sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Certezas (24)

Dizer que faz lembrar Kaká é pouco. Foi o jogador que mais me impressionou no recente mundial de sub-20, e impressionou-me sobretudo por conseguir misturar no seu jogo as competências técnicas com um nível de maturidade muitíssimo aceitável para a sua idade. Não era o jogador mais vistoso da sua selecção, nem aquele sobre quem recaíam maiores expectativas. Mas pareceu-me sempre o mais esclarecido de todos eles. Quando faltava o espaço, argumento necessário para que outros pudessem brilhar, a sua clarividência mantinha-se intacta. Se não o tinha, arranjava-o. Sempre de cabeça levantada, muito rápido a decidir e a executar, e veloz também a conduzir a bola, pareceu sempre poder modificar as coordenadas de um jogo, assim lhe apetecesse. Foi exactamente o que fez na final do torneio, onde por fim lhe foi prestado o devido reconhecimento. É apesar dessa final, e apesar das razões pelas quais acabou por ser reconhecido, que acho que o seu valor deve ser entendido. Marcar golos e contribuir de forma evidente para o sucesso da sua equipa foi apenas o somar de muitas outras coisas. Gostei sobretudo do privilégio pelo passe vertical, sempre a procurar os apoios frontais dos colegas, e a preocupação em solicitar os companheiros nos espaços entre linhas. Não há muitos jogadores, mesmo os mais dotados tecnicamente e os mais arrojados, que optem tantas vezes pelo passe vertical rasteiro para progredir. Normalmente, quando os espaços estão fechados, a opção é circundar o bloco adversário, fazer a bola chegar aos extremos de modo a que estes desequilibrem individualmente ou de modo a que, esperando pelo lateral, possam criar situações de superioridade numérica no flanco. Ele, porém, pareceu sempre perceber que há mais soluções do que as óbvias. E pareceu sobretudo perceber que progredir pelo centro é sempre uma opção válida, desde que se saiba como. Tivesse nos colegas companheiros capazes de entender o jogo tão bem como ele e teria dado ainda mais nas vistas. Não sei o que o futuro lhe reserva, principalmente porque o futuro de jogadores que se destacam pelos seus atributos intelectuais é sempre mais incerto do que o futuro de outro tipo de jogadores. Acho que tem qualidade mais do que suficiente para vir a ser dos melhores jogadores do mundo daqui a uns anos, mas não sei se isso acontecerá incondicionalmente. Enquanto que jogadores mais individualistas e mais vistosos podem vingar em praticamente qualquer equipa, desde que, para isso, mereçam a confiança do treinador que apanharem, jogadores como este, jogadores que, apesar de tecnicamente evoluídos, fazem uso sistemático das suas qualidades colectivas e privilegiam acima de qualquer outra coisa a criatividade, estarão sempre dependentes do tipo de colectivo em que acabarem inseridos. Vejamos então que caminhos desbravará o talento de Óscar...

4 comentários:

Miguel Nunes disse...

Fiquei maluco com o miúdo logo no 1º jogo que vi dele. Não é comum precipitar-me e mandar opiniões logo na 1a impressão, mas o Óscar está 10 niveis acima de todos os outros, e para além de ter reparado logo, n perdi tempo a referenciá-lo lá no lateral esquerdo.

Quem pagar, é certo que vai ser rentável!

Miguel Nunes disse...

E curioso que tb comparei o estilo ao de kaka

Nuno disse...

Sim, é verdade. Foi aliás no Lateral-Esquerdo que ouvi falar dele em primeiro lugar.

Quanto à rentabilidade, depende da equipa que o adquirir e daquilo que lhe vier a ser pedido. Ao contrário de outros jogadores brasileiros da sua geração, como o Neymar, o Lucas, o Coutinho e o Dudu, se não for para uma equipa que pense colectivamente, pode ter problemas de afirmação. Esperemos que não.

Mike Portugal disse...

Nuno,

Um conselho: não escrevas textos ao estilo "Wall of text", ou seja, tudo pegado e sem espaços entre paragrafos, que fica muito dificil de ler.

Quanto ao conteudo do post: Também acho que está ali um diamante. Veremos se cresce da forma correcta. Era bom se viesse para a academia de Alvalade.