segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Farnerud: um estudo

O jogo é o Vitória de Setúbal - Sporting; o espécime em estudo, o sueco que, por diversão e vontade de agradar às massas, o país inteiro decidiu odiar.

1 minuto: Corte (antecipa-se a um adversário e ganha, chutando para longe, uma bola que vinha do ar.)

1 minuto: Bom passe. (Recebe, roda e joga na linha.)

2 minutos: Bom passe. (Recebe, controla a bola e dá no meio.)

2 minutos: Bom passe. (Recebe, aguenta uma carga, protegendo a bola e dá no meio.)

3 minutos: Corte. (Corte para fora.)

4 minutos: Bom passe. (Recebe e dá na esquerda; a bola é-lhe devolvida e dá em Moutinho.)

6 minutos: Drible e bom passe. (Recebe a bola vinda de um lançamento de Grimi, coloca-a no chão e passa no meio de dois adversários, dando depois em Veloso.)

7 minutos: Boa opção. (Bate livre curto para Grimi, que dá em Polga; este entrega-lhe novamente a bola e ele faz um passe vertical para Purovic, que, depois de dominar a bola, se deixa antecipar por Robson.)

8 minutos: Boa opção. (Ganha a bola no meio de dois adversários e dá de calcanhar para Grimi.)

9 minutos: Corte. (Corte junto à bandeirola de canto, cedendo um pontapé de canto.)

9 minutos: Corte. (Corta uma bola de cabeça difícil, mas adianta-a em demasia.)

10 minutos: Bom passe. (Recebe no meio de dois e dá no meio em Pereirinha.)

13 minutos: Perda de bola. (Desarmado por Janício, quando se preparava para executar um passe.)

13 minutos: Mau passe. (Passe de primeira demasiado comprido para Moutinho.)

14 minutos: Recuperação de bola. (Desarma Bruno Gama e Grimi limpa.)

15 minutos: Boa opção. (Recebe de Polga, dá em Grimi, que lhe devolve a bola; tabela com Liedson e dá novamente no avançado do Sporting, que a perde.)

19 minutos: Recuperação de bola. (Desarma um adversário e dá de calcanhar para Veloso.)

21 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga, avança com a bola, mas, sem soluções, lateraliza para Veloso.)

22 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga e dá em Veloso.)

26 minutos: Recuperação de bola. (Ganha uma bola no meio e dá para Moutinho, que lança Pereirinha em velocidade.)

28 minutos: Bom passe. (Recebe no meio e dá para Grimi.)

28 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga e dá para Veloso.)

29 minutos: Má recepção. (Recebe a bola, conseguindo controlá-la em esforço, mas acaba por perdê-la pelas dificuldades na recepção.)

29 minutos: Recuperação de bola. (Desarma um adversário no meio e entrega rápido.)

30 minutos: Bom passe. (Recebe a bola vinda de um lançamento e dá para Polga.)

30 minutos: Bom passe. (Moutinho corta a bola, que sobra para ele; dá em Liedson, mas o avançado disputa o lance em falta.)

31 minutos: Corte. (Corte para fora.)

31 minutos: Bom passe. (Recebe de Moutinho e dá em Liedson, na linha.)

31 minutos: Desarmado. (Janício antecipa-se-lhe e fica com a bola.)

33 minutos: Recepção difícil. (Recebe à queima-roupa, à altura do peito, tentando endereçar a bola de primeira para Purovic.)

34 minutos: Boa opção. (Recebe de Liedson e dá em Polga (aparentemente, Liedson fica a protestar por o sueco ter interrompido o contra-ataque, mas a decisão foi bem tomada, uma vez que Liedson, se fosse servido, estaria encostado à linha, com a equipa toda recuada, e rodeado por três adversários).)

35 minutos: Bom passe. (Joga atrás em Polga.)

36 minutos: Bom passe. (Recebe de Veloso e dá de primeira em Moutinho, que joga de primeira em Veloso (excelente triangulação).)

38 minutos: Mau passe. (Tenta servir Grimi, mas o passe sai comprido.)

38 minutos: Bom passe. (Dá curto para Moutinho.)

39 minutos: Bom passe. (Recebe, dá em Veloso; recebe de novo, dá em Pereirinha, que lhe devolve a bola; de primeira, faz um passe de 40 metros pelo ar para Moutinho, aberto na esquerda.)

