enquanto sénior. Também gosto do Ilori, já agora. Quanto ao Etock, acho-o inferior ao Betinho, embora tenha qualidade. Não sei é se a idade dele corresponde exactamente ao que vem no BI.
Sobre a não-utilização do Chaby e do Iuri, era um jogo com o Benfica. E era importante. Abdicar deles e do Betinho, para jogar com calmeirões e velocistas sugere-me outra interpretação.
Sobre as ideias para a formação, não quero parecer céptico, mas declarações de intenções dizem menos acerca de intenções do que acções propriamente ditas. Até podem falar muito bem das equipas B, e tal, mas, se no mesmo ano deixam escapar, sem receber nada, o Diogo Rosado, se têm o Nuno Reis há não sei quantas épocas emprestado e vão buscar Xandões, se deixam fugir para o Liverpool o mais promissor dos juniores de segundo ano, se recuperam o Renato Neto em vez do Adrien, se aparecem no Seixal com uma equipa composta maioritariamente por jogadores cujas principais características são o metro e noventa, a agressividade, ou a força de vontade, tenho poucas dúvidas de quais são as ideias que querem implementar. Eu concordo com a ideia das equipas B, mas isso é apenas um pormenor. E já há algum tempo que me parece que o Sporting relegou a formação para um segundo plano. A criação de equipas B parece-me mais uma forma de justificar a existência de uma academia e de uma aposta na formação que custa muito dinheiro do que propriamente um boa ideia para o futuro.
Batalheiro, era mesmo.
MM diz: "Gabar e admirar o Ronaldo e admirar o engenho da peca de artilharia"
MM, deve ser problema meu, mas continuo a achar que um avião XPTO que não precisa de piloto e escapa aos radares inimigos não merece tantos aplausos quanto certas estratégias militares medievais.
"Nem o Xavi nem o Iniesta conseguiriam fazer aqueles golos ao Atletico, mesmo que tentassem."
E então? O Ronaldo também não consegue fazer muita coisa que o Xavi e o Iniesta fazem. Coisas essas bem mais difíceis de fazer do que aqueles golos. Esse é que é o ponto.
De resto, não separes as coisas em "dom" e em "trabalho". O "dom" é um mito que se criou para tentar explicar o que não se percebe. O Iniesta é diferente do Ronaldo porque trabalhou outras características. O Ronaldo é obcecado por treino físico, e é um atleta ímpar, desse ponto de vista. Mas, por causa disso, não pôde trabalhar outras coisas. A sua criatividade, a sua imaginação, por exemplo. Foi nisso que se concentrou a aprendizagem do Iniesta.
"apenas fundamentalismo retirara o Ronaldo do lugar que tem: futebolista unico que faz coisas que mais nenhum faz."
Isto é uma parvoíce. A técnica de remate dele, de facto, é invulgar. Mas golos de meia-distância há muitos que os fazem com frequência. Neste texto, mostrei quatro lances em que há coisas que mais ninguém no mundo faz. Como é que podes achar que o Ronaldo é único, quando o Iniesta, o Xavi e o Messi fazem coisas deste tipo, muito mais difíceis, e que não vês mais ninguém fazer, a não ser muito esporadicamente? Nesse sentido, eles também são únicos. E, claro, nesse sentido, qualquer um é único.
Por fim, não percebo o que é "a linha" do Ronaldo. A sério que não percebo. Só se ele tiver inventado uma "linha" de roupa que eu não conheça. O Ronaldo é um jogador de estilo atlético, como houve muitos no passado, e como há muitos actualmente. Esses jogadores tenderam a não ficar na História, porque raramente é das coisas que esse tipo de jogadores faz que se lembram as pessoas. O Ronaldo vai ficar na História. Mas vai ficar apenas por uma razão, porque marca golos às carradas. Não fosse ele ter-se especializado nisso, e "a linha" dele acabava no esquecimento. Em futebol, os jogadores que ficam na História destacam-se pelo seu génio, ou por terem sido goleadores. Ronaldo conseguiu encaixar-se na segunda, se não era mais um.
