sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Académico

Fez ontem notícia que o professor Jorge Castelo, académico reputado e comentador televisivo nas horas vagas, iria integrar a equipa técnica de Ricardo Sá Pinto. Os que acham que os académicos estão subvalorizados incharam imediatamente, apoiaram a decisão, e desejaram boa-sorte ao senhor professor. Os que acham que aos académicos faltam competências de campo torceram o nariz. Como é sabido, acho que a competência de um treinador, ou de quem quer que trabalhe numa equipa técnica, tem pouco a ver com ser ou não ser académico. Há coisas que a academia dá que a experiência de campo jamais pode dar; mas há coisas que a experiência de campo dá que nenhuma academia é capaz de simular. Nem o supra-sumo dos académicos, por si só, é garantidamente competente, nem aquele que absorveu melhores experiências de campo o pode ser. Dirão os mais incautos que alguém que reúna competências académicas e científicas e experiência de campo está mais apto do que quem só reúna uma delas. Subjaz a quem assim pensa o mesmo erro: o de presumir que a competência de alguém depende necessariamente de qualquer coisa tão circunstancial e breve como a experiência passada directamente relacionada com o jogo. A competência depende de muita coisa, e de muita coisa da qual não se estaria certamente à espera que pudesse depender. Sim, dificilmente poderá haver um bom treinador que não tenha competências futebolísticas relevantes, que não tenha aprendido o que normalmente se aprende em cursos de treinador, mas isso é uma infimíssima parte daquilo que produz um bom treinador. A sua competência depende de conhecimentos futebolísticos, mas depende também de inteligência em bruto, de bom senso, de conhecimento prático, de capacidade de reflexão, de espírito crítico, etc. Pode ser que isto surpreenda alguém, mas estou em crer que, bem mais importante do que conhecer as coisas que o professor Jorge Castelo divulga nos seus livros, é mais determinante à formação da personalidade de um bom treinador conhecer toda a obra de Dickens, ou a teoria da evolução de Darwin. O que causa estranheza nesta afirmação é que parece que Dickens e Darwin, embora francamente mais geniais do que o professor Jorge Castelo, parecem ter menos a ver com futebol do que o professor. Evidentemente, a aplicação ao futebol do que se pode aprender com os primeiros não é clara, ao passo que a aplicação ao futebol dos ensinamentos do professor Jorge Castelo, bons ou maus, é directa. O que estou a sugerir, porém, é que as competências de um bom treinador dependem menos das coisas que aprendeu sobre o jogo e que pode aplicar directamente ao seu trabalho do que propriamente de tudo o resto que lhe molda o carácter. Sim, estou plenamente convencido que um treinador que nunca leu Jorge Castelo pode ser mais competente do que todos aqueles que o leram. Isto porque a competência em futebol não é determinada pela soma das coisas que se leu a respeito de futebol, tal como a competência de um político não é determinada pelas coisas que sabe acerca de política. Serve esta introdução não só para baixar as expectativas em relação ao que se segue, como para, de um modo enviesado, preparar o leitor para a amostra de disparates que um académico reputado pode fazer publicar num livro.

Ao falar sobre o professor Jorge Castelo, podia evidentemente falar de lambe-botice. Não é nada que não me desse um certo prazer, como facilmente perceberá o leitor. Mas achei que teria mais piada, pelo menos desta vez, dar relevância à nova aventura desportiva a que o académico se atira agora partilhando um exercício que descobri ser muitíssimo interessante. Consiste o exercício em abrir ao acaso o livro Futebol - A Organização Dinâmica do Jogo, de 2004, da autoria do professor Jorge Castelo, em citar aquilo que se encontrar na página em que o livro inadvertidamente se abrir, em comentar o que se vir escrito, e em repetir o procedimento enquanto me apetecer. Parece aborrecido? Estou em posição de prometer que será bem divertido. Peço ainda atenção não só para o conteúdo das citações, como para a forma das mesmas, pois que no português utilizado (nomeadamente na colocação das vírgulas) se evidenciam desde logo alguns dos problemas no modo de pensar do dito académico. Tentarei ainda sublinhar aquilo que for mais interessante, em cada uma das citações, para facilitar a compreensão das mesmas.

1. [pp.181]

"Se não for possível retardar o contra-ataque ou, o ataque rápido do adversário, logo após a perda da posse de bola, é fundamental:

A) Criar as condições mais favoráveis, para enfraquecer o diminuto espírito colectivo deste método ofensivo, por forma a que não haja qualquer tipo de possibilidade (veleidade) dos adversários poderem cimentar esses propósitos em qualquer momento do jogo. Inclui-se neste âmbito, a impossibilidade de se utilizar a segunda vaga de ataque.

