Não tenho muito a dizer do clássico do passado fim-de-semana, a não ser que, embora emotivo, embora bem disputado, não foi propriamente bem jogado. Ambas as equipas arriscaram o menos possível, e o que acabámos por ter foi um jogo dividido, com muitas disputas de bola, muita luta, muito choque, e pouco futebol. O número de passes acertados foi certamente baixo, e as duas equipas preferiram sempre jogar no erro adversário. Ainda assim, nenhuma delas se entregou às evidências, procurando condicionar a posse adversária o melhor possível. Num jogo com estas características, diria eu, os detalhes são importantes, claro. E foi num detalhe, num lance de bola parada, que tudo se decidiu. Mas os detalhes não ocorrem apenas porque sim. O Benfica venceu num detalhe, mas foi também a equipa que mais fez para contar com a benesse dos "detalhes".
É evidente que a vitória podia ter sorrido a qualquer uma das equipas, e que, mesmo estando onze para onze, não houve uma superioridade significativa, em termos da quantidade de oportunidades de golo, dos encarnados. O resultado mais justo, mesmo sem contar com o que o Sporting fez após a expulsão de Cardozo, talvez até fosse o empate. Mas o jogo do Benfica, ainda que sem a qualidade desejável, procurou o mínimo de racionalidade. Fosse por a bola ter chegado mais vezes a Aimar do que a Matías Fernandez, fosse porque Witsel, Aimar e Gaitan se entenderam melhor entre eles, fosse porque os hábitos encarnados são diferentes, a verdade é que o futebol do Benfica foi menos precipitado. O Sporting nunca se interessou por construir fosse o que fosse. Apostou numa pressão alta, excessivamente condicionada pelas referências ao homem, a meu ver, e por conduzir os seus ataques após recuperações de bola, o mais rapidamente possível. Tudo o que vimos, do lado dos leões, foram solicitações dos homens mais adiantados, cruzamentos largos para a área, correrias de Capel, movimentos verticais de Elias e Schaars, e pouquíssima imaginação. É verdade que conseguiu criar algumas oportunidades nestas condições, mas também é verdade que não foi capaz, precisamente por causa deste tipo de decisões, de criá-las em condições minimamente favoráveis.
Como disse anteriormente, a diferença entre as equipas não se traduziu em número de oportunidades de golo. As melhores oportunidades que o Benfica criou foram ou de bola parada, ou após recuperações ou perdas do adversário (lances de Cardozo e de Rodrigo, por exemplo). Mas sentiu-se sempre que o Benfica chegava às imediações da área leonina em melhores condições, que trabalhava melhor os lances, que era mais criterioso, que se preocupava mais em fazer as coisas de modo racional. A sofreguidão leonina podia ter conduzido a outro resultado, até porque a racionalidade dos encarnados não foi assim tão concludente, mas a verdade é que essa mesma sofreguidão condicionou a equipa, e tem de ser introduzida na conversa sobre detalhes. O jogo decidiu-se num detalhe, sim, mas a própria estratégia de Domingos implicava a aceitação de um jogo decidido pela "lotaria" dos detalhes e deixava a equipa menos preparada para os mesmos.
Fala-se demasiado em detalhes, como se os detalhes merecessem uma análise à parte do resto do jogo. Mas a verdade é que, para que uma partida se decida num detalhe, algo tem de acontecer para que esses detalhes se possam verificar. A meu ver, o principal mérito do Benfica na partida foi precisamente o modo racional como tirou partido da sofreguidão do Sporting. Nem sempre o fez bem, obviamente, e tenho até dúvidas de que o tenha feito conscientemente. Mas fê-lo, nem que tenha sido apenas pelas características dos seus jogadores. Jogando com isso, puxou convenientemente o jogo para o tipo de decisões que mais lhe eram favoráveis, e fez pender os pratos da balança para o seu lado. O jogo foi, de facto, repartido em termos de oportunidades de golos, em termos de emoção junto às balizas, mas foi melhor controlado pelo Benfica. A decisão do mesmo através de um detalhe não pode por isso ser demasiado restrita. Decidiu-se num detalhe, sim. Mas um detalhe que o resto do jogo e o comportamento das duas equipas em campo potenciou.
