quinta-feira, 24 de abril de 2008

Lição

O Barcelona é talvez a equipa que, a nível ofensivo, melhor representa aquilo que se defende neste espaço. Jogar ao ataque contra equipas que defendem com autocarros deve ser executado exactamente como o Barcelona o fez ontem contra o Manchester. Aliás, aproveito até um jogo em que o adversário se defendeu bem e em que o resultado não foi positivo para dar ênfase à forma extraordinária como a equipa de Rijkaard atacou. Embora não tenha conseguido materializar o seu futebol em golos, o jogo do Barça foi perfeito. Perante uma equipa que vinha para defender os 90 minutos e tentar aproveitar o avanço das linhas espanholas para lançar Ronaldo, o Barcelona fez um jogo quase irrepreensível. Muitos dirão que a vantagem na posse de bola, quase esmagadora, não reflecte um domínio do jogo. Em muitos casos, isso pode ser verdade. Mas, no jogo de ontem, não foi o caso. O Barcelona circulou a bola pelos seus jogadores com paciência, mas sempre em progressão, sempre com o objectivo claro de avançar no terreno, de vencer as linhas inimigas. De pé para pé, lentamente, com arranques individuais aqui ou ali a provocar desequilíbrios, com movimentos constantes dos jogadores que não tinham a bola, o Barcelona foi circundando a defesa do Manchester, composta por duas linhas, cada uma com quatro jogadores. O bloco baixíssimo do Manchester foi incapaz de pressionar com êxito os jogadores do Barcelona e a equipa soube sempre evitar perder a bola. Depois, aproveitava tabelas para romper entre linhas e ganhar espaços à entrada da área: não foram poucas as vezes que os jogadores "blaugrana" conseguiram aparecer, em posse, à entrada da área, e só mesmo a pouca espontaneidade e alguma falta de agressividade nesta fase impediram a equipa de criar mais perigo. Muitos dirão que a prova de que o Manchester defendeu bem foi que o Barcelona não conseguiu muitas oportunidades de golo. É verdade que assim foi, mas há explicações para isto. Além da já referida falta de agressividade na definição dos lances, creio que influenciou a equipa a eventualidade de sofrer um golo em casa. Assim, tentou não correr riscos desnecessários, tentou não executar passes mais arriscados, que tanto poderiam ter ajudado a romper a defensiva britânica como poderiam prejudicar a posse de bola e o controlo do jogo. Com vista a não perder nunca este controlo, o Barcelona foi uma equipa paciente, mas ao mesmo tempo menos audaz do que poderia ter sido. Deste ponto de vista, se bastava ao Barcelona arriscar um pouco mais e se só não o fez para não perder o controlo do jogo, é porque quem controlou as operações foi a equipa espanhola e nunca a inglesa. Aconteceu por diversas vezes ver o Manchester a pressionar com eficácia e os catalães a conseguirem manter a posse da bola, descongestionando e reiniciando a jogada por outro sítio, obrigando a equipa inglesa a esfalfar-se para não abrir espaços. O Barcelona controlou o jogo todo, mantendo sempre a posse de bola e conseguindo, não raras vezes, introduzir-se em zonas ameaçadoras. O futebol foi envolvente, de toque curto e rápido, dinâmico, progressivo e competente. Não andou apenas a circular a bola, a fugir à pressão do Manchester; foi capaz de superá-la e de se intrometer entre as duas linhas defensivas inglesas. É verdade que o Manchester defendeu muito bem em largura e pressionou com alguma eficácia. Mas isso só acrescenta mérito às vezes que o Barcelona conseguiu superar essa boa estratégia defensiva de Ferguson. Se a equipa não conseguiu ir muitas vezes à linha, conseguiu entrar com a bola controlada pelo meio por diversas vezes, dispondo de remates à entrada da área e até de algumas entradas em posse na área britânica. O jogo de ontem deixa tudo em aberto, é certo, mas foi uma verdadeira lição de futebol e de como se deve atacar contra equipas que defendam tão em baixo quanto o Manchester o fez. O simples facto de não ter conseguido marcar golos não deve constituir prova de que esse futebol foi inconsequente; apesar de não ter marcado, o Barcelona demonstrou um poder ofensivo fenomenal e nenhum adepto inglês, depois do jogo de ontem, pode não ficar apreensivo. Parecendo paradoxal aquilo que vou dizer, quero reiterar que o que se passou em Camp Nou foi um verdadeiro hino ao futebol de ataque e, embora o 0-0, é assim que se deve atacar, com ponderação, segurança, paciência e competência. Muitos dirão ainda que um hino ao futebol de ataque é um jogo que acabe com muitos golos. Errado! O futebol do Barcelona ontem, esse sim, foi uma demonstração do que é atacar: atacou, empurrou, massacrou, sem nunca perder a cabeça, sem nunca descuidar a defesa; atacou sempre de forma equilibrada, sem riscos loucos, respeitando a qualidade do adversário e reconhecendo a estratégia cínica do mesmo. O futebol de ataque do Barcelona ontem foi o melhor futebol de ataque que vi nos últimos tempos e uma brilhante lição que os manuais de futebol deveriam preservar.