B) Desgastar psicologicamente os adversários, evitando que estes possam pôr em prática os seus comportamentos táctico-técnicos, em especial, os atacantes sobre quem recai a organização deste método de jogo. À medida que os procedimentos de suporte a estes métodos ofensivos se tornam ineficazes, os atacantes descrêem das suas próprias capacidades diminuindo gradualmente a sua actividade de jogo."

Observações: Ou seja, para parar um contra-ataque adversário, diz-nos o académico, há que a) criar condições favoráveis para pará-lo (que raciocínio formidável!!), ou então b) correr atrás dos adversários a raspar com um garfo num prato para "desgastar psicologicamente os adversários", que acabam inevitavelmente por descrer "das suas próprias capacidades". É ou não é um método defensivo brilhante? Eu avisei que isto ia ser divertido. Mas há mais, e logo na mesma página.

2. [pp.181] [Sobre procedimentos para prevenir o contra-ataque]

"Quando de posse de bola a equipa deverá:

A) Manter uma organização defensiva de base (...)

B) Marcar individual e agressivamente, todos os jogadores que não estejam directamente empenhados na defesa da sua própria baliza. Nestas circunstâncias, devem-se utilizar os melhores defesas em termos individuais ou, criar condições de superioridade numérica, no caso da equipa adversária contar com jogadores de elevada capacidade táctico-técnica individual ofensiva (resolução de situações de 1x1)"

Observações: Para o professor Jorge Castelo, portanto, a equipa que ataca e tem a posse de bola deve guardar, apesar de ter a bola, dois ou três defesas para "marcar individual e agressivamente" alguns adversários. Levando à letra, enquanto 7 ou 8 atacam, 2 ou 3 defendem, enquanto 7 ou 8 andam à procura de dar linhas de passe, oferecer coberturas, etc., 2 ou 3 andam atrás de adversários que, por sua vez, andam atrás de quem tem a bola. Isto é jogar futebol ou é jogar à apanhada?

3. [pp.274]

"Denominamos de superfície de contacto, a parte do corpo que entra voluntariamente em contacto com a bola, que em si oferecer uma multitude de superfícies, consoante esteja animada ou não. Podemos, estabelecer dois aspectos fundamentais no que diz respeito à superfície de contacto com a bola:

1) Quanto maior for a superfície de contacto, maior é a precisão da acção.2) Quanto menor for a superfície de contacto, maior é a potência, que se poderá imprimir à bola."

Observações: Em primeiro lugar, parece que, para o professor Jorge Castelo, a bola não é redonda, pois oferece "uma multitude de superfícies". Às vezes o português é traiçoeiro, mas neste caso não ponho as mãos no fogo. Quanto à teoria de que, quanto maior a superfície de contacto, maior a precisão, quanto menor, maior a potência, tenho a dizer que o professor é capaz de não ter equacionado todas as possibilidades. Será que um remate com a ponta de um dedo é mais potente do que um remate com o peito do pé? Será que um passe com as costas é mais preciso do que um passe de bico? Será que a precisão e a potência têm alguma coisa a ver com a superfície de contacto? Cheira-me que a teoria não é boa! Continuemos, porque isto promete.

4. [pp.312]

"As combinações tácticas podem ser classificadas em:

1) Combinações Simples (combinações a dois ou "passa-e-sai"): (i) o portador da bola fixa a acção do adversário directo (penetração), (ii) executa um passe a um companheiro, que consubstancia um deslocamento ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento imediato (passar e mover), para um espaço ou posição facilitadora e favorável para receber a bola.

2) Combinações directas (um-dois ou passa-e-sai): (i) o portador da bola fixa a acção do adversário directo (penetração), (ii) execução de um passe a um companheiro que consubstancia um deslocamento ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento imediato (passar e mover) para um espaço ou posição facilitadora e favorável para a recepção da bola e, (iii) devolução da bola ao portador inicial.