Por partes:
Concordo, genericamente, com as apreciações feitas aos júniores. Mas desconheço os contornos da saída do João Carlos e, no futebol jovem, há aspectos que não meramente o interesse do Clube em renovar a marcar a diferença (vide, caso do Mateus Fonseca, que esteve para sair do Sporting e ir para o Cluj no Verão passado).
Sobre a não utilização do Chaby e do Iuri: talvez tenhas razão, mas um eventual desgaste pode ter sido mais um factor importante (não que tenha sido o único ou, sequer, o mais decisivo).
O Betinho veio de dois jogos sem jogar (por castigo disciplinar), o Etock foi jogando (com golos, o que não nos garante nada) e manteve a titularidade com o Benfica. Também gostava que se continuasse a apostar no Betinho (nos últimos jogos, penso que já tem sido "O" titular), que é um excelente avançado (tem óptimos gestos técnicos, não se dá à marcação, sabe jogar fora da área e é muito perigoso quando a ataca).
Diogo Rosado - Gostava que tivesse tido outras oportunidades, que a sua carreira tivesse sido melhor gerida (pelo Sporting). Ainda assim, vai ganhar 700 mil/ano em Itália (mais que alguns titulares do Sporting). E, não sei se por questões futebolísticas (acho estranho) ou disciplinares, não tem sido opção recente no Feirense, nem a somar minutos ocasionais.
Nuno Reis - Está emprestado há temporada e meia. Foi na Passada, no seu primeiro ano de sénior, para o Cercle Brugge. Terminou a época, fez o Mundial Sub-20 no Verão e voltou para lá. Espero que termine os dois anos na Bélgica e saia para o Campeonato Português. Ou para o Sporting, já, ou (talvez fosse o indicado para si), para uma equipa portuguesa de média dimensão (uma Académica, por exemplo) jogar e voltar em grande a Alvalade para a sua 3ª temporada de sénior.
ps - Já me chateei mais com o Xandão que nos últimos jogos. Tem estado melhor na execução dos princípios defensivos e a lidar com o espaço, falta-lhe entregar a bola mais jogável (especialmente, quando a procura recuperar...)
Adrien - Seria um erro ter retirado o Adrien em Janeiro de Coimbra. Primeiro, porque o Sporting não precisa de um titular para o meio-campo (e ele merecia continuar a ser titular... finalmente) - o Martins que o diga -, e depois porque a ideia com o Neto parece-me ter sido trabalhá-lo na posição 6 (na Bélgica jogava a 8) nos treinos. Não parece estar melhor, mas percebi a aposta (o SCP tem muitos médios de qualidade, precisava apenas de uma alternativa, ele era titular há 1 ano e meio na Bélgica).
Equipa B - Não me parece que seja um pormenor, mas uma medida fundamental para que se aproveite melhor jogadores (e gerações) talentosos que passam pelo futebol formação do Sporting. Mas, mais fundamental, é que a Equipa B tenha sido criada por esse objectivo (e não porque sim, porque é moda, ou porque em Espanha muitas equipas a têm).
No mais (aquilo que não concordei) não tenho nada a acrescentar sobre as ideias que escreveu - ou desconheço, e por isso não posso comentar, ou concordo.
No essencial, concordo com algumas das críticas (embora muitas tenham um enquadramento que, não as justificando, ajuda a perceber o porquê de terem sido tomadas), mas acredito que, até com a entrada do Sá Pinto no plantel principal, se pode trabalhar muito bem (n)a formação para o futuro próximo.
Espero que sim (sempre confiante).
Pedro, parabens pela TL
Nuno,
O problema e que o Ronaldo nao e um aviao sem piloto, como na imagem que usas: parece uma maquina eu sei, de facto parece mas nao e, e justamente por aqui passa grande parte do seu merito.
Nuno tenta perceber que devem ambos os golos ser homenageados, por motivos diferentes, embora tenhas razao quando dizes que o "mundo" so perde tempo a festejar o do Ronaldo. Sem duvida nenhuma.
