segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Farnerud: um estudo

O jogo é o Vitória de Setúbal - Sporting; o espécime em estudo, o sueco que, por diversão e vontade de agradar às massas, o país inteiro decidiu odiar.

1 minuto: Corte (antecipa-se a um adversário e ganha, chutando para longe, uma bola que vinha do ar.)

1 minuto: Bom passe. (Recebe, roda e joga na linha.)

2 minutos: Bom passe. (Recebe, controla a bola e dá no meio.)

2 minutos: Bom passe. (Recebe, aguenta uma carga, protegendo a bola e dá no meio.)

3 minutos: Corte. (Corte para fora.)

4 minutos: Bom passe. (Recebe e dá na esquerda; a bola é-lhe devolvida e dá em Moutinho.)

6 minutos: Drible e bom passe. (Recebe a bola vinda de um lançamento de Grimi, coloca-a no chão e passa no meio de dois adversários, dando depois em Veloso.)

7 minutos: Boa opção. (Bate livre curto para Grimi, que dá em Polga; este entrega-lhe novamente a bola e ele faz um passe vertical para Purovic, que, depois de dominar a bola, se deixa antecipar por Robson.)

8 minutos: Boa opção. (Ganha a bola no meio de dois adversários e dá de calcanhar para Grimi.)

9 minutos: Corte. (Corte junto à bandeirola de canto, cedendo um pontapé de canto.)

9 minutos: Corte. (Corta uma bola de cabeça difícil, mas adianta-a em demasia.)

10 minutos: Bom passe. (Recebe no meio de dois e dá no meio em Pereirinha.)

13 minutos: Perda de bola. (Desarmado por Janício, quando se preparava para executar um passe.)

13 minutos: Mau passe. (Passe de primeira demasiado comprido para Moutinho.)

14 minutos: Recuperação de bola. (Desarma Bruno Gama e Grimi limpa.)

15 minutos: Boa opção. (Recebe de Polga, dá em Grimi, que lhe devolve a bola; tabela com Liedson e dá novamente no avançado do Sporting, que a perde.)

19 minutos: Recuperação de bola. (Desarma um adversário e dá de calcanhar para Veloso.)

21 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga, avança com a bola, mas, sem soluções, lateraliza para Veloso.)

22 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga e dá em Veloso.)

26 minutos: Recuperação de bola. (Ganha uma bola no meio e dá para Moutinho, que lança Pereirinha em velocidade.)

28 minutos: Bom passe. (Recebe no meio e dá para Grimi.)

28 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga e dá para Veloso.)

29 minutos: Má recepção. (Recebe a bola, conseguindo controlá-la em esforço, mas acaba por perdê-la pelas dificuldades na recepção.)

29 minutos: Recuperação de bola. (Desarma um adversário no meio e entrega rápido.)

30 minutos: Bom passe. (Recebe a bola vinda de um lançamento e dá para Polga.)

30 minutos: Bom passe. (Moutinho corta a bola, que sobra para ele; dá em Liedson, mas o avançado disputa o lance em falta.)

31 minutos: Corte. (Corte para fora.)

31 minutos: Bom passe. (Recebe de Moutinho e dá em Liedson, na linha.)

31 minutos: Desarmado. (Janício antecipa-se-lhe e fica com a bola.)

33 minutos: Recepção difícil. (Recebe à queima-roupa, à altura do peito, tentando endereçar a bola de primeira para Purovic.)

34 minutos: Boa opção. (Recebe de Liedson e dá em Polga (aparentemente, Liedson fica a protestar por o sueco ter interrompido o contra-ataque, mas a decisão foi bem tomada, uma vez que Liedson, se fosse servido, estaria encostado à linha, com a equipa toda recuada, e rodeado por três adversários).)

35 minutos: Bom passe. (Joga atrás em Polga.)

36 minutos: Bom passe. (Recebe de Veloso e dá de primeira em Moutinho, que joga de primeira em Veloso (excelente triangulação).)

38 minutos: Mau passe. (Tenta servir Grimi, mas o passe sai comprido.)

38 minutos: Bom passe. (Dá curto para Moutinho.)