P.S. Não se tem falado muito da ausência de Saviola do onze encarnado, e tem-se gabado o Benfica desta temporada mais do que me parece razoável. De facto, o melhor Benfica da época foi o dos primeiros jogos, altura em que o argentino ainda fazia parte das primeiras opções de Jorge Jesus. Como sempre disse aqui, a principal arma encarnada no primeiro ano de Jesus, aquilo que introduzia diversidade na equipa, eram as combinações curtas entre Aimar e Saviola, assim como a liberdade de que os dois gozavam no modelo de jogo. No segundo ano, Jesus procurou potenciar em excesso aquilo que a equipa já fazia bem, e deu menos liberdade à criatividade dos dois argentinos, evitando até, o mais possível, que os dois jogassem em simultâneo. Esta época acentuou apenas essa tendência. O Benfica deste ano ganhou alguma inteligência e capacidade de gestão de ritmos com os reforços (sobretudo Witsel, Bruno César e Nolito), mas perdeu ainda mais criatividade no último terço do terreno. Parece uma equipa menos dependente das correrias de outrora, menos interessada em jogar a uma velocidade altíssima, mais competente a gerir a bola em zonas baixas do terreno, mas é uma equipa menos forte a penetrar em blocos mais densos, menos imaginativa. Privar as pessoas daquilo de que Aimar e Saviola, juntos, são capazes, é hoje o maior crime de Jorge Jesus.
É evidente que a vitória podia ter sorrido a qualquer uma das equipas, e que, mesmo estando onze para onze, não houve uma superioridade significativa, em termos da quantidade de oportunidades de golo, dos encarnados. O resultado mais justo, mesmo sem contar com o que o Sporting fez após a expulsão de Cardozo, talvez até fosse o empate. Mas o jogo do Benfica, ainda que sem a qualidade desejável, procurou o mínimo de racionalidade. Fosse por a bola ter chegado mais vezes a Aimar do que a Matías Fernandez, fosse porque Witsel, Aimar e Gaitan se entenderam melhor entre eles, fosse porque os hábitos encarnados são diferentes, a verdade é que o futebol do Benfica foi menos precipitado. O Sporting nunca se interessou por construir fosse o que fosse. Apostou numa pressão alta, excessivamente condicionada pelas referências ao homem, a meu ver, e por conduzir os seus ataques após recuperações de bola, o mais rapidamente possível. Tudo o que vimos, do lado dos leões, foram solicitações dos homens mais adiantados, cruzamentos largos para a área, correrias de Capel, movimentos verticais de Elias e Schaars, e pouquíssima imaginação. É verdade que conseguiu criar algumas oportunidades nestas condições, mas também é verdade que não foi capaz, precisamente por causa deste tipo de decisões, de criá-las em condições minimamente favoráveis.
Como disse anteriormente, a diferença entre as equipas não se traduziu em número de oportunidades de golo. As melhores oportunidades que o Benfica criou foram ou de bola parada, ou após recuperações ou perdas do adversário (lances de Cardozo e de Rodrigo, por exemplo). Mas sentiu-se sempre que o Benfica chegava às imediações da área leonina em melhores condições, que trabalhava melhor os lances, que era mais criterioso, que se preocupava mais em fazer as coisas de modo racional. A sofreguidão leonina podia ter conduzido a outro resultado, até porque a racionalidade dos encarnados não foi assim tão concludente, mas a verdade é que essa mesma sofreguidão condicionou a equipa, e tem de ser introduzida na conversa sobre detalhes. O jogo decidiu-se num detalhe, sim, mas a própria estratégia de Domingos implicava a aceitação de um jogo decidido pela "lotaria" dos detalhes e deixava a equipa menos preparada para os mesmos.