3) Combinações indirectas (combinações a três jogadores). A utilização de combinações simpes (a dois), são muitas vezes difíceis de concretizar, face às grandes concentrações de jogadores ou à falta de espaços livres. São assim fáceis de anular sempre, que a cobertura defensiva é assegurada. De modo a garantir um maior desequilíbrio na organização defensiva, integra-se mais um jogador, realizando uma combinação a três, que abre mais possibilidades. Em função da iniciativa (selecção de uma opção), da circunstância (local da acção espaço) e, da colocação ou posicionamento do adversário directa (penetração), (ii) executa um passe a um companheiro, que realiza um deslocamento ofensivo de apoio, seguido de um deslocamento imediato (passar e mover) para um espaço ou, posição facilitador e favorável para a recepção da bola, e (iii) devolução da bola, não ao portador inicial, mas a um 3º jogador cuja situação favorável resulta de um benefício directo (fruto da acção que desencadeou) e, um benefício indirecto (fruto da acção desenvolvida pelo primeiro portador da bola)."

Observações: Devo confessar que foi sem fôlego que terminei de citar isto. A minha pergunta é: por que é que o professor Jorge Castelo, para designar as acções de passe e tabela, precisou de escrever tanto e em grego? Para mim, é um mistério. Apesar disso, ficamos a saber que, para Jorge Castelo, quando há pouco espaço e uma tabela não resolve o problema, pode uma equipa surpreender tudo e todos com a inclusão de um terceiro elemento na acção ofensiva. Combinações entre três jogadores? Por esta é que uma defesa não esperava!

5. [pp.320]

"As formas de se conseguirem mais situações de bola parada, são as seguintes:

1) Passar a bola para o espaço nas "costas" da defesa adversária. Os passes para o espaço nas "costas" dos defesas causam-lhes sempre problemas, porque partem para uma posição desconfortável, tendo que rodar em direcção à sua própria baliza.

2) Através de cruzamentos. Os cruzamentos para as "costas" da defesa, especialmente para a zona central causam um desconforto enorme aos defesas. Na maioria dos casos, estes ao deslocarem-se em direcção à sua própria baliza, intervêm sobre a bola enviando-a para lá da linha final.

3) Através da acção de dribles. Os atacantes, ao optarem por uma situação de 1x1 na zona ofensiva, poderão retirar grandes dividendos, através de situações (de pontapés livres directos ou indirectos) muito vantajosas para a sua equipa.

4) Pressionando os defesas. Quando a bola é introduzida nas "costas" da organização defensiva, os atacantes devem pressionar constantemente os adversários (mesmo que estes cheguem primeiro), disputando com eles a bola, diminuindo-lhes o tempo e o espaço para a poderem jogar. Esta limitação (em termos de tempo e espaço), determina que a execução técnica tenha que ser perfeita, logo, se os defesas não estão confiantes da sua capacidade, frequentemente entram em "pânico". Neste sentido, embora pareça estranho, todos os defesas devem estar marcados por um atacante, os quais mesmo não tendo a certeza de chegar primeiro à bola, devem tentar disputá-la com o defesa adversário.

5) Rematando. Quanto mais uma equipa rematar, mais oportunidades tem de criar situações secundárias de remate. Algumas advêm de ressaltos e outras de pontapés de canto. As equipas devem estar preparadas para rematar em qualquer oportunidade, sobre esta pressão os defesas têm mais probabilidades de cometer erros e, originar mais situações de bola parada."

Observações: Não sei muito bem por que é que será útil a uma equipa saber por que métodos é que se podem obter mais lances de bola parada, mas Jorge Castelo parece pensar que sim. Dá-nos 5 formas de aumentar os lances de bola parada, e quase todos com coisas engraçadíssimas pelo meio. Acredita o professor, por exemplo, que a equipa deve tentar muitos passes para as costas dos defesas, pois estes sentem-se sempre desconfortáveis com isso. Um passe para as costas da defesa é, por isso, como um cisco no olho: é desconfortável e incomoda. Aliás, se após um passe para as costas dos defesas, esses defesas forem pressionados e não estiverem "confiantes da sua capacidade", são bem capazes entrar em pânico, como nos informa. Uma bola nas costas da defesa, seguida de pressão, é para os defesas como tentar escapar de um navio a naufragar. É claro que isso deve ser explorado por uma equipa. Conclui, por isso, o professor Jorge Castelo, que "embora pareça estranho, todos os defesas devem estar marcados por um atacante". Caro professor, não parece; é mesmo estranho. Se todos os defesas estiverem marcados por um atacante, quem é que faz o passe? E para quem? Para um atacante que estiver ao pé de um defesa, por estar a marcá-lo? É de mim ou há qualquer coisa nesta teoria que não bate certo? Como se não bastasse, Jorge Castelo acredita ainda que os atacantes devem forçar situações de 1x1, tal como "devem estar preparados para rematar em qualquer oportunidade". Não sei bem de que modo rematar serve para ganhar livres ou cantos, mas a ideia de que uma equipa deve rematar em qualquer oportunidade é suficientemente estúpida para que não a mencione. Então e se, por exemplo, se der uma situação de 2x0? É uma boa oportunidade para rematar, e, segundo Jorge Castelo, uma equipa deve rematar. Aproveitar a superioridade numérica não só não pode fazer tanto sentido, para o académico, como rematar, como ainda reduz a possibilidade de se ganhar uma bola parada. Formidável!