39 minutos: Bom passe. (Recebe, dá em Veloso; recebe de novo, dá em Pereirinha, que lhe devolve a bola; de primeira, faz um passe de 40 metros pelo ar para Moutinho, aberto na esquerda.)

39 minutos: Bom passe. (Dá para Polga, que subira pela linha.)

40 minutos: Bom passe. (Dá para Purovic.)

41 minutos: Boa opção. (Alivia à entrada da sua área.)

41 minutos: Falta. (Recebe a bola da cabeça de Grimi, protege-a e sofre falta.)

42 minutos: Bom passe. (Recebe e dá de primeira em Grimi.)

44 minutos: Bom passe. (Recebe a bola no meio, vinda de Veloso, e dá em Liedson, na linha.)

44 minutos: Bola de cabeça. (Tenta ganhar um lance de cabeça, mas chega tarde e perde.)

47 minutos: Drible e passe. (Recebe de Grimi, dribla um adversário e lateraliza.)

50 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga e dá em Grimi.)

51 minutos: Falta não assinalada. (Passe comprido de Grimi que ele consegue captar já em cima da linha; sofre um empurrão de Janício, que não é assinalado.)

52 minutos: Bom passe. (Recebe a bola de um lançamento de Grimi e entrega de primeira.)

52 minutos: Mau passe. (Passe vertical interceptado.)

53 minutos: Bola de cabeça. (Ganha bola de cabeça.)

54 minutos: Bom passe. (Recebe de Pereirinha no meio e faz um passe a rasgar para Grimi, que fica com o flanco esquerdo escancarado.)

55 minutos: Recuperação de bola. (Recupera para Polga.)

55 minutos: Bom cruzamento. (Recebe de Moutinho junto à linha, gira e cruza a meia-altura.)

56 minutos: Boa opção. (Cruzamento largo vindo da direita, recebe, protege e dá atrás em Grimi, que cruza.)

57 minutos: Bom passe. (Recebe de Polga e entrega rápido para Liedson, iniciando um contra-ataque sustentado.)

58 minutos: Boa opção. (Sobra uma bola à entrada da área do Vitória, que dá de primeira em Liedson, que perde.)

59 minutos: Bom passe. (Dá em Veloso, mas este adianta demasiado a bola e perde-a.)

61 minutos: Bom passe. (Recebe e dá rápido para Moutinho, que estica o passe para Tiuí, numa transição rápida.)

62 minutos: Bom passe. (Lança Tiuí, recebe do brasileiro e dá em Grimi, que cruza.)

63 minutos: Bola de cabeça. (Ganha de cabeça para Tiuí.)

63 minutos: Bom passe. (Isola Liedson na linha, que cruza.)

64 minutos: Bom passe. (Dá para Grimi, recebe de novo e dá no meio.)

64 minutos: Bom passe. (Recebe na coxa e joga na frente em Tiuí.)

65 minutos: Corte falhado. (Tenta cortar uma bola, mas Bruno Severino ganha o ressalto.)

69 minutos: Boa opção. (Recebe, progride com a bola e dá em Tiuí, no pé, mas o brasileiro não entende e tenta fugir nas costas da defesa, perdendo-se o lance.)

69 minutos: Má recepção. (Recupera uma bola, mas a recepção da mesma não é a melhor e a bola é novamente recuperada pelo Vitória.)

70 minutos: Boa opção. (Pressiona Auri, obrigando-o a chutar para fora.)


Coloquei em negrito as coisas negativas do jogo de Farnerud. Vamos então aos resultados:

1) 66 acções durante 70 minutos; 58 boas acções; 88% acções positivas.
2) Em 50 lances com a bola nos pés e com condições para fazer algo (exclui-se portanto os lances de bola parada ou as disputas de cabeça, ou os lances em que procura recuperar a bola, ou os lances em que não tem a bola totalmente dominada), teve 46 boas opções contra 4 más opções; 92% de boas opções.
3) Destas 4 más opções resultaram 4 perdas de bola, sendo que só 3 delas ficaram em jogo, saindo a outra do terreno de jogo.
4) Há quem ache que o rapaz não se mexe e que, além de ser mau a nível ofensivo, não ajuda em tarefas defensivas, mas Farnerud fez 6 cortes, recuperou 5 bolas e ganhou 2 bolas de cabeça.
5) Efectuou 42 passes correctos (não são contados aqueles que, por negligência dos colegas, não tiveram consequência) contra 3 passes errados; 93% de passes acertados. Há quem diga que ele só faz passes para o lado e para trás (o que por si só não deixa de ser bom para a equipa reter a posse de bola), mas a verdade é que, destes 42 passes acertados, 11 passes permitiram à equipa uma progressão imediata no terreno (passes verticais, passes de ruptura, tabelas, etc). Além disso, 2 deles foram passes de claro risco, nas costas da defesa. Os três passes falhados foram todos passes do mesmo tipo, ou seja, passes que visavam uma progressão imediata, pelo que dos 45 passes tentados, 14 passes comportavam um risco relativo, o que faz com que 31% dos seus passes sejam passes de progressão imediata. Afinal, parece que não joga só para o lado e não faz só passes de 3 ou 4 metros.
6) Não sendo a sua primeira opção, sempre que precisou de recorrer ao drible, desenvencilhou-se dos oponentes, perfazendo 2 dribles.
7) Não fez nenhuma falta e sofreu 1.
8) Raramente reteve a bola em seu poder demasiado tempo, fazendo fluir o jogo do Sporting numa primeira fase de construção. Foi muito participativo, como demonstra a impressionante média de quase 1 acção por minuto jogado, o que refuta a teoria de que foge da bola e se esconde do jogo. Pediu com frequência a bola e quase todos os ataques do Sporting passaram pelos seus pés.

Notas finais: através do acerto dos seus passes (93%) e da recorrência das boas opções (92%), Farnerud conferiu segurança nas primeiras fases de construção, momentos em que é fortíssimo, como se vê. Assegurando de tal forma o equilíbrio da equipa, libertou outros jogadores para lances de maior exigência criativa, como seja o caso de Moutinho e Pereirinha, mas não deixou de se integrar no ataque, tendo solicitado várias vezes os colegas à linha, em posição privilegiada para cruzarem, e tendo sido, inclusivamente, responsável por alguns passes que desequilibraram o adversário. Depois disto, que outros argumentos terão os que não apreciam as qualidade do sueco?

Outras coisas sobre este jogo:

1) Pereirinha fez um jogo notável, jogando e fazendo jogar. Juntou à já conhecida responsabilidade colectiva pormenores deliciosos e um carácter competitivo cada vez mais condizente com aquilo que sei dele. Já começa a calar muita gente...
2) Moutinho, Farnerud e Grimi também estiveram em bom plano.
3) Veloso esteve profundamente desinspirado e foi com bola, ao contrário do que tem sido hábito, que cometeu mais erros.
4) Liedson fez uma exibição patética. Não sei mesmo se pior que a de Purovic.
5) Dá-me ideia que Tiuí é outro Liedson, mas com menos moral... por enquanto.
6) Polga tem vindo a descer de forma.
7) Pedro Silva esteve muito nervoso.
8) O melhor losango do Sporting, neste momento, é composto por Farnerud, Pereirinha, Moutinho e Romagnoli.
9) O erro fatal de Patrício acabou por condenar a equipa, mas há que continuar a apostar no miúdo e confiar que aprenderá com os erros. E, para os críticos, é apenas o segundo erro dele...
10) O problema do Sporting voltou a ser a sua linha ofensiva. A equipa fez um jogo relativamente bom até ao último terço do terreno, no qual não conseguiu entrar em progressão, muito graças, também, ao excelente bloco baixo do Vitória. Isto resulta, contudo, principalmente da deficiência dos avançados em segurar bolas para a entrada dos médios e dos poucos movimentos laterais dos mesmos e do vértice ofensivo do losango. Sem bola, o sector ofensivo do Sporting tem sido uma nulidade esta época e quase todos os bons resultados da equipa ficaram ligados à ajuda na movimentação sem bola de Romagnoli. Ao contrário de outros momentos da época, o losango jogou curto e funcionou quase na perfeição (excepção para Miguel Veloso); os laterais também fizeram um bom jogo interior e ocuparam espaços ofensivos, essencialmente na segunda parte; pelo que os processos ofensivos não tiveram qualidade unicamente pelo sector ofensivo.
11) Carvalhal é grande...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Estupidificação