Fala-se demasiado em detalhes, como se os detalhes merecessem uma análise à parte do resto do jogo. Mas a verdade é que, para que uma partida se decida num detalhe, algo tem de acontecer para que esses detalhes se possam verificar. A meu ver, o principal mérito do Benfica na partida foi precisamente o modo racional como tirou partido da sofreguidão do Sporting. Nem sempre o fez bem, obviamente, e tenho até dúvidas de que o tenha feito conscientemente. Mas fê-lo, nem que tenha sido apenas pelas características dos seus jogadores. Jogando com isso, puxou convenientemente o jogo para o tipo de decisões que mais lhe eram favoráveis, e fez pender os pratos da balança para o seu lado. O jogo foi, de facto, repartido em termos de oportunidades de golos, em termos de emoção junto às balizas, mas foi melhor controlado pelo Benfica. A decisão do mesmo através de um detalhe não pode por isso ser demasiado restrita. Decidiu-se num detalhe, sim. Mas um detalhe que o resto do jogo e o comportamento das duas equipas em campo potenciou.
P.S. Não se tem falado muito da ausência de Saviola do onze encarnado, e tem-se gabado o Benfica desta temporada mais do que me parece razoável. De facto, o melhor Benfica da época foi o dos primeiros jogos, altura em que o argentino ainda fazia parte das primeiras opções de Jorge Jesus. Como sempre disse aqui, a principal arma encarnada no primeiro ano de Jesus, aquilo que introduzia diversidade na equipa, eram as combinações curtas entre Aimar e Saviola, assim como a liberdade de que os dois gozavam no modelo de jogo. No segundo ano, Jesus procurou potenciar em excesso aquilo que a equipa já fazia bem, e deu menos liberdade à criatividade dos dois argentinos, evitando até, o mais possível, que os dois jogassem em simultâneo. Esta época acentuou apenas essa tendência. O Benfica deste ano ganhou alguma inteligência e capacidade de gestão de ritmos com os reforços (sobretudo Witsel, Bruno César e Nolito), mas perdeu ainda mais criatividade no último terço do terreno. Parece uma equipa menos dependente das correrias de outrora, menos interessada em jogar a uma velocidade altíssima, mais competente a gerir a bola em zonas baixas do terreno, mas é uma equipa menos forte a penetrar em blocos mais densos, menos imaginativa. Privar as pessoas daquilo de que Aimar e Saviola, juntos, são capazes, é hoje o maior crime de Jorge Jesus.
9 comentários:
"...de criá-las em condições minimamente favoráveis."
Oh Nuno, mais favorável do que as 2 oportunidades que o Elias teve em frente à baliza não há. Já não conto a 3ª oportunidade, porque essa requeria uma execução tecnica mais elevada, mas as 2 primeiras foram falhanços de amador.
Não desculpando a estratégia do Domingos, o facto de Matias se ter lesionado, condicionou muito o jogo da equipa, obrigando a queimar uma substituição logo na 1ª parte.
Nuno e porquê?
Este benfica não joga nada sequer parecido com aquilo que fazia em 2009/10. Nem 2010/11, tampouco, foi parecido com o de há 2 anos.
O treinador é o mesmo.
O que leva o mesmo treinador a numa temporada desenhar uma equipa que jogava de certa forma, e dois anos depois tomar outro tipo de opções que resultam num futebol bastante pior?
Saviola, não saiu. Está lá.
O treinador é também o mesmo.
A opção será, então, técnica e táctica.
Porquê?, sendo Jesus reconhecidamente um bom treinador de futebol.
Ps, as correrias e cruzamentos de Capel têm razão de ser; os segundos. Certa vez disseste que não compreendes porque haverá um jogador de cruzar para a área - cruzar só por cruzar, ainda que obedeca a treinos e algumas mecanizações; eu concordo, bastante, e também me faz confusão especialmente porque um jogador cruzando perde o controlo da bola e se da jogada nada resulta, ele terá feito algo inconsequente. Jogar em concreto com um colega junto à relva ou tentar aproximar-se da baliza com a bola é uma situação de muito mais controlo.
Mas Nuno, há jogadores que devem cruzar 15 vezes por jogo. O Capel é um deles. Pode não olhar, pode olhar, em corrida, mas também parado, os seus cruzamentos são qualquer coisa de meio-golo. Ainda no último jogo se viu novamente. Ele mete sempre a bola de forma em que o pânico criado na equipa adversária é assustador. Muito muito bom.