6. [pp.89]

"Os jogadores deverão tentar objectivar o golo, o maior número de vezes possível. Para isso é importante que estes reflictam correctamente a concepção e o método de jogo, previamente preconizado pela equipa."

Observações: Segundo o professor Jorge Castelo, portanto, uma equipa de futebol é uma espécie de cão com cio: qualquer que seja a situação, quaisquer que sejam as circunstâncias do jogo, o importante é "objectivar o golo". Eu diria que o académico, neste aspecto em particular, parece um velho jarreta a falar.

7. [pp.157] [Sobre os aspectos favoráveis da marcação homem a homem]

"Os aspectos favoráveis do método individual são os seguintes:

1) Possibilidade de se anular um jogador de grande capacidade táctico-técnica, por um jogador de menores recursos. Esta diferença de capacidades é compensada por outras características, tais como a perseverança, o empenho e a vontade, mas também pelo facto de os procedimentos defensivos serem mais fáceis de executar que os procedimentos ofensivos.

2) Estabelece missões facilmente compreendidas no plano táctico, por parte dos jogadores, pois, cada um pode concentrar a sua atenção e esforço num só adversário, numa só missão.

3) Transmite, quando é eficazmente aplicado, uma autoconfiança de extrema importância no desenrolar do jogo, porque a defesa ganha mais duelos do que perde. Simultaneamente verifica-se um desmerecimento por parte dos atacantes, que vão desacreditando das suas reais possibilidades.

4) Provoca um desgaste táctico-técnico, físico e principalmente psicológico aos jogadores sujeitos a este tipo de marcação, pois estão sujeitos de forma contínua e permanente a uma marcação impiedosa e agressiva. Mesmo nas situações em que o defesa perde momentaneamente o contacto com o atacante, este continua a reagir e a proceder, como se tivesse efectivamente marcado. Com efeito, após algum tempo de jogo, o atacante desenvolve nele próprio um constrangimento psicológico, que o leva a actuar como se tivesse marcado, quando na realidade não está. Estas situações são bem visíveis no comportamentos dos pontas-de-lança, que ao receberem a bola de costas para a baliza adversária, ao serem pressionados pelo defesa central, a devolvem quase de imediato ao companheiro em apoio frontal. Todavia, nos casos em que não estão pressionados têm a tendência de executar a mesma resposta táctico-técnica, em vez de rodarem e direccionar os seus comportamentos para a baliza adversária.

5) Reduz a iniciativa do adversários que está sob influência deste tipo de marcação, pois nunca tem espaço e tempo para exprimir as suas capacidades táctico-técnicas.

6) Consegue-se permanentemente um certo equilíbrio numérico em qualquer situação momentânea de jogo em qualquer espaço.

7) Potencializa-se a sua eficácia, quando utilizado, logo, após a equipa ter conseguido o golo. Aumenta-se assim, o carácter perturbador da situação, em que a equipa para além de sofrer o golo, está perante um obstáculo adicional, que se consubstancia por uma marcação mais agressiva e individualizada."