No dia em que um dos mais promissores jogadores do Arsenal viu a sua carreira em risco após uma entrada criminosa de um defesa adversário, é tempo de reflectir sobre esse pseudo-desporto que se pratica em terras de Sua Majestade e que os ingleses gostam de pensar que é futebol... Eduardo da Silva falhará, provavelmente, o europeu deste ano e, pelas poucas imagens que passaram, poderá mesmo não voltar a jogar futebol. Tudo por causa de um rinoceronte fugido do jardim zoológico. Logo no início do encontro, o defesa Martin Taylor tem uma entrada absurda. O animal foi, às leis do jogo, devidamente punido, ficando impedido de jogar o resto do encontro. Mas uma entrada destas, do meu ponto de vista, deveria ter punição exemplar. Este jogador deveria estar impedido de jogar, no mínimo, o mesmo tempo que o colega de profissão que aleijou. O que interessa aqui frisar é que o futebol inglês é pródigo neste tipo de lances. Mas, apesar disto, ainda há bestas que têm a desfaçatez de afirmar que o futebol inglês, embora viril, combativo, duro, não é violento nem é inspirado por maldade. Digam isso ao Eduardo da Silva e, se se lembrarem de um atrasado mental chamado Ben Thatcher, também ao Pedro Mendes...

O objectivo deste texto é, porém, outro. Entradas como estas têm tanto de maldade, de selvajaria, de barbaridade, como de estupidez. E é aqui que pretendo chegar: no futebol inglês, abunda a estupidez e a irracionalidade. Nesta mesma tarde, assisti a alguns momentos do Liverpool-Middlesborough e o primeiro golo nasce de um erro infantil de Júlio Arca. Ora, este mesmo jogador caiu nas minhas boas graças há 7 anos, no decorrer do mundial de sub-20. Na altura, Júlio Arca era o defesa-esquerdo da magnífica selecção argentina que venceu o torneio. Nessa equipa, despontavam jogadores talentosos como Javier Saviola (o melhor marcador de sempre de um mundial de sub-20), Andrés D'Alessandro, Leandro Romagnoli, Fabricio Coloccini, Maxi Rodriguez e Mauro Rosales. Houve, no entanto, dois outros jogadores que me agradaram e que não mais tive oportunidade de ver jogar: Nicolás Medina e Júlio Arca. Apesar de saber do seu percurso, desde a final de 2001 que não via jogar Arca. Foi, portanto, com alguma surpresa que o vi actuar no meio-campo e com perplexidade que o vi cometer um erro tão infantil. Em primeiro lugar, é importante tentar perceber a sua posição em campo. Júlio Arca era defesa-esquerdo, tecnicamente evoluído, como qualquer lateral sul-americano, muito inteligente e forte no jogo interior. Em Inglaterra, mais do que noutros países, um jogador que tenha um pouco de habilidade e esteja rotinado a defender é aproveitado para o meio-campo. É o que parece que aconteceu com Júlio Arca. Dotado de técnica e discernimento acima da média, Arca joga no meio-campo (não sei se é costume ou se foi apenas acidental). Isto, na minha opinião, é um erro, até porque creio que o argentino tinha tudo para ser um dos melhores na sua posição de origem.

