sexta-feira, 4 de maio de 2007

Árbitros (1)

Gosto de contestar as regras, sobretudo quando não fazem sentido nenhum. Ontem, vi um grande espectáculo ser estragado porque um certo árbitro não teve miolos para perceber que, às vezes, se devem fechar os olhos ao que ditam as regras. Que não queiram mudá-las, tudo bem. Mas um árbitro não deve ser um papel químico. Deve conhecer as regras, mas não para aplicá-las tacitamente. Tem que saber interpretá-las. Por exemplo, uma das coisas mais ridículas no futebol, que não tem nada a ver com o que se passou ontem, é a exigência tola dos árbitros em relação aos equipamentos. "Ó jogador, a camisola para dentro dos calções!" - dizem. Nem sequer se dão ao trabalho de pensar. A camisola não deve estar dentro dos calções por uma questão de etiqueta. Deve estar dentro dos calções para se distinguir dos calções, para permitir uma diferença de cor e facilitar o trabalho do árbitro em lances confusos. Logo, num equipamento em que os calções são iguais à camisola, essa exigência não faz sentido. É até despótica. E o mesmo se passa quando a camisola tapa apenas uma parte insignificante dos calções. Um árbitro que se preocupa com isto não me merece respeito. Significa que está demasiado preocupado com pormenores irrelevantes e que não tem inteligência para perceber a irrelevância dessa preocupação. E um árbitro que não é inteligente não interpreta leis, segue-as à risca. E dá no que deu ontem...

Aos 17 minutos, Klose finta um adversário e simula uma falta. Fora da área. Simulação inequívoca, nada a dizer. Manda a lei que o jogador veja o amarelo nessas situações. Perguntemo-nos: faz sentido? A resposta, para quem tem mais que um neurónio, é evidente. Não, não faz. Klose, assim que caiu, levantou-se apressadamente e, de cabeça baixa, recuperou a posição. Não refilou, não pediu nada por aquele acto. Sabia o que fizera e teve a honestidade de não exigir algo que sabia que não acontecera. Respeito isso. E o árbitro também deveria ter respeitado. Se o jogador não protestou, é porque não tentou iludir ninguém. Muitas vezes, uma simulação não passa de um acto instintivo. Muitas vezes, um jogador apercebe-se da proximidade de um adversário e, imaginando um contacto, reage antecipando a queda. Uma acção involuntária destas é facilmente explicada. Serve para se proteger, para preparar uma colisão, para não se aleijar na queda. E não é necessariamente deliberada. Pode ser um acto inconsciente. O que interessa aqui é que, conscientemente ou não, Klose simulou uma falta, mas não pediu nada por ela. Como tal, não deveria ter visto o amarelo, que foi o segundo. O árbitro seguiu a lei, não a interpretou. Não interpretar leis é coisa de ditadores e de estúpidos. Um árbitro como o de ontem, e como a generalidade dos árbitros, reúne as duas qualidades. Aos 17 minutos, o Werder Bremen ficou reduzido a 10 unidades, numa altura em que já ganhava por 1-0, que massacrava. E massacrou, ainda assim, o resto da primeira parte. O Espanhol não chegou uma única vez à baliza dos alemães. Não fosse aquela expulsão, o Werder Bremen chegaria ao intervalo, com relativa certeza, com a eliminatória empatada. Mas um árbitro, um simples e reles árbitro, que deveria ter a incumbência de proteger o espectáculo, deitou por terra as ambições germânicas e estragou o jogo. Mais tarde, mostraria um cartão amarelo a Hugo Almeida por protestos do português, mas não admoestaria entradas a matar de parte a parte. Gostaria de saber o que é que ganham os árbitros ao punirem protestos. Duvido que aquele árbitro ontem tenha percebido uma palavra do que disse o Hugo Almeida. Contudo, o português vociferou e gesticulou energicamente. Foi punido por ter energia e falar alto. Se calhar também cheirava mal da boca. É idiota. É outra das leis que não faz sentido. Uma das coisas, talvez a única, que admiro nos árbitros ingleses é o facto de deixarem toda a gente protestar como bem lhes apetece. Vemos, muitas vezes, os jogadores a gritarem com os árbitros. E que tem isso de mal? Estão a desrespeitar alguém? Não. Expressar sentimentos, insatisfação, desapreço, faz parte do jogo. Esses momentos de descontrolo fazem parte do jogo. São parte integrante da emoção do mesmo. Punir protestos é ridículo! É exactamente o mesmo que punir um jogador por festejar um golo gritando de alegria. É punir alguém por manifestar um estado de espírito. Não aceito isso. Mas, lá está, a lei diz que se deve punir. Acrescento eu - a lei está errada...

3 comentários:

Anónimo disse...

lol

Nuno disse...

Há duas formas de interpretar a gargalhada que o caro anónimo deixou aqui: ou é um riso de aprovação, ou uma gargalhada irónica. Do primeiro caso pouco tenho a dizer. Talvez esperasse um pouco mais de expressividade. Se acontece tratar-se do segundo, imagino que o caro anónimo seja o senhor árbitro do desafio em questão, ou qualquer outro árbitro, ressentido com as palavras aqui deixadas, ou apenas alguém que gosta muito de árbitros, ou a amante de um árbitro, ou um fabricante de apitos, que tem de zelar pelo negócio, ou um fiscal de linha que jurou fidelidade à ordem dos árbitros, ou o Valentim Loureiro, ou o Santo Protector dos árbitros, ou o João Pinto, que gosta de imaginar que é o único a quem dá prazer esmurrar um árbitro, ou o fantasma de Salazar, que se melindrou com o facto de eu não aceitar servilmente uma lei, ou um agente da Brigada de Trânsito, pelas mesmas razões do fantasma, ou apenas uma pessoa qualquer cuja motivação não tenha sido nenhuma das que eu imaginei...

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o texto, se bem que o protestos incluir quase sempre o insulto e a falta de desrespeito, dai ser punido.

Mas ya, os arbitros são burros,mas isso é como em tudo, os jogadores tambem são...