domingo, 18 de outubro de 2009

Simplesmente... Viana.

Um dos melhores jogadores portugueses da sua geração (e só não o considero o jogador mais importante do campeonato porque na Luz moram dois argentinos que são para lá de extraordinários). Ignorado pelo clube que o lançou para a alta roda do futebol, Hugo Viana foi parar a Braga. Na altura, as alarvidades que se disseram sobre o assunto multiplicaram-se: fosse porque era lento, ao contrário do velocíssimo Zizou, ou porque não se encaixava bem no modelo do Sporting, nem em qualquer um dos grandes, etc., a estupidez dos argumentos só encontrava par no talento que Viana teimava em espalhar pelos relvados, semana após semana.

Realmente, tenho de concordar que um jogador como Hugo Viana não faz o menor sentido num modelo como o Sporting: uma equipa que despreza a bola, que apela única e exclusivamente ao espírito de sacrifício dos seus jogadores, enfim, um modelo que ao invés de elevar os seus jogadores apenas os rebaixa não é, com toda certeza, o mais indicado para um jogador com o potencial de Hugo Viana, pois quanto maior é o potencial de um jogador sob o jugo daquela igreja maior é a atrocidade cometida contra o futebol. Se não, vejamos os casos de Pereirinha, Romagnoli, Farnerud, etc. Portanto, não será de todo disparatado dizer que a miopia que o "empurrou" para Braga foi a grande responsável pelo excelente campeonato que o Braga está a realizar. É verdade que a equipa minhota "parece" trabalhar sob a luz certa: tem um treinador que apela, de forma positiva, ao orgulho dos seus jogadores, dá importância à posse de bola, para além de conceder a liberdade necessária aos seus jogadores. No entanto, não é uma equipa muito organizada, e nem sempre se consegue apresentar com os sectores unidos, quer a atacar, quer a defender. Domingos parece um treinador com grande potencial, (tal como parecia Bento, há três anos) mas ainda é cedo para perceber se os motivos para jogar como pretende são os mais correctos. Falta perceber se os erros que comete não passam disso mesmo, ou se são sinais inequívocos de uma fraqueza que o tempo não tardará a pôr a descoberto, essa vertigem pela fé no resultado, sem se interessar, ou perceber, como o alcança. Por agora, com a liberdade concedida a Hugo Viana, Domingos não tem de se preocupar ora com a qualidade de jogo da equipa, ora com a menor valia (individual) dos argumentos da equipa arsenalista.

Hugo Viana é um caso raro de evolução. Poderia ser a esta altura mais bem-sucedido, isto se não se tivesse transformado naquilo que é hoje: um jogador muito inteligente que conhece todos os "cantos" do jogo, que percebe as necessidades da equipa, que mede cada acção que toma com uma gravidade que não se esgota na execução do passe ou do drible. E como seria fácil, para um jogador como Hugo Viana, focar-se apenas e só nas suas qualidades individuais. Bastava "apregoar" a toda a hora a facilidade com que a qualidade do seu passe longo se manifesta, forçando com isso um maior número de passes de risco e conseguindo um maior número de assistências, ainda que isso, muito provavelmente, se viesse a revelar contraproducente para a equipa. Poderia também, como muitos dos ídolos (com pés de barro) cá do burgo, procurar incessantemente, e a qualquer custo, obter o golo através de acções individuais. Decerto que a esta hora a sua conta pessoal seria bem mais atractiva; talvez até pudesse ser titular na selecção de todos vós. Mas de certeza que o Braga não seguiria invicto, com um registo impressionante, como líder do campeonato. Por isto tudo, não me parece exagerado dizer que, a par de Aimar e Saviola, Hugo Viana é, sem qualquer ponta de dúvida, a figura maior deste campeonato.

14 comentários:

TAG disse...

Ir para o Newcastle foi 1 grande erro...

Paulo Santos disse...

Absoutamente e totalmente de acordo. Subscrevo cada vírgula deste texto.


Abraço

Cisto disse...

