quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O modelo de jogo de Couceiro

Nas IV Jornadas Técnicas de Futebol, que decorreram na segunda-feira da semana passada em Moscavide, ao falar do seu modelo de jogo, José Couceiro afirmou que defende, no processo ofensivo, essencialmente duas coisas:

1) Posse e circulação de bola.
2) Transições rápidas e eficazes.

É de mim, ou uma coisa impossibilita a outra? José Couceiro tem um modelo de jogo no qual, durante o processo ofensivo, pretende duas coisas contraditórias. Fenomenal! Por um lado, quer que a equipa tenha posse de bola, que a circule pelos seus jogadores, mas por outro pretende que as transições sejam rápidas? Como é que se mantém a posse de bola com transições rápidas? Jogando sem adversário? Creio que o que dava mesmo jeito, no futebol português, era treinadores com alguma escolaridade.

Mas José Couceiro não se ficou por aqui. Disse ainda que gostava de jogar em 433, com um médio-defensivo e dois interiores, preferindo essa versão ao duplo-pivot defensivo. Pus-me a pensar: queres ver que o Couceiro é um brincalhão? Então ele nunca jogou só com um médio-defensivo, mas prefere isso? Dá-me ideia que é mais ou menos o mesmo que um homossexual que continua a insistir que prefere mulheres a homens, mas tudo bem. No Porto, Couceiro jogou sempre com um médio-ofensivo; na selecção nacional de sub-20, insistiu na dupla Pelé/Nuno Coelho, mesmo quando esse esquema já tinha revelado todas as suas fragilidades. E isto em equipas grandes, que devem comandar o jogo. Se nestas não pôs em prática aquilo que afinal defende, só posso concluir que, ou não percebe nada de futebol e nem sequer sabe o que são médios-ofensivos, ou é mentiroso.

Disse ainda, entre muitas coisas sem nexo, outra barbaridade digna de nota. Para Couceiro, o processo ofensivo tem de terminar sempre com finalização. Isto é, uma jogada de ataque deve ter por conclusão uma tentativa de finalização, ainda que o jogador esteja desequilibrado, desenquadrado, etc. A teoria de Couceiro é a seguinte: se a jogada de ataque terminar, mesmo que o remate seja absurdo, a equipa nunca é apanhada em contra-ataque. Isto causa-me alguma confusão, até porque logo de seguida Couceiro disse preferir que um avançado rematasse à baliza, mesmo que não tivesse hipóteses de fazer golo, do que tentasse assistir um colega, porque isso poderia causar uma perda de bola e um consequente contra-ataque. Mais uma vez, fenomenal raciocínio! Para impedir o contra-ataque do adversário, Couceiro pede à sua equipa que não troque a bola. Agora entendo o porquê das transições rápidas: não é para aproveitar espaços, mas para evitar perder bolas. O modelo de jogo de Couceiro é, no fim de contas, o medo. Porque tem medo de perder a bola e de sofrer as consequências disso, troca-a o menos possível e, na iminência de a perder, há que tentar finalizar a jogada, ou seja, rematar de onde se está e em que contexto se está. O modelo de jogo de Couceiro não contempla o risco, que todo o modelo ofensivo tem necessariamente de contemplar; pressupõe atacar sempre a pensar que perder a bola é defender mal. Logo, Couceiro é um treinador que só sabe defender. Há formas de atacar sem descuidar em demasia a defesa, mas isto é muito mais do que isso: é não atacar verdadeiramente. É atacar apenas até ao ponto em que não se comprometa a estrutura defensiva. Como isso é impossível, a equipa de Couceiro só defende. Aquilo que é o ataque da sua equipa é apenas o aproveitamento de espaços. Ou seja, o modelo de jogo de Couceiro não ambiciona a perfeição e limita-se àquilo que o adversário permitir. Em vez de dar liberdade à equipa para procurar soluções ofensivas, prefere que os jogadores ataquem apenas enquanto isso não for arriscado. Isto, creio, é um contra-senso. Atacar é arriscar, pouco ou muito. Couceiro pretende atacar sem arriscar. Isso é defender...

Além destes paradoxos, destas palermices evidentes, Couceiro disse pouca coisa acertada. Para mim, que desde sempre me amotinei contra a incompetência de Couceiro, foi apenas a confirmação de tudo o que pensava. Acho, por isso, que os cursos de treinador deveriam estar sujeitos a apreciações competentes. Se examinados, muitos treinadores não teriam emprego. E o futebol agradecia. Couceiro seria um caso desses. Nesse caso, as nossas selecções jovens teriam agradecido. Assim não aconteceu e, Couceiro, um jogador banal, aproveitando-se da sua carreira no sindicato, chegou onde chegou. É a prova de que, hoje em dia, qualquer um que aposte em fortalecer a sua imagem política, mesmo que seja profundamente incompetente, tem o futuro garantido.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Clássico...

Antes de mais, quero salientar o excessivo receio demonstrado por Jesualdo Ferreira, que se virou contra ele de duas formas distintas: primeiro, porque o “obrigou” a desvirtuar o seu modelo de jogo; segundo, porque este facto pôs a nu todas as suas fragilidades tácticas.

O F.C. Porto, apresentando-se num esquema que oscilava entre um 442, com uma linha rígida na zona intermediária(exceptuando Lucho), e um 4312, sendo que, em ambas as variações, o posicionamento de Meireles e Assunção, demasiado juntos, assim como o posicionamento de Cech, demasiado preso à linha, deixava o clube do norte muito dependente de acções individuais de Quaresma, Lucho e Lisandro, cabendo aos argentinos um maior destaque na criação de situações ofensivas.

Entrou mais forte o Porto, com dois remates desenquadrados de Lucho. A mobilidade e a qualidade técnica dos dois avançados azuis e brancos ajudavam à supremacia dos visitantes, pois estes dois jogadores baixavam, procurando a bola, e conseguindo com isto uma maior posse e circulação de bola através de um maior número de apoios. Se, por um lado, este facto lhes permitia mais posse de bola, por outro, tornava a equipa demasiado curta, roubando-lhe profundidade, ficando demasiado dependente das entradas sem bola de Lucho para poder dispor de oportunidades de golo.

Equilibrou o Sporting e o golo apareceu, quase em simultâneo, por Vukcevic. Uma arrancada de Pereirinha permitiu que Izmailov fizesse o segundo para a turma de Alvalade. O Porto voltou à carga, assumindo de novo o domínio do jogo. Iniciava os lances preferencialmente pelo lado esquerdo, juntando um aglomerado de jogadores nessa faixa, para depois descongestionar rápido para o lado direito, permitindo assim a subida de Bosingwa por aquele flanco. Do lado verde e branco, a equipa abusava dos passes directos, procurando de forma demasiado rápida os seus jogadores mais avançados, e Romagnoli, sem apoios, viu o seu futebol perder consequência. Pereirinha era o único que parecia perceber que a solução passava por um estilo mais apoiado, enquanto Miguel Veloso, apesar de ganhar maior parte dos duelos individuais, fosse nas transições ofensivas, fosse no plano defensivo, via o seu futebol perder fluidez com preciosidades, da mesma forma que ia acumulando erros através do seu (mau) posicionamento no terreno, sendo, a par de Ronny, o principal responsável pelos desequilíbrios sentidos na defesa leonina.

Veio o intervalo sem que Jesualdo corrigisse a asneira que havia cometido na maneira como abordou o jogo. Fez entrar Farias, retirando o jogador eslovaco, que sem ter culpa alguma – de certo que não foi por auto-recreação que jogou colado à linha – encarnou de forma inequívoca o problema criado pelo seu técnico.

No reatamento do jogo, e já com um 433 bem definido, a equipa de Jesualdo voltou a entrar forte no jogo. Beneficiando dos erros grosseiros de Ronny, principalmente na maneira como (não) fechava o seu espaço, deixando que os jogadores portistas aparecessem demasiadas vezes nas costas dos centrais, voltou a criar situações de perigo junto da área leonina, com os inevitáveis Lucho e Lisandro em destaque. Respondeu o Sporting com um livre perigoso de Ronny, conseguindo de seguida um par de situações perigosas junto do último reduto azul e branco. Izmailov e Veloso iam-se revelando demasiado lentos a definir as suas opções, o que, por várias vezes, emperrou o jogo leonino. E foi através de (mais) um erro de posicionamento do trinco sportinguista que o Porto logrou a melhor oportunidade que obteve em todo o jogo. Valeu a Patrício a noite de pouco acerto na finalização de Lucho. À passagem dos 20 minutos, Jesualdo arrisca e faz entrar Mariano, alargando a sua frente de ataque, assumindo um falso 442, que se desdobrava num 424 na posse do esférico. Este factor veio causar desequilíbrios no meio-campo leonino, muito por culpa da intranquilidade revelada pelo conjunto leonino na hora de gerir a posse de bola, bem como os ritmos do jogo. Até ao fim do jogo, para além de um bola à barra enviada por Farias e uma perdida inacreditável, por parte do Todo-Poderoso Liedson, pouco mais há a acrescentar.

Um jogo com emoção quanto baste, com um Porto que, mercê da maior valia e experiência de alguns jogadores, conseguiu atingir um patamar que lhe permite reclamar injustiça no desfecho do mesmo. Por outro lado, castiga a limitação táctica do seu técnico. No entanto, penso que o Porto merecia mais.

No que toca ao árbitro, falhou principalmente no capítulo disciplinar: as entradas de Liedson e Bruno Alves mereciam mais, qualquer uma delas. No que toca ao golo anulado ao Porto, o fora-de-jogo é inequívoco. Já o do Sporting é muito mais discutível - nem os próprios jogadores do Porto o reclamaram na altura - e , se as regras pedem para deixar jogar em caso de dúvida, não percebo o porquê de tanta celeuma em redor deste lance.

