O Positivismo da Matemática
Há quem considere que o futebol, como outras coisas, ganha em ser explicado através de aplicações matemáticas. Pessoalmente, acho a matemática engraçada, mas irrita-me a tendência que os matemáticos têm para se intrometer em domínios que não lhes dizem propriamente respeito. A era científica em que vivemos autoriza-o, é certo, e está instituído, para todos os efeitos, a ideia de que a matemática tem uma abrangência universal inequívoca. Discordo disto. A ideia que subjaz a todo o pensamento moderno é a de que a matemática tem propriedades descritivas universais, que tudo o que existe tem um fundamento matemático e que, possuindo as competências matemáticas relevantes, tudo o que existe pode ser convertido em matemática. Sem certezas, diria que essa ideia vem já das ideias positivistas do século XIX, assentando na premissa fundamental de uma concepção materialista do mundo. Bastaria, porém, um olhar crítico para algumas das teorias científicas mais consensuais para ver o quanto fica entregue à aleatoriedade. O mundo não é exacto e não pode ser exclusivamente descrito por uma coisa exacta; o paradigma da geometria euclidiana, por exemplo, nunca teria permitido o advento da física moderna. Sem mudanças de paradigma, sem alterações decisivas no modo como descrevemos o universo, não haveria progresso. A matemática, enquanto ferramente científica para aceder ao mundo, tem o problema de lhe permitir o acesso de um modo todavia dogmático. Sou da opinião que a matemática tem, obviamente, uma importância extraordinária em todos os domínios científicos, mas que a presunção da sua universalidade é um equívoco histórico de todo o tamanho. Por exemplo, de que modo pode a matemática explicar, traduzir, ou, de qualquer maneira relevante, ajudar a perceber uma obra de arte? Haveria maneira melhor de Rubens expressar o seu modo de ver o mundo do que pintando o que pintou? Pode converter-se um poema em equações matemáticas que o expliquem satisfatoriamente?
Esta ideia de que a matemática é a linguagem universal do universo é uma ficção que depende não só de uma concepção ultra-materialista daquilo que paira à nossa volta como do equívoco de pensar que o que paira à nossa volta é absolutamente independente da criatura que somos. Se tivesse que dizer em que é que o homem se distingue das demais criaturas, diria que seria pela possibilidade de linguagem. Por linguagem entendo aqui algo muito vasto, um conjunto de mecanismos não apenas linguísticos, mas de abstracção e conceptualização. A matemática é uma consequência dessa possibilidade e não algo que exista antes dela. Vemos matemática no universo não porque ela exista no universo, mas porque aprendemos a ver o universo matematicamente. A presunção de que todos os fenómenos ganham em ser explicados matematicamente é tola precisamente porque ignora esta ordem de ideias. A matemática, como a capacidade de verbalizar ideias, como as várias linguagens artísticas, como tantos outros meios de descrever o mundo, não tem prevalência sobre nada nem possui universalidade nenhuma. Aliás, nenhum progresso matemático é exclusivamente matemático; depende sempre dos progressos daquilo em que se insere e das coisas com que partilha o espaço, depende de progressos conceptuais, de progressos linguísticos, etc.. A matemática serve, isso sim, como todas as outras coisas, para nos expressarmos sobre o mundo. E sendo verdade que a matemática, em certos domínios, é a melhor ferramenta que temos para explicar coisas, noutros domínios não tem grande autoridade. Certos fenómenos ganham em ser explicados matematicamente; outros não. E outros até perdem. Feita esta introdução de natureza controversa, queria passar para o caso do futebol, que a meu ver é bem mais parecido com um poema do que com um fenómeno astronómico.
Ábacos
Certos iluminados creêm, como o disse logo no início, que a matemática pode explicar o futebol de um modo bastante profundo e completo. A única explicação que possuo para justificar tamanha imbecilidade é a crença errada na pretensa universalidade da matemática, coisa que procurei destruir acima. A alternativa seria acreditarem, ao contrário do que faço, que o futebol é mais parecido com um fenómeno físico do que com um fenómeno humano, e em relação a isso não sei bem como reagir. Sempre que se justicam factos de um jogo de futebol com estatísticas ou explicações matemáticas de qualquer ordem, fico com a impressão de que as pessoas que o fazem pensam que o futebol é praticado por máquinas, e que um conjunto de fórmulas serve para descrever o que se passa em campo. Onde eu vejo seres humanos, decisões inesperadas, juízos errados, precipitações, acaso, essas pessoas vêem números, vectores, conjuntos de coordenadas, e equações. Tal como para explicar um poema preciso de tentar interpretar intenções, preocupações, crenças acerca do mundo, escolha de palavras, etc., para explicar um fenómeno futebolístico preciso de tentar interpretar coisas humanas do mesmo tipo, intenções, decisões, erros de avaliação, preocupações, etc.. O que os matemáticos fazem, perante um jogo de futebol, é negligenciar-lhe a dimensão humana e fazer cálculos com o que é materialmente palpável. Tal como só poderiam dizer de um poema (ou de uma peça musical, já agora, uma vez que a música é muitas vezes estupidamente pensada como a mais matemática das artes) trivialidades quantificáveis, como medições de sílabas ou de compassos, só podem dizer de um jogo de futebol trivialidades que se meçam. A matemática, em futebol, pode, quando muito, ter a relativa utilidade de ajudar a perceber tendências, ou a de quantificar intervenções. Jamais servirá para justificar ou avaliar o que quer que seja. Em fenómenos científicos, causas são explicações. E, como tal, medir causas é justificar os fenómenos por elas causados. Em fenómenos de outro tipo, fenómenos humanos como o futebol, o que causa um facto não é necessariamente o que melhor o explica. Em futebol, causas não são explicações, isto é, acontecimentos físicos não explicam as acções dos jogadores. Munidos de um ábaco extraordinário com que acham que resolvem todos os problemas, estes druidas modernos atiram os dados mensuráveis de um jogo de futebol para dentro de um caldeirão e, mexendo bem, crêem possível extrair deles uma poção mágica qualquer. Não extraem nada, diga-se, senão gráficos irrelevantes, continhas de algibeira e a banalidade de somatórios sem sentido. Aqui vai uma ideia: talvez o ábaco não seja a melhor ferramenta para descobrir o que quer que seja acerca de um jogo de futebol. Talvez, talvez.