No jogo da Luz, deveria ter cruzado mais. Mas também não teve muito jogo na ala. Na 2ª parte apareceu mais mas só quando recuava; não era ir para o meio mas ir para o meio em xonas recuadas, fez isso 4 ou 5 vezes que vi eu. Numa delas até rodou sobre o corpo, deu ao lado no André Santos, o André Santos deu ao João Pereira e depois não lembro o que aconteceu. Mas acho que jogou com o Krilin, Krilin que pegou na bola tabelou com o Tsubasa fintou a Tartaruga Genial, aproximou-se do goleiro e disse, «Agora toma lá que já fostes», enquanto armou um remate que só foi interceptado por 2 membros da Academia dos Guerreiros do Espaço.
E isto é também algo que não entendo: o porquê de por vezes uma equipa estar notoriamente bloqueada sendo evidente a quem vê que bastaria 1 só elemento vir de uma parte qualquer do campo para desbloquear aquilo. Frequentemente, os mais próximos são os defesas. E no jogo vimos isso também: quantas vezes o Sporting avançava 4 metros para lá do círculo central e via-se sem opções. A linha de defesas centrais muito perto, logo atrás, os laterais mais ou menos envolvidos mas fora de acção e preocupados com outras coisas. E o André Santos e o Schaars muitas vezes sem saber o que fazer à bola.
Bastaria 1 dos centrais aparecer. Mas não, fica tudo bloqueado. O resultado é muito mau: dá uma imagem de impotência incrível.
Nuno não sou treinador, mas se fosse, diria aos meus jogadores: «Esqueçam tudo o que aprenderam até hoje, o verdadeiro apoio frontal é feito com os de trás». Subscreves?
Mike, as oportunidades do Elias, à excepção de uma, foram após a expulsão do Cardozo. Após esse momento, o jogo assumiu coordenadas diferentes, e o Sporting, bem ou mal, conseguiu estar mais perto do golo. Posso não ter sido suficientemente claro, mas a minha reflexão tentava abstrair-se de tudo o que aconteceu após a expulsão, dizendo que, até essa altura, apesar do equilíbrio, e apesar de a vantagem encarnada ter sido obtida num detalhe, tinha sido o Benfica a fazer mais e melhor, ainda que isso não se tivesse traduzido em maior número de oportunidades.
Quanto à lesão do Matías, muito sinceramente, acho que é também ela resultado de um esforço absurdo a que se submeteu o chileno. O chileno e não só. O Sporting defendeu excessivamente ao homem, e as preocupações defensivas tiraram discernimento ofensivo, na maior parte das vezes. O Matías lesiona-se após uma corrida atrás do Emerson, quando a equipa poderia ter solucionado o assunto se os médios não estivessem tão subidos no terreno e fossem eles a criar situações de superioridade numérica junto aos flancos. Depois, a influência do Matías, junto à linha, é francamente menor do que o seria no centro. É verdade que o melhor que o Sporting fez veio dele, mas também é verdade que foi muito pouco, e não me parece que fizesse grande diferença que ele permanecesse em campo. A equipa estava a jogar a uma rotação exageradíssima, e isso não ia mudar. Aliás, com o tempo, e com o que lhe estava a ser pedido, o próprio Matías acabaria esgotado.
MM, eu considero o Jesus um bom treinador. Mas só isso. Não é um treinador diferente, por exemplo. A meu ver, ele nunca percebeu verdadeiramente o que o Saviola e o Aimar podiam dar, quando jogavam juntos. Sempre que podia, mesmo na primeira época, evitava que os dois jogassem juntos. Com o passar do tempo, isso foi sendo quase um princípio dele, até chegar ao ridículo de o Saviola ser o terceiro avançado da equipa. Na minha opinião, Jesus quer e sabe como fazer a equipa adquirir certas coisas. Isso é bom. Mas não me parece que saiba mais do que isso. Não me parece que dê a devida importância aos atributos intelectuais de um jogador, e isso é o que, para mim, distingue um bom treinador de um excelente treinador.