Individualmente, do lado portista destaco Lucho, Lisandro, Quaresma, Farias, e Mariano, sendo que este último justifica uma maior atenção da parte de Jesualdo. Do lado do Sporting, sem dúvida Pereirinha (ultrapassada a parvoíce de que o puto não tinha talento, depois deste jogo decerto que não demorará a surgir uma outra que defenda que ele é bom é a lateral-direito), a par de Vukcevic, dando igual destaque a Polga, e a tranquilidade do jovem Patrício. Pelo lado negativo não há como evitar Liedson e Bruno Alves. O primeiro continua a acrescentar muito pouco no processo ofensivo, o que faz com que ele fique demasiado dependente dos golos para atingir um patamar minimamente aceitável. E não podemos esquecer as entradas despropositadas de que é autor. Em relação ao segundo, basta dizer que é dos piores jogadores que no domingo pisou o relvado. Vale apenas pela força e entrega, o que para um clube da dimensão do Porto é muito pouco. E aquela agressão ao Moutinho...

Marcação Homem a Homem

Disse António Tadeia, ainda no jogo da passada quarta-feira entre o Beira-Mar e o Sporting, que a principal desvantagem da marcação homem a homem é a equipa que defende dessa forma estar mal posicionada sempre que recupera a bola, o que inviabiliza qualquer tipo de contra-ataque.

Devo dizer, em primeiro lugar, que a marcação homem a homem é coisa dos tempos das cavernas. Marcar homem a homem está para a História do Futebol como as pinturas rupestres estão para a arte: já há muito tempo que o progresso veio por a nu as suas debilidades técnicas... Pelos vistos, há quem ainda não perceba porquê. Rogério Gonçalves, treinador do Beira-Mar, e Jaime Pacheco são alguns exemplos. Mas António Tadeia é outro. A marcação homem a homem pode, de facto, provocar um mau posicionamento da equipa, quando esta recupera a bola, mas não é de todo necessário que isso afecte a produção ofensiva da mesma. Se esta apostar em processos ofensivos mais pausados, se não quiser fazer o último passe assim que recupera a bola, se jogar tranquilamente, a equipa pode atacar e tem tempo mais do que suficiente para se reposicionar ofensivamente. Claro que, marcando homem a homem, um contra-ataque terá menos sucesso, pois os jogadores que, supostamente, iriam receber a bola na frente, estarão desviados da sua posição por terem ido atrás dos opositores directos. Mas isso é facilmente contornado. O que é verdadeiramente errado na marcação homem a homem não é isso. Aquilo que faz da marcação homem a homem um sistema obsoleto é a facilidade com que é, hoje em dia, ultrapassado. A partir do momento em que o futebol passou a ser jogado a outra velocidade, marcar homem a homem deixou de ser eficaz. Com transições curtas e rápidas, com dinâmica e mobilidade ofensiva, defender assim é um perfeito suicídio. Porquê? A equipa que defende, ao acompanhar individualmente o ataque adversário, está posicionada conforme o adversário. Para abrir espaços, basta que as movimentações sem bola da equipa que ataca sejam constantes. Bastará, então, um simples erro de marcação para que um atacante, desembaraçado em primeiro lugar do seu opositor directo, tenha muito espaço de manobra. Vejam o segundo golo da Argentina na final do mundial de 86. Maradona, marcado em cima por Matthaus, vem tabelar com Enrique ao meio-campo, libertando espaço nas suas costas, porque Matthaus o acompanhou. Enrique recebe a bola e tem muito espaço à sua frente, isolando depois Valdano. A marcação ao homem, feita por Matthaus, resultou na aquisição de espaço pela Argentina, que o aproveitou para marcar. O espaço que deveria ser da incumbência do médio-defensivo estava desocupado porque o médio-defensivo, cuja preocupação mais correcta seria a preocupação com a zona em que está posicionado, estava preocupado em seguir um único jogador por todo o campo. Ao fazê-lo, não pôde estar, ao mesmo tempo, bem posicionado. Uma simples marcação ao homem pode ter resultados tão nefastos quanto estes, porque a equipa não defende em bloco, de forma sustentada. Uma equipa que defenda assim, defende sempre individualmente e, não raro, abre espaços desaconselhados. A melhor maneira de evitar os erros individuais de marcação é fazer uma marcação à zona, isto é, posicionar os jogadores defensivamente por zonas, sem preocupações com quem lá apareça.

Outra situação em que a defesa à zona é mais eficaz que a defesa ao homem é nos pontapés de canto. Alguém se lembra da quantidade de golos que Costinha, no tempo de Mourinho no Porto, marcava no seguimento de pontapés de canto ou de bolas paradas? Muitos acharão que isso se deveu ao acaso, ou porque Costinha tinha um apurado faro de golo nessas situações específicas. Nada disso. Nas bolas paradas ofensivas, o Porto de Mourinho aproveitava exactamente o facto de a marcação homem a homem dividir os jogadores por pares de marcador/jogador marcado. Costinha movimentava-se então na direcção de um par desses, arrastando o seu marcador. Acontece, então, que a situação estava trabalhada de maneira a que o colega de Costinha desse par para o qual ele se dirigia bloqueasse o opositor de Costinha, libertando-o. Como é usual no basquetebol, ocorria um bloqueio ofensivo, que prendia o marcador de Costinha o tempo suficiente para que este, solto, aparecesse a finalizar sem oposição. Ora, se os adversários do Porto defendessem os cantos por zonas, nada disto seria possível. Defender os cantos à zona é a melhor maneira de evitar a distribuição dos jogadores por pares e de evitar eventuais bloqueios. Uma equipa que trabalhe bem as bolas paradas ofensivas saberá sempre tirar partido dessa distribuição, pelo que a forma de defender as bolas paradas terá de passar por uma defesa zonal. Jesualdo Ferreira já o fazia no Braga, com admirável sucesso, e continua a fazê-lo no Porto. O Sporting, na era de Paulo Bento, tem sido uma equipa pouco produtiva nas bolas paradas e, sobretudo este ano, permeável às mesmas, pelo que faria sentido uma mudança na forma de defendê-las e um trabalho mais apurado na hora de aproveitá-las, uma vez que grande parte das equipas ainda opta pela marcação ao homem nesse tipo de lances.

Ao contrário do que António Tadeia pensa, o principal problema da marcação ao homem não é a nível ofensivo, mas a nível defensivo. Uma defesa assim é sempre mais permissiva do que uma defesa à zona, pois preocupa-se apenas com a capacidade individual dos opositores e não com o colectivo do adversário. Uma defesa assim pode perfeitamente resultar, se as individualidades adversárias forem fáceis de anular e se o colectivo adversário não fizer grandes estragos. Mas, contra uma equipa com tão poucos argumentos como esses, qualquer preocupação defensiva é excessiva. Logo, a única preocupação defensiva, seja contra que equipa for, tem de ser uma preocupação com as zonas. Não perceber que não há outro caminho para defender correctamente que não o posicionamento correcto dos jogadores em campo, ignorando a preocupação desmesurada com as unidades adversárias, é um engano da mesma espécie que ainda acreditar que é o Sol que gira em torno da Terra.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Incompetência

Tenho uma dúvida: se estamos em 2008, se o futebol atingiu níveis de profissionalismo nunca antes vistos, se as equipas são mais competentes do que nunca, como é que é possível que o Reading, uma equipa que actua numa das melhores ligas europeias, seja ingénua ao ponto de conceder golos como o segundo do Manchester na semana passada?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Pereirinha só pode jogar na ala?

Sobre a utilização de Pereirinha a defesa-direito, por lesão de Abel, sugeriu-se que talvez fosse mesmo a sua melhor posição e que deveria ser utilizado sempre como tal. António Tadeia, a esse propósito, afirmou que Pereirinha era um jogador de ala e que, apesar de já ter sido utilizado no meio-campo nas selecções jovens, considerava que ele não poderia jogar senão nas alas. Que argumentos utilizou António Tadeia? A velocidade. Segundo Tadeia, Pereirinha é rápido, logo tem de jogar na ala. Ou seja, Thierry Henry andou toda a carreira enganado: com aquela velocidade, deveria ter sido extremo. Significa isto que, para António Tadeia, se um jogador é rápido, só pode ser extremo. Se houver velocidade, não interessa mais nenhum atributo. Brilhante! Além de este ser um raciocínio completamente absurdo, conheço alguns extremos que foram extraordinários e que não eram especialmente velozes.

Embora Bruno Pereirinha faça com correcção a ala, é opinião minha que a sua melhor posição é no centro do terreno, ou como interior, ou como médio mais ofensivo. Nas camadas jovens e no Olivais e Moscavide, alternava entre as duas posições, cumprindo em ambas, mas é no meio que, creio, todas as suas potencialidades podem ser exploradas. É, penso, demasiado inteligente para jogar preso a uma ala, embora aí possa tirar partido da sua velocidade. O erro de António Tadeia é, assim, consequência de uma de duas coisas: ou não conhece Pereirinha como deve ser e não lhe reconhece outros atributos dignos de nota além da velocidade, o que faz com que esteja errado, ou entende o futebol como uma máquina fragmentada na qual cada peça tem a sua função e a sua especificidade. Achar que um jogador rápido é jogador de ala é achar que as posições em que cada jogador joga são determinadas pelos seus atributos físicos. Isto é errado. Da mesma forma que um ponta-de-lança não tem de ser grande, um extremo não tem de ser rápido. E, ao contrário, da mesma maneira que um jogador grande não tem de ser avançado, um jogador rápido não tem de ser extremo. António Tadeia, como em outras ocasiões, poderia ter permanecido calado, mas não o fez. É caso para dizer: com tantas ideias geniais, deveria ser filósofo!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Os espanhóis argentinos

Se a Península Ibérica fosse a América do Sul, Portugal era o Brasil e a Espanha a Argentina, mas não estou a pensar que num lado se fala português e noutro espanhol. As grandes estrelas do futebol português dos últimos anos são jogadores espalhafatosos, artistas que gostam de exibir os seus truques, que gostam de humilhar o adversário, que gostam de picardias, de duelos, que gostam do aplauso do público após um número de circo. Como o jogador brasileiro típico, o jogador português, actualmente, é um brincalhão, um malabarista. O jogador espanhol, por seu turno, é muito mais refinado, mais elegante, não tem um sangue tão quente, e só recorre ao talento por necessidade.

