Tem sido dito, e é quase unânime, entre as vozes da opinião pública, que o melhor campeonato do mundo é o inglês. Devo dizer que discordo inteiramente e passo a explicar por que razões.
Em primeiro lugar, há que definir o que deve ter um campeonato para ser considerado o melhor ou, por outras palavras, é fulcral perceber o que significa "melhor". Melhor é aquele em que há mais competitividade? Não creio. Ou, pelo menos, isso não é suficiente. A competitividade tanto pode significar muitas equipas a jogar bem como muitas equipas a jogar mal. O futebol africano é competitivo, mas nem por isso é bom. O futebol italiano é competitivo, mas apenas porque a cultura táctica em terras transalpinas assim o obriga. O futebol italiano é competitivo porque as equipas defendem todas como se não houvesse amanhã. Num futebol no qual a palavra de ordem é defender, não admira que não haja resultados dilatados. Mas isso não significa que as equipas estejam a um mesmo nível. A competitividade em Itália é, digamos, apenas aparente. E o futebol inglês, não é competitivo? Sim, mas por questões semelhantes. A competitividade em Inglaterra resulta essencialmente dos princípios de jogo que se aplicam no país de Sua Majestade. Está enraízado no futebol inglês um estilo directo, de entrega a cem por cento, um futebol rápido, que não se dá ao luxo de perder tempo a pensar. O futebol em Inglaterra é "sempre para a frente". Perante este hábito, todas as equipas encaram o jogo para o ganhar e jogam essencialmente ao ataque. Resulta daqui um futebol emocionante, com muitas oportunidades de golo, que provoca todo o tipo de sensações. É competitivo porque nunca se vira a cara à luta; é competitivo porque os mais pequenos encaram o jogo da mesma forma que os grandes. Mas isso não significa que não seja uma atitude ingénua. E ainda significa menos que seja um futebol bem jogado. Ora, se a competitividade não pode ser o critério usado para descobrir qual o melhor campeonato, que critério será esse? Melhor é aquele em que o futebol é mais agradável? Se sim, é preciso definir o que significa "agradável". Acredito que haja quem se delicie com o futebol brasileiro, no qual quase todos os jogadores têm uma finta personalizada e no qual as acções individuais constituem grande parte dos motivos de interesse. Mas isso não significa que o jogo seja bem jogado. Por agradável entendo bem jogado. Assim, o campeonato melhor deve ser aquele em que o futebol é mais bem jogado. E o que significa ser bem jogado?
O futebol é um jogo colectivo. Durante muito tempo, esta noção viciou as ideias de treinadores, jogadores, comentadores, críticos, etc. Que o futebol é um jogo colectivo, já todos sabemos. O que muito pouca gente sabe é em que medida o futebol é um jogo colectivo. Por colectivo entendeu-se sempre que cada jogador deveria ajudar o conjunto de acordo com as suas características específicas. Por outras palavras, o conjunto deveria ter os altos e fortes na defesa, para cortar os lances adversários, os aguerridos no meio-campo defensivo, para recuperar bolas, os cerebrais no meio-campo ofensivo, para distribuir jogo, os tecnicistas nas alas, para desequilibrarem individualmente, etc. Nada mais errado. Isto não é colectivo. Isto são onze individualidades com a missão de ajudarem uma coisa abstracta chamada "colectivo". Só é possível jogar verdadeiramente em colectivo quando não se achar que os passes decisivos devem estar a cargo dos médios-ofensivos, ou quando não se achar que as idas à linha devem acontecer após o ala se desembaraçar individualmente do seu opositor. Jogar colectivamente implica predispor os jogadores para terem todas as funções que os outros têm. Ou seja, só há colectivo quando a incumbência de marcar golos é tanto do central como do avançado; só há colectivo quando a incumbência de distribuir jogo é tanto do médio-defensivo como do médio-ofensivo. As características dos jogadores não devem servir para que este desempenhe um papel individual dentro de um colectivo; as características de um jogador devem servir para que ele desempenhe um papel colectivo. Por jogar bem entendo jogar colectivamente, neste sentido específico. Como tal, o melhor campeonato será aquele em que isto aconteça com mais frequência. E que campeonato é esse então?