Observações: E quando se pensava que a jarretice não podia ir mais longe, eis que o professor nos surpreende. Eu chamaria atenção para os pontos 4) e 7), que consistem em argumentos sofisticadíssimos para a utilização deste método defensivo. Mas antes de falar deles, gostaria de falar de outras coisas. Para o professor Jorge Castelo, este é o método melhor para anular "um jogador de grande capacidade táctico-técnica", coisa de que, por exemplo, Maradona, um dos jogadores com maior "capacidade táctico-técnica" da História, discordava. Gostaria ainda de falar do substantivo "desmerecimento", coisa que acontece aos atacantes quando marcados individualmente (caro professor, não quereria antes dizer "esmorecimento"?), e do verbo "ter" em vez do verbo "estar", em frases como "como se tivesse efectivamente marcado" e "que o leva a actuar como se tivesse marcado, quando na realidade não está". Sem sombra de dúvida, uma boa prova da imensa categoria deste académico respeitado. Sigamos agora para o prometido. Acredita Jorge Castelo que a marcação ao homem desgasta psicologicamente o jogador que sofre essa marcação e, não satisfeito com isso, acredita também que esse desgaste dá lugar a um "constrangimento psicológico" que o leva a comportar-se em todas as ocasiões como se estivesse marcado. Significa isto que, para Jorge Castelo, um jogador de futebol, quando marcado em cima durante algum tempo, passa a comportar-se como o cão de Pavlov, reagindo à ausência da marcação do mesmo modo que reagiria à sua presença. Podemos, portanto, concluir que o enormíssimo académico tem um jogador de futebol em tão boa conta como um rato de laboratório, como alguém cuja capacidade de decisão é facilmente manipulável. Eu não sei que jogos o professor tem visto, mas eu não me lembro de nenhum avançado que, ficando inesperadamente isolado frente ao guarda-redes, voltasse para trás apenas porque não era normal dispor de uma situação como essa, estando mais habituado a outro tipo de comportamento. Este é, aliás, um bom exemplo daquilo que dizia ao início, acerca de as competências de um bom treinador dependerem acima de tudo de coisas que têm pouco a ver com conhecimentos futebolísticos. Se o professor Jorge Castelo procurasse aperfeiçoar os seus conhecimentos em áreas que nada têm a ver com o futebol, se soubesse, por exemplo, que um ser humano adulto e perfeitamente racional dificilmente responderia condicionadamente como o cão de Pavlov, não publicaria disparates como estes. Mais chocante ainda é achar que este método defensivo é especialmente eficaz a seguir a um golo obtido. Parece presumir o académico que defender ao homem, além de criar problemas de raciocínio aos adversários, ainda os desmotiva, sobretudo a seguir a situações em que a perda de motivação se torna mais plausível, como seja um golo sofrido. Além, portanto, de servir para transformar homens em asnos, defender ao homem é também útil para deixá-los melancólicos e abatidos. Permitam-me a analogia: defender ao homem, para o professor Jorge Castelo, é mais ou menos como um navio pirata em que os piratas, depois de pilharem os navios que abordam, não só embebedam os marinheiros do navio abordado, deixando-os incapazes de responder racionalmente, como também lhes levam toda a água potável, fazendo-os acreditar que não têm possibilidade nenhuma de sobreviver. É claro que um método defensivo deste tipo não dá hipóteses nenhumas. Perante tamanhos benefícios, nem sequer consigo perceber como é que caiu em desuso.

Enfim, já vai longa a amostra. O professor Jorge Castelo defende isto e muito mais. Para o que interessa, isto basta. Este senhor vai agora trabalhar num dos clubes mais importantes do país. E não publicou isto há 30 anos, como se poderia pensar. Publicou-o há 8, o que significa que dificilmente pensará de modo diferente. Para aqueles que defendem a aposta incondicional em académicos, o meu conselho é que é reflictam um pouco antes de falar. A academia não pode, obviamente, ser representada por um único exemplo, ainda que esse seja o mais reputado dos exemplos, mas também não pode, por si só, ser uma fonte de saber incontornável. A principal diferença do professor Jorge Castelo para o comum dos treinadores é a de ter reputação. Nos dias que correm, por mais disparates que se digam, por mais pateta que se seja, a reputação, o nome, os rótulos, e a capacidade de dar palmadinhas nas costas das pessoas certas, são os atributos mais importantes para se chegar longe. Em vez de se contratar competência, contratam-se aparências. O académico agradece, engorda os bolsos, acrescenta uma linha ao currículo, e os estúpidos continuam a bater-lhe palmas, quem sabe esperando que um dia os recompense o académico, lembrando-se deles em qualquer ocasião de necessidade.

18 comentários:

Miguel Nunes disse...

LOOOOOOOOOOL

A opinião q tenho sobre o Castelo pelo q oiço aqui e ali é péssima. Parece um tipo altamente ultrapassado e q vive duma imagem que nc provou. O seu tempo (qd provavelmente fez de Toni campeão no Benfica) já lá vai à mt.

Mas, a verdade é q nc o vi actuar no campo. De qq das formas, suponho que as ideias n venham da cabeça dele. Suponho q esteja ali só p tentar operacionalizar o q o Sá Pinto decidir. Mas, mesmo em relação a isso, não sei se será assim tão capaz...

Miguel Nunes disse...

ahhh, mas olha q estes livros da tanga sobre futebol são escritos só para vender. È por isso q nc li nenhum. Dele ou de outro autor qq.

Mota disse...