Alambiques
O processo de extracção de sentido de um jogo de futebol, como de outro fenómeno humano qualquer, é bastante mais complexo - convenhamos - do que a destilação de qualquer bebida. Os matemáticos, ao proporem a racionalização de um jogo através de um conjunto de contas, acham que não. Para eles, a matemática funciona como um alambique providencial através do qual obtêm o significado correcto de um conjunto de estímulos visuais arbitrários. Medem acontecimentos, contabilizam ocorrências, catalogam números, juntam tudo numa trituradora especial, aplicam-lhe uns perlimpimpins quaisquer em forma de fórmulas matemáticas, e obtêm gráficos mirabolantes, com várias cores, pouco perceptíveis, mas visualmente muito apelativos. O problema é que a distância entre um jogo de futebol e o sentido que ele possa ter não depende da precisão e da minuciosidade com que se alambica esse jogo. Por mais meticuloso que se seja, por maiores que sejam os cuidados, por mais afinados que sejam os critérios de selecção de dados e por maior que seja o conjunto dos dados seleccionados, um jogo jde futebol jamais pode ser explicado recorrendo a um alambique. O problema do uso da matemática para interpretar um fenómeno como o futebol tem a ver com isso, tem a ver com a sua utilização enquanto alambique. Acredita-se que se trata de algo com potencialidades incríveis, capazes de modificar quimicamente uma matéria-prima para extrair dela a sua essência. Não se extrai nada de razoavelmente interessante, como é óbvio. Pior do que usar o ábaco para descobrir significado num jogo de futebol, é usá-lo como se fosse um alambique moderníssimo, capaz de chegar onde a interpretação humana, essa coisa medonha e tão pouco hábil, nunca pode chegar. Aqui fica outra ideia: talvez o alambique não ajude tanto a perceber um jogo quanto o mais simples dos raciocínios.
Alquimistas
O que esta gente das matemáticas providenciais faz não é por isso diferente do que faziam os alquimistas, e consiste mais ou menos na ideia absurda de achar que, através de um qualquer processo químico insondável, é possível transformar metais vulgares em ouro. Todos aqueles que acreditam na universalidade da matemática são, à sua maneira, alquimistas. Acham que existe algo, matemática ou alquimia, que tem a capacidade de transformar coisas sem sentido em coisas com sentido. O que não percebem é que a aquisição de sentido não é um processo de transformação química, mas o resultado elaborado de um conjunto de descrições. Esta gente acha que um conjunto complexo de acontecimentos, como seja um jogo de futebol, é uma espécie de barro que, se devidamente moldado, se transforma necessariamente numa única peça de olaria. Estão enganados, claro. O produto final depende da forma em que é moldado, e um pedaço de barro pode originar variadíssimas coisas. A interpretação de um jogo de futebol depende das descrições que se fizer desse jogo, não de aritmética alguma. Não há ouro nenhum a extrair da vulgaridade dos metais em que consistem os dados empíricos de um jogo. Achar que existe um processo alquímico privilegiado para aferir o verdadeiro sentido de um jogo de futebol, e achar que a matemática é tudo o que o alquimista precisa para tal, é uma idiotice. Aqui fica mais uma ideia: futebol não é alquimia e talvez, mas só talvez, fazer da matemática a alquimia essencial de um analista não seja a forma mais inteligente de raciocinar sobre um jogo de futebol.
