sábado, 21 de novembro de 2009

Milevsky

É certo que o devido destaque ao extraordinário avançado do Dinamo de Kiev teima em em ser adiado e o jogador permanece longe dos principais palcos do futebol mundial. Aliás, com a exclusão da Ucrânia do próximo mundial, será, a par de Ibrahimovic, Berbatov, Modric, Rosicky e Arshavin, uma das principais ausências do certame a realizar na África do Sul. Artem Milevsky não é um avançado típico de área, com inclinação apenas para a finalização. Daí o destaque feito neste espaço. Há muito que lhe sigo as pisadas e que me regozijo com o seu futebol. Chegou a ser falado para o Sporting, mas o avultado preço do seu passe inviabilizou a contratação. Na altura, pareceu-me que seria um investimento grande, mas pouco arriscado, dado o potencial que já lhe reconhecia. Nos últimos dois anos, confirmou tudo o que esperava dele. A classe e a inteligência são as suas principais características. A jogar de costas para a baliza, é dos melhores do mundo e faz lembrar, em larga medida, Dimitar Berbatov. A capacidade de perceber o jogo e de se relacionar com os colegas é altamente invulgar. A calma e a competência técnica fazem o resto. É daqueles jogadores em quem os médios sabem que podem confiar, colocando-lhe a bola nos pés; daqueles de quem se espera, mesmo que rodeado de adversários, que resolva sempre bem, encontrando a melhor solução para dar continuidade a uma jogada de ataque. Milevsky é o típico avançado que o Entredez aprecia, um avançado que se faz valer pela forma como contribui para todo o processo ofensivo e não apenas para a finalização do mesmo, um avançado que permite à equipa uma maior variedade de soluções e uma capacidade natural para progredir através de passes verticais rasteiros, funcionando como âncora ofensiva. A forma como serve de referência, parecendo procurar sempre linhas de passe e sabendo sempre encontrar a melhor solução depois de receber a bola, fazem dele um ponto de apoio óbvio para a equipa onde jogue e uma solução regular, quer em transição, quer em ataque organizado. Com estas características, há poucos avançados da sua qualidade. É por isso que me faz alguma confusão que ainda não tenha despertado a cobiça de emblemas mais conceituados. Numa altura em que o Arsenal parece carenciado de avançados de um certo tipo, nomeadamente avançados mais estáticos e capazes de segurar a bola de costas para a baliza, como tão bem o fazia Adebayor, estando essencialmente servido por avançados mais velozes e móveis como Eduardo da Silva, Carlos Vela, Arshavin, Walcott e Van Persie, e numa altura em que o holandês, a principal referência do ataque neste início de temporada, está lesionado, acredito que Milevsky assentaria perfeitamente no modelo dos londrinos e traria à equipa comandada por Arséne Wenger um acréscimo de qualidade assaz relevante. A mim, para quem o futuro de Milevsky sempre pareceu risonho, uma transferência desse tipo traria enorme satisfação: seria a oportunidade de ver com mais regularidade um avançado de grande qualidade e seria o reforço ideal para uma equipa à qual me parece que só falta mesmo um jogador destas características para poder surpreender tudo e todos esta temporada.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Evolução a frio...

Na anterior ronda da Champions, vimos o conjunto de Guardiola realizar uma exibição que apelou a um grande esforço dos catalães. E este esforço tem uma relação exígua com factores externos à equipa do Barcelona.

Perante um adversário que procurou acima de tudo tapar os caminhos da sua baliza, os campeões europeus fizeram uma primeira parte de uma qualidade e concentração irrepreensíveis. O jogo posicional da equipa espanhola, com os sectores sempre juntos, e um notável critério no passe permitiu-lhes jogar os primeiros 45 minutos em cima do adversário sem, no entanto, se exporem a qualquer situação de perigo por parte da equipa russa. E foi neste último aspecto que encontrei motivos para dissertar sobre o dito encontro.

Se, por um lado, o jogo posicional e a excelente qualidade da posse e circulação de bola já não espanta ninguém, a maneira como o conjunto catalão conseguiu impor o seu estilo a um conjunto que "defende" uma cultura tão antagónica à sua foi um sinal inequívoco de uma equipa sem limites no que toca à evolução do seu modelo de jogo. É verdade que os altos níveis de concentração apenas duraram 45 minutos, mas, deste jogo, o Barcelona, mais do que perder dois pontos, evoluiu. Evoluiu com a experiência que lhe foi proporcionada durante a partida. Por mais que se treine, por mais que se incuta nos jogadores as dinâmicas que são pretendidas, só mesmo perante grandes adversidades eles podem evoluir e melhorar os seus conceitos de jogo.

A maneira como o Barcelona desmontava o "ferrolho" adversário (que começava com os seus dois avançados na linha de meio-campo, oscilando em função da bola, tentado cortar as linhas de passe para os médios no corredor central, ou criando superioridade nas linhas, para, desta forma, impedir a progressão compacta que caracteriza os catalães) foi perfeita. Sem precipitações, ou ansiedade, rodavam o esférico até conseguirem a linha de passe mais "sólida", não caindo na tentação de procurar em demasia, através do jogo directo, Ibrahimovic.

