quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lições de Mestre (7)

Para muita gente, o lance capital do jogo de ontem da Luz foi o segundo golo do Benfica, da autoria de Gaitán. Com efeito, o remate é extraordinário, a bola entra na gaveta, e parece ter propiciado maior espectacularidade do que qualquer outro lance do jogo. Não estou de acordo, porém, que esse tenha sido o lance mais interessante da partida. A meu ver, há no primeiro golo um momento francamente superior a esse, um momento que passou praticamente despercebido, o que muito me espanta. O remate de Nolito, de facto, não é tão vistoso como o de Gaitán, mas não é pela finalização do lance que creio que ele mereça verdadeiro destaque. Já o passe de Aimar é das coisas mais sublimes que já se fizeram nos relvados portugueses. Numa altura em que parece que cada vez mais se gosta de arrancadas de pessoas incríveis, de lances individuais extraordinários, de grandes aberturas, de gente que corre feita doida, de malabarismos e excentricidades de putos de rua, as pessoas deviam pôr os olhos neste lance aparentemente trivial. Quando se diz que há poucos que conseguem resolver os jogos sozinhos, esquecem-se de quem consegue fazer coisas destas. Sem exagero algum, aquele passe equivale a uma arrancada em que se tiram quatro ou cinco jogadores da frente e se deixa um colega isolado frente ao guarda-redes. Aquele passe é puro génio. Em tudo, na execução, que é dificílima, mas sobretudo na concepção, transformando um lance totalmente inócuo numa ocasião clara de golo. Não é para todos.



O Benfica não jogou bem e só justificou a vitória após o primeiro golo. Até aí, além de dar muitíssimo espaço e de ter os sectores excessivamente separados, em momento ofensivo, e em momento defensivo, mostrou poucas ideias colectivas. Talvez isso se deva à fase da época em que se encontra, e que por isso seja injusta a acusação. Talvez. Mas pouco importa. O Benfica não fez um bom jogo, mas Aimar apareceu no momento certo. Não é também exagero dizer que resolveu o desafio, e provavelmente a eliminatória. E ninguém parece ter dado por isso. Tal como ninguém parece ter dado por ele na primeira parte, repetindo as alarvidades que António Tadeia ia proferindo no comentário ao jogo, dizendo que estava desinspirado e desaparecido da partida, só porque não o via fazer coisas perto da área adversária. Aimar fez uma boa primeira parte, ao contrário do que essas parvoíces todas fizeram crer, e fez também o que mais ninguém em Portugal tem competência para fazer: resolveu um jogo sem que percebessem que o fez. Sem que nada o fizesse prever, sobretudo porque Nolito fora desarmado e a jogada parecia condenada a voltar ao início, Aimar sacou um coelho da cartola e isolou o espanhol. Com um passe inesperado, com a parte de fora do pé e sem o equilíbrio mais adequado para o fazer, num gesto técnico ao alcance apenas dos predestinados, concebeu a melhor ocasião de golo dos encarnados até à altura. Mas, mais do que essa execução soberba, fenomenal foi a percepção que teve do lance. Nolito iniciou a desmarcação, sim, mas era de todo improvável que se criasse um espaço tão favorável no seio da defesa turca. O problema é que os turcos não esperavam que alguém, na posição em que Aimar estava e virado como estava para a linha lateral, fosse capaz de colocar a bola com tanta facilidade, e de primeira, no coração da área. Relaxaram, imaginando o cenário mais provável de Aimar rodar para trás, reiniciando a construção ofensiva, e não previram a possibilidade oposta, a de que, com um só passe, um jogador transformasse um lance perdido numa ocasião soberana.

Repito, este lance devia ser colocado na mesma prateleira de jogadas individuais em que se tiram quatro ou cinco jogadores da frente. Isto porque, na verdade, Aimar ultrapassou sozinho quatro jogadores, aqueles que ficaram batidos pelo passe maravilhoso do argentino. Para muitos, ser criativo é ter um leque de fintas vasto, ser capaz de se desembaraçar individualmente de vários adversários, fazer macacadas com os pés, etc.. Agora pergunto: há alguma coisa que demonstre melhor o que é verdadeiramente a criatividade do que inventar uma jogada com um só gesto técnico, como foi o caso? Criatividade é isto, é ser capaz de imaginar uma coisa que mais ninguém imaginou. Termino com uma afirmação controversa, sobretudo para os que gostam de músculos e remates de meio-campo: Aimar é o melhor jogador a jogar em Portugal. E não estou certo de me lembrar de outro que, no passado, tenha sido tão bom quanto ele.