Astrologia
O que resulta de tudo isto é que fazer deste método absurdo de interpretação uma ciência não tem qualquer cabimento. A matemática aplicada ao futebol é uma ciência tão exacta como a astrologia. É engraçada, mostra relações, faz continhas, mas é estúpida. A astrologia, enquanto ciência, tem vários problemas. Normalmente, as pessoas não acreditam nos astrólogos porque o trabalho deles lhes parece charlatanice, ou porque acreditar na astrologia implicaria acreditar na não existência do livre-arbítrio, ou porque depende de uma certa áurea mística, etc.. A meu ver, esses são problemas laterais. O maior problema da astrologia é a inadequação daquilo que é ao seu objecto de estudo. No fundo, a única coisa que a astrologia precisaria de fazer para se tornar credível seria justificar que o critério de explicação do comportamento humano pelo posicionamento dos planetas não é arbitrário. O problema da astrologia é essencialmente este, a arbitrariedade em que consiste pretender estudar a psicologia humana através de contas com dados astronómicos. Aliás, a arbitrariedade vai ainda mais longe e aquilo que determina todas as contas é o posicionamento relativo dos planetas no dia em que se nasce. Mas nada há que justifique que esse seja o momento certo para perceber o alinhamento dos planetas relevante para a formação do carácter de uma pessoa. Por que razão é que esse momento é mais relevante que o momento da concepção, por exemplo? Como é que se explica que o alinhamento dos planetas no dia do nascimento tenha preponderância na formação do carácter da pessoa e o alinhamento no primeiro dia de aulas dessa pessoa não tenha? Estas são as perguntas que genuinamente se deviam fazer aos astrólogos. É que toda a ciência que praticam é baseada em decisões arbitrárias deste tipo. Para mim, não é necessariamente apenas a presunção de que comportamentos humanos podem ser explicados por fenómenos astronómicos que é ridícula, mas sim a arbitrariedade em que essa presunção se funda. O mesmo se passa em relação à presunção de que comportamentos humanos podem ser explicados pela matemática. Essa presunção depende da decisão arbitrária de achar que o conjunto de acontecimentos num jogo de futebol tem preponderância para aferir o sentido desse jogo. Os matemáticos que acham que um jogo de futebol se explica matematicamente não são bem apenas matemáticos; são astrólogos. Aqui fica uma ideia final: a astrologia é capaz de não ser a ciência mais indicada para falar de futebol.
Há quem considere que o futebol, como outras coisas, ganha em ser explicado através de aplicações matemáticas. Pessoalmente, acho a matemática engraçada, mas irrita-me a tendência que os matemáticos têm para se intrometer em domínios que não lhes dizem propriamente respeito. A era científica em que vivemos autoriza-o, é certo, e está instituído, para todos os efeitos, a ideia de que a matemática tem uma abrangência universal inequívoca. Discordo disto. A ideia que subjaz a todo o pensamento moderno é a de que a matemática tem propriedades descritivas universais, que tudo o que existe tem um fundamento matemático e que, possuindo as competências matemáticas relevantes, tudo o que existe pode ser convertido em matemática. Sem certezas, diria que essa ideia vem já das ideias positivistas do século XIX, assentando na premissa fundamental de uma concepção materialista do mundo. Bastaria, porém, um olhar crítico para algumas das teorias científicas mais consensuais para ver o quanto fica entregue à aleatoriedade. O mundo não é exacto e não pode ser exclusivamente descrito por uma coisa exacta; o paradigma da geometria euclidiana, por exemplo, nunca teria permitido o advento da física moderna. Sem mudanças de paradigma, sem alterações decisivas no modo como descrevemos o universo, não haveria progresso. A matemática, enquanto ferramente científica para aceder ao mundo, tem o problema de lhe permitir o acesso de um modo todavia dogmático. Sou da opinião que a matemática tem, obviamente, uma importância extraordinária em todos os domínios científicos, mas que a presunção da sua universalidade é um equívoco histórico de todo o tamanho. Por exemplo, de que modo pode a matemática explicar, traduzir, ou, de qualquer maneira relevante, ajudar a perceber uma obra de arte? Haveria maneira melhor de Rubens expressar o seu modo de ver o mundo do que pintando o que pintou? Pode converter-se um poema em equações matemáticas que o expliquem satisfatoriamente?
Esta ideia de que a matemática é a linguagem universal do universo é uma ficção que depende não só de uma concepção ultra-materialista daquilo que paira à nossa volta como do equívoco de pensar que o que paira à nossa volta é absolutamente independente da criatura que somos. Se tivesse que dizer em que é que o homem se distingue das demais criaturas, diria que seria pela possibilidade de linguagem. Por linguagem entendo aqui algo muito vasto, um conjunto de mecanismos não apenas linguísticos, mas de abstracção e conceptualização. A matemática é uma consequência dessa possibilidade e não algo que exista antes dela. Vemos matemática no universo não porque ela exista no universo, mas porque aprendemos a ver o universo matematicamente. A presunção de que todos os fenómenos ganham em ser explicados matematicamente é tola precisamente porque ignora esta ordem de ideias. A matemática, como a capacidade de verbalizar ideias, como as várias linguagens artísticas, como tantos outros meios de descrever o mundo, não tem prevalência sobre nada nem possui universalidade nenhuma. Aliás, nenhum progresso matemático é exclusivamente matemático; depende sempre dos progressos daquilo em que se insere e das coisas com que partilha o espaço, depende de progressos conceptuais, de progressos linguísticos, etc.. A matemática serve, isso sim, como todas as outras coisas, para nos expressarmos sobre o mundo. E sendo verdade que a matemática, em certos domínios, é a melhor ferramenta que temos para explicar coisas, noutros domínios não tem grande autoridade. Certos fenómenos ganham em ser explicados matematicamente; outros não. E outros até perdem. Feita esta introdução de natureza controversa, queria passar para o caso do futebol, que a meu ver é bem mais parecido com um poema do que com um fenómeno astronómico.