Seriam certamente poucas as equipas a conseguir, durante todo o jogo, o mesmo número de ocasiões que o Barcelona, perante um conjunto que simplesmente se dedicou a um único momento de jogo, alcançou. E isto sem se desequilibrar (a única vez que o conjunto russo logrou visar a baliza catalã com algum perigo foi no seguimento de um pontapé de canto... do Barcelona). Mais do que uma equipa de futebol ofensivo, o Barcelona é, cada vez mais, uma equipa "brutal" em todos os seus momentos.

Se há algo de importante a retirar deste jogo, não é o resultado, mas sim a capacidade do Barcelona em evoluir a cada adversidade com que se depara. E isto só é possivel porque a equipa respeita a sua identidade, o seu modelo. É desta "massa" que se fazem grandes equipas, grandeza essa que encontra fundamento na capacidade que têm para evoluir a cada jogo.

Ponto de viragem?

O Sporting vive, neste momento, uma fase extremamente importante. Mais do que tentar salvar a época, é imperativo que a equipa leonina encontre um treinador que a possa colocar no rumo certo. Não será fácil, mas acredito que existem soluções que podem catapultar o clube de Alvalade para um patamar superior.

Não acredito que os treinadores devam procurar o melhor modelo para os seus jogadores; antes devem procurar o modelo que serve melhor a concepção que detêm sobre o jogo. Posto isto, o que os dirigentes leoninos devem ter em consideração é a filosofia do treinador que vão escolher. Devem procurar alguém com um modelo que permita ao clube leonino voltar ao trilho do sucesso, cujo estilo, por defeito, valorize os activos do Sporting. E isto não pode ser feito senão através de um estilo que valorize a inteligência dos seus jogadores.

Vendo as soluções ventiladas para suceder a Bento, a melhor solução, no meu entender, surge através de Villas Boas. Só porque o seu nome está associado a tudo o que representa Mourinho? Não. Porque Vítor Pontes também tem uma forte ligação com o "Special One" e dificilmente o veria como uma solução que pudesse servir da melhor forma o clube leonino.

Baseio-me nos jogos que tive a oportunidade de ver da Briosa. É cedo? É. No entanto, os princípios que têm servido de base às exibições da Académica são os melhores. A Académica é uma equipa que revela organização em todos os momentos do jogo, privilegiando a posse do esférico, procurando sair sempre de forma apoiada, obrigando os extremos a jogar mais por dentro. Enfim, procura-se que todas as acções sejam verdadeiramente colectivas. Este factor retira alguma "objectividade" à equipa, impedindo que seja mais rápida nas situações de contra-ataque. No entanto, torna a equipa mais forte no momento ofensivo, assim como retira vulnerabilidade às transições ataque-defesa da sua equipa. Outra coisa que me impressiona é a constante criação de apoios efectuada por toda a equipa. Não é responsabilidade de um ou dois jogadores, mas sim de toda a equipa. Resumindo, é um modelo que não relega para segundo plano a capacidade dos seus elementos em relacionar-se entre si, sempre em função das linhas gerais que guiam a consciência colectiva da equipa. E que melhor modelo, que não este, para fazer crescer jogadores como Pereirinha, Adrien, Carriço, Rosado, André Martins, Rui Fonte, Diogo Amado, Pedro Mendes, ou até, porque não, João Moutinho, Veloso, etc.?

sábado, 7 de novembro de 2009

Napoleão joga em Alvalade?

Há fármacos - disseram-me há tempos - que atenuam certas doenças mentais. Dedicar-se, por isso, à droga, era capaz de ser uma boa ideia para muito bom jornalista. É o caso de Nuno Madureira, autor deste brilhante artigo de opinião, no MaisFutebol. O jornal já nos habituou à demência dos seus opinadores, mas nunca é demais referir certos casos. Este vale francamente a pena, até porque assenta numa opinião amplamente difundida por mais de metade dos malucos que têm opiniões sobre futebol.

O que Nuno Madureira tenta fazer é explicar de forma simples o problema que se abateu sobre o Sporting. Acontece que só procura explicar coisas complexas de forma simples quem não tem muito juízo. Assim, a manifestação das perturbações mentais de Nuno Madureira começa logo com a sua primeira frase:

"Há muitas maneiras de enumerar os problemas do Sporting. Uma das mais básicas e directas resume-se a uma frase: afinal, Liedson é humano."

A falta de siso começa logo com um problema no discurso. Nuno Madureira diz que há várias formas de enumerar problemas e propõe-se a enumerá-los numa frase, mas depois não enumera nada e resume uma enumeração de várias coisas a apenas uma coisa. O resto deve ter-se, certamente, perdido pelo caminho. Mas antes de ler o resto do artigo, adivinhamos logo que o problema mental do senhor tem por origem uma desilusão relacionada com a natureza de Liedson. Ao que parece, a precipitação do estado de demência ter-se-á ficado a dever à descoberta de que o enormíssimo jogador brasileiro era, afinal, apenas um humano. Convém dizer que nem toda a gente está mentalmente preparada para descobertas deste tipo. Mas eis que prossegue a demonstração de loucura:

"Quantas vezes, nas últimas épocas, a uma exibição mediana - ou medíocre, ou mesmo má - do Sporting, se seguiu a entrada em cena do 31, aparecendo do nada, para resolver o jogo e atenuar as diferenças para a concorrência?"