P.S.: No final da partida, Jorge Jesus justificou a timidez em apostar em Nolito, neste início de temporada, dizendo que o espanhol opta excessivamente pelos lances individuais, e que precisa de perceber melhor o jogar da equipa. Francamente, não me parece que Jesus esteja a avaliar bem as competências de Nolito. Sim, tem facilidade de drible e até procura bastante o um para um. Mas não o faz mais do que Gaitán, por exemplo, e sobretudo não o faz em ocasiões em que não deve necessariamente fazê-lo, como o argentino. Mas nem é por aí. Ninguém, à excepção de Aimar e Saviola, que são de outra galáxia, a esse respeito, é tão forte sem bola, em momento ofensivo, como Nolito. A forma como percebe o momento certo em que deve procurar a desmarcação e a forma como tem a preocupação constante de fornecer uma linha de passe ao portador da bola, coisas que certamente o modelo catalão em que jogava potenciou, dão-lhe competências colectivas que poucos jogadores no plantel possuem. Ao dizer o que disse, Jesus parece estar unicamente preocupado com acções com bola. Se é verdade que, nas suas acções com bola, Nolito pode ainda melhorar as suas competências colectivas, embora não me pareça que, para já, elas sejam excessivamente erráticas, aquilo que faz sem bola justifica amplamente a sua titularidade. O que me leva para outra questão, com que termino: por que ordem de ideias é que se começa a gerar o consenso de que Alex Witsel será titular desta equipa? Acredito que venha a ser muito útil, sim, mas titular? No lugar de quem? Aimar? Gaitán? Nolito? Isto sem contar com Carlos Martins, Bruno César e Enzo Pérez. A época é longa e o belga terá certamente muitos minutos de utilização, mas não me parece, pelo menos para já, apesar de lhe reconhecer qualidades, que seja imprescindível no Benfica mais forte.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Certezas (23)

A recente e, por que não, surpreendente transferência deste jogador para Inglaterra veio apressar a necessidade de escrever este texto. Dele há a dizer, em primeiro lugar, que foi o jogador que mais me impressionou no europeu sub-20 do ano passado. Senhorial, com um sentido posicional perfeito e uma simplicidade de processos ao nível de poucos, destacou-se mais pela sobriedade e pelas capacidades de liderança do que pelos atributos atléticos que também possui. Não sendo extraordinariamente alto, é no entanto muito forte fisicamente. Isso não o impede, como é hábito acontecer, de ser tecnicamente evoluído e de privilegiar o intelecto. Jogando na posição de médio defensivo, sente-se confortável com o papel posicional que desempenha, sendo especialmente forte nas coberturas ofensivas e defensivas, aparecendo invariavelmente perto dos médios mais avançados em todas as situações do jogo. Com bola, é também muito bom. Não exagera no passe à distância, nem parece ter necessidade de fazê-lo para se impor, e percebe bem as reais necessidades da equipa, a cada momento. Apesar de não usar o passe longo com frequência, tem uma facilidade de passe invejável e muito critério quando tem de entregar a bola. Percebe que a sua posição não implica apenas recuperar e entregar, e toma invariavelmente boas decisões, não deixando de procurar soluções verticais, com passes entre linhas, quando assim se exige. Antes de se confirmar que o seu futuro passaria afinal por Inglaterra, foi conjecturada a sua vinda para Portugal, para um dos três grandes. Se na altura pareceu claro que não era do interesse do seu clube um empréstimo a uma equipa portuguesa, o que fazia antever uma aposta, pelo menos a médio prazo, neste jogador, não deixa de ser para mim uma surpresa o desfecho do caso. Aliás, imaginei mesmo que, no início da época que agora acabou, pudesse vir a integrar os trabalhos da principal equipa com alguma frequência, e perspectivei que se tornasse rapidamente o substituto de Sergio Busquets, com quem o compararia, se tivesse de compará-lo com alguém. A chegada de Mascherano acabou, contudo, por lhe dificultar a ascensão, e sai agora de Barcelona, rumo a Londres, por uma quantia quase irrisória, tendo em conta o seu enormíssimo valor. Demorei este texto por querer vê-lo noutro contexto que não a selecção de sub-20 e o Barcelona B, mas a perspicácia de André Villas-Boas impede agora que continue a fazê-lo. É hora, pois, de lembrar que na Catalunha mora (ou morava) mais um incrível médio defensivo, um jogador que, apesar de possuir uma fisionomia bem diferente de Busquets ou Guardiola, muito mais condizente com um médio de choque, acaba porém por cultivar um perfil idêntico àqueles de quem herdou o talento. Pode ser que Camp Nou não venha afinal a ser o palco onde futuramente evidenciará as suas qualidades, mas isso não impedirá que Oriol Romeu venha a ter a grandeza que se lhe adivinha...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Ábacos, Alambiques, Alquimistas e Astrologia