39 minutos: Bom passe. (Dá para Polga, que subira pela linha.)

40 minutos: Bom passe. (Dá para Purovic.)

41 minutos: Boa opção. (Alivia à entrada da sua área.)

41 minutos: Falta. (Recebe a bola da cabeça de Grimi, protege-a e sofre falta.)

42 minutos: Bom passe. (Recebe e dá de primeira em Grimi.)

44 minutos: Bom passe. (Recebe a bola no meio, vinda de Veloso, e dá em Liedson, na linha.)

44 minutos: Bola de cabeça. (Tenta ganhar um lance de cabeça, mas chega tarde e perde.)

47 minutos: Drible e passe. (Recebe de Grimi, dribla um adversário e lateraliza.)

50 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga e dá em Grimi.)

51 minutos: Falta não assinalada. (Passe comprido de Grimi que ele consegue captar já em cima da linha; sofre um empurrão de Janício, que não é assinalado.)

52 minutos: Bom passe. (Recebe a bola de um lançamento de Grimi e entrega de primeira.)

52 minutos: Mau passe. (Passe vertical interceptado.)

53 minutos: Bola de cabeça. (Ganha bola de cabeça.)

54 minutos: Bom passe. (Recebe de Pereirinha no meio e faz um passe a rasgar para Grimi, que fica com o flanco esquerdo escancarado.)

55 minutos: Recuperação de bola. (Recupera para Polga.)

55 minutos: Bom cruzamento. (Recebe de Moutinho junto à linha, gira e cruza a meia-altura.)

56 minutos: Boa opção. (Cruzamento largo vindo da direita, recebe, protege e dá atrás em Grimi, que cruza.)

57 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga e entrega rápido para Liedson, iniciando um contra-ataque sustentado.)

58 minutos: Boa opção. (Sobra uma bola à entrada da área do Vitória, que dá de primeira em Liedson, que perde.)

59 minutos: Bom passe. (Dá em Veloso, mas este adianta demasiado a bola e perde-a.)

61 minutos: Bom passe. (Recebe e dá rápido para Moutinho, que estica o passe para Tiuí, numa transição rápida.)

62 minutos: Bom passe. (Lança Tiuí, recebe do brasileiro e dá em Grimi, que cruza.)

63 minutos: Bola de cabeça. (Ganha de cabeça para Tiuí.)

63 minutos: Bom passe. (Isola Liedson na linha, que cruza.)

64 minutos: Bom passe. (Dá para Grimi, recebe de novo e dá no meio.)

64 minutos: Bom passe. (Recebe na coxa e joga na frente em Tiuí.)

65 minutos: Corte falhado. (Tenta cortar uma bola, mas Bruno Severino ganha o ressalto.)

69 minutos: Boa opção. (Recebe, progride com a bola e dá em Tiuí, no pé, mas o brasileiro não entende e tenta fugir nas costas da defesa, perdendo-se o lance.)

69 minutos: Má recepção. (Recupera uma bola, mas a recepção da mesma não é a melhor e a bola é novamente recuperada pelo Vitória.)

70 minutos: Boa opção. (Pressiona Auri, obrigando-o a chutar para fora.)


Coloquei em negrito as coisas negativas do jogo de Farnerud. Vamos então aos resultados:

1) 66 acções durante 70 minutos; 58 boas acções; 88% acções positivas.
2) Em 50 lances com a bola nos pés e com condições para fazer algo (exclui-se portanto os lances de bola parada ou as disputas de cabeça, ou os lances em que procura recuperar a bola, ou os lances em que não tem a bola totalmente dominada), teve 46 boas opções contra 4 más opções; 92% de boas opções.
3) Destas 4 más opções resultaram 4 perdas de bola, sendo que só 3 delas ficaram em jogo, saindo a outra do terreno de jogo.
4) Há quem ache que o rapaz não se mexe e que, além de ser mau a nível ofensivo, não ajuda em tarefas defensivas, mas Farnerud fez 6 cortes, recuperou 5 bolas e ganhou 2 bolas de cabeça.
5) Efectuou 42 passes correctos (não são contados aqueles que, por negligência dos colegas, não tiveram consequência) contra 3 passes errados; 93% de passes acertados. Há quem diga que ele só faz passes para o lado e para trás (o que por si só não deixa de ser bom para a equipa reter a posse de bola), mas a verdade é que, destes 42 passes acertados, 11 passes permitiram à equipa uma progressão imediata no terreno (passes verticais, passes de ruptura, tabelas, etc). Além disso, 2 deles foram passes de claro risco, nas costas da defesa. Os três passes falhados foram todos passes do mesmo tipo, ou seja, passes que visavam uma progressão imediata, pelo que dos 45 passes tentados, 14 passes comportavam um risco relativo, o que faz com que 31% dos seus passes sejam passes de progressão imediata. Afinal, parece que não joga só para o lado e não faz só passes de 3 ou 4 metros.
6) Não sendo a sua primeira opção, sempre que precisou de recorrer ao drible, desenvencilhou-se dos oponentes, perfazendo 2 dribles.
7) Não fez nenhuma falta e sofreu 1.
8) Raramente reteve a bola em seu poder demasiado tempo, fazendo fluir o jogo do Sporting numa primeira fase de construção. Foi muito participativo, como demonstra a impressionante média de quase 1 acção por minuto jogado, o que refuta a teoria de que foge da bola e se esconde do jogo. Pediu com frequência a bola e quase todos os ataques do Sporting passaram pelos seus pés.

Notas finais: através do acerto dos seus passes (93%) e da recorrência das boas opções (92%), Farnerud conferiu segurança nas primeiras fases de construção, momentos em que é fortíssimo, como se vê. Assegurando de tal forma o equilíbrio da equipa, libertou outros jogadores para lances de maior exigência criativa, como seja o caso de Moutinho e Pereirinha, mas não deixou de se integrar no ataque, tendo solicitado várias vezes os colegas à linha, em posição privilegiada para cruzarem, e tendo sido, inclusivamente, responsável por alguns passes que desequilibraram o adversário. Depois disto, que outros argumentos terão os que não apreciam as qualidade do sueco?

Outras coisas sobre este jogo:

1) Pereirinha fez um jogo notável, jogando e fazendo jogar. Juntou à já conhecida responsabilidade colectiva pormenores deliciosos e um carácter competitivo cada vez mais condizente com aquilo que sei dele. Já começa a calar muita gente...
2) Moutinho, Farnerud e Grimi também estiveram em bom plano.
3) Veloso esteve profundamente desinspirado e foi com bola, ao contrário do que tem sido hábito, que cometeu mais erros.
4) Liedson fez uma exibição patética. Não sei mesmo se pior que a de Purovic.
5) Dá-me ideia que Tiuí é outro Liedson, mas com menos moral... por enquanto.
6) Polga tem vindo a descer de forma.
7) Pedro Silva esteve muito nervoso.
8) O melhor losango do Sporting, neste momento, é composto por Farnerud, Pereirinha, Moutinho e Romagnoli.
9) O erro fatal de Patrício acabou por condenar a equipa, mas há que continuar a apostar no miúdo e confiar que aprenderá com os erros. E, para os críticos, é apenas o segundo erro dele...
10) O problema do Sporting voltou a ser a sua linha ofensiva. A equipa fez um jogo relativamente bom até ao último terço do terreno, no qual não conseguiu entrar em progressão, muito graças, também, ao excelente bloco baixo do Vitória. Isto resulta, contudo, principalmente da deficiência dos avançados em segurar bolas para a entrada dos médios e dos poucos movimentos laterais dos mesmos e do vértice ofensivo do losango. Sem bola, o sector ofensivo do Sporting tem sido uma nulidade esta época e quase todos os bons resultados da equipa ficaram ligados à ajuda na movimentação sem bola de Romagnoli. Ao contrário de outros momentos da época, o losango jogou curto e funcionou quase na perfeição (excepção para Miguel Veloso); os laterais também fizeram um bom jogo interior e ocuparam espaços ofensivos, essencialmente na segunda parte; pelo que os processos ofensivos não tiveram qualidade unicamente pelo sector ofensivo.
11) Carvalhal é grande...

13 comentários:

Peyroteo disse...