A primeira vez que o vi, com uns 18 anos, a jogar no meio campo do Sporting, num ano em que todos esperavam pelo Cristiano Ronaldo, fiquei incredulo: a capacidade tecnica, fisica, inteligencia de movimentacao, e qualidade de passe em tao terna idade.
E desde entao que o acompanho, com especial carinho. E se concordo com o potencial que o Viana ainda tem, um facto tem de ser dito: psicologicamente o rapaz deixa algo a desejar. Recordemo-nos da ultima epoca que fez no Sporting: a quantidade de passes errados, mesmo os mais simples, nas primeiras 10 jornadas foi gritante. A confianca foi melhorando, culminou no fantastico golo frente ao Benfica, mas uma certa fragilidade nunca lhe abandonou a cabeca. E' essa a unica explicacao para nao ter vencido em clubes como o Newcastle ou Valencia. Clubes onde a pressao de ganhar todos os jogos nao e' por ai alem. Claro que se pode dizer que o problema foram treinadores que nao souberam gerir o jogador e o seu estado emocional, mas isso parece-me injusto para o Bobby Robson, e lembro-me sempre dum treinador que eu proprio tive que me dizia "se tu nao tens confianca em ti mesmo, ninguem a vai ter por ti".
Em suma, o tempo dita as capacidades de um jogador. Nao acredito que na historia do futebol hajam jogadores fantasticos que tenham sido sistematicamente desperdicados e que nao atingiram um sucesso amplo por embirracao ou estupidez de dirigentes e treinadores. Nada disto justifica a vinda do Angulo em detrimento do Viana, por exemplo.

Gonçalo disse...

Raul, contra a falta de "estrutura mental" que tu citas recordo um dos primeiros jogos(senão mesmo o primeiro) que realizou pelo Sporting: entrou a meia-hora do fim, contra o Santa Clara, num jogou que terminou a zero e que fazia lembrar o Sporting de hoje: uma equipa passiva, sem personalidade, e sem coragem de pegar no jogo. Então, lembro-me que uma das primeiras coisas que me despertou a atenção nele foi o seu "alheamento" do ambiente que se vivia em Alvalade. E foi vê-lo, várias vezes, a pegar na bola no meio-campo defensivo do sporting, progredir de cabeça levantada, procurando as melhores soluções para a equipa. Se isto não é sinónimo de estrutura mental, então não sei. Mais uma vez, acho que o "problema" dele é não ser egoista. Qt a jogadores com qualidade que "falham" sitematicamente, isso depende muito de circunstancias exteriores aos jogadores: lesões, vida pessoal, treinadores, etc. Mas atenção, o Hugo das duas vezes que passou pelo Sporting venceu. Dai ele ter sido adquirido por quantias avultadas(12.5, e 11 Milhões de euros) no final das resectivas épocas(Newcastle, e Valência).


Bad, admito que foi um passo atrás, mas a primeira época dele no campeonato inglês até foi boa, lembro-me que os adeptos no inicio idolatravam-no, sendo o jogador que mais camisolas vendia. Acho que a inadaptação dele ao futebol inglês deveu-se, em grande parte, á evolução que ele sofreu, o que levou a uma incompatibilização com um futebol pobre de ideias, que valoriza apenas as qualidades fisicas. Em que o significado de colectivo se esbate no espirito de sacrificio, e entrega ao jogo(por entega digo: entradas assassinas, correrias tontas, etc.).

Abraço

Leão de Alvalade disse...

Pode até ser uma alarvidade o que vou dizer, mas o Hugo Viana faz-me lembrar o Maniche antes de este se cruzar com Mourinho: enorme potencial, mas ainda sem confirmação pratica por inteiro.

Talento de sobra, falta-lhe algum nervo, alguma agressividade. Concordo com a análise relativamente ao que diz respeito ao meu clube. Infelizmente Angulo foi a alternativa.

Cisto disse...

