sábado, 8 de maio de 2010

Villas Boas: Toda a Verdade

No dia 6 de Novembro de 2009, Paulo Bento, após uma série de maus resultados, demite-se desencadeando um chorrilho (magnífica palavra, bem sei) de acontecimentos que culminaram com a contratação de Paulo Sérgio. Muito se escreveu, e aconteceu, entre a mudança de v(B)entos (que trocadilho fantástico, por esta ninguém esperava!!); coisas boas, como… bem… coisas, e outras menos boas: Carvalhal, Costinha, Carvalhal, João Pereira, Carvalhal, etc. O que ninguém sabe é que a razão de ser para todos estes e outros acontecimentos converge num único elemento. Este é o verdadeiro relato do que aconteceu nas semanas que se seguiram à demissão de Paulo Bento.

No dia 12 de Novembro, o Sporting comunica à CMVM a entrada de Ricardo Sá pinto como director desportivo, sendo que este pega de imediato no dossier do novo treinador. Villas Boas é o treinador que elege. Ao contrário do que é dito e escrito, a sua contratação não cai por falta de acordo de verbas, nomeadamente aquilo que o Sporting Clube de Portugal estaria disposto a pagar para a Académica libertar Villas Boas. O acordo entre os clubes existe, e é uma exigência de última hora, por parte de Villas Boas, que motiva o recuo de Bettencourt: Villas Boas compromete-se a vencer o título ainda em 2009/2010, desde que uma figura proeminente do universo leonino saia de Alvalade: Liedson. A reacção de Bettencourt é inflexível: abandona de imediato a reunião, dizendo que André VilLas Boas é louco, proferindo expressões como "herege", "blasfémia", "Perdoai-o Senhor pois ele é apenas uma criança que não sabe o que diz", etc. Incrédulo, Villas Boas assiste à partida de Bettencourt e de Salema Garção, este último hesitante entre acompanhar o seu presidente de imediato ou ligar para os seus contactos jornalísticos a descrever os mais recentes contornos da reunião entre Villas Boas e o "staff" leonino. No fim deste espectáculo, ficam apenas Sá pinto e Villas Boas, com o último a proferir apenas uma frase:

- Tu vais-me dar uma pêra, não vais?

Dito isto, o director desportivo dirige-se a Villas Boas, enquanto o jovem técnico, desesperado, procura algo com que se defender, pegando por fim numa garrafa de água, meio vazia e sem tampa.

- Tu conseguias mesmo fazer do Sporting campeão? – perguntou-lhe Sá Pinto enquanto lhe esticava a mão, cumprimentando-o.

No dia 14 de Novembro, Sá Pinto conta a alguns jogadores, entre eles Hélder Postiga e Simon Vukcevic, os verdadeiros motivos que levaram a que Villas Boas permanecesse em Coimbra. Mais tarde, Postiga faz uma pequena confidência a Vukcevic, depois do montenegrino corrigir um e-mail que Pedro Silva queria enviar a uma brasileira que conhecera num restaurante de rodízio:

- Enquanto o Liedson permanecer no Sporting, eu não volto a fazer golos.

Esta ideia terá então iluminado Vukcevic, que pensou:

- Epah, e eu, enquanto ele estiver em Alvalade, não volto a jogar bem!

Entretanto, chega Izmailov e pergunta, em russo, o que é que se passa, ao que o número dez leonino responde que lhe explicaria do que se tratava assim que o camisola 7 conseguisse terminar os exercícios de gramática que lhe pedira para fazer. Cabisbaixo, Izmailov pegou no caderno contendo os exercícios que o seu amigo lhe havia preparado e deitou mãos à obra. Entretanto, as exibições do Sporting melhorar ligeiramente, precisamente no período em que o 31 se encontrava lesionado, levando Sá Pinto a pensar que, se calhar, Villas Boas até tinha razão. Esta iluminação, associada à qualidade evidenciada pela equipa de Coimbra, mostrou a Sá Pinto o erro que o presidente do Sporting havia cometido. Decidido, dirigiu-se a Bettencourt para tentar convencer o líder leonino a reconsiderar e a contratar Villas Boas para as próximas temporadas. Bettencourt, todavia, tinha outros planos. No dia anterior tivera uma conversa com Carvalhal e o técnico havia explicado que tinha grandiosos planos para o ano que se seguia, sendo que todos eles assentavam em redor de Liedson.