Tu nao podes e cometer o mesmo erro e festejar so o do Barcelona, a nao ser que sejas tao estreito quanto "o mundo". Es?
Sobre o Xavi e o Iniesta sao as duas verdadeiras, precisamente o que disse: uns nao fazem o que ele faz, e ele nao faz o que os primeiros fazem.
Coisas bem mais difíceis de fazer do que aqueles golos? Se perguntares ao Iniesta ele dir-te-a que nao. Que as do Ronaldo sao mais dificeis, e isto traz-me ao mais importante do comentario: o "dom" existe, e e por isso que o Iniesta e o Xavi fazem coisas sem esforco. Ja o Ronaldo precisa de investir esforco.
O "dom" nao e um mito que se criou para tentar explicar o que não se percebe, e o Iniesta nao e diferente do Ronaldo porque trabalhou outras caracteristicas. Nuno surpreende-me muito que digas isto; que julgues que os atributos maiores do Iniesta ou do Xavi precisam de ser trabalhados ou treinados.
E ao contrario: ves la em cima o golo do Maradona? Aquilo nao se treina, naquele lance durante aqueles 8 segundos eles nem pensam no que fazem. Simplesmente fazem. Flui. Demasiado treino e nocivo para que aquilo apareca em campo: e ao contrario do que dizes.
"A sua criatividade, a sua imaginação, por exemplo. Foi nisso que se concentrou a aprendizagem do Iniesta".
Nao porque o Iniesta ja tinha toda a criatividade e imaginacao que tem la pelos seus 12 ou 13 anos. A criatividade no jogo advem da sua pessoa, caracteristicas pessoais. A pratica exponencia as caracteristicas, mas nao as origina. Se nao existem a partida nao existirao nunca.
Ja as do Ronaldo sim ... a potencia, fisico, forca, choque, drible, treino de horas e horas a rematar uma bola do mesmo sitio e da mesma forma para que "naturalmente" se aperfeicoe (como o Eusebio, dizem, fazia) tudo isso pode ser treinado: ver o Ronaldo de hoje ao lado do Ronaldo que saiu do SCP sao 2 jogadores e 2 pessoas completamente diferentes.
"Mas golos de meia-distância há muitos que os fazem com frequência."
Errado de duas maneiras: nao sao feitos com a mesma frequencia do Ronaldo - pelo mesmo jogador. Nem sao feitos da forma que o Ronaldo faz. Resumir aqueles golos em "golos de meia-distancia" isso sim, desculpar-me-as, e tremenda parvoice.
"Neste texto, mostrei quatro lances em que há coisas que mais ninguém no mundo faz."
Tambem nao e verdade. Existe talento igual aquele; nao existe e uma equipa comandada por um treinador que crie as condicoes para que apareca. Aqueles jogadores com o Rijkaard nao faziam aquilo.
Nuno este teu comentario desapontou-me muito, palavra.
"Por fim, não percebo o que é "a linha" do Ronaldo. A sério que não percebo."
Talvez nao percebas mesmo. E se achas que o Ronaldo e o que e porque "marca golos as carradas", nao gastarei mais tempo. E ao contrario Nuno: marca golos as carradas em funcao do que e.
a proposito de golos frquentes de meia distancia: Ruben Sosa
Concordo com tudo o que foi dito, enaltecendo que isto tudo merece maior relevância conforme foi dito porque se trata de desbloquear praticamente equipas inteiras, isto é, equipas que defendem com 9,10 jogadores atrás da linha da bola o que com outra equipa qualquer não acontece. Por outro lado destaca-se a precisão do passe da tabela bem como o saber onde a bola deve cair(passador)/perceber que a bola vai cair naquele espaço(receptor).
A uma escala obviamente diferente o Benfica conseguia fazer isso algumas vezes no 1º ano de Jesus com Saviola, Aimar e Cardozo. Ainda hoje o tenta mas com muito menor eficácia. Acredito que juntando aos 3 de cima, Nolito este estilo de jogo seria bastante mais eficaz que o actual...
Este ano, noto que o Porto tem marcado alguns golos resultante de tabelas efectuadas com bastante eficácia
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