Mas, Gonçalo, eu não quis dizer que ele não tem estrutura mental para ser um fantastico jogador de futebol, apenas disse que, até ver, não é capaz de ter essa atitude em constância.
Também não quis dizer que ele não tenha vencido em Portugal. Como referes, as tranferências falam por si. Mas o facto de não ter conseguido impor-se na Selecção, por exemplo, diz qualquer coisa acerca do seu percurso, também. O percurso de um jogador de futebol é complexo e depende de imensos factores, é certo, mas, em exagero, não vejo grande sentido em cobrir-se de elogios um jogador que não se conseguiu impor devido a lesões, embirrações e depressões e que por isso teve um percurso medíocre (e não me refiro ao Viana). Claro que há casos de azar, mas a capacidade de ultrapassar ou evitar lesões, de saber escolher o ambiente ideal para onde se vai jogar (incluindo claro está a equipa técnica) e de não se deixar abalar por problemas pessoais, define os grandes atletas.
Por fim, o número de camisolas vendidas e popularidade entre os adeptos não me parece que possa funcionar como barómetro de sucesso desportivo (os exemplos em que estes dois parametros não se relacionaram positivamente são inúmeros) e dizer-se que o futebol inglês regrediu em termos de qualidade nos ultimos anos contradiz a capacidade competitiva internacional dos seus clubes. Do meu ponto de vista.
Não é meu objectivo especial contradizer-te: sou vosso leitor assíduo porque aprecio e concordo com a maioria do que aqui se diz. Mas desta vez tenho algumas
reservas.

abraço.

LMGM disse...

Vou falar da outra parte do texto, de Domingos, está a surpreender cada vez mais, já vai em três equipas onde não há descalabros, muito pelo contrário.

Trazer a Académica para 7 lugar é ciclópico, muitos e de apregoada boa qualidade falharam, ele venceu.

A Académica não ocupa melhor posição por culpa própria, interna e dos corredores do clube, Domingos soube ler isso e concluir que nada tinha a ganhar em lutar contra "doutores".

Agarrou-se aos seus jogadores e aos seus conhecimentos e foi possivel voltar a ver a Académica a querer jogar futebol, a errar e aprender, a evoluir. Não é fácil garanto, num clube que pensa que é mais importante que o Real Madrid e que devia começar por ser muito superior aos Paços deste campeonato.

Gonçalo disse...

Raul, antes demais deixa-me dizer que o contraditório, desde que sustentado, é sempre, SEMPRE, óptimo. Só assim, através da diferença de interpretações e pontos de vista, se evolui. Mas vou-te só propor uma coisa: imagina se o Aimar na Europa tivesse a infelicidade de encontrar um treinador tão "quadrado", em termos tácticos, como o Quique(olha que os há com fartura), na sua primera experiência no Valência. Provavelmente fracassaria. Indo para um clube menor(como aconteceu) poderia voltar a encontrar um treinador(como aconteceu) que não o soubesse aproveitar. Ai, apareceria o Benfica. Agora imagina que o Quique, contra tudo e contra todos( ao estilo do paulo Bento), cumpria o seu contrato até ao fim. A esta hora, o melhor jogador do Benfica(na minha opinião), não passaria de um flop, como muitos apregoavam o ano passado.
Qt ao campeonato inglês, eu não disse que não era competitivo, o problema é que isso, por si só, não é sinónimo de qualidade. Nos distritais muitas vezes tens campeonatos mt competitivos, agora qualidade, e condições para um jogador com potencial ser valorizado... Já é raro.

Qt ao Domingos, admito que tem feito um bom percurso, sempre com equipas que tentam jogar à bola. Isso é de louvar. Espero que daqui a uns anos não desvirtue o seu modelo com a mania do "falso" pragamatismo(Bento).

Cumprimentos.

Blogger disse...

O Hugo Viana não falhou apenas no Newcastle

Na minha opinião, o Sporting só não o contratou, porque recentemente não tem corrido bem a reinserção de jogadores antigos (casos de Rochemback e Caneira)

Será que ele brilharia no SCP ou acomodar-se-ia ?

Nuno disse...

Raul Cisto diz: "Nao acredito que na historia do futebol hajam jogadores fantasticos que tenham sido sistematicamente desperdicados e que nao atingiram um sucesso amplo por embirracao ou estupidez de dirigentes e treinadores."