Acredito que seja unânime a opinião de que os três melhores campeonatos do mundo são o italiano, o espanhol e o inglês. Isto porque os melhores atletas se encontram distribuídos por estes campeonatos. Como é óbvio, o melhor campeonato do mundo terá de ser sempre um destes três. Em qual destes três, então, se joga melhor futebol, no sentido em que referi? Ou seja, qual é, destes, o campeonato em que se joga mais em colectivo? A resposta é simples: no espanhol. Em Inglaterra, pelo estilo do futebol, o jogo assenta essencialmente numa base individual. O futebol é de pontapé para a frente e aqueles que tiverem melhores intérpretes na frente são os que ganham mais bolas, os que conservam melhor a posse de bola, os que concretizam mais. Em Inglaterra, o futebol pode ser mais emocionante e mais competitivo que noutro lado qualquer, mas não é mais colectivo. E, como não é mais colectivo, é mais ingénuo, está mais sujeito à acção da sorte e à inspiração das individualidades. Embora o mais competitivo, não é o mais bem jogado. Em Itália, passa-se algo idêntico. As equipas privilegiam uma defesa sólida e um estilo directo. Assim, confiam a sorte à organização defensiva, que tanto pode ser conseguida através da presença das melhores unidades para essas posições como pode ser fruto de uma arrumação colectiva, e à inspiração dos avançados, que devem aproveitar o melhor possível as bolas que lhes chegam. Em Itália, joga-se em dois blocos, o defensivo e o ofensivo. Uns têm missão de defender, outros de atacar. Isto não é jogar colectivamente. Se é verdade que as equipas defendem muito, não é menos verdade que não o fazem em colectivo. São recrutados alguns jogadores para essas funções e esses jogadores, nunca os onze, devem defender para que os restantes possam atacar. Esta é a filosofia de jogo italiana: uma equipa partida em duas. Ora bem, resta a Espanha. Sem a pressão da tradição, como acontece em Inglaterra ou em Itália, o futebol espanhol é mais livre. Não está preso a um estilo obsoleto de futebol rápido, impensado, que assenta na força e na vontade de ganhar, como em Inglaterra. Também não está preso à obsessão italiana de defender para depois poder atacar. O futebol espanhol, de uma maneira geral, é hoje em dia o mais moderno. E, como tal, é aquele em que se joga mais em colectivo, no sentido que defini. Não é preciso, sequer, recorrer ao Ranking da UEFA para atestar esta certeza. As equipas espanholas comandam o futebol europeu, mas nem sequer é isso que faz do campeonato espanhol o melhor do mundo. Enquanto que no campeonato inglês ou italiano há, talvez, uma maior aproximação das equipas pequenas às grandes, essa aproximação não acontece por essas ditas equipas pequenas terem crescido. Isso acontece porque o estilo de futebol nesses dois países assim o permite. Em Espanha, talvez não haja tanta competitividade. Não há, também, a emoção perante a incerteza do resultado que há em Inglaterra. Mas, a nível europeu, as mesmas equipas que conseguem bater-se de igual para igual com os grandes em Inglaterra e em Itália não conseguem bons resultados. Em Itália, há muito tempo que não se houve falar de êxitos de outras equipas que não o Milan, o Inter, a Juventus e a Roma. Em Inglaterra, além de Manchester United, Liverpool, Arsenal e Chelsea, pouca coisa têm feito os outros. Em Espanha, para além de Barcelona, Real Madrid e Valência, temos outras equipas a dar cartas na Europa nos últimos anos: o Villareal, no ano em que encontrou o Benfica nos grupos, chegou às meias-finais da prova; no ano anterior, o mesmo Villareal tinha ficado nas meias-finais da UEFA; o Sevilha ganhou as duas últimas edições da UEFA; o Espanhol, o ano passado, foi até à final; o Deportivo da Corunha, embora desaparecido nos últimos anos, andou durante várias épocas entre os melhores da Europa. Não me lembro de equipas de segundo plano em Itália fazerem coisas destas desde os tempos áureos do Parma, ou da Fiorentina de Rui Costa e Batistuta, ou da Lázio na altura em que lá jogava o Sérgio Conceição. Não me lembro de equipas inglesas de segundo plano terem boas campanhas europeias desde o Leeds de David O'Leary. É por tudo isto que o campeonato espanhol é, no meu entender, o melhor do mundo, isto é, aquele em que se joga melhor futebol e aquele que produz um maior número de equipas capazes de atingir grandes feitos a nível europeu.