1) O Farnerud, juntamente com o Pereirinha, foram os melhores do Sporting em Setúbal. Os jornais deram notas baixíssimas ao Farnerud mas, neste jogo, não têm a mínima razão e só pode ser por embirração. É preciso avaliar jogo a jogo e não emitir uma opinião baseado em ideias pré-concebidas.
O Pereirinha está a crescer bastante. Admito que tinha uma ideia negativa do miúdo mas tem crescido bastante nos últimos tempos e está cada vez mais influente. Dá a ideia de que o Paulo Bento devia ter dado oportunidades mais efectivas ao Pereirinha. Talvez se tivesse soltado mais cedo.

5) Não tenho desgostado de Tiuí, principalmente se compararmos com o Purovic...

6) O Polga não tem sido o mesmo desde a lesão. Está menos acertado nas antecipações.

7) O Pedro Silva pode fazer melhor que aquilo. Tem um bom pé direito.

8) Romagnoli faz muita falta...

9) Penso que o Stojkovic é melhor que o Patrício.

Anónimo disse...

"E, para os críticos, é apenas o segundo erro dele..."

tendo em conta o numero de jogos que efectuou creio que é um numero elevado de erros graves. Principalmente porque em ambos limitaram de certa forma as opções do sporting levar os 3 pontos.

Há que pensar no futuro certamente, mas acima de tudo há que pensar no presente e daí não acho que pôr jovens em campo desta forma para "irem aprendendo" seja correcto. Os jovens devem ir sendo introduzidos entrando em jogos já resolvidos ou de menor importancia nunca em jogos importantes. Erros é nos juniores, aí pode errar à vontade. quando se entra na equipa principal já não se pode errar.

O patrício foi lançado às feras e claramente ainda não está preparado. pode ser muito bom para o futuro do sporting mas para o presente não tem sido benéfico.

cumprimentos

filipe disse...

Concordo que há algum exagero em relação ao Farnerud mas parece-me que de facto é um jogador inadequado para actuar numa das alas do losango. Mais do que passes errados e falhados (que de facto não erra muitos, sendo um jogador forte no capítulo técnico), o seu problema está na amplitude que dá (ou melhor não dá) ao flanco em que joga. É um jogador de intensidade de jogo baixa e também com pouca agressividade, mas sobretudo que preenche zonas limitadas do terreno.
Repara na recolha de acções que fizeste, creio encontrar apenas um cruzamento e nenhum remate. O que é manifestamente pouco para quem actua naquela posição e num jogo de domínio permanente do Sporting.
Outro aspecto que foi evidente mais do que 1 vez no jogo foi alguma falta de reacção em termos defensivos, alheando-se de lances que se desenrolavam sobre o seu flanco.
Penso que Paulo Bento poderia testar o Farnerud numa posição com menos exigências de mobilidade, por exemplo a pivot defensivo do losango (embora não saiba até que ponto as suas características defensivas se adaptariam...).

Anónimo disse...

O maior problema dele, na minha opinião, é jogar num lugar que não corresponde às características dele. Gostava de o ver jogar mais recuado, sempre o disse. Contra o V. Setúbal foi vítima dos preconceitos.

Nuno disse...

Filipe e Pampa, também concordo que a melhor posição dele, pelas suas características, deve ser a de médio mais defensivo. Acho-o parecidíssimo com o Custódio (jogador que admiro pelo extraordinário sentido posicional e pela inteligência), mas melhor tecnicamente e mais rápido a pensar. Contudo, não acho que seja nada mau como médio interior num losango. É, de facto, um jogador de apoios recuados, que gosta de estar atrás do portador da bola para dar opção atrás, e isso retira-lhe protagonismo. Mas a equipa, sobretudo numa táctica assim, ganha muito com a segurança que ele confere e com a gestão dos ritmos perfeita que faz. Num 442 losango, muita da profundidade tem de ser dada pelo lateral, com o interior a cobrir e a dar apoio recuado. Ele faz isso na perfeição. Com um lateral como Grimi, acho o Farnerud o jogador indicado para jogar ali. Com um lateral como Ronny, talvez já não.