Esquecendo isto, importa tentar perceber tamanho erro vindo de um jogador tão esclarecido. Do resto dos lances que vi dele, gostei da forma tranquila e racional como os abordava: era dos poucos, juntamente com Rochemback, que procurava jogar curto; saía a jogar sempre que podia, esforçando-se, mesmo dentro da sua grande área, por não desperdiçar a posse de bola à toa; procurava passes verticais, normalmente para Tuncay. Por tudo isto, aquele lance só pode ser visto como uma aberração. O que é verdade é que o futebol inglês é propício a este tipo de lances. A obrigação de jogar rápido, o hábito de executar primeiro e pensar depois está tão arreigado na mentalidade britânica que as equipas jogam pressionadas por isso. Júlio Arca, noutro campeonato, com outra cultura, ter-se-ia apercebido que estava sozinho, teria parado a bola, colocado a mesma junto à relva, levantado a cabeça e jogado calmamente. Como estava no campeonato inglês, no qual um simples pontapé sem nexo provoca acelerados batimentos cardíacos nos adeptos, Arca estava pressionado pela obrigação de fazer tudo em velocidade. Muitas vezes, em muitas ocasiões, o melhor é pausar o ritmo de jogo, jogar devagar, fazer as coisas lentamente, mas bem. Muitos dos erros que se vêem no campeonato inglês devem-se à velocidade estonteante e irracional a que se joga. Foi o caso deste falhanço. Não parando para pensar, querendo executar demasiado rápido, Arca isolou Fernando Torres, que fez o golo. Porque se sentiu na obrigação de não perder tempo a pensar, o argentino cometeu um erro grave, que não tem desculpa, é certo, mas que tende a acontecer em Inglaterra com mais frequência do que noutros sítios. Muitas vezes, sobretudo na zona de meio-campo, os jogadores devem preferir a segurança, a exactidão do passe, a posse de bola, ainda que inconsequente, à velocidade. No meio-campo, as transições devem ser, por isso, curtas, acauteladas e, se bem que um jogador não deve, por princípio, ficar na posse de bola demasiado tempo, tem de lhe ser incutida a necessidade de não executar excessivamente rápido e de, caso seja necessário, tentar reter a bola em seu poder até ter condições ideais de endereçá-la a um colega. É por isso que a qualidade técnica e a inteligência são importantes em qualquer jogador, mas ainda mais nos jogadores de meio-campo, incluindo médios-defensivos. Um jogador que privilegie a segurança à velocidade, a posse de bola à intensidade de jogo, dificilmente cometerá erros destes. Há um sueco em Portugal de quem ninguém gosta que é o exemplo paradigmático disto.

Resumindo, erros como o de Júlio Arca esta tarde, ou entradas violentas como a de Martin Taylor, ainda que não possam ser desculpados, são, em grande parte, explicados pela irracionalidade do futebol britânico. Vítimas da mentalidade de guerrilha do futebol britânico, os jogadores que actuam nestes campeonatos tendem a esquecer-se do intelecto em casa e a jogar emocionalmente, como se o caminho para o triunfo num jogo de futebol fosse o mesmo que para uma batalha. Ora, isto tanto pode dar para fazerem coisas sem nexo, como pode dar para disputarem bolas como se estivessem a lutar com javalis. O futebol inglês, em muitos casos, é assim um poço de estupidificação. Jogadores como Júlio Arca, que têm qualidades intelectuais acima da média, acabam por cometer erros incríveis exactamente por serem obrigados a ignorar a importância do intelecto no futebol. Assim de repente, lembro-me, não há muito tempo, de um dos melhores jogadores da liga inglesa, Steven Gerrard, cometer um erro semelhante, pelas mesmas razões. Recordo-me ainda de achar que Manuel Fernandes, ao voltar ao Benfica no início desta época, depois da experiência no Everton, estava pior jogador do que antes. A opinião pública era diferente: Manuel Fernandes voltava mais jogador, tinha mais garra, vinha mais forte, com uma mentalidade mais competitiva, etc. Isto tudo era verdade, mas naquilo que importava, no plano das decisões, Manuel Fernandes não tinha evoluído rigorosamente nada. Estava até, do meu ponto de vista, mais fraco, pois vinha com os vícios do campeonato inglês. Ao contrário do que se dizia, Manuel Fernandes não evoluíra; estava o mesmo, com mais alguns argumentos a nível físico, mas definitivamente pior em termos intelectuais. Lembro-me de discutir com muita gente sobre a forma como o futebol inglês o estupidificou. Não tenho dúvidas nenhumas que assim foi e que muitos jogadores não evoluem porque são vítimas dessa estupidificação. Este erro de Arca é mais um exemplo disso mesmo. O futebol inglês, apesar de todo o brilho que ostenta, de todo o "glamour" hollywoodesco, de todo o dinheiro que o envolve, não passa de uma luta de galos na qual se pede que os jogadores invistam uns contra os outros com toda a força que tiverem, sem estratégias e sem ideias...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sondagem (4)