Desesperado, Sá Pinto tentou demover o seu presidente, mas sem sucesso. No dia da fatídica eliminatória para a Taça de Portugal frente ao Mafra, após nova tentativa frustrada de demover Bettencourt de manter Carvalhal para a época seguinte, Sá Pinto assistiu ao jogo junto do banco, visivelmente enervado com o diálogo entre Carvalhal e Liedson, com o técnico português a perguntar e a pedir a opinião ao Levezinho não só sobre aspectos do jogo como também sobre se o baiano era conhecedor de algumas mezinhas que o ajudassem a combater a calvície. A atitude desrespeitosa de Liedson para com Sá Pinto no final do jogo foi apenas a gota de água que fez transbordar o copo.

A saída de Sá Pinto deixou em aberto a vaga de director desportivo, que foi assumida temporariamente por Salema Garção. Os poucos dias foram, contudo, suficientes para que Salema Garção pudesse tomar conhecimento do pequeno “pacto” que Postiga e Vukcevic haviam feito,” pacto” esse de que Izmailov, agora que já estava perto de concluir os exercícios de gramática que Vukcevic havia proposto ao russo, queria fazer parte. Entretanto, horas antes do jogo com o Braga para o campeonato, Pereirinha perde uma aposta com Moutinho e é obrigado a enviar uma mensagem a Carvalhal, fazendo-se passar por Bettencourt, dizendo o seguinte:

"Mister Carvalhal, aconteça o que acontecer, contamos consigo para a próxima época. Ass: JEB."

O que Pereirinha não poderia prever era que não só o jogo com o Braga correria mal como a equipa sofreria a quantidade de derrotas que sofreu de seguida, o que levou a que Bettencourt, certo dia, na sauna, soltasse uma lamentação a respeito do trabalho de Carvalhal:

- Mister Carvalhal, isto assim não dá. Começo a ficar com dúvidas acerca da renovação...

- Mas você disse que, acontecesse o que acontecesse, contava comigo.

- Eu??!! Está louco, homem? Uma coisa é estar convencido que o Sporting está a jogar melhor e que você algum dia será campeão com alguma equipa, outra bem diferente é pôr-se a imaginar coisas que eu disse.

Carvalhal, envergonhado e desconfiando que fora enganado por alguém que se fizera passar por Bettencourt, desabafa com Liedson, que lhe diz que sabia que não fora Bettencourt a enviar a mensagem, mas um jogador do plantel. Carvalhal exerce pressão sobre Liedson para que este revele o que sabe, mas Liedson admite apenas confidenciar tal informação caso Carvalhal começasse a encostar Saleiro, pois este andava a fazer alguns golos e isso poderia fazer crer às pessoas que o Sporting não precisava de Liedson. Carvalhal promete a Liedson pensar no assunto e o Levezinho indica o nome de Pereirinha. Na semana seguinte, em jantar com Carlos Queiroz, Carvalhal conta o sucedido, ao que Queiroz sugere:

- Pá, esses putos só estão bem é a fazer porcaria. Castiga-o, pá.

- Pois, pensei nisso. Mas o chavalo tem entrado bem. É quase sempre dos melhores quando o ponho a jogar. - respondeu Carvalhal, hesitando em tomar medidas tão drásticas.

- Pá, o gajo também se pôs com aquela coisa dos penálties na selecção e mandei-o logo para casa. - continuou Queiroz. - Vê lá se voltou a marcar penálties. Eles precisam é de correctivos. Nunca mais o ponhas até ao fim da época, a ver se aprende! Nem que utilizes o Pedro Silva. Eles têm de perceber quem é que manda.

Com medo de que Carlos Queiroz nunca mais lhe falasse, Carvalhal decide então obedecer e Pereirinha não volta a calçar, a não ser muito esporadicamente, até ao duplo desafio com o Atlético de Madrid, lançando-o então às feras para tentar queimá-lo e assim justificar a sua opção. Acontece que Pereirinha acabou por jogar enormidades e Carvalhal teve de fundamentar a sua opção por deixar o 25 sistematicamente de fora alegando que o jovem não gostava de espinafres, razão pela qual continuou a deixá-lo sistematicamente de fora após esses desafios.