Ábacos
Certos iluminados creêm, como o disse logo no início, que a matemática pode explicar o futebol de um modo bastante profundo e completo. A única explicação que possuo para justificar tamanha imbecilidade é a crença errada na pretensa universalidade da matemática, coisa que procurei destruir acima. A alternativa seria acreditarem, ao contrário do que faço, que o futebol é mais parecido com um fenómeno físico do que com um fenómeno humano, e em relação a isso não sei bem como reagir. Sempre que se justicam factos de um jogo de futebol com estatísticas ou explicações matemáticas de qualquer ordem, fico com a impressão de que as pessoas que o fazem pensam que o futebol é praticado por máquinas, e que um conjunto de fórmulas serve para descrever o que se passa em campo. Onde eu vejo seres humanos, decisões inesperadas, juízos errados, precipitações, acaso, essas pessoas vêem números, vectores, conjuntos de coordenadas, e equações. Tal como para explicar um poema preciso de tentar interpretar intenções, preocupações, crenças acerca do mundo, escolha de palavras, etc., para explicar um fenómeno futebolístico preciso de tentar interpretar coisas humanas do mesmo tipo, intenções, decisões, erros de avaliação, preocupações, etc.. O que os matemáticos fazem, perante um jogo de futebol, é negligenciar-lhe a dimensão humana e fazer cálculos com o que é materialmente palpável. Tal como só poderiam dizer de um poema (ou de uma peça musical, já agora, uma vez que a música é muitas vezes estupidamente pensada como a mais matemática das artes) trivialidades quantificáveis, como medições de sílabas ou de compassos, só podem dizer de um jogo de futebol trivialidades que se meçam. A matemática, em futebol, pode, quando muito, ter a relativa utilidade de ajudar a perceber tendências, ou a de quantificar intervenções. Jamais servirá para justificar ou avaliar o que quer que seja. Em fenómenos científicos, causas são explicações. E, como tal, medir causas é justificar os fenómenos por elas causados. Em fenómenos de outro tipo, fenómenos humanos como o futebol, o que causa um facto não é necessariamente o que melhor o explica. Em futebol, causas não são explicações, isto é, acontecimentos físicos não explicam as acções dos jogadores. Munidos de um ábaco extraordinário com que acham que resolvem todos os problemas, estes druidas modernos atiram os dados mensuráveis de um jogo de futebol para dentro de um caldeirão e, mexendo bem, crêem possível extrair deles uma poção mágica qualquer. Não extraem nada, diga-se, senão gráficos irrelevantes, continhas de algibeira e a banalidade de somatórios sem sentido. Aqui vai uma ideia: talvez o ábaco não seja a melhor ferramenta para descobrir o que quer que seja acerca de um jogo de futebol. Talvez, talvez.
Alambiques
O processo de extracção de sentido de um jogo de futebol, como de outro fenómeno humano qualquer, é bastante mais complexo - convenhamos - do que a destilação de qualquer bebida. Os matemáticos, ao proporem a racionalização de um jogo através de um conjunto de contas, acham que não. Para eles, a matemática funciona como um alambique providencial através do qual obtêm o significado correcto de um conjunto de estímulos visuais arbitrários. Medem acontecimentos, contabilizam ocorrências, catalogam números, juntam tudo numa trituradora especial, aplicam-lhe uns perlimpimpins quaisquer em forma de fórmulas matemáticas, e obtêm gráficos mirabolantes, com várias cores, pouco perceptíveis, mas visualmente muito apelativos. O problema é que a distância entre um jogo de futebol e o sentido que ele possa ter não depende da precisão e da minuciosidade com que se alambica esse jogo. Por mais meticuloso que se seja, por maiores que sejam os cuidados, por mais afinados que sejam os critérios de selecção de dados e por maior que seja o conjunto dos dados seleccionados, um jogo jde futebol jamais pode ser explicado recorrendo a um alambique. O problema do uso da matemática para interpretar um fenómeno como o futebol tem a ver com isso, tem a ver com a sua utilização enquanto alambique. Acredita-se que se trata de algo com potencialidades incríveis, capazes de modificar quimicamente uma matéria-prima para extrair dela a sua essência. Não se extrai nada de razoavelmente interessante, como é óbvio. Pior do que usar o ábaco para descobrir significado num jogo de futebol, é usá-lo como se fosse um alambique moderníssimo, capaz de chegar onde a interpretação humana, essa coisa medonha e tão pouco hábil, nunca pode chegar. Aqui fica outra ideia: talvez o alambique não ajude tanto a perceber um jogo quanto o mais simples dos raciocínios.
