quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O modelo de jogo de Couceiro

Nas IV Jornadas Técnicas de Futebol, que decorreram na segunda-feira da semana passada em Moscavide, ao falar do seu modelo de jogo, José Couceiro afirmou que defende, no processo ofensivo, essencialmente duas coisas:

1) Posse e circulação de bola.
2) Transições rápidas e eficazes.

É de mim, ou uma coisa impossibilita a outra? José Couceiro tem um modelo de jogo no qual, durante o processo ofensivo, pretende duas coisas contraditórias. Fenomenal! Por um lado, quer que a equipa tenha posse de bola, que a circule pelos seus jogadores, mas por outro pretende que as transições sejam rápidas? Como é que se mantém a posse de bola com transições rápidas? Jogando sem adversário? Creio que o que dava mesmo jeito, no futebol português, era treinadores com alguma escolaridade.

Mas José Couceiro não se ficou por aqui. Disse ainda que gostava de jogar em 433, com um médio-defensivo e dois interiores, preferindo essa versão ao duplo-pivot defensivo. Pus-me a pensar: queres ver que o Couceiro é um brincalhão? Então ele nunca jogou só com um médio-defensivo, mas prefere isso? Dá-me ideia que é mais ou menos o mesmo que um homossexual que continua a insistir que prefere mulheres a homens, mas tudo bem. No Porto, Couceiro jogou sempre com um médio-ofensivo; na selecção nacional de sub-20, insistiu na dupla Pelé/Nuno Coelho, mesmo quando esse esquema já tinha revelado todas as suas fragilidades. E isto em equipas grandes, que devem comandar o jogo. Se nestas não pôs em prática aquilo que afinal defende, só posso concluir que, ou não percebe nada de futebol e nem sequer sabe o que são médios-ofensivos, ou é mentiroso.

Disse ainda, entre muitas coisas sem nexo, outra barbaridade digna de nota. Para Couceiro, o processo ofensivo tem de terminar sempre com finalização. Isto é, uma jogada de ataque deve ter por conclusão uma tentativa de finalização, ainda que o jogador esteja desequilibrado, desenquadrado, etc. A teoria de Couceiro é a seguinte: se a jogada de ataque terminar, mesmo que o remate seja absurdo, a equipa nunca é apanhada em contra-ataque. Isto causa-me alguma confusão, até porque logo de seguida Couceiro disse preferir que um avançado rematasse à baliza, mesmo que não tivesse hipóteses de fazer golo, do que tentasse assistir um colega, porque isso poderia causar uma perda de bola e um consequente contra-ataque. Mais uma vez, fenomenal raciocínio! Para impedir o contra-ataque do adversário, Couceiro pede à sua equipa que não troque a bola. Agora entendo o porquê das transições rápidas: não é para aproveitar espaços, mas para evitar perder bolas. O modelo de jogo de Couceiro é, no fim de contas, o medo. Porque tem medo de perder a bola e de sofrer as consequências disso, troca-a o menos possível e, na iminência de a perder, há que tentar finalizar a jogada, ou seja, rematar de onde se está e em que contexto se está. O modelo de jogo de Couceiro não contempla o risco, que todo o modelo ofensivo tem necessariamente de contemplar; pressupõe atacar sempre a pensar que perder a bola é defender mal. Logo, Couceiro é um treinador que só sabe defender. Há formas de atacar sem descuidar em demasia a defesa, mas isto é muito mais do que isso: é não atacar verdadeiramente. É atacar apenas até ao ponto em que não se comprometa a estrutura defensiva. Como isso é impossível, a equipa de Couceiro só defende. Aquilo que é o ataque da sua equipa é apenas o aproveitamento de espaços. Ou seja, o modelo de jogo de Couceiro não ambiciona a perfeição e limita-se àquilo que o adversário permitir. Em vez de dar liberdade à equipa para procurar soluções ofensivas, prefere que os jogadores ataquem apenas enquanto isso não for arriscado. Isto, creio, é um contra-senso. Atacar é arriscar, pouco ou muito. Couceiro pretende atacar sem arriscar. Isso é defender...

Além destes paradoxos, destas palermices evidentes, Couceiro disse pouca coisa acertada. Para mim, que desde sempre me amotinei contra a incompetência de Couceiro, foi apenas a confirmação de tudo o que pensava. Acho, por isso, que os cursos de treinador deveriam estar sujeitos a apreciações competentes. Se examinados, muitos treinadores não teriam emprego. E o futebol agradecia. Couceiro seria um caso desses. Nesse caso, as nossas selecções jovens teriam agradecido. Assim não aconteceu e, Couceiro, um jogador banal, aproveitando-se da sua carreira no sindicato, chegou onde chegou. É a prova de que, hoje em dia, qualquer um que aposte em fortalecer a sua imagem política, mesmo que seja profundamente incompetente, tem o futuro garantido.