No dia anterior ao decisivo jogo da segunda mão contra os espanhóis, quando Izmailov finalmente termina os exercícios de gramática, Postiga e Vukcevic explicam ao russo os contornos do acordo firmado ainda em 2009. Izmailov, sabendo ainda que fora Liedson quem confessara a Carvalhal que fora Pereirinha quem enviara a dita mensagem, decide ser ainda mais assertivo na sua tomada de decisão: ou Liedson ficava no banco frente ao clube de Madrid, ou ele abandonava de imediato o Sporting. O português do russo, no entanto, ainda não era muito fluente, o que leva Carvalhal a procurar Costinha para que este lhe explique as razões pelas quais o jogador não queria defrontar o Atlético de Madrid. O problema é que Costinha fala tão bem russo como Pedro Silva fala português. Resultado: Costinha entende que Izmailov só continuaria no Sporting se Carvalhal saísse, não tolera a audácia do russo e manda-o embora do estágio, comunicando que ele alegava que não se encontrava psicologicamente apto para jogar e apenas contando a Bettencourt a verdade. Este facto resultou no comunicado posterior da Sporting Sad à CMVM, divulgando que Carvalhal não continuaria na próxima época.

Livre de Carvalhal, Bettencourt volta a abordar Villas Boas e, apesar da intransigência do jovem técnico, o presidente do Sporting parece disposto a ceder, entrando em contacto com alguns clubes brasileiros e vários supermercados para efectivar a transferência de Liedson. Costinha, no entanto, traz para o negócio o seu desagrado e confronta Villas Boas:

- És capaz de explicar como é que conseguirias ser campeão sem o Liedson?

Villas Boas nota alguma resistência e finca o pé, dizendo a Costinha que tinha de confiar nele. Costinha diz-lhe que ele tinha perdido quase todos os últimos jogos e que, portanto, não tinha propriamente muita confiança no se trabalho. Sem chegarem a entendimento, Costinha decide abortar as negociações, imaginando que o técnico da Académica era um bluff e salvando assim o Sporting da ameaça do bicho-papão que queria livrar-se do seu mais-que-tudo.

por Gonçalo

18 comentários:

tiago disse...

bah, já li histórias melhores.

onde é que entra o paulo sérgio?

qual foi o jogador que escolheu o costinha?

o capitão moutinho não é tido nem achado na historieta?

PTM disse...

Esta merda é suposto ter piada? entre este texto e o outro vosso na AdT venha o diabo e escolha.


Don't give up on your day job

Batalheiro disse...

Welcome back Gonçalo!

Teve bastante graça o texto.

Dejan Savićević disse...

ainda cheguei a pensar que ias abordar isto de forma séria, mas tá com piada e imaginação e acabaste por tocar em alguns pontos fundamentais...

MM disse...

"No mundo dos sonhos, no entanto, Carvalhal é Mourinho: ganha coisas, as pessoas levam os seus disparates a sério e tem cabelo."

So um paragrafo mais (do texto da AdT) para reforcar a evidente incapacidade dos autores deste espaco.
Pode ser mera idiotice, podem ser 2 criancas, pode ser inveja, pode ser muita coisa.
Eu arrisco numa mistura de imbecilidade com inveja. O Carvalhal nao "ganha coisas no jogo de computador", o Carvalhal e Treinador de Futebol, coisa que tu gostarias de ser e nao es.
Ultrapassa isso, e opina menos sobre o que nao sabes no molde em que o fazes.
Deves opinar, porque de Futebol toda e qualquer pessoa pode e deve falar. Felizmente o Futebol nao e Opera nem Teatro mas, fa-lo de outra forma ... porque acredita-me que dessa forma teras muita dificuldade em que te levem a serio para la da esfera das 3 ou 4 amelias do costume que vem aqui bater palminhas a coisas vazias, insultuosas e - fiquei agora a saber - nem sequer contendo graca.

Lamento muito que um espaco como a AdT tenha perdido toda a credibilidade.

PTM, um abraco.
(Viva o Ouatarra ...)

Pedro disse...

É pá...q desilusão. Eu estava, sinceramente, a pensar q estavas a falar a sério na questão das razões por trás da nega do Villas-Boas...

O texto até teria piada se não tivesses feito relevo ao facto de saberem os motivos e demorarem tanto tempo a escrever para terem a certeza sobre o assunto.
Bah.

Gui disse...

A razão da não vinda do AVB tem a haver com o facto de ter pedido à última hora um aumento de salário.