Sobre o Capel, tenho uma opinião particular. Não me agrada nada o seu futebol. É demasiado irracional. Mas reconheço que, para aquilo que Domingos pretende, é ideal. O Domingos quer velocidade, quer cruzamentos para a área, quer irracionalidade, quer vertigem, garra, suor. O Capel é óptimo para isso. Mas já o disse no início da época: cruzar por cruzar não é grande coisa. Quando os sportinguistas se queixavam de falta de eficácia, eu explicava que as oportunidades que andavam a criar resultam sobretudo de correrias pelo flanco e cruzamentos à toa, e que isso é sempre uma lotaria. Entretanto, o Sporting lá foi ganhando uns jogos, quase sempre pela margem mínima, e sem grande racionalidade. E as pessoas pensavam que tinha melhorado alguma coisa. Não melhorou. O Sporting está apenas mais confiante, e isso é fruto dos resultados. Mas o futebol praticado continua igual ao que era ao início: muito aos atropelos. E a eficácia não melhorou. Apenas teve a sorte que nas primeiras três jornadas não teve. O problema deste tipo de futebol, no entanto, é precisamente a incerteza da lotaria. E o que o Capel faz é contribuir ainda mais para um jogo assenta nessa lotaria.
Quanto aos defesas, não subscrevo. Os médios parece que não sabem o que fazer à bola porque o Sporting cria pouquíssimos apoios frontais. Uma equipa moderna, em 433, faz os extremos vir para dentro e baixar, para dar um apoio frontal. Os extremos do Sporting estão sempre abertos. O avançado tem ordens para não sair de entre os centrais. Os médios mais ofensivos, sem bola, fazem movimentos verticais para entrar nas costas da defesa, mas não procuram os espaços entre linhas. O problema do Sporting é não criar soluções de passe no meio. É uma equipa veloz, que procura essencialmente aproveitar o mais rapidamente possível os espaços de que goza, mas uma equipa que tem muitas dificuldades em criar espaços para progredir e penetrar no bloco adversário.
Por acaso a 1ª oportunidade do Elias foi 3m antes da expulsão e a 2ª oportunidade foi 2m depois. Foram as 2 mais perigosas e que ele desperdiçou como se fosse um amador.
Será que se as tivesse concretizado estaríamos a dizer que o SLB se uniu e defendeu bem o resultado? (esta pergunta nem se refere a ti mas sim a todos os comentadores que o disseram)
O que eu queria dizer quanto ao Matias, é que nos limitou ainda mais em opções de jogo. Ficamos sem o unico jogador que consegue jogar bem entre linhas. O Carrillo tem uma capacidade individual optima e até para a idade que tem não é mau de todo em termos de tomada de decisão, embora tenha muito que aprender.
Com certeza que se o Matias tivesse ficado em campo e o SLB tivesse a vencer, o Carrilo teria entrado mas não para o lugar dele. Teria entrado para o lugar do Carriço, por exemplo. Ao termos ficado sem o Matias, ficamos limitados.
Digo-te com muita certeza e sem arrogância: o SLB teve muita sorte em termos ficado sem o Rinaudo!!!
Nuno compreendo perfeitamente enquanto espectador o que dizes sobre o Domingos: aquilo que nao se ve no Sporting. Harmonia, controlo. Mas com a ressalva: o Sporting de Braga nao era uma equipa de repeloes, correrias e garra. Era muito solido, nao obstante o SC Braga mais visivel ser aquele dos jogos mais importantes e nesses, frequentemente, era suposto adoptar uma postura expectante, sendo que uma equipa expectante que nao seja um completo caos aparentera muitas vezes controlo. Um pouco como o Andebol ... os ataques circulam muito rapidamente e de forma algo frenetica enquanto as defesas deslocam-se em bloco ora para a esquerda ou direita, de forma mais serena. Passe a comparaco que mais nao serve do que imagem.
Sobre o Capel, compreendo tambem, numa perspectiva de jogador e futebol ideal. Partilho dessa perspectiva, mas a realidade e uma coisa muito diferente. Diria que irracionalidade, rapidez e cruzamentos a toa seriam coisas do genero ... um jogador tecnicamente muito fraco que faria uso da sua velocidade para em correrias fazer uma coisa qualquer que valesse pouco ou nada. Ha muitos jogadores assim. O Capel nao e isso, claro. E um jogador forte, embora nao seja um jogador que faca parte do teu conceito optimo de futebol.