Posso estar enganado, mas não me lembro de uma única ocasião em que Liedson tenha aparecido "do nada", a fintar os onze adversários e a fazer golos. Mas como não tinha por hábito assistir aos treinos dos leões, posso estar a fazer juízos precipitados. Continuemos:

"De tanto habituar os seus adeptos - e os dos adversários - a um rendimento superlativo, semana após semana, o «levezinho» construiu nos últimos anos, por mérito próprio, uma imagem de super-herói."

Superlativa é a pancada deste senhor; super-heróis foram os pais dele, que tiveram que lhe aturar a estupidez. Adiante:

"Agora, que a sua inacreditável regularidade conhece uma quebra consistente e prolongada - dois golos em nove jornadas, o último há mais de mês e meio - tudo o que andava disfarçado, ou atenuado, parece mais evidente."

Agora?? Mas é a primeira vez que o rapaz fica muito tempo sem marcar?? E quantos jogos resolveu o Sporting nesse mês e meio, sem Liedson? Comecemos pelo fim: foi Saleiro quem marcou frente ao Venstpils, dando o empate; foi Matías Fernandez quem marcou frente ao Guimarães e frente ao Marítimo, o que valeu, das duas vezes, um empate; foram João Moutinho e Miguel Veloso quem marcaram na vitória ante o Ventspils; foram João Moutinho, Daniel Carriço e Vukcevic quem marcaram na vitória frente ao Olhanense; foi Adrien Silva quem marcou na vitória ante o Hertha de Berlim. O problema é mental, mas também é de memória. E de matemática, já agora. O que "andava disfarçado, ou atenuado" e que agora é evidente é que doentes mentais não têm competência para serem jornalistas. Continua Nuno Madureira, dizendo:

"A equipa tem poucas soluções tácticas alternativas? Sim, como sempre teve."

O senhor Nuno Madureira tem poucas ideias que não sejam idiotas? Sim, como sempre teve.

"Falta qualidade individual em quase todos os sectores? Sim, de há muito tempo para cá."

Falta qualidade individual a cada uma das sinapses deste senhor? Sim, é provável que falte.

"Paulo Bento repete receitas e discursos, sem um rasgo de novidade? Sim, como o fez também nos anos em que, sucessivamente, superou as expectativas."

Nuno Madureira repete sentenças populares e discursos de massas idiotas, sem um rasgo de novidade? Sim, como o fez nos anos em que, sucessivamente, superou as expectativas e conseguiu completar um curso superior. Mas eis o que diz no último parágrafo:

"A maior diferença - não a única, claro - é que noutras épocas o Sporting tinha um fenómeno a ponta-de-lança."

Um fenómeno? Mas um fenómeno natural? Era o El Niño? Ia jurar que esse jogava no Liverpool. E será permitido por lei fazer alinhar, no onze inicial, furacões, anti-ciclones, tsunamis e fenómenos dessa natureza?

"Nesta altura, tem apenas um excelente avançado, a lutar para recuperar os superpoderes."

Agora sim, percebo o que o senhor quer dizer. Na cabeça de Nuno Madureira, Liedson é o Super-Homem e o problema do Sporting é que ninguém consegue descobrir onde é que o Lex Luthor pôs a Kriptonyte. Será isso? E Nuno Madureira conclui a sua análise ao problema do Sporting do seguinte modo:

"Afinal, Liedson é humano. E o Sporting não estava preparado para lidar com isso."

Como se depreende, para Nuno Madureira, a humanidade de Liedson estragou os planos ao Sporting. A equipa estava preparada para jogar com dez seres humanos e uma entidade divina, mas a partir de agora vai ter de passar a jogar só com onze seres humanos. E isso, de facto, é um problema, visto que mais nenhuma equipa no campeonato português joga só com onze seres humanos. Aliás, vai ser muito difícil ao Sporting continuar a ser competitivo num desporto como o futebol, em que poucas são as equipas que não têm três ou quatro alienígenas, dois ou três veículos de guerra e um alguidar.

Resumindo, todo o maluco que se preze pensa que é Napoleão. Nuno Madureira é um maluco mais sofisticado. Está convencido de que Liedson é Napoleão. Isto se não estiver convencido de que é Napoleão quem é Liedson. Repito as primeiras palavras do texto: "há fármacos que atenuam certas doenças mentais." É capaz de ser altura, até porque vem aí o Natal, de oferecer ao senhor Nuno Madureira um colete de forças e umas férias pagas no Miguel Bombarda. Ou isso ou autógrafo de Deus... perdão, de Liedson.

P.S. Um bom fármaco contra este tipo de maluquice em particular e que ajuda a compreender os verdadeiros problemas do Sporting é o texto que escrevi a 31 de Julho de 2009 e que pode ser encontrado aqui. Aconselha-se a sua ingestão, duas vezes ao dia, durante três meses e vinte e sete dias...