Cumprimentos

Blogger disse...

O que é que andas a tomar :)

Tiago disse...

Será que o facto do Liedson ser sortudo tem alguma coisa a ver com vocês terem menos piada que um cagalhão a deslizar por uma pia?

Daniel MP disse...

Ei! Olha que eu acho bastante piada ao deslizar do trulho pela loiça sanitária abaixo!

Quanto ao texto: Tem bons momentos ao reconhecer uma inteligência acima da média ao VUK e uma outra bem abaixo da média ao Pedro Silva. Quanto ao resto é um exercício, diferente, de como expressar a opinião dos seus autores a respeito de presidentes, directores, treinadores e jogadores.
Mas prefiro o V. registo mais "relvado-relvado".

Joao disse...

A equipa do Entredez poderia escrever um texto sobre a sua selecçao de 23 jogadores portugueses que mandaria pr'a Africa do Sul disputar a copa do mundo ?

A unica parte que é de todo irreal, é quando AVB diz ao seu amigo, R. Sa Pinto : ''vais me dar uma pera !?''
O resto esta muito bom !

Paulo Silva disse...

Bom blogue e bem estruturado..

Tambem tenho um de futebol..
Se houver interesse podemos trocar links..

O meu é:
http://portuguesesnoestrangeiro.wordpress.com

Aproveito para anunciar que o "portugueses no estangeiro" prepara-se para divulgar uma entrevista exclusiva com um jogador português. Vejam , se quiserem, o anúncio(não divulga ainda quem é, mas dá pistas!):
http://portuguesesnoestrangeiro.wordpress.com

Nuno disse...

João, escrevemos um texto acerca disso, no qual descrevíamos quais os nossos 23 e de que modo deveriam jogar, para a Academia de Talentos há uns tempos. Vou deixar o texto aqui em baixo, fazendo-lhe apenas alterações de acordo com o momento. Como, na altura, Bosingwa ainda era uma hipótese, contava com ele. Substituí-lo-ei por Rúben Amorim. De igual modo, César Peixoto era o titular no Benfica, mas impõe-se agora a escolha de Coentrão. Tirando isso, as opções são as mesmas da altura.

"Aquilo que propomos, de seguida, é um exercício lúdico. Apenas e só. Muita gente imagina já o possível conjunto de 23 jogadores escolhidos por Queiroz para levar à África do Sul. Ainda é cedo para fazer prognósticos e muita coisa pode acontecer até lá. Ainda assim, e de uma forma meramente hipotética, gostaríamos de propor não só o conjunto de 23 jogadores que escolheríamos como também o modo como, de acordo com esses jogadores, Portugal deveria jogar. A ausência de alguns nomes sonantes parecerá, obviamente, controversa. Não esperaríamos outra coisa. A coerência da escolha, no entanto, ficará fundamentada pela filosofia de jogo a adoptar, a qual – defendemos – justificará tamanhas modificações.

Os 23 eleitos seriam então os seguintes: para a posição de guarda-redes, Quim, Rui Patrício e Eduardo; para a defesa, Paulo Ferreira, Rúben Amorim, Duda, Fábio Coentrão, Ricardo Carvalho, Zé Castro, Fernando Meira e Daniel Carriço; para o meio-campo, Pedro Mendes, Miguel Veloso, João Moutinho, Tiago, Hugo Viana, Nuno Assis e Deco; para o ataque, Simão, Nani, Cristiano Ronaldo, Postiga e Nuno Gomes. Ficariam, portanto, de fora, alguns jogadores reiteradamente utilizados por Carlos Queiroz ao longo da fase de apuramento, como Bruno Alves, Rolando, Pepe, Raul Meireles, Liedson, Hugo Almeida e Edinho, os quais, de acordo com aquilo que o modelo a propor exige, não nos satisfazem. Ficariam ainda de fora, por força da pouca utilização nos seus clubes ou por excesso de opções para as suas posições, Beto, Miguel, Maniche, Quaresma, Danny e Carlos Martins.

A proposta passaria então por um modelo formado em 4-4-2 losango, evoluindo de pé para pé, com toques curtos e precisos, poucas correrias loucas, poucos passes compridos, com formação de apoios próximos e privilégio concedido à posse e circulação de bola. Defensivamente, um pressing médio-alto zonal, com os sectores necessariamente juntos e a equipa pouco esticada em campo, com a defesa subida, procurando efectivar zonas de pressão junto às linhas, condicionando o adversário a jogar pelas alas devido ao aglomerado de jogadores no centro para depois o asfixiar aí.