O Positivismo da Matemática

Há quem considere que o futebol, como outras coisas, ganha em ser explicado através de aplicações matemáticas. Pessoalmente, acho a matemática engraçada, mas irrita-me a tendência que os matemáticos têm para se intrometer em domínios que não lhes dizem propriamente respeito. A era científica em que vivemos autoriza-o, é certo, e está instituído, para todos os efeitos, a ideia de que a matemática tem uma abrangência universal inequívoca. Discordo disto. A ideia que subjaz a todo o pensamento moderno é a de que a matemática tem propriedades descritivas universais, que tudo o que existe tem um fundamento matemático e que, possuindo as competências matemáticas relevantes, tudo o que existe pode ser convertido em matemática. Sem certezas, diria que essa ideia vem já das ideias positivistas do século XIX, assentando na premissa fundamental de uma concepção materialista do mundo. Bastaria, porém, um olhar crítico para algumas das teorias científicas mais consensuais para ver o quanto fica entregue à aleatoriedade. O mundo não é exacto e não pode ser exclusivamente descrito por uma coisa exacta; o paradigma da geometria euclidiana, por exemplo, nunca teria permitido o advento da física moderna. Sem mudanças de paradigma, sem alterações decisivas no modo como descrevemos o universo, não haveria progresso. A matemática, enquanto ferramente científica para aceder ao mundo, tem o problema de lhe permitir o acesso de um modo todavia dogmático. Sou da opinião que a matemática tem, obviamente, uma importância extraordinária em todos os domínios científicos, mas que a presunção da sua universalidade é um equívoco histórico de todo o tamanho. Por exemplo, de que modo pode a matemática explicar, traduzir, ou, de qualquer maneira relevante, ajudar a perceber uma obra de arte? Haveria maneira melhor de Rubens expressar o seu modo de ver o mundo do que pintando o que pintou? Pode converter-se um poema em equações matemáticas que o expliquem satisfatoriamente?

Esta ideia de que a matemática é a linguagem universal do universo é uma ficção que depende não só de uma concepção ultra-materialista daquilo que paira à nossa volta como do equívoco de pensar que o que paira à nossa volta é absolutamente independente da criatura que somos. Se tivesse que dizer em que é que o homem se distingue das demais criaturas, diria que seria pela possibilidade de linguagem. Por linguagem entendo aqui algo muito vasto, um conjunto de mecanismos não apenas linguísticos, mas de abstracção e conceptualização. A matemática é uma consequência dessa possibilidade e não algo que exista antes dela. Vemos matemática no universo não porque ela exista no universo, mas porque aprendemos a ver o universo matematicamente. A presunção de que todos os fenómenos ganham em ser explicados matematicamente é tola precisamente porque ignora esta ordem de ideias. A matemática, como a capacidade de verbalizar ideias, como as várias linguagens artísticas, como tantos outros meios de descrever o mundo, não tem prevalência sobre nada nem possui universalidade nenhuma. Aliás, nenhum progresso matemático é exclusivamente matemático; depende sempre dos progressos daquilo em que se insere e das coisas com que partilha o espaço, depende de progressos conceptuais, de progressos linguísticos, etc.. A matemática serve, isso sim, como todas as outras coisas, para nos expressarmos sobre o mundo. E sendo verdade que a matemática, em certos domínios, é a melhor ferramenta que temos para explicar coisas, noutros domínios não tem grande autoridade. Certos fenómenos ganham em ser explicados matematicamente; outros não. E outros até perdem. Feita esta introdução de natureza controversa, queria passar para o caso do futebol, que a meu ver é bem mais parecido com um poema do que com um fenómeno astronómico.