Alquimistas
O que esta gente das matemáticas providenciais faz não é por isso diferente do que faziam os alquimistas, e consiste mais ou menos na ideia absurda de achar que, através de um qualquer processo químico insondável, é possível transformar metais vulgares em ouro. Todos aqueles que acreditam na universalidade da matemática são, à sua maneira, alquimistas. Acham que existe algo, matemática ou alquimia, que tem a capacidade de transformar coisas sem sentido em coisas com sentido. O que não percebem é que a aquisição de sentido não é um processo de transformação química, mas o resultado elaborado de um conjunto de descrições. Esta gente acha que um conjunto complexo de acontecimentos, como seja um jogo de futebol, é uma espécie de barro que, se devidamente moldado, se transforma necessariamente numa única peça de olaria. Estão enganados, claro. O produto final depende da forma em que é moldado, e um pedaço de barro pode originar variadíssimas coisas. A interpretação de um jogo de futebol depende das descrições que se fizer desse jogo, não de aritmética alguma. Não há ouro nenhum a extrair da vulgaridade dos metais em que consistem os dados empíricos de um jogo. Achar que existe um processo alquímico privilegiado para aferir o verdadeiro sentido de um jogo de futebol, e achar que a matemática é tudo o que o alquimista precisa para tal, é uma idiotice. Aqui fica mais uma ideia: futebol não é alquimia e talvez, mas só talvez, fazer da matemática a alquimia essencial de um analista não seja a forma mais inteligente de raciocinar sobre um jogo de futebol.
Astrologia
O que resulta de tudo isto é que fazer deste método absurdo de interpretação uma ciência não tem qualquer cabimento. A matemática aplicada ao futebol é uma ciência tão exacta como a astrologia. É engraçada, mostra relações, faz continhas, mas é estúpida. A astrologia, enquanto ciência, tem vários problemas. Normalmente, as pessoas não acreditam nos astrólogos porque o trabalho deles lhes parece charlatanice, ou porque acreditar na astrologia implicaria acreditar na não existência do livre-arbítrio, ou porque depende de uma certa áurea mística, etc.. A meu ver, esses são problemas laterais. O maior problema da astrologia é a inadequação daquilo que é ao seu objecto de estudo. No fundo, a única coisa que a astrologia precisaria de fazer para se tornar credível seria justificar que o critério de explicação do comportamento humano pelo posicionamento dos planetas não é arbitrário. O problema da astrologia é essencialmente este, a arbitrariedade em que consiste pretender estudar a psicologia humana através de contas com dados astronómicos. Aliás, a arbitrariedade vai ainda mais longe e aquilo que determina todas as contas é o posicionamento relativo dos planetas no dia em que se nasce. Mas nada há que justifique que esse seja o momento certo para perceber o alinhamento dos planetas relevante para a formação do carácter de uma pessoa. Por que razão é que esse momento é mais relevante que o momento da concepção, por exemplo? Como é que se explica que o alinhamento dos planetas no dia do nascimento tenha preponderância na formação do carácter da pessoa e o alinhamento no primeiro dia de aulas dessa pessoa não tenha? Estas são as perguntas que genuinamente se deviam fazer aos astrólogos. É que toda a ciência que praticam é baseada em decisões arbitrárias deste tipo. Para mim, não é necessariamente apenas a presunção de que comportamentos humanos podem ser explicados por fenómenos astronómicos que é ridícula, mas sim a arbitrariedade em que essa presunção se funda. O mesmo se passa em relação à presunção de que comportamentos humanos podem ser explicados pela matemática. Essa presunção depende da decisão arbitrária de achar que o conjunto de acontecimentos num jogo de futebol tem preponderância para aferir o sentido desse jogo. Os matemáticos que acham que um jogo de futebol se explica matematicamente não são bem apenas matemáticos; são astrólogos. Aqui fica uma ideia final: a astrologia é capaz de não ser a ciência mais indicada para falar de futebol.
22 comentários:
existem neste texto pelo menos duas falácias.
a primeira é a de que a matemática ignora a aleatoridade.
a segunda é a de que as pessoas que usam a matemática para analisar o futebol (e toda a gente sabe a quem se estava aqui a referir) o façam de maneira absolutista ao invés de a encararem como instrumento auxiliar de diagnóstico de determinado valor (certamente superior ao que o autor deste texto lhe dará).
quanto aos restantes parágrafos, acho que devem ter sido giros de escrever.
A matemática é usada com sucesso no futebol, por exemplo, para prever lesões, cargas de treinos, tendências de jogadores para fazer certas ações, etc...mas não é usada como uma certeza absoluta, uma vez que existe a tal componente humana que (ainda) não é quantificável.
confesso que não li o teu artigo todo, mas deixo-te aqui uma análise ao quadro "o massacre dos inocentes" do rubens (em pdf). pelo menos não deixes de dar uma vista de olhos no que é dito a partir da página 4.
http://www.jedalcapital.com/userfiles/image/periz%20ingl.pdf
boa leitura :)
El Mariachi (ou Jay, como preferires), o que deixaste não é bem uma análise. É um parecer técnico, cujo objectivo é validar a autoria do quadro. Mas o que não percebi foi com que intenção o fizeste. É que não há nem uma vírgula de interpretação no artigo. Há a tentativa de mostrar como as figuras podem ser alinhadas, como perfazem rectângulos ou círculos, como se agrupam, etc.. Nada disso é interpretação. Ou seja, é como verificar quantos ataques uma equipa conduziu pela direita, mas não tirar daí outra conclusão de que preferiu atacar pela direita. Isso não é interpretar; é verificar factos. A matemática serve para verificar factos (em jogos de futebol como em arte), mas dificilmente servirá para interpretar. E a interpretação é que é o sumo disto tudo.
Nuno, a matemática, nomeadamente a estatistica, vai para alem dos factos. É capaz de identificar tendências (que são um conjunto de factos), que é algo muito importante quando pretendes avaliar alguma coisa, como por exemplo, um jogador que conheces pouco. Ou seja, aqui a estatistica permite tirar algumas conclusões (ou interpretações) baseada em factos.