Tanto no Brasil como na Argentina, produzem-se inúmeros talentos. Mas são talentos diferentes. Em Portugal, talvez por influência dos muitos jogadores brasileiros que vêm para o nosso campeonato, talvez simplesmente por uma questão histórico-cultural, os jogadores são cada vez mais parecidos com os brasileiros. Ronaldo e Quaresma são os exemplos mais visíveis: no futebol de cada um deles abunda o sangue quente do jogador brasileiro, o samba, os truques para o público, os penteados extravagantes, a vaidade, etc. Nos actuais talentos espanhóis, não vemos nada disto. Fabregas e Iniesta são senhores de fato e gravata dentro de campo; Torres é uma flecha que sabe usar os pés, mas que só os usa por necessidade; Villa é um lutador incansável. Mesmo os extremos espanhóis são muito mais comedidos que os portugueses: Joaquín, Vicente e Silva são jogadores tecnicamente acima da média, mas o drible, para eles, é apenas um recurso. Raramente encaram o adversário com uma finta premeditada; vão para cima dele e fazem tudo espontaneamente. Nisto, são iguais aos argentinos. É raro vermos um jogador argentino a fazer macacadas com a bola, como o brasileiro ou o português. E o jogador espanhol dos dias que correm é muito parecido com o argentino. Não é por acaso que, a nível de escalões jovens, a Espanha é a maior potência da Europa e a Argentina a maior do mundo. No nosso tempo, a Espanha tem a melhor escola de formação do mundo e - acredito - extrairá, em pouco tempo, dividendos disso mesmo. Aliás, a selecção espanhola é aquela que, para mim, tem mais condições de se sagrar campeã europeia este Verão.

Lembrei-me desta distinção após mais um número notável de Bojan Krkic. O astro do Barcelona é mais um dos muitos grandes jogadores espanhóis que aparecem ao mais alto nível ainda em tenra idade. Fabregas apareceu com 17 anos a jogar na equipa principal do Arsenal e impressionou-me de imediato; no mundial de sub-20 de 2005, Silva era ainda suplente, mas já aí era fácil de perceber o seu enorme talento; Iniesta e Xavi começaram a jogar regularmente na equipa principal do Barcelona ainda muito jovens. Agora, em 2007, aparece este miúdo pequeno, do tamanho da pulga Messi, com pezinhos de lã, mas com uma maturidade fenomenal. É, de origem, avançado e um goleador por excelência, mas Rijkaard tem apostado nele a extremo esquerdo. Tendo em conta a táctica do Barcelona, julgo ser a melhor posição para as suas características. A velocidade e o sentido de oportunidade são notáveis, mas, apesar de ser um avançado, não se fica por aqui. Sempre que precisa, tira adversários da frente como quem estala um dedo, com uma facilidade espantosa. É um prodígio a nível técnico e tem um toque curto como poucos. Entre os seus recursos, conta-se a facilidade com que passa a bola entre as pernas dos adversários. No mundial de sub-17 do ano passado, humilhou alguns. Este ano, no Barcelona, já repetiu a graça por várias vezes. Há duas semanas, a vítima foi um indefeso defesa do Maiorca, num lance que, por acaso, até deu o segundo golo do Barcelona. É admirável o requinte com que o faz. Não há, por certo, ninguém no mundo, neste momento, que o esteja a fazer com mais regularidade e eficácia que este puto de 17 anos.

Resumindo, agrada-me, e muito, a pinta de argentino de Bojan Krkic e antevejo-lhe um futuro extraordinário. De resto, como prefiro, por norma, o jogador argentino ao brasileiro, prefiro, actualmente, o jogador espanhol ao português. Tirando Bruno Pereirinha e Diogo Rosado (e o excelente trabalho da Academia leonina não pode deixar de ser notado), não conheço futuros craques que me entusiasmem como os miúdos espanhóis que vão aparecendo a cada ano. É por isso que, neste momento, tiro chapéu a "nuestros hermanos" e lhes concedo, se não todo, grande parte do meu apoio de adepto de futebol que, muito antes de patriotismos injustificados, torce por quem melhor dignifica o futebol enquanto arte.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Onde anda Leandro Lima?

Agora, já ninguém fala nisso, mas ainda há quem se lembre de quanto tempo Quaresma andou a ser esquecido por Co Adriaanse. E, quanto a Diego, ainda haverá quem não sinta falta dele? Este caso não é muito diferente. O puto é talentoso, foi a grande contratação do Porto no defeso, mas, além de ter tido poucas oportunidades, tem sido tratado de forma aviltante. Tem talento, mostrou sempre abnegação e não se coibiu de participar em tarefas defensivas, mas mesmo assim nunca se conseguiu afirmar. "É jovem!" - gritarão algumas vozes. Não concordo com essa justificação. Aliás, estou em desacordo total com quem acha que ele não impôs ainda o seu talento. Impôs, para quem quis ver. Que defeitos revelou então para que não seja aposta? Os mesmos de Mariano González, por exemplo. E quais são? Nenhuns, na minha opinião.

Acho que, sobretudo para o meio-campo, qualquer que fosse o jogador que o Porto fosse buscar, teria o mesmo destino de Leandro Lima. Porquê? Porque Jesualdo não confia nos jogadores. Aqueles três, Lucho, Meireles e Assunção, já estão rotinados na posição e sabem o que têm de fazer. Mas cada um deles tem limitações próprias, como todo o jogador as tem. Quando o Porto precisa de alguém para substitui-los, não há ninguém que garanta as mesmas características. Mas isso é uma consequência natural do facto de todos os jogadores serem diferentes. Há outros jogadores que poderiam dar outras coisas que não aquelas, como é o caso de Leandro Lima. O Porto de Jesualdo só tem uma maneira de jogar e Jesualdo não arrisca que a sua equipa aprenda outra. Porquê? Porque aquela tem sido suficiente. Como tudo na vida, a evolução faz-se por necessidade. O Porto não precisa, pelo menos a nível interno, de modificar a sua forma de jogar, porque se pode dar ao luxo de jogar sempre dessa forma. Mas, no dia em que o precisar, não o saberá fazer. Porquê? Porque Jesualdo nunca permitiu que isso acontecesse.

A não utilização de Leandro Lima é, portanto, sintoma de um problema de fundo da equipa de Jesualdo Ferreira, problema esse que foi posto a nu sempre que um dos habituais titulares do meio-campo ou do ataque não pôde jogar. O problema do Porto não é ter um banco que não consiga oferecer as mesmas soluções que a equipa principal; o problema do Porto é só ter uma forma de jogar, forma essa que só quem joga pode perceber. Sem a rotina do jogo, ninguém saberá jogar como aqueles onze. Como Jesualdo não muda, pois isso implica perder consistência (o que é natural, pois quem não está habituado a jogar não tem as mesmas rotinas que quem joga), não há espaço para ninguém entrar no onze. Se por algum azar Raul Meireles e Lucho se lesionarem com gravidade e o Porto ficar privado deles por alguns meses, não tenho dúvidas de que a equipa não conseguirá encontrar soluções para contrariar essas adversidades e terá dificuldades em manter a larga vantagem que tem no campeonato. Desta minha análise, resulta o seguinte: a organização táctica do Porto deve-se, quase exclusivamente, à utilização sistemática dos mesmos jogadores e não a uma sapiência invulgar do seu treinador. Como já ficou provado, quando confrontado com a impossibilidade de recorrer aos seus elementos habituais, Jesualdo não consegue garantir a mesma organização à equipa. Isto significa que o mérito do excelente campeonato do Porto é muito mais dos jogadores do que do treinador.

Comecei este texto a falar de Leandro Lima e é sobre o jogador brasileiro que me quero deter. Leandro Lima foi ostracizado por Jesualdo Ferreira devido ao medo do treinador portista e é o reflexo dos problemas da equipa. Como ele, há outros que não jogam porque Jesualdo não sabe como encaixá-los no seu esquema rígido nem como ensiná-los a encaixarem-se. Além de tudo isto, foi vítima de uma tremenda falta de pedagogia e de uma atitude mesquinha. Jesualdo nunca deixou jogar Leandro Lima e só o colocou entre os titulares no dia em que Lucho não pôde actuar. Ainda que não tivesse dito nada ao jogador, esta atitude colocava nele uma pressão elevada: sabia que era suplente e que tinha apenas aquela oportunidade para mostrar o seu valor. Como agravante, o Porto não conseguiu atingir os seus objectivos nesse jogo e Jesualdo, desde então, retirou-lhe toda a confiança. Isto não se faz a ninguém, muito menos a um jovem em início de carreira e ainda menos a um jovem com talento mais do que suficiente para vingar na alta roda do futebol europeu. Em primeiro lugar, Leandro Lima não foi culpado de nada. Em segundo, mesmo que o fosse, era por total inépcia do treinador e não por falta de empenho. Jesualdo decidiu limpar as mãos de qualquer responsabilidade, fazendo de Leandro Lima o bode expiatório. Além de mau pedagogo, Jesualdo foi cobarde, hipócrita e interesseiro. Nunca gostei de pessoas que não assumem a responsabilidade pelos seus erros, mas gosto ainda menos de pessoas que o fazem às custas de jogadores talentosos. Já o ano passado Jesualdo tinha demonstrado a sua ingratidão para com aquilo que Hélder Postiga lhe deu nos primeiros meses de campeonato e, à primeira oportunidade, esqueceu-o. Este ano, voltou a repetir a façanha e a dar razão a Nuno Gomes: ou tem memória curta, ou tem mesmo o hábito de cuspir no prato de onde comeu.