A pergunta "Qual o jogador mais sobrevalorizado do futebol do português" obteve 29 votos. Os votantes dividiram-se e o primeiro e o terceiro lugar foram muito disputados. Bruno Alves foi o mais votado, com 9 votos, seguido de Luisão, com 8. Significa isto que os dois defesas reúnem o maior número de queixas e que o seu valor está, para muita gente, muito acima do merecido. Em terceiro lugar, para grande surpresa minha, posicionou-se Liedson, com 5 votos, logo à frente de Jorge Ribeiro, com 4. Não contava que o "Levezinho" fosse capaz de arrecadar tantos votos e julgava mesmo que o seu valor era, para a opinião geral, incontestável. Afinal, a lucidez não está apenas confinada aos autores deste espaço e Liedson não é o objecto sagrado que ninguém pode, dizendo mal, profanar. Quanto a Jorge Ribeiro, pouco há a dizer: é um jogador banal, que ganha óbvio destaque em equipas ainda mais banais. De salientar ainda que Petit não obteve qualquer voto, o que não deixa de ser significativo, e que três dos votantes acham que o jogador mais sobrevalorizado do campeonato é outro que não estes cinco. Por acaso, fiquei curioso. Não estou a ver que outros jogadores tão bem cotados na opinião pública possam ser, mas também não me apetece adivinhar...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Curtas mesmo mesmo curtas

1. Notável golo de Moutinho.

2. Liedson não marca golos normais? Além disso, já alguém contava quantos golos de baliza aberta ele falha por jogo.

3. O Braga já é nono... Alguém rogou uma praga ao Manuel Machado?

4. Linz já leva 10 golos. Com a inteligência dos dirigentes portugueses, para o ano está na liga cipriota...

5. Camacho é uma anedota... Bynia é uma anedota... Luís Filipe é uma anedota... Makukula é uma anedota... Adu é uma anedota... O futebol do Benfica é uma anedota...

6. O melhor médio-defensivo do plantel do Benfica joga a central.

7. O melhor defesa central do plantel do Benfica fica no banco... mas pode entrar para médio-defensivo...

8. Segundo se disse, no lance do segundo golo do Benfica, antes de cruzar para Nuno Assis, Sepsi passou por 2 adversários... Eu tenho quase a certeza que ele passou, isso sim, por 23...

9. João Ribeiro já merecia outros emblemas...

10. Depois de vencer o Guimarães, Jokanovic quis bater em Cajuda. Há pessoas que têm um mau-ganhar insuportável...

11. Segundo o presidente do Guimarães, Jokanovic deveria ser "radiado" do futebol. Discordo, pois acho mal "astigar" assim as pessoas por "udo" e por "ada".

12. Nani deu cabo do Arsenal...

13. Ao contrário do que se passa em Portugal, em Espanha o campeonato volta a ter interesse...

14. Para 15 equipas em Portugal, os árbitros têm dois cartões ao seu dispor: o amarelo e o vermelho. É por ser líder que o Porto goza de um estatuto diferente e as coisas já não são assim, ou é por gozar de tal estatuto que é líder?

15. São cenas daquelas que demonstram que Pedro Henriques não tem um método de arbitragem aceitável, além de só ser autoritário quando lhe convém...

16. Ao contrário do colega que apitou o Marítimo-Porto, Rui Costa, árbitro do Naval-Benfica, foi criticado por marcar todas as faltinhas. Ia jurar que um árbitro tem a função de apitar quando é falta e de deixar jogar quando não é, mas parece que afinal também é função dele seleccionar quais as faltas que devem ser apitadas e quais as que não devem, para que o jogo não esteja sempre parado. Além de juiz, um árbitro deve igualmente optimizar a qualidade dos jogos. Está certo...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sofismas à parte...