10 comentários:

Anónimo disse...

Não discordo do Couceiro...e acredito que a afirmação dele tem fundamento e que as duas podem coexistir perfeitamente.

Um jogo tem vários momentos e, nesses momentos, poderá ser necessário adaptar às circunstâncias do jogo, do adversário e de cada lance. As transições rápidas não são necessariamente ataques rápidas. É o transporte rápido de uma situação de posse de bola "defensiva" (este termo é estranho, eu sei) para uma posse de bola "ofensiva".

Ao conseguir fazer uma transição rápida e com sucesso, diminui-se o risco de erros em zonas perigosas, bem como obriga o adversário a uma recuperação mais intensa e rápida e, como tal desgastante.

O que interpreto das palavras dele é isso mesmo. Antes de mais importa que a equipa suba rapidamente e em bloco para uma zona de ataque para depois privilegiar a posse de bola, mas sempre no meio-campo adversário.

Quanto à questão do ataque com finalização pareceu-me despropositado.

Não gosto dele, mas acredito que seja uma pessoa que até percebe algo de futebol. No entanto, existe uma grande diferença entre o pensamento e a execução. E neste último o Couceiro falhou a toda a linha em todos os locais que passou.

Cumprimentos Nuno.

Anónimo disse...

so ha ai uma coisa mal na tua análise: colocas as palavras couceiro e modelo de jogo no mesmo saco! isso é claramente impossivel!

cumprimentos

Anónimo disse...

a crónica prova outra coisa: que há uma escola de treinadores pós-mourinho em que o modelo de jogo é sobretudo o sobretudo.

Gonçalo disse...

Não me parece que seja assim, pampa.
Penso que na posse e circulação de bola as transições rápidas não exequíveis."
É o transporte rápido de uma situação de posse de bola "defensiva" (este termo é estranho, eu sei) para uma posse de bola "ofensiva""
Então assites a uma transição rápida e sem circulação de bola.

"ao conseguir uma transição rápida e com sucesso, diminui-se o risco de erros em zonas perigosas"
Isto para ser feito de forma segura - e parto do princípio que neste caso te referes à primeira fase de construção - é complicado. Numa primeira fase, mais do que velocidade, precisa-se de segurança. E mais, se as transições são feitas desta forma, demasiado rápidas, assiste-se a uma separação entre sectores, que depois se vai revelar compremetedor nas segundas bolas, bem como na falta dos apoios, no caso de ser preciso procurar outra solução para a conclusão do processo ofensivo, ficando nesse caso demasiado dependentes das acções individuais.

Anónimo disse...

Qualquer equipa, durante o processo ofensivo, tende a reforçar, em termos numéricos, a zona onde ataca, de forma a ter mais opções de passe. Uma das formas eficazes que se ensina nas camadas jovens é a variação de flanco. Bem efectuada, como em todo a prática no futebol, gera duas situações de vantagem:

Primeiro que tudo poderá permitir uma situação de ataque em vantagem, um contra-ataque com uma eventual superioridade numérica no flanco contrário onde a bola estava ou então, simplesmente, tempo. Tempo para a equipa subir em bloco e conseguir "assentar arraiais" numa zona mais adiantada do terreno.

A separação de sectores é, sem dúvida, um risco, mas depende da junção das equipas. No distrito de Lisboa mais de 90 por cento das equipas dos escalões jovens apostam no famoso esquema holandês do triângulo, apesar de não necessariamente com três defesas.

Penso que foi Mourinho que chegou a dizer que até os jogadores burros sabem interpretar um 4x5x1 (ou 4x3x3, depende das opiniões), mas para o 4x4x2 é preciso maior inteligência.

No entanto, se a equipa que ataca tende a reforçar o lado em que ataca... a equipa que defende fará o mesmo. A rapidez com que o "bloco" se adequa à mudança brusca de posicionamento da bola é decisivo para o sucesso de toda a "transição".

A "transição" não terá de ser necessariamente o "passar a bola da defesa para o ataque", mas alterar o posicionamento defensivo para o posicionamento ofensivo, mesmo que o "bloco" tenha subido apenas dez metros.

Pedro disse...

Espero q não tenhas deixado o Couceiro sem resposta.

Como éq um gajo destes recebe ordenado para treinar equipas.

