segunda-feira, 8 de outubro de 2007

"Pinturicchio"

Nunca será reconhecido como o melhor do mundo, não que não lhe reconhecesse qualidade para isso, apenas sinto que o tempo dele para essas glórias já terá passado, mas nem precisa de tal epíteto.
É daqueles jogadores que teimam em emprestar graça e romantismo a um futebol cada vez mais frio e impessoal. No seu futebol a eficácia é apenas um adorno, é o ladrilho dos quadros que insiste em pintar com a graça que lhe é muito peculiar. Nele, o simples respirar tem classe, debutando charme nem que seja numa simples recepção de bola. Durante muito tempo aparecia de uma forma sisuda, talvez ressentido com a reconhecimento absoluto que o futebol insiste em não lhe conceder, menos ainda no seu lar...
Mas dele recordarei sempre o seu ar de menino, na iminência de mais uma das suas traquinices.

Em 93 deu-se a conhecer ao mundo do futebol. Continuando a tradição dessa velha senhora em acolher apenas os mais charmosos. Se a memória não me atraiçoa o destino numa demonstração inequívoca de sentido de humor e ironia, decidiu que seria um dos mais negros treinadores que o revelaria – convém explicar que me refiro unicamente à competência deste senhor enquanto treinador, nunca enquanto homem -.
“ Acreditar naquilo que fazemos é o mais importante”. E Del Piero sabia que o que fazia não era apenas mais um passe, mais um remate, mais um drible, apenas mais um golo. Não! Ele pintava um quadro, dos mais belos que podemos encontrar no futebol. Muitos dirão que preferiam que fosse menos vaidoso, que se preocupasse menos com a estética do seu futebol, mas como disse uma vez um famoso pintor inglês do século XIX “ take away a painter´s vanity, and he will never touch a pencil again “.
O futebol de Del Piero é vaidoso, mas o motivo para tal, é o mesmo que lhe permite ser um dos melhores do mundo: A paixão pelo futebol. Sem ela o seu talento não teria a mesma expressão, os seus movimentos não seriam tão perfeitos, e o seu estilo tão romântico.

Conquistou quase tudo o que havia para conquistar a nível colectivo, mas isto não interessa nada para o caso. Interessa sim, falar do inatingível. Enquanto muitos jogadores vem certos dribles associados a si, este conquistou uma zona. A famosa “Zona Del Piero” .À entrada da área adversária, descaído para lado esquerdo, este artista ofereceu ao futebol das mais belas homenagens de sempre.
Mencionar “Pinturicchio” não é articular realidade, nem sofrimento, nem resultados. Os muitos golos que marca, são apenas mais um detalhe, como os atilhos nas meias. Falar de Del Piero é sinónimo de sonhos, imaginação, criatividade, de arte! Do prazer que podemos encontrar no futebol. Quando desfila pelos relvados, parece que o faz em câmara lenta num gesto de generosidade. A sua personalidade, de tão nobre e clássica, não lhe permitiu ser irreverente o suficiente para ser Imortal, para ser um Deus, tão pouco um génio. Um génio a sério, não como aqueles que aparecem todos os dias...
Mas permitiu ao futebol se tornar um lugar mais belo...

1 comentário:

José Leal disse...

Tenho uma ideia para um blog, mas as ideias ainda têm de ficar definidas. Mas na eventualidade de ir pra frente com o projecto iria pedir a vossa colaborações como espécie de consultores.

Tem em parte que haver com o mesmo espírito com que este post recorda o Alex Del Piero.

Lembro-me do golo típico dele, e contra o Steaua numa champions penso que marcou assim uns dois no mesmo jogo.

Ainda para não esquecer o seu golo na final da Champions frente ao Borussia Dortmund.