O que significa não dar amplitude? Ir à linha cruzar? Isso, de facto, não o faz com frequência. Porquê? Porque é um jogador preocupado com equilíbrios. Sabe que um movimento vertical, uma desmarcação pela linha desposicionam o losango. Uma bola perdida nessa situação implica um reajustamento do losango que pode não acontecer. É, como disse, um jogador de apoios, que se preocupa em equilibrar a equipa e em ocupar os espaços correctos de forma a que os jogadores que têm mais à vontade para desequilibrarem, para movimentações mais arriscadas, possam fazê-lo em segurança. Se é nisso que ele é bom, na forma como permite à equipas excentricidades, não vejo porque não deva fazê-lo. Agora, amplitude ele dá. Através de tudo isto que disse. Tendo um lateral ofensivo do seu lado, tendo jogadores mais criativos que ele nas restantes posições de meio-campo, a sua movimentação, as suas opções de passe permitem à equipa, enquanto equipa, ter amplitude pelo seu flanco. Não sendo ele quem dá directamente essa amplitude (uma vez que não é ele quem vai à linha cruzar, não é ele que se desmarca na linha), dá-a indirectamente, quer através do posicionamento em apoio recuado, quer através de passes (e ontem fez vários) para colegas que abriram no flanco. E, se virmos bem, o Sporting, no Domingo, teve muito mais amplitude pelo flanco esquerdo do que pelo flanco direito, no qual jogou um jogador que até foi mais vezes à linha do que o Farnerud, o Pereirinha. E este facto, deve-se, e muito, ao sueco.

É um jogador de intensidade de jogo baixa? O que é isso de intensidade? Falta de agressividade? Se for isto, não concordo, porque ele é suficientemente agressivo quando tem de sê-lo, isto é, quando pode ganhar a bola. Estando longe do portador da bola, não se desposiciona para ir à cão tentar roubar uma bola. Isto pode parecer falta de agressividade, mas é inteligência. E a prioridade que ele dá ao posicionamente, em detrimento da "agressividade", valeu-lhe ontem 6 cortes e 5 recuperações de bola. Acho que diz muito. Se entendes intensidade por velocidade, tens de distinguir. Com bola no pé, raramente a retém. É muito rápido a pensar e muito rápido a executar. A bola raramente fica em seu poder muito tempo, coisa da qual, por exemplo, Veloso abusa. O jogo, quando passa por ele, flui muito bem. Logo, com bola, Farnerud é veloz. Não é, de facto, um jogador que conduza muito a bola. Se entendes intensidade por agressividade com bola, por condução, atitude, de facto o Farnerud não é jogador para isso. Raramente se mete em trabalhos, raramente arrisca em ir no um para um, embora seja forte nesse capítulo, uma vez que se desembaraça, quando não tem outra solução, dos adversários que lhe surgem ao caminho. Se, por fim, entendes intensidade como aquilo que faz com que a equipa ande para a frente (passes mais arriscados, tabelas, passes mais longos e menos lateralizados), um terço das suas acções com bola foram neste sentido. E não creio que isto seja pouco. Os passes lateralizados ou para trás permitem à equipa várias coisas: permanecer na posse de bola, descongestionar o jogo, procurar novas soluções, etc. O futebol de "intensidade baixa" do Farnerud, se reparares bem, dá-se nas primeiras fases de transição, as quais, segundo a minha opinião, é essencial que sejam lentas, de intensidade baixa. Se não se vê o Farnerud a fazer coisas mais vertiginosas, mais arriscadas, é porque, como disse, ele é um jogador de apoios recuados e, normalmente, não ocupa zonas onde as transições necessitam de ser mais rápidas. Por exemplo, acho o futebol do Paulo Assunção muito parecido com o do Farnerud, sendo que o Paulo Assunção, na minha opinião, é mais agressivo sem bola, mas menos correcto a nível posicional. De resto, são jogadores idênticos na forma como jogam, são jogadores de apoios recuados e raramente são eles quem vão desequilibrar. O Paulo Assunção, por exemplo, raramente remata à baliza, já para não falar nas vezes que vai à linha. E, no entanto, é considerado bom. É verdade que o Farnerud não joga na mesma posição, mas nesse caso a discussão tem de ser se é possível encaixar um jogador com as suas características naquela posição do losango. E eu acho que sim. Por exemplo, não quereria dois Farneruds nas posições de médios interiores, mas quereria sempre um.