Leandro Lima é, assim, o retrato de quase tudo o que vai mal neste Porto:

1) É o reflexo mais visível da má gestão de plantel por parte de Jesualdo e da sua escassa argúcia enquanto treinador de futebol.
2) Embora ninguém melhor que ele pudesse permitir ao Porto jogar de outra forma, é sintoma claro da rigidez do sistema de Jesualdo e da falácia necessária do mesmo, que só pode subsistir à custa dos mesmos onze jogadores.
3) Foi bode expiatório de maus resultados e é a confirmação de que Jesualdo, além de ter pouco de professor, não tem bom carácter.
4) Foi marginalizado, apesar de ser dos jogadores mais talentosos do plantel, o que revela, além de tudo o que foi mencionado acima relativamente à pessoa de Jesualdo, uma profunda estupidez e a incapacidade evidente de aproveitar qualidades num jogador.

À pergunta "Onde anda Leandro Lima?", responderei: "A perder tempo com um treinador inepto e tacanho, que nada tem para lhe ensinar..."

P.S. Este texto está escrito há, pelo menos, duas semanas. Entretanto, parece que Leandro Lima vai mesmo ser cedido, por empréstimo, à Académica de Coimbra. Nem com o campeonato ganho Jesualdo consegue gerir adequadamente os recursos humanos ao seu dispor...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Clássicos: (Itália 90 - Alemanha vs Argentina)

And now for something completely different...

... proponho assim iniciar uma nova rubrica: os Clássicos da História do Futebol. Porque nunca é de mais relembrar o passado, eis a resenha histórica de alguns jogos que jamais deverão ser esquecidos. Como estreia, proponho a análise detalhada, tanto quanto possível, da final do Mundial de Itália, em 1990, que opôs a mítica Argentina de Maradona, campeã do mundo em 1986, e a fria Alemanha, capitaneada por aquele que, após duas finais perdidas, em 82 e 86, haveria finalmente de tirar a barriga de misérias: Lothar Matthaus.

Quatro anos depois da final do México, Argentina e Alemanha voltariam a degladiar-se na final de um mundial, desta feita em terras que Maradona tão bem conhecia, na sua segunda pátria, a Itália. Por ter eliminado a selecção italiana, Maradona e a Argentina haveriam de jogar esta final sob um coro de assobios. Reunindo o apoio do público e uma mentalidade mais ofensiva que a sua congénere das pampas, a selecção germânica dominou praticamente todo o desafio, à excepção dos últimos vinte minutos da primeira parte, altura em que a formação liderada por Carlos Bilardo conseguiu equilibrar a contenda.

A Alemanha dispôs-se num 442 clássico, com Bodo Ilgner na baliza, Thomas Berthold a defesa-direito e Andreas Brehme, aquele que viria a decidir o mundial, como defesa-esquerdo; os centrais eram Klaus Augenthaler e Jurgen Kohler, apoiados nas tarefas defensivas pelo impetuoso médio-defensivo Guido Buchwald; as restantes posições no meio-campo eram ocupadas por Thomas Hassler à direita, Pierre Littbarski à esquerda e Lothar Matthaus ao meio; na frente, jogavam em cunha Rudi Voeller e Jurgen Klinsmann. O estilo rectilíneo e de transições velozes, o futebol objectivo, centrado na baliza, ajudariam ao domínio da partida. Já a Argentina actuou de forma pouco organizada, retraída, raramente avançando as suas linhas e dando a iniciativa de jogo à formação germânica. Com Maradona, o jogador mais imprevisível, preso a posições demasiado avançadas, a formação sul-americana foi totalmente manietada pelo futebol mais adulto dos europeus. Sem organização táctica, com posições pouco definidas e demasiada leviandade permitida aos seus jogadores do meio-campo, a Argentina nunca teve consistência e as oportunidades junto da sua área foram-se acumulando. A equipa apresentou-se com um esquema de três defesas, mas a anarquia do meio-campo suscitou variações. O guarda-redes era Goycochea, os defesas Oscar Ruggeri, Simón e José Serrizuela; no meio-campo, Troglio incumbiu-se do lado direito, permutando não raras vezes com Sensini, que ocupava o centro com Basualdo; na esquerda, posicionou-se Lorenzo, que desceu muitas vezes para a defesa; Burruchaga era o vagabundo, aparecendo ora no centro, ora na esquerda, ora na direita, equanto Maradona fazia companhia no ataque a Dezotti.

O 352 da Argentina, pouco flexível, e com as linhas demasiado baixas, implicava 8 jogadores atrás da linha da bola. Isto deu a iniciativa de jogo à Alemanha, cujos centrais e Buchwald tinham demasiado espaço para manobrar. A pressão alta dos germânicos também foi eficiente e a Argentina raramente conseguiu sair a jogar com qualidade. O destaque, nas primeiras transições, vai para Basualdo, o mais criterioso e elegante dos médios. Burruchaga andou sempre perdido no campo e, apesar de tecnicamente muito dotado, foi sempre pouco lesto a desembaraçar-se da bola. Maradona, na frente, poucas bolas recebeu, apesar de todo o futebol dos argentinos passar por endossar a bola ao seu capitão. Insistindo em lançamentos longos para Maradona, que se encontrava preso entre os centrais e Buchwald, a Argentina raramente conseguiu chegar perto da baliza de Ilgner. Só a partir dos 25 minutos da primeira parte é que a equipa se soltou e Basualdo, juntamente com um ligeiro recuo de Maradona e a participação mais correcta de Burruchaga nos lances, comandaram as ofensivas. A formação alemã, ainda que menos dominadora neste período, continuou a ter um futebol sério, fiel aos seus princípios tácticos, e a sair para o ataque de forma veloz, maior parte das vezes por iniciativas de Hassler ou de Littbarski. Andreas Brehme integrou-se igualmente bem no ataque e, além de bons lances pela esquerda, apareceu em zona de remate, à entrada da área, várias vezes, causando situações de pânico para os sul-americanos.

A segunda parte foi inteiramente dominada pelos germânicos. Bilardo deixou nas cabines Ruggeri e fez avançar o gigante Monzon. O futebol da Argentina, cada vez mais medíocre, permitiu que a Alemanha dominasse o encontro. A segunda parte começou praticamente com um lance individual de Littbarski, que passou por dois argentinos e, à entrada da área, rematou forte a rasar o poste. Surgiu mais em jogo, neste período, o capitão Matthaus que, apesar de ser o maestro da equipa, raramente tinha comandado os ataques na primeira parte. Embora não construindo muitas oportunidades de golo, os germânicos encostavam cada vez mais os argentinos atrás, até que se deu o lance capital do encontro. Numa entrada completamente absurda, Monzon ceifou Klinsmann e o árbitro não hesitou em expulsá-lo. Com menos um elemento, a Argentina baixou ainda mais e Maradona passou a pisar terrenos mais recuados. Por esta altura, já o meio-campo alemão era um imenso deserto. Num lance em que, mais uma vez, o espaço na zona central do terreno era muito, Matthaus faz um passe a rasgar para Voeller, que cai na área em disputa com Sensini. O árbitro aponta para a marca de grande penalidade, mas equivoca-se. Andreas Brehme marca o único golo da partida e a selecção das pampas, se já não conseguia sair para o ataque com nexo, perde todo o norte. Poucos minutos depois, com o jogo interrompido, Dezotti tenta apressar a devolução da bola ao local de uma falta e puxa Kohler, que escondia a bola. O gesto ostensivo do argentino e a simulação do defesa alemão fizeram com que o árbitro expulsasse mais um jogador sul-americano. Irados, os argentinos rodearam o árbitro, empurrando-o e encostando-lhe a cabeça. Vindo por trás, Maradona pareceu, numa primeira instância, ter a mesma vontade que os seus companheiros, mas conteve-se, abriu os braços, afastou os colegas, dizendo que ele é que iria falar com árbitro, protegendo-o, e recebeu, imagine-se, um cartão amarelo. Até final, a Argentina limitou-se a ver os alemães a trocar a bola e a desperdiçar, pateticamente, duas ou três oportunidades de baliza aberta.

Mais tarde, Maradona viria a dizer que lhe tinham roubado o título. Não sei até que ponto o árbitro agiu ou não de má fé, mas a verdade é que a Alemanha foi claramente beneficiada. Sendo, apesar de tudo, a equipa que mais jogou e que mais fez por ganhar, o penalty é inexistente e a segunda expulsão é um equívoco. Mas, creio, o gesto mais suspeito do árbitro, foi aquele cartão amarelo para Maradona, quando o astro argentino fora o único de entre os sul-americanos que defendera a autoridade do árbitro. Além de tudo isto, Buchwald merecia ter sido expulso, pelo menos, três ou quatro vezes. A entrada dura de Monzon era, claramente, para vermelho, mas Buchwald teve entradas idênticas que nem amarelo lhe valeram e ainda deu uma cotovelada sem bola em Maradona. Apesar de todos estes episódios, a vitória ficou com quem praticou melhor futebol e com quem encarou o jogo de forma mais inteligente.