Mike Portugal, a estatística permite identificar coisas. Qualquer conclusão é feita à posterior. Por exemplo, se tiveres o número de remates, os golos, os golos falhados, as assistências, etc. de um avançado, não podes fazer uma avaliação minimamente aceitável desse jogador. Isto é, pelo número avultado de golos não podes concluir que esse jogador é um finalizador nato. Isto é uma conjectura. Uma conjectura tão arbitrária como dizer que Deus existe. Precisas sempre de perceber como e por que razões esses números aconteceram, e isso nenhumas estatísticas to darão. As estatísticas mostram factos e, quando analisadas, podem ajudar a perceber tendências. Jamais poderão servir para perceber razões.
Mas tu não tens só esse tipo de estatisticas. Tens aquelas que são mais "invisiveis" aos olhos do adepto mais comum, como por exemplo, nº de vezes que o jogador se movimenta ao 1º poste, nº de vezes que um jogador escapa à marcação, nº de decisões correctas com bola, nº de movimentações correctas de desmarcação, quantas vezes consegue evitar o fora-de-jogo, nº de jogadas que prefere fazer sozinho versus nº de jogadas em que usa os companheiros para progredir, etc...
Tudo isto pode ser usado para identificar as grandes tendências de um jogador e não sendo eu um grande entendido do assunto, tenho a certeza que há mais.
Caro Nuno, então afirmas que Deus não existe?
Quanto ao artigo, no fundo utilizaste 1000 palavras para dizer uma coisa que apenas seriam precisas poucas mais de 50 talvez e ficaria muito melhor para alguns iluminados que aparecem aí perceberem.
Cumprimentos
http://www.blogger.com/comment.g?blogID=3061874516406858974&postID=5359073648078723243&isPopup=true
Reyes6 eu até achei o artigo curto. Faltou falar sobre Hermenêutica, mas percebe-se que foi propositado para não tornar o texto mais longo.
A parte sobre Astrologia é a mais forte no texto, e a que melhor ilustra o ponto de vista do mesmo.
O exemplo da música é bastante útil. Muito me enerva que se diga que "música é matemática" e coisas desse género (bem sei que Dylan definiu a sua música como "mathematical music" mas ele estava a falar de outra coisa). A matemática diz que "Blues" se expressa numa estrutura de acordes I-IV-V (normalmente de 7ª) e que a denominada "blue note" é na verdade um acidente na escala pentatónica e outros disparates deste género. Blues é quando a música te vira do avesso e não sabes se hás-de rir ou chorar.
O Barcelona faz em média 624 passes por jogo, dos quais o Xavi faz 201. Fixe, e daí?
Batalheiro,
"O Barcelona faz em média 624 passes por jogo, dos quais o Xavi faz 201. Fixe, e daí?"
Que queres dizer com isso? Que a estatistica é inutil ou que tu é que não sabes o que fazer com ela?
A estatística é insuficiente para explicar uma actividade tão complexa como o futebol. Cada acção tem um contexto especifico, único e até irreplicável.
Mas nem era isso que eu queria dizer. Acho que há coisas bem mais interessantes num jogo de futebol do que contar passes.
Batalheiro,
A estatistica não "diz" que pretende explicar o futebol. Tens que ler o que escrevi de novo. A estatistica encontra TENDÊNCIAS. E as tendências podem ser usadas para avaliar, sabendo que é uma avaliação que ficará incompleta e que carece de observação humana. É só isso.
Mike,
Se calhar eu é que não me expliquei bem. A estatística pode ser uma ferramenta que ajuda a perceber um determinado fenómeno. Não discuto isso. No entanto, existe quem use a estatística (e outras ferramentas) de uma forma dogmática, ou não indo tão longe, dando-lhe mais importância do que aquela que tem.
A mim não me interessam dados estatísticos. Interessam-me as pequenas narrativas que nascem antes, durante e principalmente depois dos jogos. Sem isso, o futebol é uma coisa bastante enfadonha, absurda, e cada vez mais embebida de um mercantilismo atroz.
Bom, talvez eu é que esteja deslocado nesta discussão... não me revejo nesta tendência para sobre-analisar tecnicamente tudo. Às vezes o Aimar passa a bola ao Saviola porque eles são amigos. Porque se entendem desde os 15 anos. Talvez o Picasso tenha pintado 20 quadros seguidos em tons de azul porque se lhe acabou o vermelho.
Reduzam o futebol a uma série de dados estatísticos e têm o Carlos Queiroz.
O que importa aqui realçar é que no domínio do futebol, o texto está cheio de razão: a estatística não explica nada. É muito útil, é porventura indispensável mas, não explica nada. Para nós, adeptos, pouco interesse tem. Temos olhos, vemos os jogos e sabemos o que se passa, não sendo necessário como diz o Batalheiro saber-se o nº exacto de passes que o jogador X fez ou o nº exacto de desarmes que o jogador Y fez. Todo esse conjunto de dados estatísticos tem profunda importância (imagino) mas, para os treinadores. Não para nós. E terá para eles importância porque mais não fosse, se não tivesse, não se socorroriam dela. Clubes como o Manchester, Barça, Real e se calhar todos, hoje, ou já há algum tempo, possuem departamentos encarregues somente disso mesmo: contar por números, acto por acto, acção por acção, tudo aquilo que os jogadores fazem em campo. Ora, por algum motivo o farão. Que uso dão à informação? Não faço a mais pequena ideia, mas alguma coisa será.