Preenche zonas limitadas do terreno? Por tudo o que disse anteriormente. Permite que outros preencham outras zonas. É um jogador de apoios, de compensação. Por que é que uma equipa não pode jogar com 2 laterais a fazer o corredor todo e com dois médios interiores de trabalho de compensação, por exemplo? Olha, o campeão europeu joga assim, com dois médios interiores de posicionamento defensivo. Esses também preenchem zonas limitadas, mas a equipa tem sucesso assim. Acho até, pelas suas características, necessário que preencha zonas limitadas. Se fosse um jogador com mais mobilidade, perderia influência, pois necessitaria de ser mais criativo, mais inventivo, mais imprevisível. Ele é bom pela segurança que oferece, pela simplicidade dos seus processos e pela forma como permite à equipa estender-se e movimentar-se mais livremente. Não tenho dúvidas, por exemplo, que, tendo ele jogado com regularidade esta época, Moutinho estaria muito mais livre para explorar o seu talento.

De facto, vi 2 lances em que pareceu não se interessar pelo desempenho defensivo, tendo uma das vezes Moutinho acorrido a fechar a zona que seria dele. Mas não creio que isto seja um erro tão grosseiro. Nos lances em questão, o Vitória tinha feito transições rápidas. Os jogadores não passaram com a bola controlada por ele, mas receberam-na já à sua frente. Entretanto, os médios não acompanharam, pelo que o portador da bola, de facto do lado de Farnerud, estava sozinho, apenas com um apoio ao meio, e tendo pela frente Grimi, Polga e Veloso. Farnerud talvez pudesse ter dado dois passos atrás, encurtado o espaço de manobra ao portador da bola, o que reduziria a sua margem de sucesso, mas não o ter feito não foi um erro propriamente dito. Se os médios e o lateral, por outro lado, tivessem acompanhado o ataque e o sueco tivesse permanecido apático, aí sim, concordo que teria sido claramente displicente. Mas, nesses casos, estando o Sporting com superioridade numérica naquela zona, e com as linhas de passe relativamente bem tapadas, um recuo excessivo teria sido contraproducente.

Nuno disse...

Peyroteo, claro que é preciso avaliar jogo a jogo, mas o Farnerud, no Domingo, esteve igual a si próprio. A única diferença foi que jogou mais tempo. De resto, jogou como joga quase sempre. E é por isso que sempre disse que ele era bom.

A única coisa que mudou no Pereirinha foi ter perdido parte da timidez. O resto, o talento, as ideias, já lá estava. No jogo jogado, isto reflecte-se essencialmente na coragem de ir no um para um e no à-vontade que começa a ter entre os colegas. De resto, sempre foi um jogador de boas opções, de facilidade a nível técnico, etc. E foi sempre isto que eu e o Gonçalo dissemos dele, em parte porque já o conhecíamos, mas também porque sabemos que qualquer jogador, tendo capacidades extraordinárias a nível intelectual e sendo muito bom a nível técnico, é apenas uma questão de tempo para desabrochar. Mas não quiseram acreditar... Lembro-me bem de achares uma barbaridade (tu e muitos mais), quando eu o defendia. Cheguei, por exemplo, a apostar que em 2012 estaria entre os melhores jogadores portugueses e seria chamado para o europeu desse ano. Ainda está longe de ser um valor adquirido do nosso futebol, mas, depois destas primeiras grandes exibições, tenho à-vontade e moral suficiente para afimar, de novo, que o vai conseguir ser, sem que mo possam desmentir peremptoriamente ou sem que o possam fazer, pelo menos, sem sentir que podem, afinal, estar a cometer um erro.

Peyroteo disse...

Eu, de facto, não conhecia o Pereirinha antes de ter sido resgatado ao Olivais e Moscavide. Do que fui vendo nos poucos minutos que o Paulo Bento lhe deu na época passada, não fiquei com boa impressão. Mas sem dúvida que ele, quando lhe deram uma oportunidade mais séria, demonstrou qualidades. Tem-se imposto na equipa e não faltará muito para se tornar um indiscutível.
Quanto ao Farnerud, acho um bom elemento. É um jogador bastante evoluído tecnicamente (muito mais que o Custódio) e que gosta de jogar simples, o que é sempre positivo. Não dá nas vistas nem é explosivo, mas uma equipa de futebol não vive só disso.

Pedro disse...

Ainda não parei de rir. Nuno tu tás lá. Não vi o jogo por isso não sei se o sueco jogou alguma coisa ou não mas a ler o q tu escreveste só me lembrava do Michael "Big Balls" Thomas no Benfica.