Sobre os cruzamentos, subscrevo. Foi um texto muito bom esse, cujas ideias fazem completo sentido. A realidade, todavia, e que sendo um campo de 11 uma coisa de tamanho gigante, cruzar e a forma de meter a bola perto da baliza, dos avancados, e numa forma que complicara a vida aos defesas: mesmo para os defesas, jogar com os pes e bem mais facil do que jogar com a cabeca. Ha so um elemento no campo para quem os cruzamentos sao optimos, em principio: guarda-redes. A bola vem de longe, pelo ar, eles podem usar as maos, o que e uma situacao bastante confortavel.
O Sporting esta muito mais confiante, como dizes, e isso e determinante no jogo e nos resultados. Melhorara muito, esperemos. Mas aquilo que hoje faz, da ja muito boas garantias. Pessoalmente, estou algo expectante pelo jogo de Roma e jogo em casa frente ao FCP. Esses jogos deverao mostrar o melhor Sporting, em condicoes diferentes. Veremos o que eles nos trazem.
Nuno,
Duas questões:
1 - Não achas que a saída do Saviola se deveu, não a falta de confiança do treinador no jogador, mas antes á colocação de mais um médio em campo? Se sim, não concordas com isso? Se não, achas que o Saviola seria a escolha ideal jogando com apenas um avançado em zonas centrais?
2 - Não achas que o Rodrigo tem características semelhantes ao Saviola? Não achas que tem um potencial suficientemente significativo para ser aposta? E, já agora, que também se entende bem com o Aimar?
Agora sobre o Sporting.
Discordo, em grande parte, da tua análise (não pondo em causa que tens conhecimentos incomparavelmente superiores). Não sei se o colectivo do Sporting tem sido tão irracional assim. Especialmente nalguns jogos.
Dou-te um exemplo: viste a partida em Alvalade contra a Lázio (enquanto o jogo esteve onze para onze)? O que é que achaste desse jogo?
Nessa partida, por exemplo, o Sporting pareceu-me sempre calmo, confiante e racional. Não permitiu situações de perigo aos italianos (acho que condicionámos muito bem a posse de bola deles), e sempre que teve a bola, soube-a circular com (algum) critério e qualidade.
Ah, e não sei se o Domingos quer um jogador com as características do Capel para o tipo de colectivo que preconiza. Porque não pensarmos que tem apostado neste tipo de jogo porque tem jogadores para o potenciar (como o Diego)?
Porque não pensar que quando o Jeffren voltar ao activo, a equipa não terá alterações significativas (porque o próprio Domingos percepcionará de uma forma distinta o futebol que o Sporting pode apresentar)?
Também não acho que os extremos baixem muito, para zonas centrais, trabalhando para vir receber. Os do Benfica, por exemplo, fazem-no muito. Vi um jogo do Besiktas, há pouco tempo, e surpreendi-me com o Quaresma a fazer repetidamente essa movimentação, também.
Mas instinto no mesmo ponto, achas que com Jeffren (muitíssmo mais evoluído nesse aspecto que Capel), o próprio Domingos não passará a dar ordens para que o façam (pelo menos mais regularmente)?
S.L.
Mike Portugal diz: "Será que se as tivesse concretizado estaríamos a dizer que o SLB se uniu e defendeu bem o resultado? (esta pergunta nem se refere a ti mas sim a todos os comentadores que o disseram)"
Possivelmente não. As opiniões no final da partida dependem essencialmente dos resultados. Uma equipa pode fazer um jogo exemplar e ter azar num único lance. No final, vão dizer que a equipa foi ineficaz e defendeu mal.
Sobre o Rinaudo, claro, é um bom jogador e fez falta ao Sporting. Não mudaria em praticamente nada a forma como a equipa atacou, mas teria outra presença no meio-campo.