10 comentários:

Mister Fred disse...

Sim, de facto este jogo, que culminou num nulo, nada teve de defensivo, e até posso entender como um hino ao futebol de ataque, mas dizer que um jogo como o SCP-SLB da Taça, mesmo tacticamente fraco, não é um hino ao futebol de ataque também é errado.
Cumprimentos,

TAG disse...

Pelo que ouvi dizer o Ronaldo até quase que chorou por ter falhado o penalty... ai ai como é que uma criança destas quer ganhar prémios de homens ? enfim...

por falar em futebol de ataque, o glasgow la conseguiu o 0-0 fora de novo, a fiorentina que se cuide...

Mister Fred disse...

Discordo, dessa opinião sobre o Ronaldo, que não acho que seja relevante. Não julgo, que não chorar signifique, por si só, ser "mais homem". Já vi grandes astros mundiais a chorar. Simplesmente, o Ronaldo ficou frustrado, consigo próprio naquele momento, pois poderia colocar o Manchester em excelente posição no jogo e eliminatória. Quanto ao prémio de melhor do mundo, que não ganhou este ano (é discutível, mas não fica concerteza mal entregue a Kaká), penso que o poderá fazer, num dos anos vindouros, quem sabe no próximo, o que estará, sempre dependente da prestação colectiva, quer do Manchester United (ganhar ou não a Liga dos Campeões e o campeonato), quer da selecção nacional. A ver vamos, mas tal não passará, pelo tipo de resposta emocional, que este dá, aquando da falha de um penalty.
Abraços

Gonçalo disse...

Bad, aqui vou ter de concordar com o Mister Fred. Até pq, apesar da azia evidente por falhar o penalty, acho isso uma reacção normal. Falhar um penalty em Camp Nou, numa meia final da champions, não é fácil.

Em relação ao Glasgow... Já não digo nada...

Anónimo disse...

"Pelo que ouvi dizer o Ronaldo até quase que chorou por ter falhado o penalty... ai ai como é que uma criança destas quer ganhar prémios de homens ? enfim..."

Comentário mais estúpido que se viu nos últimos tempos.

TAG disse...

Foi só a prova de como ele não é maduro, nem de personalidade nem a nivel de jogo, só quando ele for maduro é que poderá ganhar prémios que são atribuidos não só á qualidade de jogo mas também á maturidade e regularidade de um jogador. Sim, tambem ja vi jogadores chorarem, agora na primeira mão de uma meia final da liga dos campeões?? se ainda fosse um penalty na segunda mão, perto do fim...

Mister Fred disse...

sem comentários, para tanta estupidez

TAG disse...

se queres insultar ao menos faz como deve ser... para ler merdas dessas nem vale a pena comentares.

TAG disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
TAG disse...
Este comentário foi removido pelo autor.