Depois da análise do jogo em si, queria, à laia de nota de rodapé, fazer referência a alguns factos importantes. Comparando o futebol da final daquele que ficou conhecido como o mundial mais mal jogado de sempre com o futebol actual, são evidentes todas as evoluções que a modalidade teve. Os jogadores, de uma forma geral, são mais refinados a nível técnico, são mais inteligentes, são capazes de solucionar problemas mais difíceis. No fundo, estão mais preparados a todos os níveis e foram modelados segundo uma exigência muito maior. Porque tiveram necessidade de se adaptar a um futebol mais "difícil" (o futebol dos dias de hoje), os jogadores actuais são melhores, em termos comparativos: qualquer jogador de nível mediano hoje seria um grande jogador naquela altura. Ainda assim, há os casos extraordinários. Maradona era um fora-de-série, um jogador incomparável, dotado de uma capacidade técnica inigualável e de uma imaginação poderosíssima. Basualdo e Burruchaga são os outros nomes que me apraz salientar na Argentina daquela época. Mas, os restantes eram jogadores medíocres, visivelmente pior preparados do que os jogadores actuais. Na Alemanha, destaque para a maturidade de todo o conjunto e para a qualidade de Matthaus, cerebral e competente, Hassler, velocíssimo e tecnicamente muito forte, Littbarski, poderoso no um para um, e Brehme, um lateral de índole ofensiva com um remate espantosamente certeiro e potente. Destaque, pela negativa, para Voeller e Klinsmann. Muito disponíveis, a aparecerem muito bem em zonas de finalização, rápidos, móveis, mas pouco inteligentes. Eram jogadores unicamente para finalizar e, mesmo nesse capítulo, sobretudo Klinsmann, era pouco frio. Raramente tabelavam com os colegas, eram tecnicamente muito deficientes e tinham pouca imaginação. De salientar ainda, uma substituição francamente incompreensível: com mais um homem e o jogo ainda empatado, com a Argentina completamente remetida para a sua zona defensiva, Franz Beckenbauer substituiu o lateral-direito Berthold por outro lateral-direito, Reuter. Aquilo é que era correr riscos, naquela altura...

Outra coisa da qual gostaria de falar era da possibilidade de se atrasar a bola para o guarda-redes. Só ao rever um jogo desta altura me pude aperceber que consequências trouxe essa regra. Até aqui, pensei sempre que a principal consequência era a impossibilidade de se queimar tempo atrasando a bola para o guarda-redes, mas houve algo muito mais importante que passou a suceder. A pressão alta, feita nos últimos defesas, só ganhou verdadeira expressão após esta regra. Porquê? Porque antes não tinha a mesma eficácia que agora. Podendo o defesa atrasar a bola para o guarda-redes, pressionar alto era quase inútil, uma vez que os defesas, sentindo-se ameaçados, podiam sempre recorrer ao guarda-redes, enviando-lhe a bola. É também por esta regra que se explica que o "catennacio", que o futebol defensivo tenha perdido eficácia. Defender em bloco baixo, na altura, era quase a solução mais prática, pois não havia muito a ganhar em defender mais alto. Hoje em dia, há essa possibilidade e tudo passou a ser diferente.

Como último reparo, gostaria de deixar claro que, ao contrário do que alguns palermas me quiseram fazer crer, Matthaus não passou os 90 minutos a marcar individualmente Maradona. Quando confrontado com essa hipótese, a minha intuição e a minha memória disseram-me que Matthaus era, à época, o médio organizador da selecção, sendo por isso praticamente impossível que fosse sacrificado para marcar o astro argentino. Não tendo a certeza absoluta desta intuição, concedi a razão a quem, com tantas certezas, alardeava o contrário. Após ver o jogo, percebi que todas essas supostas certezas caíam em saco roto e que Maradona, além de não ter sido marcado em cima por Matthaus, não teve qualquer espécie de marcação especial. O jogador com quem mais se cruzou em campo foi o médio-defensivo Buchwald. Com Matthaus, Maradona apenas se cruzou uma vez, numa altura em que a Argentina jogava com menos um e que, por causa disso, recuara ainda mais, dando-se o lance no meio-campo. Matthaus jogou como médio-ofensivo, nunca pisando os mesmos terrenos que Maradona, mas havia quem mo jurasse a pés juntos. Essa pessoa não possuía, afinal, qualquer razão, o que me faz acreditar que vale mais a minha intuição que as certezas absolutas dela. Tendo em conta que se achou no direito de me mandar calar, crendo-se sabida, acho-me no direito, agora que estou ciente de ter razão, de lhe dizer que consulte um oftalmologista, que faça um transplante cerebral ou que resolva o seu problema de outra maneira mais simples: não dar opiniões sobre futebol, uma vez que não percebe nada disto. Da mesma maneira que não escrevo sobre política nem venho para aqui dizer que o Bacalhau à Lagareiro é bom é com alho picado, há pessoas que não deveriam ter opinião sobre futebol, ainda que muitas delas escrevam em locais conceituados e sujeitem aquilo que escrevem a muitos leitores. Essas pessoas, quais personagens flaubertianas, não têm consciência de que as suas opiniões, ou infundadas, ou erradas, ou pura e simplesmente insignificantes, não têm qualquer tipo de validade, e crêem-se dotadas de uma cultura e de uma inteligência superior à que na verdade possuem. Arrogam-se de poder falar de coisas das quais não percebem e não aceitam argumentos que comprovam a falsidade das suas suposições. Pessoas como essas, que não têm capacidade para entender mais do que vislumbram, que não têm uma capacidade de raciocínio suficientemente apurada para entender coisas ligeiramente mais complicadas, mas que pensam que são capazes de falar de tudo, de ter conversas interessantes e de se tornarem sábias a pouco custo, pessoas cujo mais profundo pensamento é a mais frívola e superficial ideia que se pode ter, pessoas que repetem as opiniões do povo e julgam arvorar a mais original das novidades, que falam aborrecidamente mas julgam interessante o discurso, que se enchem de clichés e advogam ideias que não são suas, que concordam com a chusma que balbucia disparates sem pensarem na coerência daquilo que dizem, pessoas como essas reúnem em si os valores burgueses (a pequenez, a insolência e a mediocridade) com que Gustave Flaubert dotou o filisteu Monsieur Homais...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

22 Curtinhas

1. O Benfica perdeu mais dois pontos. Independentemente do mau jogo, o Benfica foi prejudicadíssimo. Foi anulado um golo legal a Nuno Gomes e o penalty sobre Cardozo até o Ray Charles via. Além disso, aquele lance em que Paulo Costa muda de opinião e, depois de ter dado penalty, diz que é fora, é uma autêntica falta de respeito para com quem gosta de futebol. Não sei se Paulo Costa foi cobarde e quis delegar responsabilidades, aceitando a decisão do seu fiscal porque, caso fosse errada, a culpa não seria sua. Mas sei que ele estava dez vezes mais perto e tomou uma decisão da qual se arrependeu depois. Sei também que o mesmo fiscal que não viu, a 20 metros de si, o Cardozo a ser puxado, viu claramente a 30 metros que Nuno Gomes estava fora-de-jogo e, a 40 metros, que Léo foi empurrado fora da área. E escutas telefónicas, não?

2. Camacho disse uma asneira na sala de imprensa. E então, caralho?

3. Hélder Barbosa vai regressar ao Porto, o que não surpreende. A pergunta que deixo é: caso a Académica não tivesse o jogo com o Sporting nesta altura, Hélder Barbosa ainda estaria em Coimbra?

4. Pavlovic dá pouca porrada, dá...

5. O Sporting fez um jogo relativamente bom, mas empatou graças a um golo nos minutos finais. Aposto que a imprensa e os adeptos dirão que a culpa foi do Pereirinha, do Farnerud e do Rui Patrício.

6. Moutinho fez o seu melhor jogo esta época. Finalmente, divertiu-se a jogar, driblou adversários, teve passes geniais, etc. O que diriam agora aqueles que acham que a sua melhor posição, no losango, é a do vértice ofensivo?

7. Liedson, ao contrário de Nuno Gomes, não falha golos. Aqueles cabeceamento disparatado e aquela bicicleta sem nexo (quando tinha tempo para parar a bola, ir às putas, voltar e marcar) foram só impressão minha.

8. Fary marcou um golo e tentou festejar com o árbitro. Elmano Santos fez cara de mau e não quis partilhar da alegria do senegalês. Racismo ou falta de sentido de humor?

9. O tempo tem estado mau, mas só o relvado do Bessa é que se encontra naquele estado deplorável. Será mania da perseguição da minha parte, ou aquilo é propositado?

10. Delfim ainda encanta. É dos jogadores que mais pena dá todo o azar que teve...

11. Cristiano Ronaldo marcou mais três. Ferguson vai mesmo ao baeta...

12. Alexandre Pato estreou-se no Milan e marcou um golo. Este é craque...

13. Por falar em patos, Nelson deu um valente. Fernando também. E o Estrela e o Leiria perderam. Curioso...

14. O poderosíssimo Braga, de quem se diz que não poderia estar melhor do que com Manuel Machado, levou 4 no Dragão. Foi uma demonstração de força um bocado esquisita.

15. A defesa do Braga existe?

16. Miguelito quer ser campeão à força. Aquela assistência para Bosingwa foi a sua contribuição...

17. Vandinho não quis ficar atrás e ofereceu um a Farias. Depois da oferta de Taborda a semana passada, eis mais duas. Como é que se traduz Calciocaos?

18. Manuel Machado tem no plantel dois defesas esquerdos melhores que Miguelito (Carlos Fernandes e César Peixoto) mas pôs a jogar o ex-benfiquista. Não é Deus quem costuma escrever direito por linhas tortas?

19. É um crime o austríaco Linz ainda não estar num clube com outros pergaminhos.

20. Grande Lisandro!

21. Leandro Lima parece estar de saída para a Académica. Viva a estupidez!

22. Creio que o campeonato está, definitivamente, entregue.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A tentativa de assassínio de Pereirinha pelo cobarde Paulo Bento

Primeiro ponto: Paulo Bento é, quanto a mim, dos melhores treinadores da Liga Portuguesa. Todavia, este facto não impede que se traga a lume alguns erros cometidos por Bento. E a maneira como ele tem conduzido o processo de integração de Pereirinha no plantel sportinguista é, no mínimo, catastrófica.