Ele tb era sempre certinho e penso q poucas vezes terá perdido a bola ou feito um passe errado mas não dava nada de nada à equipa. Falhar passes laterais ou para trás de 3 a5 metros é q seria extraordinário.

O conceito de "boa opção" é muito relativo. Tu como gostas do jogador e pretendes defendê-lo de todos os ataques irás sempre aceitar q um passe q chega ao colega como um bom passe e uma boa opção. Quem exige mais, como eu exigia do Thomas (e a qqr outro jogador) se calhar pede q a "boa opção" dele seja mais incisiva, mais objectiva, mais produtiva para a equipa (volto a dizer q não vi o jogo e q tudo o q o Farnerud fez pode ter sido excelente).

Mas dizeres q ele é parecido com o Custódio diz quase tudo do rapaz...pobre coitado
hehehehe

Nuno disse...

Pedro, várias coisas.

1) O Custódio é um bom jogador. Não tiveste, desde o Paulo Sousa, um jogador português tão inteligente como ele naquela posição.

2) Uma boa opção é uma boa opção. Não é relativo coisíssima nenhuma. Se numa situação pode jogar simples ou fintar, qual é a boa opção? Mesmo que a finta resulte, boa opção é sempre jogar simples, é sempre encontrar as melhores soluções para a equipa progredir. O Farnerud pode ter alguns defeitos, mas é de longe o jogador mais esclarecido do Sporting. Raramente tem más opções. E, ao contrário do que se diz, não é por não arriscar; é porque é muito rápido a pensar e tem as ideias todas no sítio. Podes discutir comigo, por exemplo, se o passe que faz para o Tiuí, já no fim do jogo, em que o Tiuí se vai embora, pensando que o sueco vai meter nas costas, é bom ou não. Na minha opinião, a ideia de jogar no pé do brasileiro era a melhor opção e foi essa que o sueco tomou. Mas aceitaria que me dissessem o contrário. Agora, não tendo a dupla solução, jogar no pé ou arriscar um passe mais comprido, a melhor solução é sempre fazer o jogo circular, retendo a bola o menos tempo possível, descongestionar quando tem de ser, fazer passes a rasgar quando tem de ser, tabelar quando tem de ser. Boas opções não são relativas. É preciso avaliar cada jogada para se perceber se o são ou não, mas em cada jogada, garanto-te, consigo dizer-te qual é a melhor solução...

Quanto ao Michael Thomas, lembro-me muito mal dele. É que nem sequer me lembro se cheguei a gostar dele ou não. Mas a pessoa cuja opinião futebolística mais respeito sempre me disse que ele não era mau. Dá-me ideia que era tipo Farnerud: como não era vistoso, não prestava... Diz-me lá, em que é que o Paulo Assunção, o Costinha, ou o Makelelé, para esticar a corda, são mais vistosos que o Farnerud! Diz-me que lances incisivos, objectivos, produtivos é que eles protagonizam. Se calhar é o trabalho deles que permite aos outros serem incisivos...

Pedro disse...

Depois do outro pôr Deco e Zidane na mesma frase tu colocas Costinha, Assunção na mesma frase q Makelele....medo, muito medo.
:)

Nuno disse...

Eu disse "para esticar a corda"... Se não percebeste por que é que pus jogadores com as mesmas características do Farnerud numa frase, não sou eu que te vou explicar...

Anónimo disse...

qualquer dia temos o paulo bento a dizer: "graças a deus que temos farnerud"

só não percebo uma coisa: sendo o farnerud asim tão bom porque é que joga uma vez por ano?

cumprimentos

Mister Fred disse...

O Farnerud, como Paulo Bento disse, deve mesmo ser um excelente profissional. É disciplinado, tacticamente. Também acho, que está sub-aproveitado, jogando preso a um dos vértices laterais. Devia jogar por exemplo na chamada posição 10. Contudo, acho que nestes dois anos não deu muito ao Sporting. Ok, jogou pouco. Mas se jogou pouco, porque será? Paulo Bento é que está nos treinos..e ou é muito burro, ou o jogador não faz por merecer mesmo o lugar. Fica a questão, eu opto pela segunda, mesmo sabendo que paulo bento não é nenhum superior, a nível técnico-táctico.