Caríssimo Nuno:
Subscrevo inteiramente tudo o que está escrito e fartei-me de rir com tanta barbaridade. Gostava era de entender, caso me possas ajudar qual será o papel do Sá Pinto no meio disto tudo...
Será esta uma decisão imposta pela direcção do SCP?(porque acham que o Sá não é suficientemente competente para operacionalizar o treino).
Ou será mesmo uma decisão que o Sá Pinto impôs à direcção porque ele próprio tem a consciência de que não é capaz de o fazer?...
Grande abraço.

Dejan Savićević disse...

como suspeitava outro zé guilherme.

João Mira disse...

Como é que alguém que escreve coisas como "embora pareça estranho, todos os defesas devem estar marcados por um atacante", pode ter tanta reputação?

Ainda estranho mais porque já li coisas com muita qualidade, escritas por pessoas que foram, supostamente, formadas por ele.

Mas adiante, é esperar que esteja lá só mesmo para operacionalizar. Mas nesse caso, que função caberá a Tiago Moutinho?

MM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MM disse...

"A sua competência depende de conhecimentos futebolísticos mas depende também de inteligência em bruto, bom senso, conhecimento prático, capacidade de reflexão, espírito crítico, etc."

Ideia é fundamental. Tudo o que envolva idealizar, teorizar, ou escolher, está dependente da inteligência do indivíduo que procure as ideias ou teorias certas para que possa ao mesmo tempo aplicá-las, ou praticar a simples acção de ter de escolher entre um grupo.
Tão importante quanto isto: as relações humanas dentro desse grupo. Algo totalmente dependente de qualidades como inteligência ou sensibilidade. Coisas não-exclusivamente dependentes de futebol. É esta uma razão para que alguns jogadores digam vez que outra "certa e determinada pessoa foi quem mais influência teve na minha carreira", sem que essa pessoa seja necessariamente um treinador.

Fiquei bastante intrigado por um comentário do Jorge D. no post do Lateral Esquerdo que também fala do agora adjunto do Sá Pinto. Julgo que deviam falar mais sobre o tema, algo que confunde quem não priva directamente com clubes, grupos de futebóis profissionais, treinos e outras que tais: a importância dos treinadores adjuntos.

Sinais contraditórios, com o exemplo da Premiership:

- Alex Ferguson entrega a condução dos treinos aos adjuntos, e em 2000 e qualquer coisa chamou para adjunto principal uma personalidade que encaixa num perfil teórico, não só mas também: Prof. Carlos Queirós. Os principais adjuntos do Manchester U. desde Queirós comungam do mesmo perfil que o Português apresenta? Claramente não.

- Villas-Boas, nunca jogou à bola. Foi adjunto uma série de anos e entrou no mundo do futebol a partir da condição de teórico / curioso / amante do jogo (outra característica fundamental para ser-se um treinador melhor que os demais); chega ao Chelsea e quem escolhe ou aceita para principal adjunto? Di Matteo, alguém que não conheço e que (que eu saiba) não partilha com o público as suas vsões ou entendimentos do jogo mas, alguém que em princípio não será dono de um perfil teórico ou que se perca em filosofias do futebol.

Filosofia essa que é fundamental porque sem as ideias certas não existe mais nada, e daí como o Nuno (pela 10ª vez) diz: a inteligência é obrigatória; acontecendo que não pode necessariamente (talvez) treinar-se. Ou se tem ou não se tem, mas sobre isto não estou muito certo.

Qual é então a real importância dos adjuntos? Podemos ter bons adjuntos só práticos e bons adjuntos só teóricos? Os treinadores deverão saber responder a partir dos seus próprios exemplos : aquilo que preferem.

Nuno, perdoa a correcção: quando se cita directamente um autor não é obrigatório ir ao nº da(s) página(s) mas se o fizeres então usa 'p.' para uma página singular e 'pp.' para um intervalo.
Isto caso não tenham existido mudanças nos tempos mais recentes.

MM disse...

Outro exemplo:

Porque razão muitos treinadores quando emigram fazem-no desacompanhados?

Boloni é um ex-jogador de futebol, fino médio consagradíssimo dentro dos relvados. Alguém que não obstante enquanto treinador aparenta dar bastante foco à 'teoria do futebol', se é que semelhante coisa existe. Guardiola idem, é um filósofo. O melhor que alguma vez existiu, porventura. Mas Guardiola não serve de exemplo porque não faço ideia se os seus adjuntos são gente com quem já trabalhava(ra) ou não.