Dito isto, igualmente cheios de razão estão o Cisto e o Mike: ninguém - ou aquele que deduz-se ser o 'alvo' deste texto - se usa da estatística para explicar o que quer que seja. O Filipe não faz isso. O Filipe apresenta a estatística - que por si só já é qualquer coisa de extraordinário - mas, usa-se dela como auxílio para qualquer coisa. Avança os números, e avança a sua opinião. Faz ambas. O que ele não faz é: valorar. E é isto que incomoda algumas pessoas. Não digo que seja este o 'problema' do Nuno, mas é uma possibilidade; O Nuno lá saberá se assim é ou não. Falta no Filipe aquela dispensável 'qualidade' de dizer 'este é melhor do que o outro', e 'aquele não vale nada' ou o 'Manuel Machado não pesca nada de futebol'.
Isso de facto o Filipe não faz, ou faz muito pouco. E ainda bem, porque é um sinal de inteligência e um sinal que as motivações por trás daquilo que faz são as certas. Em última análise, é também por isso que o "Jogo Directo" é um sítio de consulta obrigatória e um sítio que produz conteúdos de excelência.
Tal qual, já agora, o "Entre 10", e o Nuno, porque as análises que aqui são feitas não são menos do que exímias.
Goste-se ou não do estilo, o Nuno compromete-se com o seu padrão, e compromete-se de forma total. Dá-se a esse trabalho. Para quê? Para que entre outras coisas venham aqui sugerir que os 'textos são muitos longos'. Melhor seria lerem os textos e concordassem ou discordassem dos seus conteúdos.
Isto, claro está, quando os textos não insultam ninguém. Quando insultam então subscrevo: são longos demais, ainda que tenham somente 2 ou 3 linhas ...
Exemplo:
http://jogodirecto.blogspot.com/2011/05/porto-guimaraes-estatistica-e-opiniao.html
http://jogodirecto.blogspot.com/2011/05/porto-guimaraes-redes-de-passes.html
Exemplo completamente aleatório. Estatística e Opinião à final da Taça tida há uns meses atrás. Onde é que a opinião se limita à subtracção de conceitos a partir das tendências estatísticas que o próprio Filipe identifica? Em momento algum. Nunca. Da mesma forma que encontramos muito poucos elementos valorativos. Dos que encontramos, somente 1/3 se focam no 'negativo'. Isto, meus caros, é fenomenal. E julgo que o Nuno reconhece-lo-á. Arrisco dizer que o Nuno é adepto do entendimento do Filipe mas tem vergonha de afirmá-lo, ou sente-se ameçado por ele, ou usa-o como forma de estímulo. Mas isto já sou eu a inventar, como é evidente.
Abraços ao Mike, ao Cisto, ao Nuno, a todos, e a mim, e o Rinaudo. Viva o Sporting. Abaixo todos os seus rivais, com especial relevo para a merda do Benfica, e uma santa noite a todos.
Só algo importante que faltou dizer: a Matemática é a mãe da abstracção, ou do pensamento abstracto. Estatística, é outra coisa. A Matemática expressa-se essencialmente por números, a sua linguagem é essa mas, é somente linguagem. E é por isso que as folhas têm quadradinhos e não têm linhas. Porém, a compreensão de conceitos é a coisa mais abstracta que pode haver.
Exemplo:
A Matemática não conta o nº de vezes que a bola uma vez largada da mão ... cai no chão. Isso faria eu. Não, o que a Matemática faz é ensinar-nos porque é que a bola cai no chão, e porque é que a bola cairá sempre no chão, independentemente de quem a largue e do chão para o qual a larguemos. Se a Matemática fosse alguma coisa sequer parecida com estatística ou contabilidade, caros amigos ... seria Educação Física, e todos - os rapazes pelo menos - teriam nela as notas sempre máximas. Não é assim, justamente por exigir capacidade abstracção: forma mais pura e desafiante de entendimento que existe. E é por isso, também, por norma, que as raparigas dão-se melhor nela.
Deste modo, até por isto, quer-me parecer que o 'alvo' do Nuno não é o correcto, porque o Filipe não desenvolve exercícios de matemática. Contabiliza coisas, passes, cortes, cruzamentos, jogadas de ataque, movimentos, et cetera. Coisas que dão um trabalhão desmesurado, mas coisas que não exigem muito da sua formação em Matemática.
MM será este ano que o Sporting ganha alguma coisa?
Não,,, ahahahha
Cisto, ninguém disse que a matemática ignora a aleatoriedade. Mas os matemáticos que acham que a matemática tem potencialidades explicativas universais acreditam que a matemática tem poder explicativo sobre a aleatoriedade. Daí não haver falácia alguma.