Ábacos

Certos iluminados creêm, como o disse logo no início, que a matemática pode explicar o futebol de um modo bastante profundo e completo. A única explicação que possuo para justificar tamanha imbecilidade é a crença errada na pretensa universalidade da matemática, coisa que procurei destruir acima. A alternativa seria acreditarem, ao contrário do que faço, que o futebol é mais parecido com um fenómeno físico do que com um fenómeno humano, e em relação a isso não sei bem como reagir. Sempre que se justicam factos de um jogo de futebol com estatísticas ou explicações matemáticas de qualquer ordem, fico com a impressão de que as pessoas que o fazem pensam que o futebol é praticado por máquinas, e que um conjunto de fórmulas serve para descrever o que se passa em campo. Onde eu vejo seres humanos, decisões inesperadas, juízos errados, precipitações, acaso, essas pessoas vêem números, vectores, conjuntos de coordenadas, e equações. Tal como para explicar um poema preciso de tentar interpretar intenções, preocupações, crenças acerca do mundo, escolha de palavras, etc., para explicar um fenómeno futebolístico preciso de tentar interpretar coisas humanas do mesmo tipo, intenções, decisões, erros de avaliação, preocupações, etc.. O que os matemáticos fazem, perante um jogo de futebol, é negligenciar-lhe a dimensão humana e fazer cálculos com o que é materialmente palpável. Tal como só poderiam dizer de um poema (ou de uma peça musical, já agora, uma vez que a música é muitas vezes estupidamente pensada como a mais matemática das artes) trivialidades quantificáveis, como medições de sílabas ou de compassos, só podem dizer de um jogo de futebol trivialidades que se meçam. A matemática, em futebol, pode, quando muito, ter a relativa utilidade de ajudar a perceber tendências, ou a de quantificar intervenções. Jamais servirá para justificar ou avaliar o que quer que seja. Em fenómenos científicos, causas são explicações. E, como tal, medir causas é justificar os fenómenos por elas causados. Em fenómenos de outro tipo, fenómenos humanos como o futebol, o que causa um facto não é necessariamente o que melhor o explica. Em futebol, causas não são explicações, isto é, acontecimentos físicos não explicam as acções dos jogadores. Munidos de um ábaco extraordinário com que acham que resolvem todos os problemas, estes druidas modernos atiram os dados mensuráveis de um jogo de futebol para dentro de um caldeirão e, mexendo bem, crêem possível extrair deles uma poção mágica qualquer. Não extraem nada, diga-se, senão gráficos irrelevantes, continhas de algibeira e a banalidade de somatórios sem sentido. Aqui vai uma ideia: talvez o ábaco não seja a melhor ferramenta para descobrir o que quer que seja acerca de um jogo de futebol. Talvez, talvez.

Alambiques

O processo de extracção de sentido de um jogo de futebol, como de outro fenómeno humano qualquer, é bastante mais complexo - convenhamos - do que a destilação de qualquer bebida. Os matemáticos, ao proporem a racionalização de um jogo através de um conjunto de contas, acham que não. Para eles, a matemática funciona como um alambique providencial através do qual obtêm o significado correcto de um conjunto de estímulos visuais arbitrários. Medem acontecimentos, contabilizam ocorrências, catalogam números, juntam tudo numa trituradora especial, aplicam-lhe uns perlimpimpins quaisquer em forma de fórmulas matemáticas, e obtêm gráficos mirabolantes, com várias cores, pouco perceptíveis, mas visualmente muito apelativos. O problema é que a distância entre um jogo de futebol e o sentido que ele possa ter não depende da precisão e da minuciosidade com que se alambica esse jogo. Por mais meticuloso que se seja, por maiores que sejam os cuidados, por mais afinados que sejam os critérios de selecção de dados e por maior que seja o conjunto dos dados seleccionados, um jogo jde futebol jamais pode ser explicado recorrendo a um alambique. O problema do uso da matemática para interpretar um fenómeno como o futebol tem a ver com isso, tem a ver com a sua utilização enquanto alambique. Acredita-se que se trata de algo com potencialidades incríveis, capazes de modificar quimicamente uma matéria-prima para extrair dela a sua essência. Não se extrai nada de razoavelmente interessante, como é óbvio. Pior do que usar o ábaco para descobrir significado num jogo de futebol, é usá-lo como se fosse um alambique moderníssimo, capaz de chegar onde a interpretação humana, essa coisa medonha e tão pouco hábil, nunca pode chegar. Aqui fica outra ideia: talvez o alambique não ajude tanto a perceber um jogo quanto o mais simples dos raciocínios.

