quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

As Trivialidades de Carlos Manuel

Carlos Manuel, ex-jogador de futebol de alguma reputação, treinador modesto e comentador assíduo de jogos de futebol, é um bom exemplo de como ter sido jogador de futebol não é condição prévia para poder falar sobre o jogo. Muito menos o é para ter emprego relacionado com o jogo. As suas opiniões - esquecendo a sua obsessão com Vukcevic, que faz adivinhar um ódio particular que só as crianças, os frustrados e os psicóticos possuem - são invariavelmente fracas e erradas. Hoje, quando Carlos Manuel comentava o jogo que opunha o Benfica ao Olhanense, percebi também que são triviais. A trivialidade de que quero falar aqui ocorreu sensivelmente a meio da primeira parte: Toy recebeu um passe na esquerda, sem qualquer apoio por perto, e Maxi Pereira, entrando com agressividade em excesso, cometeu uma falta desnecessária. A opinião de Carlos Manuel foi de que Maxi tinha feito bem, independentemente de ter sido ou não falta, pois é dever de todo o jogador estar o mais perto possível do portador da bola, de modo a não o deixar pensar. A trivialidade da coisa é quase obscena. E só não merece maior protesto porque, além de trivial e de fazer parte das ideias preconcebidas da grande maioria dos que pensam que percebem alguma coisa de futebol, é absolutamente absurda. Trata-se de um preconceito e de uma generalização sem qualquer fundamento.

Se é evidente que, quanto mais perto o defesa estiver, menos tempo o portador da bola tem para pensar, não é menos evidente que menor capacidade de reacção tem também o próprio defesa. Estar perto do portador da bola pode fazer com que este tenha menos tempo para pensar, mas também retira tempo e espaço de manobra a si próprio. Além disto, é importante perceber ainda que esta não é uma teoria geral e depende muito das características do portador da bola. Se se trata de um jogador tecnicamente muito evoluído, estar sempre em cima dele pode ser especialmente errado. Do mesmo modo, é preciso ver o lance em si. Se se trata - como se tratava - de um lance em que o portador da bola não tinha qualquer apoio próximo e estava junto à bandeirola de canto, aproximar-se dele e assumir uma postura agressiva é francamente desnecessário.

Carlos Manuel - que acabou de dizer, na sequência do golo de Sálvio, que "isto tem a ver com o momento que o jogador tá" - além de usar o verbo "tar" e não saber o que é uma regência verbal, não percebe estas coisas. Para ele, um lance junto à linha é igual a um lance no meio-campo; um lance protagonizado por Messi é igual a um lance protagonizado por Luisão. Para ele, a postura defensiva de qualquer jogador, em qualquer situação, deve ser o mais agressiva possível. Para ele, defender é cerrar os dentes, morder a língua e correr atrás da bola e dos adversários que a têm. É incapaz de perceber que o jogo é jogado por seres humanos e estou até desconfiado de que não acredita que jogadores de futebol, como quaisquer seres humanos, têm neurónios e devem, além de correr e salivar atrás de adversários, pensar. O seu pensamento é de tal modo primitivo e quadrado que os seus jogadores ideais devem ser os que ganham ao braço de ferro e os que têm por meio de transporte preferido a liana. É por estas e por outras que ele e muitos outros artistas como ele não percebem um chavelho daquilo de que fazem profissão. O futebol lamenta, é certo, mas a verdade é que, sem palhaços, o circo não tinha a mesma graça.

9 comentários:

Mauro Silva disse...

Nuno,

Há hipótese de linkarem o Sporting Visto Por Nós ( http://sportingpornos.blogspot.com/ , aqui no Entre 10??

O vosso blog já há muito se encontra lá linkado no referido blog!!

Mais uma vez, obrigado... e desculpem pela insistência...

Luis disse...

Ehehe!!

Gostei especialmente quando Carlos Manuel disse que o golo do Sálvio não é só técnica, mas sim algo mental. Parecia mesmo que percebia da coisa.
Mas o Rui Santos consegue fazer-me desistir de ver o resto do jogo do Porto... Ainda ao menos se o som do relato da rádio chegasse ao mesmo tempo que o sinal da televisão...

Miguel Nunes disse...

MAs, olha q é o unico comentador que eu já ouvi sugerir formas para resolver determinadas situações( como desmarcações nas costas, apoios frontais dos avançados, etc...) E a falar com conhecimento...

Na parte defensiva do jogo, parece-me q n ha nenhum q perceba do q fala...

Ricardo disse...

Que ele é pobrezinho como comentador, é uma evidência. O que me causa perplexidade é a escolha por parte de quem manda. Esta SporTv tem um critério deplorável na escolha de quem comenta os jogos.

daniel duarte disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno disse...

Luis, o problema é que ele, ao dizer que o golo foi algo mental está a ser do mais trivial que é possível. Achar que há um lado mental em tudo todos acham; perceber em que consiste é que não. E ele estava apenas a referir-se ao facto de o jogador se encontrar num momento bom em termos de confiança. Isso não é nada de especial. Sim, o Rui Santos tem esse talento...

PB, não duvido que tenha mencionado essas coisas. Duvido, sim, de que saiba em que consistem, como podem ser potenciadas e de que modo isso serve o colectivo. O Carlos Manuel é banalíssimo em termos de análise. Falar nessas coisas todos falam; tenho muitas dúvidas de que saiba ao certo a importância de um apoio frontal, por exemplo.

Pois é, Ricardo. É que o Carlos Manuel, ao menos, ainda foi um jogador distinto. Ainda se podiam desculpar com a reputação antiga do homem. Agora, pôr o Nélson ou o Pedro Henriques a comentar é chamar estúpidos aos assinantes. O maior problema, a meu ver, é o estilo da coisa. Um comentador devia ser, sobretudo, alguém que descrevesse factos, que estivesse atento às evidências da partida. Deveria ter o mínimo de opinião possível. Acontece, por vezes, que estão tão preocupados em sugerir ideias e em fornecer opiniões que nem vêem o que se está a passar. Isso é grave. E é idiota. Enquanto não se perceber a função de um comentador, dificilmente se perceberá quem tem competências para comentar jogos.

Daniel Duarte, obrigado pela observação. Eu também acho que sou "um palhaço sem respeito". É uma coisa de família que gosto de preservar. O meu pai e o meu avô já eram "palhaços sem respeito" e há que manter a postura.

FT disse...

Concordo com tudo o que dizes sobre o Carlos Manuel (e que se aplica a outros, como bem acrescentas). Só não concordo quando dizes que, na jogada que dá origem ao post, o Maxi não devia pressionar o portador... O Toy recebe de costas, junta a linha lateral, sem apoio. Típica situação de pressão, e o Maxi sabia... A agressividade foi despropositada por isso mesmo, porque se tratava de um lance em que o objectivo seria recuperar a posse da bola.

Cumprimentos,
Telmo Frias

joaogomes15 disse...

Acho piada a parte dos frustados, porque o maior frustado em relação ao futebol não será ele concerteza, o que ele fez por onde passou deve é deixar muita gente frustada.
A parte do "ta" já é um ataque pessoal, de quem os argumentos acabaram.

Joao disse...

zapater, de besta a bestial.