Quanto à segunda falácia, não tenho nada contra pessoas que usam a matemática como "instrumento auxiliar de diagnóstico". Tenho contra pessoas que usam a matemática para explicar tudo, mesmo que digam que a usam apenas como "instrumentos auxiliares de diagnóstico", e contra aqueles que, influenciados pelo "instrumento auxiliar de diagnóstico", são incapazes de ter opiniões que não se subordinem a ele. É contra esses que este texto se destina.
Mike Portugal diz: "Mas tu não tens só esse tipo de estatisticas. Tens aquelas que são mais "invisiveis" aos olhos do adepto mais comum, como por exemplo, nº de vezes que o jogador se movimenta ao 1º poste, nº de vezes que um jogador escapa à marcação, nº de decisões correctas com bola, nº de movimentações correctas de desmarcação, quantas vezes consegue evitar o fora-de-jogo, nº de jogadas que prefere fazer sozinho versus nº de jogadas em que usa os companheiros para progredir, etc..."
Mike, nenhuma dessas estatísticas é útil por si só. O que interessa, ou o que devia interessar, numa análise não é o número de vezes que um jogador se movimenta ao primeiro poste, ou o número de vezes que escapa à marcação, ou o número de decisões correctas, ou número de vezes que consegue evitar o fora-de-jogo, ou o número de jogadas que prefere fazer sozinho. O que interessa, ou devia interessar, é o porquê de cada uma dessas acções. É por isso que a estatística não serve para nada. As vezes que procurei fazer medições de acções, preocupei-me sempre em analisar cada acção sob a perspectiva da causa dessa acção. Não vale de nada saber que um jogador, por exemplo, consegue escapar muitas vezes à marcação, se a principal razão para isso seja a deficiente desorganização defensiva do adversário. E é isso que a matemática, ou a estatística, ou o que quer que seja que lide com números, não pode explicar. É um problema, como procurei defender, de critério. A matemática preocupa-se, por definição, com critérios quantitativos. E esses são os critérios que menos importância têm numa análise séria de um jogo.
Reyes6 diz: "Caro Nuno, então afirmas que Deus não existe?"
Reyes6, afirmo que dizer que Deus existe é uma conjectura. Assim como afirmaria que dizer que Deus não existe é uma conjectura.
"Quanto ao artigo, no fundo utilizaste 1000 palavras para dizer uma coisa que apenas seriam precisas poucas mais de 50 talvez e ficaria muito melhor para alguns iluminados que aparecem aí perceberem."
Chama-se argumentar.
E quanto ao Busquets, não há nem primo dele, para a sua posição. Quer dizer, talvez houvesse, se o Mourinho se dedicasse a trabalhá-lo bem.
Batalheiro, o teu exemplo sobre música é adequadíssima. Anda por aí muita gente que acha que a principal virtude da música de Mozart são as suas propriedades matemáticas. Dá vontade de dar com um pau nessas pessoas.
"Às vezes o Aimar passa a bola ao Saviola porque eles são amigos. Porque se entendem desde os 15 anos. Talvez o Picasso tenha pintado 20 quadros seguidos em tons de azul porque se lhe acabou o vermelho.
Reduzam o futebol a uma série de dados estatísticos e têm o Carlos Queiroz."
Subscrevo inteiramente.
Eu afirmo que Deus não existe. Se existisse tinha um blog e um perfil no facebook. lol
Nuno,
Concordo que as estatisticas não são uteis por si só. Mas quando as combinas (eu não sei fazer isso mas há quem saiba) consegue traçar um perfil de tendencias sobre um jogador, consegues saber como ele reage mais vezes a determinado evento. Se tiveres esses numeros e acompanhares uma visualização presencial do jogador, é mais facil de perceber se é um jogador que te pode interessar do que se só usares a observação. Simplesmente porque há detalhes que o "olho" esquece.
Mike Portugal diz: "Concordo que as estatisticas não são uteis por si só. Mas quando as combinas (eu não sei fazer isso mas há quem saiba) consegue traçar um perfil de tendencias sobre um jogador, consegues saber como ele reage mais vezes a determinado evento."
Mike, eu, pelo contrário, não conheço ninguém que o saiba fazer bem. Aliás, todos os que conheço que o tentam acabam negativamente influenciados pelos números que observam. A pessoa que tentou - e friso o tentar - uma abordagem estatística o menos influenciada pela natureza quantitativa do exercício possível fui eu, nos vários exercícios do género que fiz. E, repara, foram coisas feitas só para um jogador, dando apenas atenção às suas acções com bola. É francamente redutor, ainda assim. Tiveram a única virtude de se preocupar com as causas das acções e não com as acções em si, que é algo que mais ninguém faz, mas ainda assim não passaram de exercícios muitíssimo rudimentares.
"Simplesmente porque há detalhes que o "olho" esquece."
Pois, o problema é esta conclusão. Ao contrário de ti, acho que o que o "olho" esquece é francamente menos importante do que os vícios de interpretação das coisas que o "olho" não esquece. Os matemáticos estão muito preocupados com o facto de não conseguirmos medir com exactidão todos os dados e de, por isso, não sermos rigorosos na análise. E esquecem-se que isso é um problema praticamente irrelevante, quando é todo o método que utilizam e defendem que está errado.
Boas,
Se puderem, adicionem o Sporting Visto Por Nós à vossa lista, na barra lateral. Estamos em http://svpn.blogspot.com/
Obrigado!
Cumprimentos...
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