É óbvio q o processo ofensivo se pode processar da forma q ele disse. Mas apenas de uma das formas. Simultaneamente não é possivel ser-se rápido e procurar uma circulação de bola. Porra é por demais evidete.

Uma das coisas q eu gostava do Chelsea de Mourinho (principalmente nas duas primeiras épocas)era a capacidade de circulação de bola q eles tinham esperando pela oportunidade certa para furar a defesa adversária. É um bom exemplo de transição ofensiva com posse e circulação de bola. Não é uma transição rápida e por isso o futebol de Mourinho foi tão apelidado de defensivo, apesar de ser quase sempre feito em cima do meio campo adversário. Uma transição ofensiva rápida requer dois/três toques e já se está em cima da baliza. Só se alguem entender por circulação de bola estes dois ou três toques. É verdade q não deixa de ser circulação de bola se quisermos ser minunciosos....enfim..

Mas a barbaridade é o q ele disse depois "Couceiro disse preferir que um avançado rematasse à baliza, mesmo que não tivesse hipóteses de fazer golo, do que tentasse assistir um colega, porque isso poderia causar uma perda de bola e um consequente contra-ataque".
Inacreditável.

E q tal fazer a bola recuar para o nosso meio campo e recomeçar o processo ofensivo outra vez? É q parece-me muito mais lógico e seguro a bola estar em nosso controlo do q nos pés do adversário...Se Couceiro tem tanto medo de perder a bola q peça aos centrais para a despacharem para a frente sempre com muita força q assim essa preocupção deixa de existir...

Há cada um....

Gonçalo disse...

Geralmente entende-se como "transições rápidas" as que são directas, ou seja, as que não "queimam" tempo a circular a bola até encontrar a melhor solução para definir, e concluir o processo ofensivo. Agora, por uma equipa basear o seu modelo de jogo na posse e circulação de bola, não quer dizer que essa equipa não possa fazer passes rápidos, que não p9ossa alternar periodos de uma maior intensidade, com alguns de uma maior moderação, na definição das várias fases de construção. O teu exemplo, como o dás, poderá ter algumas incongruências, por exe: Se por um lado o adversário vai ter menos jogadores na zona para onde virares o jogo com um passe rápido, tb a tua equipa terá menos jogadores nessa faixa, todavia, este movimento poderá fazer parte do teu"plano"de jogo ( como por exemplo acontece como porto com o Bosingwa, como referi no texto anterior) mas ai já nao poderás falar em transições rápidas, existe um movimento rápido, na variação de flanco, mas a transição de certeza que já não será rápida, nem directa.
Outra coisa com a qual não concordo é que utilizes a variação de flanco para "galgares" metros, pois esta situação não fornece a segurança idela para a tua equipa subir, ou seja, com uma variação destas o(s) jogadore(s) que receberem a bola, não terão tantos apoios como os desejados, ficando toda a estrutura muito dependente da capacidade individual dos jogadores em manter a posse de bola. É uma situação que, na minha opinião, acarreta muitos riscos, por isso prefiro que as primeiras fases, principalmente estas, sejam mais lentas, mas mais seguras.

Gonçalo disse...

Estou parvo!!! acho que é a primeira vez que concordo com o Pedro... e em tudo!!!!:D

Pedro disse...

Tás no bom caminho Gonçalo...
hehehe

Anónimo disse...

No entanto, se a equipa que ataca tende a reforçar o lado em que ataca... a equipa que defende fará o mesmo. A rapidez com que o "bloco" se adequa à mudança brusca de posicionamento da bola é decisivo para o sucesso de toda a "transição".

- Só para pegar numa coisa que disse e não perpetuar a troca de ideias que, sinceramente, até acho que estão muito próximas. É natural que a equipa que faz a variação também tenha menos gente... por isso falei logo aí da rapidez com que o bloco acompanha o movimento da bola.

Sinceramente... e extrapolando já para algo mais abrangente...a excessiva "intelectualização" do futebol não mais veio do que estupidificar as pessoas.

"Transição" e "Pressão alta" para mim são os dois exemplos maestros.

Por transição" pode entender-se a passagem de uma situação/postura defensiva para uma s/p ofensiva como passar a bola do meio-campo defensivo para o meio-campo ofensivo.

Na "pressão alta" passa-se o mesmo. Tanto pode ser a pressão numa zona "alta" do terreno, ou seja, no terço ofensivo como poderá ter a ver com a "intensidade" com que se faz a pressão.

Provalmente haverá muito pouca gente a concordar comigo, mas a intelectualização veio estupidificar as discussões sobre futebol.