O primeiro onze seria composto por Quim, na baliza, Paulo Ferreira à direita e Fábio Coentrão à esquerda, Ricardo Carvalho e Zé Castro como centrais, Pedro Mendes como médio defensivo, Tiago e Hugo Viana como médios interiores, Deco como médio ofensivo, Ronaldo e Postiga na frente de ataque. Evidentemente que, consoante o jogo e o resultado, a equipa poderia evoluir para outro tipo de dinâmicas, com Simão ou Nani a surgirem num dos vértices, direito ou esquerdo, do losango, fornecendo por isso outro tipo de competências exteriores ao modelo, ou com um destes dois a juntar-se a Ronaldo na frente, caso interessasse abdicar de uma referência mais fixa e fosse produtivo um acréscimo de dinâmica na frente. De qualquer modo, a ideia base partiria de um 4-4-2 losango com dois interiores essencialmente vocacionados para o trabalho interior, ficando a largura a cargo das subidas dos laterais, assim como de um dos homens da frente, nomeadamente aquele com mais mobilidade. (continua...)

Nuno disse...

Quanto a esquemas alternativos, o 4-3-3 seria sempre uma alternativa, abdicando de um dos três médios mais ofensivos e abrindo a frente de ataque com as entradas de Simão ou Nani, mas o principal esquema alternativo ao 4-4-2 losango seria o 3-4-3 losango, utilizado essencialmente em situação de desvantagem. Neste esquema, o losango do meio-campo manter-se-ia idêntico, sairia um dos defesas, possivelmente aquele mais desgastado fisicamente ou o menos veloz, e a frente de ataque seria composta por dois extremos e um avançado mais fixo. Os princípios de jogo manter-se-iam os mesmos, com excepção das zonas de pressão, que subiriam.

De que modo, então, funcionaria uma equipa a jogar desta forma e com estes jogadores? Perderia, em relação à actual conjuntura, capacidade de choque, altura, velocidade, agressividade e espírito de combate. Sem dúvida. Acontece que, ao contrário do que se convencionou, nada disto é absolutamente essencial numa equipa de futebol, desde que esta tenha outros atributos, como a inteligência e a técnica. Dotando a equipa de maior capacidade para circular a bola e formar apoios, passaria mais tempo com bola e menos sem ela. Necessitaria, por isso, de ser muito menos agressiva ou de ter tanta capacidade de choque, por exemplo. Segundo esta ideia, ainda, o jogo evoluiria mais lentamente e a equipa sentir-se-ia mais à vontade em organização ofensiva do que em transição. Necessitaria, por isso, de muito menos velocidade e sim de muito mais de capacidade para pensar rápido e capacidade para executar em espaços curtos.

As bolas paradas seriam defendidas à zona, para minimizar a menor altura do conjunto de onze jogadores, com os jogadores mais competentes no jogo aéreo, Ricardo Carvalho, Zé Castro, Ronaldo e Postiga a ocuparem as zonas nevrálgicas da área e os mais pequenos na frente ou em zonas menos cruciais, como os postes. Para fazer face à possibilidade do jogo directo, seria dado especial ênfase à organização e à reacção à segunda bola, com especial atenção à correcta ocupação de espaços.

Seria privilegiada a entrega a nível intelectual e não a nível físico, sendo a concentração fulcral para o sucesso do modelo. A equipa teria propósitos exclusivamente colectivos, não havendo funções individuais atribuídas aos jogadores. Assim, por exemplo, subindo um lateral, seria necessário que o outro se contivesse, assim como ficaria automaticamente incumbido o médio interior do lado desse lateral de guarnecer a zona desprotegida, funcionando ao mesmo tempo como apoio recuado a esse lateral. Neste momento, a equipa oscilaria toda para o lado do lateral que subira, funcionando, enquanto o mesmo tivesse a bola, como uma rede de apoios densa e, perdendo-a, como uma malha de coberturas sucessivas. A profundidade no flanco contrário ao da acção de jogo, em lances de ataque, seria sempre dada pelo lateral do lado contrário, quando o ataque não fosse conduzido pelo lateral do outro lado, ficando o interior do lado contrário ao da acção com a missão de fechar o meio e fornecer um apoio por dentro. A equipa privilegiaria a posse de bola com toques curtos e rápidos, procurando fugir a zonas de pressão desse modo e, assim que o conseguisse, fazendo depois uso da profundidade dada pelo lateral. (continua...)