Boloni vai para Portugal e entrega a decisão sobre quem serão os seus adjuntos a pessoas do Sporting: não fala Português quando imediatamente chega ao país e demora portanto algum tempo a perceber quem são aquelas pessoas. Este é um sinal de que os adjuntos não possuem necessariamente extrema importância.

Outros sinais existem do contrário. Enfim não sabemos. Só quem treina ou anda nos meandros do futebol saberá responder com precisão.

Nuno disse...

Fosga-se... LOOOOL até o "ter" em vez do "estar"... Nuno não sei se já o ouviste a comentar na Sport Tv, comentou mts jogos do Real Madrid, o gajo só desfila banalidades. Então estas passagens que transcreves fazem lembrar aqueles trabalhos chatos da escola onde se fazia "Introdução" e "Conclusão" com palavras caras e a enrolar só para ocupar mais espaço e cumprir os requisitos da professora, o gajo escreve escreve escreve mas não se lê nada de jeito.
"Para atacar eficazmente uma equipa deve encontrar a melhor maneira de dispor estrategicamente as suas unidades no campo de modo a coletivamente se superiorizar ao adversário e chegar ao objetivo final , o golo, consubstanciando a vitória na partida." também posso lançar um livro?
Do que me lembro dos seus comentários, tava sempre a dizer "mas o Real se quiser chegar ao golo vai ter de imprimir mais velocidade ao seu jogo". Lol forca Sporting

Cisto disse...

palavras caras ali não vi nenhuma e satisfaz-me o destaque dado pelo Nuno à incorrecção sintática deste so called académico.
Se o mundo académico do desporto (que desconheço) consagrar realmente o autor deste bizarro manual (ou deste manual com tamanhas bizarrias, o que vai dar ao mesmo), desejo-lhe umas rápidas melhoras. Parece-me que esse debate é mais interessante que o papel do Castelo na equipa do Sporting.

Anónimo disse...

Muito, mas mesmo muito bom!

Jorge Castelo será sempre um teórico,embora a sua teoria apenas seja por ele entendida. Sucesso neste SCP com Sá Pinto? Pode acontecer, sobretudo pelo Sá Pinto (e não o conheço enquanto treinador, mas acredito que seja melhor do que o que possa parecer).

Castelo criou uma aura em seu torno que cegou completamente quem o vem seguindo. É capaz de teorizar durante horas sobre a diferença entre um ovo estrelado e um ovo frito, sem que exista realmente alguma diferença. E isto enquanto patenteia a sua definição!

MM, como até referi no Lateral Esquerdo, procura ler sobre Francisco Silveira Ramos, e logo avistas a diferença. É talvez a pessoa que mais sabe do jogo e do treino em Portugal (podes até comparar com estes pequenos excertos que o Nuno colocou). Se puderes vê também coisas de Vítor Frade e Júlio Garganta (só para citar apenas alguns). Todos eles a milhas de Jorge Castelo.

Não implica que Castelo não saiba algumas coisas, certamente que sabe, até mais que nos, mas o reconhecimento que vem tendo é exagerado. Na minha opinião claro.

Abraço, Jorge D.

Miguel Nunes disse...

O Silveira Ramos esteve a ler o post no Lateral Esquerdo e diz que eu sei do que falo, mas que não devia deixar a simpatia influenciar o que escreve hehe

Miguel Nunes disse...

o q escrevo, queria eu dizer

Nuno disse...

PB, tenho alguma desconfiança da ideia de separar teorização de operacionalização. Não sei se alguém que, teoricamente, é tão mau, pode ter capacidades ao nível da operacionalização do treino que valham a pena. Isto porque me parece que uma coisa depende da outra.

Quanto ao livro, pode ser feito para vender, mas ainda assim o autor tem obrigatoriamente de defender o que lá está.

Mota, não faço ideia das razões pelas quais foi contratado. Se era para dotar a equipa técnica de maiores competências científicas, haveria muitos nomes melhores. O que é certo é que o Jorge Castelo tem reputação, e isso pode ter contado. Mas não faço ideia se terá sido o Sá Pinto, se terá sido a direcção a tomar a decisão.

João Mira, as pessoas competentes que o tiveram por professor de certeza que não se aproximam tanto em termos teóricos da influência do Jorge Castelo.

Pinto, já tinha escrito uma vez sobre o Jorge Castelo, e precisamente sobre a importância que ele dava à velocidade. Ele decorou meia-dúzia de frases feitas e depois aplica-as a tudo e mais alguma coisa. Como comentador, obviamente, é miserável.