Vi este puto pela primeira vez num Sporting-Porto, em júniores. Entrou a 15/20 minutos do fim. Mostrou argumentos fantásticos, nesses escassos minutos, apesar da minha grande curiosidade estar virada para a "mega-estrela" leonina Fábio Paim. Tive a oportunidade de comprovar todos os predicados contra o Boavista, no último jogo da fase final, e fiquei com a convicção que estava na presença de um talento que no espaço de 1/2 anos daria cartas no mundo do futebol. Na altura, para além do seu poder de decisão e qualidades técnico/tácticas, houve um factor que me impressionou bastante e que eu estava longe de pensar que, mais tarde, seria prejudicial para a sua carreira: a sua maneira de estar; a forma tranquila e adulta que apresentava dentro de campo. Não refilava com árbitos, não resmungava após entradas mais violentas dos adversários, nada. Para ele, apenas lhe interessava o jogo, a sua atenção não se desviava um minuto das circunstâncias e objectivos do jogo.

Uns meses antes, na véspera de um Sporting de Braga- Sporting Clube de Portugal, tinha lido num jornal desportivo responsáveis de selecções nacionais a comentar as qualidades deste miúdo. E, na altura, alertaram para o facto de, apesar de ser um jogador de grande qualidade, era um indivíduo extremamente tímido, o que poderia fazer com que a sua ascensão, no futebol sénior, não fosse consentânea com o seu talento. Quando esse jogo terminou (o clube de alvalade perdeu 3-2 ) ignorava o tamanho erro que Paulo Bento havia cometido, ou melhor, o duplo erro, ao não ter convocado para esse jogo Diogo Tavares, e, por outro lado, por ter optado pelo David Caiado para o assalto final, recuando na opção inicial de fazer entrar Pereirinha. Só depois de avaliar a qualidade destes 4 júniores é que me apercebi da "gaffe" cometida por Paulo Bento.

Na época seguinte, e após grande insistência do treinador do Olivais e Moscavide, Rui Dias, Pereirinha seguiu para o Clube recém-promovido à Liga de Honra. Observei-o o tempo suficiente para compreender que as minhas suspeitas estavam certas: este era, indiscutivelmente, um grande talento. Por isso, quando foi resgatado pelo clube de Alvalade em Janeiro, a minha surpresa foi ver a dificuldade que Paulo Bento teve em apostar nele de forma clara e decidida.

Em entrevista à revista " Futebolista", o presidente do Olivais e Moscavide, José Caldeira, refere-se a este atleta, alertando para o facto do resgate precoce deste jogador ter contribuído de forma clara para um "entrave" à sua evolução. Não para revelar qualidades desconhecidas, como o presidente afirma ter sucedido com Miguel Veloso, mas para se impor, para ganhar confiança nas suas qualidades.

Na quarta-feira passada, pensava que finalmente Pereirinha ia "explodir". Porém, e sem perceber o porquê desta atitude de Bento, o puto saiu pouco depois dos trinta minutos. Até esse momento, estava a ser o melhor elemento sportinguista. Não se escondeu do jogo, tabelou, fintou, recuperou bolas, tudo com mais sucesso que os seus colegas.

Não sei até que ponto Pereirinha se vai deixar afectar por esta situação, mas o que mais me incomoda é que Paulo Bento não parece entender porque é que este miúdo, que raramente vai às selecções do seu escalão, jogando regularmente num escalão acima da sua idade, é um dos melhores da sua geração. Não é só por ser muito forte no um para um, ou pela velocidade, mas sim pela inteligência e pelo poder decisão, que lhe permitem optar, em 90% dos casos, no mínimo, pelo melhor para equipa, mesmo que isso lhe retire visibilidade.

E, isto sim, isto é que os sportinguista devem recear: a negligência que tem sido demonstrada por Bento, na condução deste talento. Para bem das "hostes" leoninas, era bom que terminasse já, contra a Académica de Coimbra.

Tragédia Grega... e não só.

Qual a responsabilidade de um capitão de equipa? Decerto que não se esgota na escolha de bola ou campo. Mais do que uma extensão do treinador, deve ser um ponto aglutinador do grupo. Não vou na teoria de que são eles que têm a obrigação de puxar pela equipa no momentos difíceis, mas sim que deverá partir deles o primeiro passo para serenar os ânimos. No entanto, há jogadores que, pela sua personalidade, conseguem com a sua atitude empolgar os restantes companheiros. Jorge Costa era um exemplo claro dessa força interior. A maneira "espalhafatosa" como manifestava o seu querer, por vezes, levava-o a cometer alguns excessos, mas na hora de pesar os prós e os contras da sua maneira de ser, braçadeiras arremessadas à parte, o saldo era positivo. Portanto, não defendo que haja um modelo ideal de capitão de equipa, mas que há certos deveres e responsabilidades que não podem ser esquecidos na hora de escolher o homem para esta honra. Espírito de liderança, repito, e uma atitude exemplar perante o grupo que capitaneia.

Ora, não podemos exigir aos nossos "pares" aquilo que não podemos oferecer. No caso do central benfiquista, Luisão, este facto salta à vista. O brasileiro será, do presente plantel, o jogador que mais quezílias promoveu no seio benfiquista. Desde Karagounis, passando por Marcel, não esquecendo um acesso de fúria, totalmente despropositado, para com Rui Nereu, num jogo contra o Belenenses, e agora envolveu-se com Katso. Não digo que o grego está isento de culpas, mas a verdade é que a surpresa não veio do facto do Luisão se envolver numa situação destas, mas sim pelo facto do pacato grego ter "perdido" a cabeça. Mas a verdade é que o raspanete de Luisão, para além de injusto, foi totalmente despropositado. Mesmo que ele o tivesse dado ao principal culpado pela má definição daquele lance, Petit, nada justificava o aparato da sua chamada de atenção.

Neste lance, não só se tornou visível a inadequação de Luisão para este tipo de funções - pois se Katso não tem o direito de reagir daquela forma a um exagero de um colega, Luisão, na condição de capitão, tinha a responsabilidade de serenar os ânimos e não crescer, face à "cólera" demonstrada pelo grego - como a má gestão da direcção do Benfica. Luisão teve uma penalização mais "leve" por ser capitão? Como? Então o facto de ser capitão serve para, de alguma forma, beneficiar de imunidade? Como é que é possível que um elemento que tem mais responsabilidades dentro de um grupo tenha um tipo de tratamento mais "brando"? Um jogador, por beneficiar do estatuto de capitão de equipa, terá sempre de assumir mais responsabilidades e as respectivas consequências das mesmas perante o grupo, numa situação de indisciplina.

Não só esta atitude torna o clube da Luz mais fraco do ponto de vista desportivo, ao afastar um dos seus melhores jogadores, como a diferença injustificada que se fez sentir na maneira como lidaram com os diferentes jogadores poderá ter uma influência negativa no grupo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O Boavista de Pacheco: aquilo que uma equipa NÃO deve ser...

É absolutamente patético ouvir Jaime Pacheco falar da sua estratégia convencido de que realizou um grande feito. Ganhou ao Sporting com um futebol medíocre, com uma estratégia errada e que denota a sua pequenez, mas acha que foi um justo vencedor. Justo? Porquê? Porque ganhou? É verdade que o Sporting realizou um jogo fraco, mas não merecia perder, muito menos para uma equipa que defendeu sempre atrás da linha da bola, que criou uma ou duas oportunidades de golo ao longo de todo o jogo. Jaime Pacheco acha que não e orgulha-se de a sua estratégia ter resultado. E que estratégia era essa, afinal? Nada mais, nada menos, do que tentar neutralizar Miguel Veloso. Medo...

Vamos por partes. A título individual, esta equipa do Boavista não é só modesta; vai bem além disso. Zé Kalanga, Mateus e Fary formam, provavelmente, o pior trio atacante da Liga. É caso para perguntar: onde andam Ivan Santos e Hugo Monteiro? O meio-campo é fraquíssimo, não tem um pingo de criatividade e não abunda em massa cinzenta. Diakité é um tipo grande, de cor, que é capaz de assustar e talvez de cheirar mal, mas de bola é fraquinho. É capaz de ser bom para uma distrital, mas mais do que isso não. Fleurival é mau. Jorge Ribeiro não é médio. A defesa é o sector menos mau desta equipa. Ricardo Silva não evoluiu enquanto jogador: continua forte, pesado e lento de rins. Mas é um defesa concentrado e forte nos lances de bola parada. Marcelão, o outro central, parece-me ser do mesmo tipo: é grande, marca em cima e, pelo ar, é quase tudo dele. Os laterais, dois miúdos, parecem-me razoáveis. Gilberto, o lateral direito, já conhecia. Tinha ficado com melhor impressão dele, pois parecia ter bons princípios de jogo, quando actuava pela equipa de júniores. Agora, treinado por Pacheco, talvez se tenha deixado influenciar pela filosofia do treinador: é duro, impetuoso e não perde muito tempo a pensar, como o fazia tão bem antigamente. O guarda-redes fez uma boa exibição, mas não sei o que valerá na realidade. Ou seja, individualmente, esta equipa é talvez a mais fraca de sempre do Boavista. Aliás, de uma equipa em que a vedeta é um defesa esquerdo de qualidade mediana a jogar como médio mais ofensivo, pouco há a dizer.

As equipas podem, se bem estruturadas colectivamente, suprir as deficiências individuais que os orçamentos reduzidos ou os azares lhes impõem. Veja-se o caso do Vitória de Setúbal e de Carlos Carvalhal. Mas uma equipa que individualmente seja fraca e que, colectivamente, seja um desastre, está condenada ao fracasso. O Boavista de Pacheco joga num 433 bem definido. Até aqui, nada a apontar. O problema raramente se prende apenas com o desenho táctico; muito mais importante é a dinâmica de jogo, a filosofia, etc. O Boavista de Pacheco joga, não raro, em função dos outros. Em primeiro lugar, não existe essa treta de marcação à zona. Nada disso! Isso são modernices a mais. O Boavista faz marcação homem a homem. E não são só os elementos mais recuados que o fazem: todos os onze jogadores têm, por tarefa defensiva, acompanhar o adversário que lhes compete para onde quer que este vá. Diakité, supostamente o médio mais defensivo, passou o jogo inteiro a cair nas faixas. A fazer o quê? A marcar Liedson. A Fary ficou entregue não a posição de ponta-de-lança, mas o sacrifício de andar atrás de Miguel Veloso. Ou seja, o Boavista jogou sem avançado para evitar que o Sporting jogasse. A minha pergunta é: Uma equipa que, para evitar que o adversário jogue, abdica de cada um dos seus jogadores, tem legitimidade para acreditar que pode ganhar um jogo? Para Jaime Pacheco, é mais importante que o adversário não jogue do que a sua equipa o faça. Se, por milagre, conseguir marcar um golo, muito bem. Mas isso, para Pacheco, não é importante. Com que moral pretende que os adeptos gastem dinheiro e se entusiasmem com o seu Boavista?