Raul, o futebol está cheio, mas cheio, de casos destes. Um jogador não é o que é, pura e simplesmente. Depende do clube onde está, do campeonato onde está, do treinador que tem, da moral que tem na equipa, da reputação junto dos adeptos, etc. As qualidades são sempre influenciadas pelo exterior. O Hugo Viana, como aliás o Postiga, nunca vingariam em Inglaterra pelo simples facto de serem óptimos em coisas a que não se dá valor em Inglaterra e banais naquilo que importa para lá, a saber, a agressividade, a capacidade de luta, o espírito de sacrifício, o nervo, etc. As qualidades de um jogador dependem por isso do que o rodeia. O que seria do Maradona se não desse um passo atrás na carreira e saísse de Barcelona e fosse para Nápoles? Será que teria sido o mesmo, que teria a mesma reputação? Não creio. Por que razão o Henry era um Deus em Inglaterra e chegou a Espanha e claudicou? Por que é que o Brolin, em Inglaterra, nunca foi o jogador que era em Itália? Por que é que o Owen, em Inglaterra, chegou a ser considerado o melhor do mundo, e depois falhou rotundamente no Real Madrid? O futebol está cheio de exemplos destes. Há jogadores em divisões inferiores que poderiam facilmente jogar na primeira divisão portuguesa. Tantos. Mas os treinadores, quando formam equipas, dão sempre importância ao currículo e à experiência e raramente procuram comparar qualidades. O Hugo Viana, como o Aimar, por exemplo, como o Saviola, também, são mais vítimas que réus. São jogadores formidáveis, mas que, se não tiverem condições para se imporem, são vistos como banais. Isto acontece sobretudo com jogadores cujos melhores atributos são os intelectuais, pelo simples facto de esses serem os atributos que maior parte dos treinadores mais negligencia. Que será que o Busquets tem de tão extraordinário para, com 19 anos, jogar com frequência na melhor equipa do mundo? Será que o Busquets calçava nalgum grande em Portugal? Duvido seriamente.

Pedro disse...

Pq será que os treinadores optam por um estilo de jogador que "obriga" os mais dotados a ficarem na sombra?

Compreendo perfeitamente o q defendes Nuno mas faz-me alguma confusão que os treinadores continuem a optar por esse tipo de jogadores, por esse tipo de futebol. Significará q têm sucesso e como tal não precisam de mudar?

Nuno disse...

Pedro diz: "Pq será que os treinadores optam por um estilo de jogador que "obriga" os mais dotados a ficarem na sombra?"

Resposta lacónica: estupidez. Resposta mais demorada: é muito mais difícil montar uma equipa baseada no talento, na criatividade, na inteligência, do que montar uma baseada na força e no espírito de luta. Para estes treinadores, quando a coisa corre mal, é porque os jogadores não se esforçaram tanto quanto podiam; quando corre bem é porque os jogadores se esmeraram do ponto de vista físico. É preciso convir que se torna muito menos complicado ser treinador assim.

"Significará q têm sucesso e como tal não precisam de mudar?"

Que sucesso? O Quique andou a queimar o Hugo Viana e o Aimar ao mesmo tempo no Valência. Que sucesso é que ele teve? Há pouquíssimos treinadores bem sucedidos que deixam os mais virtuosos de fora.

O problema principal é que se convencionou que no futebol ganha quem corre mais, quem é mais agressivo, quem mostra mais vontade. Mas isto é falso. E por causa desta falsidade os jogadores mais talentosos são normalmente vistos como jogadores pouco trabalhadores. Felizmente, o Barcelona de Guardiola está aí para durar. E pode ser que a mentalidade mude.

João Caniço disse...

Quanto a mim o grande equívoco da carreira de Hugo Viana foi vários treinadores teimarem em colocá-lo a jogar como número 10, um lugar perfeitamente contra-natura às suas características. Na minha modesta opinião Viana deve jogar uns bons metros mais recuado, um médio de transição, que pegue no jogo da sua equipa a meio-campo, a organize e a faça jogar com toda a qualidade de passe que possui. Costumo imaginar o que seria hoje de Hugo Viana se alguém se lembrasse do caso de Pirlo, que mostrava muito talento e qualidade, mas não tinha velocidade, nem poder de aceleração ou drible para jogar como número 10 e recuando no terreno é um dos melhores centrocampistas dos últimos anos. Viana ainda está a tempo de ver potenciado o seu talento, basta alguém, provavelmente Domingos, metê-lo a jogar na posição que mais se coaduna às suas características.
Cumprimentos e parabéns pelo blog.

António Pista disse...

Não tivesse o HV tivesse escolhido para casar um rapariga da minha terra...

http://aguia-de-ouro.blogspot.com/