Quando hoje vejo as constelações de estrelas que se agrupam no céu da Premiership, é-me impossível não comparar a actualidade deste campeonato com o da Liga Italiana, há mais de uma década. Nessa altura, não hesitaria em eleger o futebol italiano como o meu predilecto. Era deste campeonato que emergiam as figuras que invadiam a minha imaginação, ou inspiração, quando dava os meus pontapés na bola. Mais do que no futebol português, era no futebol italiano que eu descobria as minhas referências: Del Piero, Baggio, Van Basten, Rijkaard, Gullit, Maldini, Savicevic, Sousa, Baresi, Brolin, entre outros.

Nos torneios internacionais, na ausência da nossa selecção, “sofria” sempre pela turma transalpina. Mesmo que aquela equipa recheada de talentos não jogasse a ponta de um corno, era sempre por eles que eu torcia. Sabe Deus o quanto eu amaldiçoei a selecção brasileira, depois do “fatídico” penalty de Baggio.

Entretanto, fui desenvolvendo um maior interesse pelo futebol e, assim que ia trilhando a minha formação, enquanto praticante deste desporto, fui perdendo encanto por aquele futebol que, outrora, me entusiasmara mais até do que os "raides" de Figo, as simulações de Balakov e Costa, a classe de Xavier e Valdo, a elegância desse “desprezado” do futebol nacional, Fernando Nelson, não esquecendo Barbosa, esse louco. Aborrecia-me tanta monotonia, tanta tristeza.

À medida que os desaires da Squadra Azurra se acumulavam, a assimetria de êxitos alcançados pelos clubes italianos e a selecção Italiana intrigava-me. Talento e espírito competitivo eram coisas que não faltavam, assim como a ideia de uma demarcada superioridade táctica. Olhando para trás, é fácil explicar este fenómeno. As equipas italianas tinham os melhores jogadores; qualquer jogador que desse dois pontapés na bola, desejava o Calcio, nada menos. A nível interno, a competitividade era ditada pelo poderio económico dos clubes: o que tivesse o maior número de bons jogadores e os mais adaptados, vencia.

O futebol inglês passa pela mesma fase. A diferença é que não é tão organizado, embora, por outro lado, os jogadores desfrutem de uma maior “alegria”, que lhes permite uma maior performance individual. Para além de ser, enquanto espectáculo, muito mais apelativo. Não será o futebol italiano muito mais rico, do ponto de vista técnico-táctico, e, por isso mesmo, mais interessante, para quem gosta de compreender os modelos e sistemas de cada equipa? A meu ver, a diferença entre as duas realidades, é exígua. Estará mais relacionada com questões culturais, do que com questões tácticas. O futebol italiano, baseado, acima de tudo, numa cultura de medo (até por questões sociais), procura o êxito através do menor risco possível, da forma mais pobre. Paulo Sousa alerta, no prefácio do livro de Luís Freitas Lobo, O Planeta do Futebol, para os efeitos nefastos de tal mentalidade. A obsessão em atingir resultados positivos a qualquer custo tornou-se um obstáculo demasiado elevado para a evolução do seu futebol.

Sousa fala da “ cultura do resultado” que se instalou, o que levanta a seguinte questão: se o resultado é o mais importante e se é em busca de resultados que todas as equipas definem as suas estratégias, e se durante um largo período o domínio italiano foi uma realidade, que falhou então? Como se poderá falar do futebol italiano como algo tão obsoleto, se enquadrarmos nesse futebol treinadores como Trapattoni, Capello, Lippi, etc? A resposta encontra-se na “mescla” entre os grandes talentos mundiais que durante muitos anos tinham como destino, na maioria das vezes, Itália, e uma mentalidade calculista e extremamente defensiva, que resultou numa excelente organização defensiva, deixando, todavia, os processos ofensivos numa posição muito menos cuidada, quase rudimentar. O facto de terem grandes talentos tapou, durante muitos anos, esta lacuna.

Das equipas italianas diz-se que são muito tácticas, o que eu discordo. São muito defensivas? Sim! Desequilibradas? Sim! Extremamente profissionais e minuciosos, na maneira como abordam o jogo? Sem dúvida! Não nego que, num passado, que já não é assim tão recente, se pudesse falar nalguma superioridade táctica, por parte do futebol italiano, mas na maneira como concebo o futebol, a maneira como se defende é tão importante como se ataca; mais, acredito que a forma mais evoluída de explorar tacticamente o potencial de uma equipa passa, inquestionavelmente, por não separar os vários momentos da equipa, sejam eles, especulativos, ofensivos, ou defensivos.