Além do sistema de marcação homem a homem, a filosofia de jogo do Boavista é de contra-ataque. Com o jogo em 1-0 para os axadrezados, vi Jaime Pacheco a pedir que os seus jogadores bombeassem bolas para a frente. E segurá-la, não? Trocar paulatinamente a bola entre os seus jogadores, para baixar o ritmo de jogo, para conservar a posse de bola, também não? Jogam os onze homens atrás da linha da bola, enfiados no seu meio-campo, cada um entregue a um adversário, e, quando recuperam a bola, tentam lançar os três homens da frente rapidamente; isto quer estejam a perder, quer estejam a ganhar. Uma equipa que jogue assim tem de ter três homens muito bons a nível individual na frente, coisa que não tem. Este Boavista não tem princípios de jogo. E não os tem porque Jaime Pacheco nem sabe o que isso é. Para ele, atacar é pontapear a bola para as costas da defesa e esperar que os seus avançados sejam mais rápidos que os defesas adversários.

Na zona de entrevistas rápidas, Jaime Pacheco vinha a ferver em orgulho. Disse que a sua estratégia fora anular Miguel Veloso, que era por onde passava, segundo ele, todo o jogo do Sporting, e que essa estratégia resultara em pleno e que, por causa dela, vencera o jogo. Devo dizer que Jaime Pacheco nem percebe por que é que ganha jogos. Sacrificar uma peça para evitar que outra jogue traz sempre maus resultados. Pode conseguir o que pretende, mas abre sempre espaços que não deveria abrir. Se o Sporting tivesse sabido aproveitar sobretudo o facto de Diakité raramente estar na zona central do terreno, uma vez que ia para onde Liedson ia, Jaime Pacheco estaria a esta hora a coçar a cabeça, sem saber o que tinha falhado. Mas, como ganhou, pensa que o deve à brilhante ideia de marcar homem a homem os jogadores do Sporting. Nada mais errado. Ganhou porque concretizou um lance de bola parada. Só isso. Se esse lance não tem acontecido, não sei se aguentaria o empate por muito mais tempo. E isto sem o Sporting estar a jogar bem. Se a nível individual o Boavista não tem, quanto a mim, qualidade para a primeira Liga, custa-me a acreditar que, a nível colectivo, haja equipas tão fracas como a de Jaime Pacheco na Liga Vitalis. A mentalidade não é só de equipa pequena; é de equipa de distrital. Interessa a Pacheco, essencialmente, anular o adversário. Se o conseguir, é o homem mais feliz do mundo e julga-se sábio. Não o é, nem uma coisa nem outra. Quer dizer, talvez seja feliz, porque nem tem inteligência para perceber que não o é. Mas como, de vez em quando, mais por demérito do adversário do que por mérito seu, consegue não sofrer golos jogando assim, vai conquistando uns pontitos. E, apesar de ser dos piores treinadores de que me lembro, talvez até consiga permanecer uma vez mais na Primeira Liga.

P.S. Há quem diga que Deus goza com os seres humanos. Se isso é verdade, o seu maior número cómico foi, sem dúvida, ter feito o Boavista de Jaime Pacheco campeão nacional...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Prémios

Passada esta época festiva, apetece-me falar de treinadores, em particular dos da Primeira Liga, e do seu desempenho.

1. Jesualdo tem tido a vida facilitada. Mérito seu? Não creio. No Porto, o difícil é não parecer bom. Domina o campeonato, mas não parece muito seguro quando tem de substituir as suas pedras bases. Gostei particularmente da forma como arrumou com Leandro Lima. Professor? Um professor deve, em primeiro lugar, ser um educador. Desperdiçar o talento do brasileiro já era absurdo; fazer dele um bode expiatório para se eximir de todas as culpas é mesquinhez. Depois, o conjunto parece só saber jogar de uma forma. Quando tem de se acomodar às diferentes circunstâncias do jogo, não se mostra uma equipa capaz. Merece o prémio "Cá estamos".

2. Camacho tem coisas boas, mais ou menos as mesmas que Scolari. Sabe incentivar os jogadores, sabe seduzir os adeptos, mas não sabe mais nada. O seu prazo de validade já expirou há muito tempo. Dos métodos obsoletos à mania dos dois médios-defensivos que arrumem a casa, demonstra a cada jornada a total falta de evolução das suas ideias. Além de não perceber a importância de um jogador como Nuno Assis, de não ver que Coentrão merecia mais oportunidades, de teimar em Binya, não sabe jogar de outra forma que não no seu 4231. Mais gritante é a forma como interpreta o jogo e as substituições que executa: esteja a perder, esteja a ganhar, é troca por troca. Não arrisca nada e espera sempre pela inspiração dos seus jogadores. Perante um resultado negativo, queixa-se sempre da falta de concretização ou da falta de vontade, mas ainda não percebeu que isso são as únicas coisas que vão bem no reino da Luz. Merece o prémio "Espantalho".

3. Paulo Bento é, confesso, o treinador que mais aprecio neste campeonato, mas tem tido alguns erros comprometedores. O seu punho de ferro já se revelou proveitoso (o último caso, com Liedson, é sintoma disso mesmo, uma vez que o brasileiro parece outro jogador depois da suspensão), mas parece demorar muito a decidir usá-lo. Miguel Veloso merecia, como Liedson, uma repreensão parecida: nos últimos jogos, parece ter-lhe subido à cabeça a forma célere como ganhou projecção no futebol europeu e não rende tanto como deveria, parecendo desconcentrado e pouco humilde. Adrien é bom jogador, mas Paulo Bento, antes de todos os outros, deveria pôr um travão na euforia em volta dele: nas poucas vezes que jogou, Adrien nem esteve ao nível a que se pode exibir. Pereirinha já mostrou que podem contar com ele, mas Paulo Bento continua sem lhe dar uma oportunidade a sério. Da maior parte das vezes, tem coragem para arriscar, mas há outras ocasiões em que se acobarda sem necessidade. Em termos tácticos, o Sporting deste ano, muitas vezes, abre em demasia o losango: resulta daqui um futebol menos elaborado e, consequentemente, menos eficaz. É, para mim, a causa principal do recente insucesso da equipa, assim como o mau sector ofensivo da equipa. Aplausos, contudo, para a aposta incondicional em Rui Patrício e para a forma como defendeu Farnerud, ainda que a melhor forma de fazê-lo fosse pô-lo a jogar. Merece o prémio "Ainda vou lá... tranquilamente".

4. Cajuda é, mais do que competente, um treinador ambicioso. Em equipas ditas pequenas, não se acobarda e não constrói a equipa em função de orçamentos reduzidos. Com os grandes, joga olhos nos olhos. Talvez não faça tantos pontos contra equipas superiores quanto os treinadores ultra-defensivos. Acontece, porém, que só há três equipas grandes em Portugal e quinze pequenas. Gosto de um treinador que jogue sempre da mesma forma, quer seja contra o Porto, quer seja contra o Leiria. A equipa vitoriana joga sempre para a frente, troca bem a bola, está bem organizada e merece ser, para já, a primeira dos pequenos. Merece o prémio "Até de muletas".

5. O Vitória de Setúbal é a grande revelação desta época? Não, para quem conhece Carlos Carvalhal. Os clubes por onde passou beneficiaram sempre muito com a sua presença. Em Setúbal, está a fazer um trabalho impecável, recuperando um dos históricos do futebol português. Com um plantel limitado, tem mantido um nível exibicional regular e muita consistência em termos de resultados, só tendo perdido com o Porto. A falta de criatividade do seu meio-campo é compensada com a excelente e constante movimentação do mesmo. Tacticamente, há poucos treinadores tão evoluídos quanto ele; os métodos são dos mais modernos e dos mais eficazes. É, de todos os treinadores da Liga, aquele a quem auguro a maior ascensão em termos de carreira. Merece o prémio "Bem haja".

6. Manuel Machado é muito apreciado em Portugal. Sou dos que não o fazem. Costumo ignorar por completo os resultados obtidos e tomar atenção apenas à forma de jogar das equipas. Como tal, não posso gostar do futebol das equipas de Manuel Machado. O futebol de Manuel Machado está demasiado preso a conceitos defensivos e as suas equipas raramente comandam os desafios. Apresenta sempre dois médios-defensivos e um meio-campo pouco imaginativo, muito mais trabalhado para recuperar e lançar rapidamente os ataques. Organiza bem a equipa atrás, mas não sabe incutir um espírito ofensivo aos seus jogadores. O óptimo trabalho no Moreirense e os bons resultados com o Guimarães e o Nacional não implica que seja bom. Se em Moreira de Cónegos teve o mérito de subir a equipa por duas vezes seguidas, em Guimarães não fez mais do que lhe competia, levando um plantel de luxo ao 5º lugar. Já na Madeira, ainda que beneficiando de um orçamento chorudo, conseguiu igualmente o 5º lugar, feito um pouco mais que o razoável. Na Académica, acabou por claudicar, ficando à beira da descida e com argumentos para fazer melhor: foi a prova de que, sem um plantel individualmente forte, capaz de suprir ofensivamente as deficiências tácticas do treinador, sem os jogadores com quem andou às costas desde sempre (coisa importantíssima, pois os jogadores, quanto há mais tempo trabalharem com o treinador, melhor sabem respeitar os desígnios dele), não é capaz de oferecer nada. No Braga, não fará, provavelmente, um mau trabalho: a excelência dos elementos ofensivos mascarará a pouca argúcia ofensiva do treinador, enquanto que, defensivamente, saberá impor os seus conhecimentos. Não acredito, contudo, que o Braga dele possa ir mais longe do que foi nos últimos anos; não acredito que consiga o 4º lugar confortavelmente, coisa que, com um plantel daqueles, seria da sua competência. O Braga até pode acabar em 4º, mas duvido que o consiga com tranquilidade. Duvido também que chegue a importunar os três grandes, coisa que, com um plantel como aquele, tinha obrigação de fazer. Não é dos treinadores mais incompetentes em Portugal; é até um bom treinador para uma equipa de segunda linha. Mas para uma equipa ambiciosa como o Braga, não acho que chegue. Merece o prémio "Não sou assim tão bom".