Gonçalo Correia diz:
"Não achas que a saída do Saviola se deveu, não a falta de confiança do treinador no jogador, mas antes á colocação de mais um médio em campo? Se sim, não concordas com isso? Se não, achas que o Saviola seria a escolha ideal jogando com apenas um avançado em zonas centrais?"
Sim, acho. Mas isso só demonstra a pouca importância que o Jesus lhe dava. Quando aventei a possibilidade de o Witsel entrar no onze de Jesus, achei sempre que o sacrificado ia ser ou o Aimar (porque o Jesus já tinha dado mostras de não o utilizar em simultâneo com o Witsel), ou um dos alas, ou o próprio Cardozo. De resto, não, não concordo nada com isso. Isto é, se era para sacrificar um avançado, podia-se sempre sacrificar o Cardozo, que não oferece tantas coisas como o Saviola. Mas podia manter o Saviola numa função diferente, numa ala, até. Tirá-lo da equipa é uma estupidez. É o melhor avançado a jogar em Portugal.
"Não achas que o Rodrigo tem características semelhantes ao Saviola? Não achas que tem um potencial suficientemente significativo para ser aposta? E, já agora, que também se entende bem com o Aimar?"
Não. Talvez. E não. Isto é, acho o Rodrigo completamente diferente do Saviola. Não podiam ser mais diferentes. As principais virtudes do Rodrigo, a meu ver, são as movimentações nas costas dos defesas, as diagonais, etc. É rápido e tem uma capacidade de desmarcação interessante. Mas não é um jogador inteligente como o Saviola, capaz de aparecer entre linhas, capaz de tabelar, capaz de perceber os colegas com facilidade. Muito sinceramente, o Rodrigo nunca me entusiasmou. E ainda não entusiasma. É um jogador interessante para jogar no limite do fora-de-jogo, e isso é uma mais-valia, mas é um jogador a quem ainda falta muito, mas mesmo muito, para ser um jogador de equipa como o é o Saviola. E, apesar de lhe reconhecer algum potencial, não sou nada optimista quanto à sua evolução nesse aspecto. Quanto à combinação com o Aimar, o único com quem o Aimar combina minimamente bem, actualmente, é o Witsel. Mas comparar isso ao que ele fazia com o Saviola é quase criminoso. Os dois argentinos jogavam de olhos fechados e chegavam a andar à procura um do outro no campo, pois sabiam que duas tabelas seguidas dava uma situação de golo.
Sobre o Jéffren, de facto, talvez permita ao Sporting outras coisas. Mas não me parece que seja uma questão de jogadores. O meu exemplo é o Pereirinha. Sempre que jogou, foi o melhor em campo. Mas de longe. E é o único extremo do Sporting que pensa colectivamente. O Domingos, ao contar preferencialmente com o Capel e o Carrillo já mostrou o que pretende de um extremo: pretende soluções individuais, desequilíbrios individuais, ir à linha e cruzar, tirar um ou dois defesas do caminho sozinhos. Ao Jéffren vai pedir o mesmo. E o Jéffren não é assim tão diferente do Capel. Tem maior variedade de soluções, mas é principalmente um jogador de acções individuais.
Quanto à racionalidade do Sporting, ainda não vi um jogo em que as principais armas da equipa não fossem a vontade de ganhar, o suor, e a concentração defensiva. Contra a Lázio, não foi um jogo assim tão bem jogado. Defendeu bem, desde o início, e isso é de facto uma das coisas boas da equipa. Não é disso, porém, que estou a falar. Acho que a equipa, a defender, sabe o que faz, e fá-lo bem. A atacar é que não. É sempre para a frente, sempre para a frente, sempre para a frente. Há pouca lateralização, pouca paciência, pouca recepção e devolução, raramente se procuram os apoios frontais pelo chão, os movimentos dos médios são essencialmente verticais, para aparecer na área ou para disputar segundas bolas, a intenção colectiva é sobretudo fazer a bola chegar rapidamente aos homens da frente, cruzar à toa lá para cima. Isso dá para sufocar os adversários, dá para manter índices de concentração altos, dá para mostrar empenho. O que não me parece que chegue é para ganhar sistematicamente, apesar das várias vitórias seguidas da equipa.
Enviar um comentário