Cisto, o que quis, precisamente, foi mostrar como aquele que é provavelmente o académico mais reputado na área do futebol em Portugal pode ser uma fraude tão grande. O que quis foi mostrar que a reputação, por maior que seja, não implica competência. Hoje em dia, cai-se no erro de achar que qualquer académico está melhor preparado do que quem não é académico. Isso é absolutamente falso. Como é falso pensar o contrário. Aliás, quando o Sá Pinto foi anunciado, muitos pseudo-treinadores acharam imediatamente reprovável, porque consideram que ele representa a velha escola, alguém que conhece o futebol por dentro, que vive o jogo com o coração, que se relaciona com as claques, etc., mas que não estudou. É parvo pensar que faltam competências ao Sá Pinto apenas por essa razão. Como é parvo achar que qualquer idiota que venha da academia tenha grandes competências. O José Guilherme e o Carlos Azenha, de quem todos esperavam muitíssimo, são bons exemplos disso. Mas há-os aos pontapés. Para mim, o mais importante num treinador é a sua capacidade para perceber o jogo. Se o perceber, saberá instruir-se como achar melhor, saberá ir buscar as pessoas certas para o ajudar, aprenderá a operacionalizar, etc.

Jorge D., tenho pena de não conhecer o Silveira Ramos. Há, no entanto, uma diferença que, desde logo, me parece fundamental, em relação ao Jorge Castelo, o não ter tanta apetência pelos holofotes. A reputação do Jorge Castelo construiu-se essencialmente pela visibilidade a que se foi entregando, por ir à televisão, por publicar livros (apesar do conteúdo), etc.. Como disse no texto, as palmadinhas nas costas das pessoas certas fazem milagres.

Anónimo disse...

Tive a oportunidade de ter esse senhor como professor e, não fiquei com boas recordações.

A maneira como organiza o entendimento do jogo, dividindo-o por subsistemas até faz algum sentido, mas escreve tão mal, que se afunda completamente no que diz, perdendo toda e qualquer coerência.

Tem uma reputação enorme tanto cá em PT como no estrangeiro, sendo várias vezes convidado para participar em cursos de treinadores lá por fora ( faltou a bastantes aulas por estar na Croácia, por exemplo).

Se de futebol, até pode perceber bastante, ainda que quando o passa para os livros revele bastante confusão, em tudo o resto sai a perder quando comparado com os restantes professores "daquela casa".

Em termos de relações humanas é horrivel, mostra constantemente uma imagem de desleixo, de arrogância, de que "eu sou o bom, o supra-sumo, e tudo o resto é zero".

Tem um desdém incrivel sobre os outros desportos, e a falta de húmildade que mostra no seu discurso impede-o de continuar a evoluir.

Não tenho dúvidas que pode ser útil, mas para isso tem de ser "metido no seu lugar",e estar no SCP com uma postura radicalmente diferente daquela que mostra constantemente aos seus alunos.


Cumps,

Miguel P.

Unknown disse...

Eu como não sou do vosso metier, prefiro não comentar, mas posso dizer que em Portugal, em muitas áreas, certas pessoas fazem as suas carreiras, como conceituados à conta da imprensa e dos contactos, independentemente da sua qualidade, ou do trabalho, pobre, que atrás de si deixam. Muitos inclusivamente se entitulam de prof. dotores de certas áreas, quando apenas dominam um aspecto muito particular dessa área, não se coibindo de dizer as maiores barbaridades em público, com uma aura de especialista que passa para os leigos como sendo verdadeira, mesmo que se limitem só a dizer banilidades e ideias do senso comum, por muito que sejam inverdades ...

Quanto à questão da defesa ao homem e do combate à capacidade psicológica dos adversários, penso que está subentendido, pelo menos para mim, que ele advoga a batota, a provocação gratuíta, a sarrafada, como forma de enervar os adversários, o que é perfeitamente anti-desportivo.

como disse não sou do vosso metier e portanto não me vou alongar a comentares coisas que me parecem bizarras, como a dos atacantes em vez de se desmarcarem e oferecerem linhas de passe a quem tem a bola, prefiram ir para cima dos defesas auto-marcando-se e deixando apenas a solução do biqueiro para a frente para as costas dos defesas ou a fuçanguice do 1-1 ou dos remates à Isaías (que saudades do profeta que nos irritava porque rematava de todo o lado, estragando 20 ataques por jogo, mas que divertia a malta com grandes golos).

Blogger disse...

Quando é que vocês se candidatam a adjuntos do SCP. Certamente terão mais competências do que o Porfírio.

Blessing disse...
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