7. Lazaroni é, pelo que foi dado a entender até agora, um treinador de mentalidade ofensiva. O excelente plantel do Marítimo também ajuda, é verdade, mas o facto de não se encolher perante os adversários é, para mim, motivo de apreço. Apesar dos muitos brasileiros do plantel, é nos reforços portugueses que a equipa está a ir buscar a força: Ricardo Esteves, Bruno, Fábio Felício e Makukula têm uma mentalidade europeia que, aliada à irreverência de alguns brasileiros de qualidade, como Marcinho, Kanu e Olberdam, confere competitividade à equipa. Lazaroni não é o típico treinador brasileiro em Portugal; a sua equipa tem mecanismos, não vive só das individualidades. E, para isso, muito tem contribuído a experiência de certos jogadores. Merece o prémio "Muitos brasileiros não".

8. Jorge Jesus tem feito um excelente trabalho no Belenenses. A final da Taça e o 5º lugar da época transacta reflectem isso mesmo. Assenta o seu modelo de jogo num 442 losango, pouco apreciado por quem não percebe muito de futebol, e tenta controlar as operações do princípio ao fim do jogo. Se é verdade que perdeu o defesa Nivaldo e os avançados Dady (a grande revelação da equipa na época anterior) e o panamiano Garcés, tendo que remodelar toda a frente de ataque, conseguiu no entanto o concurso de jogadores de qualidade como Devic, Hugo Alcântara, Gomez, Hugo Leal, Roncatto, Weldon e Mendonça. O plantel é forte e pensado para jogar de forma ofensiva, coisa que a equipa vai fazendo. Na minha opinião, o actual oitavo lugar não é condizente com a qualidade da equipa e com a qualidade do futebol da mesma. Penso que, com um pouco mais de sorte, estaria ligeiramente acima. Acredito, contudo, que terá uma palavra a dizer, no final, na disputa por um lugar europeu. Merece o prémio "Carácter".

9. Jokanovic é ainda novo nestas andanças. Para já, o seu Nacional não parece tão forte quanto o Nacional dos últimos anos. O plantel é bom e o investimento foi forte: alguns jogadores como Fellype Gabriel ou Lipatin têm até classe a mais para uma equipa da segunda metade da tabela. Conta ainda com o melhor guarda-redes da Liga, se exceptuarmos os guarda-redes dos três grandes, e com alguns jogadores de boa categoria. O trabalho tem sido, contudo, extremamente irregular e não se augura muito mais que o 9º lugar que, para já, ocupa. Merece o prémio "Talvez um dia".

10. Ulisses Morais é o típico treinador português ultrapassado. Não será tão parco de ideias como um Mário Reis ou um Luís Campos, mas é um treinador pouco ambicioso. Não conheço a fundo o seu trabalho, mas não costumo gostar do futebol pouco pensado das suas equipas. A Naval deu-se ao luxo de dispensar Francisco Chaló, que tinha posto a equipa a jogar um futebol agradável, e foi buscar um treinador que se baseia na disciplina defensiva, no rigor das marcações, etc. É sintoma de que, para muitos emblemas, o importante é conquistar pontos e não praticar futebol. Esquecem-se, porém, que a melhor forma de adquirir a primeira é fazendo bem a segunda. Merece o prémio "Não me convence".

11. Carlos Brito é um treinador mais moderno. Não lhe apraz apenas a consistência defensiva e parece-me que dá a mesma importância aos processos ofensivos. Não creio que seja treinador para conseguir muito mais do que já conseguiu, para treinar emblemas mais ambiciosos, mas é óptimo para uma equipa da Primeira Liga que não queira apenas a permanência. Colocá-lo-ia ao nível de Manuel Machado, com a diferença de que para Brito o futebol não é só organização defensiva. É um treinador competente e não vejo o Leixões, ainda que com um plantel modesto, a ter problemas para permanecer entre os grandes. Merece o prémio "Consistência".

12. Quando Domingos Paciência apareceu a treinar o Leiria, gostei do que vi. Pareceu-me ser tão inteligente enquanto treinador quanto o foi enquanto jogador. Gostei da forma desinibida da sua equipa actuar e era dos treinadores que mais apreciava a época passada. Talvez vítima da pouca qualidade dos treinadores da Liga, julgo ter sobrestimado o valor de Domingos. Saiu de Leiria por questões não-desportivas e chegou à Académica para dar nova alma à briosa. Não duvidei, na altura, que fosse suficientemente competente para o fazer. O plantel dos estudantes não é propriamente forte, por isso não esperei que conseguisse ser bem sucedido de imediato. Esperava, no entanto, que emprestasse ao jogo da equipa uma mentalidade mais forte. A Académica que vi jogar esta época é uma equipa amedrontada, que só sai para o ataque uma ou outra vez em cada 45 minutos. Como agravante, Hélder Barbosa, o mais talentoso jogador do plantel, nem sequer foi opção durante grande parte do tempo. Domingos não confiou nos modelos que usou em Leiria e preferiu sempre um meio-campo musculado e experiente, deixando de fora a imaginação e a fantasia. Merece o prémio "Judas".

13. Daúto Faquirá é dos treinadores mais bem-educados da Liga. Moderado nos comentários, comedido e ponderado, revela uma inteligência e uma forma de estar no futebol diferente do que é habitual. É uma pessoa culta e com mais instrução do que maior parte dos treinadores portugueses. Essas virtudes têm valido ao Estrela uma regularidade impressionante. Aposta num 442 losango, sobretudo a pensar na ocupação da zona central do terreno. O Estrela de Faquirá é uma equipa sempre bem organizada em campo, mas à qual falta muitíssima imaginação. Vive de lances de bola parada ou do desembaraço individual de alguns dos seus jogadores. Para uma equipa pequena, cujo único interesse seja a permanência, Faquirá é bom. Para mais do que isso, até ver, não creio. Merece o prémio "Elegância".

14. Jaime Pacheco não tem sequer qualidade para treinar nas distritais. A sua mentalidade tacanha, a insolência com que fala e pensa perceber de futebol chegam a ser patéticas. Ainda não compreendeu que o futebol é um desporto de zonas e que defender homem a homem é das coisas mais estúpidas que pode haver. Ainda não percebeu que uma equipa que jogue em função do adversário não pode nunca ser uma equipa ambiciosa. Ainda não percebeu que a entrega, que o suor, que o esforço não são mais importantes que a qualidade e que a inteligência. Ainda não percebeu que foi campeão porque calhou. Ainda não percebeu que não tem neurónios para exercer um cargo que exija pensar. Ainda não percebeu que está a mais no futebol. E continua a mandar bitaites, a insinuar que é bom, a comparar-se a Mourinho, etc. Merece o prémio "O Futebol estava bem melhor sem mim".

15. José Mota é, a par de Pacheco, o pior treinador desta Liga. O Paços de Ferreira é uma equipa que aposta nos erros dos adversários. Fecha-se o mais possível atrás, com três médios de características unicamente defensivas, e lança três jogadores rápidos na frente. Dá a iniciativa do jogo ao adversário e tenta explorar os espaços que, depois, este concede. O problema de uma estratégia assim é que está sempre dependente de duas coisas: dos erros dos adversários e da inspiração dos jogadores da frente. Ou seja, colectivamente, a equipa é nula. Tanto pode conseguir uma boa época, como o ano passado, como pode descer de divisão, cenário plausível esta temporada. Com um plantel praticamente igual ao do ano anterior, não se explica tamanha diferença nos resultados. Queixam-se, aqueles que defendem a qualidade de José Mota, que o plantel sofreu duros golpes. Assim não é. Sairam Antunes e Geraldo, titulares indiscutíveis da defesa, é verdade. Também sairam Ronny e João Paulo, dois dos avançados mais utilizados. Mas a equipa tem alternativas válidas. Já no meio-campo, as saídas de Elias e Paulo Sousa foram colmatadas com entradas importantes de Filipe Anunciação e Wesley. O plantel não está, ao contrário do que foi dito, mais fraco. Nem sequer mudou significativamente. Dos onze titulares da época passada, pelo menos 6 mantiveram-se. Não há que encontrar explicações onde elas não existem: o futebol de José Mota tanto pode dar para ir à UEFA como para descer de divisão. Merece o prémio "Eu não sei o que faço".

16. Vítor Oliveira chegou a Leiria numa má altura. Não lhe reconheço qualidades extraordinárias nem sequer estou a par, em rigor, dos seus anteriores trabalhos. Do pouco que conheço, considero-o um homem com alguma experiência, mas que evoluiu pouco em termos de métodos e de mentalidade. Não é treinador para equipas com ambições, mas talvez seja treinador para equipas em apuros. A ver vamos como o Leiria se porta com ele. Merece o prémio "Nem ai nem ui".

Feita esta análise, devo dizer que tenho saudades de Quinito, Peseiro, Vítor Pontes, Co Adriaanse, etc. Seria tudo muito mais interessante se alguns destes estivessem nos lugares de outros como José Mota, Jaime Pacheco ou Ulisses Morais. Mas assim não é e é este o futebol que temos...