Alquimistas

O que esta gente das matemáticas providenciais faz não é por isso diferente do que faziam os alquimistas, e consiste mais ou menos na ideia absurda de achar que, através de um qualquer processo químico insondável, é possível transformar metais vulgares em ouro. Todos aqueles que acreditam na universalidade da matemática são, à sua maneira, alquimistas. Acham que existe algo, matemática ou alquimia, que tem a capacidade de transformar coisas sem sentido em coisas com sentido. O que não percebem é que a aquisição de sentido não é um processo de transformação química, mas o resultado elaborado de um conjunto de descrições. Esta gente acha que um conjunto complexo de acontecimentos, como seja um jogo de futebol, é uma espécie de barro que, se devidamente moldado, se transforma necessariamente numa única peça de olaria. Estão enganados, claro. O produto final depende da forma em que é moldado, e um pedaço de barro pode originar variadíssimas coisas. A interpretação de um jogo de futebol depende das descrições que se fizer desse jogo, não de aritmética alguma. Não há ouro nenhum a extrair da vulgaridade dos metais em que consistem os dados empíricos de um jogo. Achar que existe um processo alquímico privilegiado para aferir o verdadeiro sentido de um jogo de futebol, e achar que a matemática é tudo o que o alquimista precisa para tal, é uma idiotice. Aqui fica mais uma ideia: futebol não é alquimia e talvez, mas só talvez, fazer da matemática a alquimia essencial de um analista não seja a forma mais inteligente de raciocinar sobre um jogo de futebol.

Astrologia

O que resulta de tudo isto é que fazer deste método absurdo de interpretação uma ciência não tem qualquer cabimento. A matemática aplicada ao futebol é uma ciência tão exacta como a astrologia. É engraçada, mostra relações, faz continhas, mas é estúpida. A astrologia, enquanto ciência, tem vários problemas. Normalmente, as pessoas não acreditam nos astrólogos porque o trabalho deles lhes parece charlatanice, ou porque acreditar na astrologia implicaria acreditar na não existência do livre-arbítrio, ou porque depende de uma certa áurea mística, etc.. A meu ver, esses são problemas laterais. O maior problema da astrologia é a inadequação daquilo que é ao seu objecto de estudo. No fundo, a única coisa que a astrologia precisaria de fazer para se tornar credível seria justificar que o critério de explicação do comportamento humano pelo posicionamento dos planetas não é arbitrário. O problema da astrologia é essencialmente este, a arbitrariedade em que consiste pretender estudar a psicologia humana através de contas com dados astronómicos. Aliás, a arbitrariedade vai ainda mais longe e aquilo que determina todas as contas é o posicionamento relativo dos planetas no dia em que se nasce. Mas nada há que justifique que esse seja o momento certo para perceber o alinhamento dos planetas relevante para a formação do carácter de uma pessoa. Por que razão é que esse momento é mais relevante que o momento da concepção, por exemplo? Como é que se explica que o alinhamento dos planetas no dia do nascimento tenha preponderância na formação do carácter da pessoa e o alinhamento no primeiro dia de aulas dessa pessoa não tenha? Estas são as perguntas que genuinamente se deviam fazer aos astrólogos. É que toda a ciência que praticam é baseada em decisões arbitrárias deste tipo. Para mim, não é necessariamente apenas a presunção de que comportamentos humanos podem ser explicados por fenómenos astronómicos que é ridícula, mas sim a arbitrariedade em que essa presunção se funda. O mesmo se passa em relação à presunção de que comportamentos humanos podem ser explicados pela matemática. Essa presunção depende da decisão arbitrária de achar que o conjunto de acontecimentos num jogo de futebol tem preponderância para aferir o sentido desse jogo. Os matemáticos que acham que um jogo de futebol se explica matematicamente não são bem apenas matemáticos; são astrólogos. Aqui fica uma ideia final: a astrologia é capaz de não ser a ciência mais indicada para falar de futebol.

sábado, 9 de julho de 2011

Os melhores de 2010/2011

Mais tarde do que o desejado, eis a meu ver a melhor equipa da Liga, sem grandes explicações e sem extremos, em 442 losango, só para complicar:

Guarda-Redes: Helton
Defesa Direito: Sílvio
Defesa Esquerdo: Fábio Coentrão
Defesas Centrais: Luisão e Otamendi
Médio Defensivo: Rafael Miranda
Médios Interiores: Belluschi e Moutinho
Médio Ofensivo: Pablo Aimar
Avançados: Falcao e Postiga

Treinador: André Villas-Boas

Suplentes:

Guarda-Redes: Bracalli
Defesa Direito: Maxi Pereira
Defesa Esquerdo: Álvaro Pereira
Defesas Centrais: Rolando e Rodriguez
Médio-Defensivo: Fernando
Médios Interiores: Guarín e Hugo Viana
Médio-Ofensivo: Matías Fernandez
Avançados: Saviola e Kléber

Treinador: Rui Vitória

Menções Honrosas:

Hulk, Varela, James Rodriguez, Sálvio, Gaitán e Paulo Sérgio, que ficaram de fora essencialmente por duas razões: por ter dado preferência a um esquema de 442 losango; e por ter optado por eleger jogadores que formassem o melhor colectivo (que se tivessem destacado pelas suas capacidades colectivas) e não necessariamente os jogadores que individualmente se destacaram mais.