Nuno disse...

O meio seria ainda, ao contrário do que muitas vezes acontece, o espaço privilegiado para trocar a bola. As linhas serviriam para atrair as defesas contrárias, fazendo a bola regressar ao meio e evoluindo assim progressivamente. No último terço do terreno, a equipa deveria procurar com exaustão as tabelas, penetrando pelo meio de dois defesas, e os apoios frontais fornecidos quer por um dos avançados, quer pelo médio-ofensivo, no espaço entre linhas. Seria típico o avançado mais fixo recuar no terreno para funcionar como âncora ofensiva e propiciar um passe vertical rasteiro que depois devolveria de frente, o que faria com que a equipa ultrapasse etapas. Ao mesmo tempo que esta movimentação acontecia, o avançado mais móvel deveria iniciar uma diagonal de modo a poder aparecer no espaço deixado livre pelo movimento de aproximação do outro avançado.

Estas são apenas algumas das ideias que serviriam de base ao modelo de jogo proposto. Acreditamos que, com estes jogadores e jogando assim, Portugal teria condições para se impor perante a grande maioria das equipas que vai estar na África do Sul. Mandaria no jogo e só teria de permanecer concentrado e organizado, nunca descuidando a posse de bola, absolutamente vital para que tudo isto resultasse. A reacção à perda de bola seria muito importante, mas mais ainda seria o cuidado em mantê-la, dando preferência à sua preservação e não a passes de risco ou a rupturas que dependem ora do acaso, ora das características físicas dos jogadores. Seria absolutamente proibido cruzar para a área, a não ser da linha de fundo e através de cruzamentos atrasados e preferencialmente para finalizações rasteiras; seria absolutamente proibido ir no um para um, a menos que em transição e havendo espaço para isso; seria absolutamente proibido os laterais jogarem pelas linhas ou comprido, sendo necessário, para isso, que médio-defensivo, interior e médio-ofensivo se aproximassem do lateral quando ele tivesse a bola; seria absolutamente proibido o receptor de um passe virar-se para o adversário, sendo obrigatório jogar de frente mesmo quando sem ninguém à ilharga. Deste modo, procurando sempre ter a bola e só arriscando passes decisivos em zonas muito avançadas, Portugal seria sempre autoritário e impor-se-ia a equipas que têm vantagem no confronto físico e a equipas mais velozes.

É evidente que tudo isto não passa de uma utopia, mas apenas porque Queiroz jamais pensará assim."

Joao disse...

Nuno, acabei de ler o teu texto sobre os teus 23. Mesmo não estando de acordo com tudo, como por exemplo a chamada de Quim, Meira, Assis e Nuno Gomes (teria optado por Beto, Alves, Meireles e Danny), achei a descrição da filosofia de jogo muito detalhada e muito interessante (mas atenção com a falta de pragmatismo que custou ao Guardiola este ano a final da Champions).

Com tanta conhecimento técnico-táctico, não terás vontade um dia de por em pratica as tuas ideias numa verdadeira equipa de futebol ?

Abraço

Nuno disse...

João, tanto o Beto como o Danny foram opções que me custaram deixar de fora. Não tirava o Quim, mas talvez substituísse o Rui Patrício ou o Eduardo pelo Beto. Em relação ao Danny, fiz o exercício numa altura em que ele estava lesionado e não sabia muito bem o que poderia dar. Nesta altura, creio que o levaria, até pela polivalência que tem, mas não queria prescindir de dois avançados com capacidade para servir de apoio frontal, pois isso é fulcral no modelo que preconizo. E creio que Postiga e Nuno Gomes são os únicos com essa capacidade e com categoria suficiente para a selecção. Daí a minha dificuldade.

Quanto à pergunta final, e penso que falo também pelo Gonçalo, para já não. Interessa-me sobretudo a teoria, neste momento. Daqui a uns anos pode ser uma possibilidade, embora haja condicionantes que me façam torcer o nariz a isso, nomeadamente todos os vícios e ideias feitas que habitam o mundo do futebol.

Abraço!

Filipe Futebol Total disse...

Muito bom o blog, parabéns. Visita o meu:

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