A evolução humana explica-se, substancialmente, pela necessidade. O futebol não é diferente. Os objectivos que se esgotam numa coisa tão fortuita como uma bola na trave, uma tarde desinspirada, arriscam-se a colocar em causa, e de forma rápida, toda uma época de trabalho, pois, retirando-se os resultados, estas equipas ficam sem nada. Por isso, defendo que a principal preocupação das equipas será sempre jogar bem, porque jogar bem (o meu jogar bem) implica que uma equipa seja equilibrada, que tenha uma atitude positiva de jogo, que não se alheie dos seus objectivos delineados, que queira progressivamente, jogo após jogo, ser mais “ dona” dos seus jogos. Só assim uma bola na trave não vai colocar uma semana, ou mês, ou época em causa, se eu souber que no fim, mesmo perdendo o jogo, estou mais perto dos objectivos da equipa, por mais utópicos que sejam.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Curtas da Jornada 18

1. Liedson afirmou, depois da derrota com o Belenenses, que faltou garra e vontade de ganhar aos jogadores do Sporting. Admitindo que não falava contra si, até porque essas são as poucas virtudes que se lhe conhecem, Liedson acha, por outras palavras, que a todos os companheiros falta serem como ele. Gosto tanto de pessoas humildes...

2. Veloso anda a dormir em campo. A sonolência deve ser contagiosa, pois Paulo Bento ainda não percebeu.

3. Mais dois extraordinários golos de Liedson. Ou terão sido falhanços?

4. Grande golo de Zé Pedro e grande fezada de Jesus no 352.

5. O Braga continua imparável no oitavo lugar.

6. Manuel Machado - segundo soube - ficou irritado com o empate frente ao Estrela da Amadora e fez questão de atribuir a culpa do resultado à atitude ingénua de César Peixoto, que lhe valeu a expulsão numa altura em que o Braga ganhava por 1-0. Independentemente do erro de Peixoto, acho fabuloso responsabilizar um jogador por um mau resultado quando a burrice directamente ligada ao golo do empate é da responsabilidade de outro jogador e o facto de esse jogador estar em campo ser responsabilidade de quem o lá colocou.

7. Farias começa a mostrar serviço.

8. Os jogadores do Leiria vão aos treinos? Ou gostam de cestinhos de fruta?

9. O Guimarães, à campeão, virou o jogo frente ao Leixões, mas aquele segundo golo é das coisas mais toscas que vi nos últimos tempos...

10. O melhor guarda-redes do campeonato foi-se embora, mas nem assim o Benfica marcou golos ao Nacional.

11. Camacho voltou a ser ambicioso: sem Rui Costa, não apostou em Nuno Assis. Além disso, fiquei a saber que quem quer ganhar tira um lateral e mete outro.

12. Pacheco e Mota degladiaram-se e propiciaram um espectáculo digno das distritais. Como houve sete golos, as apreciações ao que se passou no terreno foram positivas. Quanto a mim, vi apenas um campo empapado e ridículo, duas equipas ridículas, 5 golos ridículos e uma expulsão de Pacheco ridícula. Salvaram-se dois grandes golos de Laionel, mas o jogo não deixou de ser ridículo.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

2 Perguntas a um Corrupto

Pergunta: Sendo que, hoje em dia, a arbitragem é o alvo privilegiado da maior parte das suspeitas de corrupção no futebol, de que outra maneira é possível continuar a corromper e a viciar os jogos evitando a suspeição?

Resposta: Comprando a incompetência dos jogadores adversários da equipa contra a qual a equipa a beneficiar vai jogar.

Perguntas: E sempre? Ou em alturas específicas?

Resposta: Sobretudo em jogos a seguir a jornadas em que os resultados não foram os desejados e os adversários directos recuperaram terreno na tabela classificativa, de modo a manter uma distância segura, esperando por um deslize dos adversários, e de modo a recuperar a confiança e a moral afectadas por resultados anteriores menos positivos...