Em primeiro lugar, há que definir o que deve ter um campeonato para ser considerado o melhor ou, por outras palavras, é fulcral perceber o que significa "melhor". Melhor é aquele em que há mais competitividade? Não creio. Ou, pelo menos, isso não é suficiente. A competitividade tanto pode significar muitas equipas a jogar bem como muitas equipas a jogar mal. O futebol africano é competitivo, mas nem por isso é bom. O futebol italiano é competitivo, mas apenas porque a cultura táctica em terras transalpinas assim o obriga. O futebol italiano é competitivo porque as equipas defendem todas como se não houvesse amanhã. Num futebol no qual a palavra de ordem é defender, não admira que não haja resultados dilatados. Mas isso não significa que as equipas estejam a um mesmo nível. A competitividade em Itália é, digamos, apenas aparente. E o futebol inglês, não é competitivo? Sim, mas por questões semelhantes. A competitividade em Inglaterra resulta essencialmente dos princípios de jogo que se aplicam no país de Sua Majestade. Está enraízado no futebol inglês um estilo directo, de entrega a cem por cento, um futebol rápido, que não se dá ao luxo de perder tempo a pensar. O futebol em Inglaterra é "sempre para a frente". Perante este hábito, todas as equipas encaram o jogo para o ganhar e jogam essencialmente ao ataque. Resulta daqui um futebol emocionante, com muitas oportunidades de golo, que provoca todo o tipo de sensações. É competitivo porque nunca se vira a cara à luta; é competitivo porque os mais pequenos encaram o jogo da mesma forma que os grandes. Mas isso não significa que não seja uma atitude ingénua. E ainda significa menos que seja um futebol bem jogado. Ora, se a competitividade não pode ser o critério usado para descobrir qual o melhor campeonato, que critério será esse? Melhor é aquele em que o futebol é mais agradável? Se sim, é preciso definir o que significa "agradável". Acredito que haja quem se delicie com o futebol brasileiro, no qual quase todos os jogadores têm uma finta personalizada e no qual as acções individuais constituem grande parte dos motivos de interesse. Mas isso não significa que o jogo seja bem jogado. Por agradável entendo bem jogado. Assim, o campeonato melhor deve ser aquele em que o futebol é mais bem jogado. E o que significa ser bem jogado?
O futebol é um jogo colectivo. Durante muito tempo, esta noção viciou as ideias de treinadores, jogadores, comentadores, críticos, etc. Que o futebol é um jogo colectivo, já todos sabemos. O que muito pouca gente sabe é em que medida o futebol é um jogo colectivo. Por colectivo entendeu-se sempre que cada jogador deveria ajudar o conjunto de acordo com as suas características específicas. Por outras palavras, o conjunto deveria ter os altos e fortes na defesa, para cortar os lances adversários, os aguerridos no meio-campo defensivo, para recuperar bolas, os cerebrais no meio-campo ofensivo, para distribuir jogo, os tecnicistas nas alas, para desequilibrarem individualmente, etc. Nada mais errado. Isto não é colectivo. Isto são onze individualidades com a missão de ajudarem uma coisa abstracta chamada "colectivo". Só é possível jogar verdadeiramente em colectivo quando não se achar que os passes decisivos devem estar a cargo dos médios-ofensivos, ou quando não se achar que as idas à linha devem acontecer após o ala se desembaraçar individualmente do seu opositor. Jogar colectivamente implica predispor os jogadores para terem todas as funções que os outros têm. Ou seja, só há colectivo quando a incumbência de marcar golos é tanto do central como do avançado; só há colectivo quando a incumbência de distribuir jogo é tanto do médio-defensivo como do médio-ofensivo. As características dos jogadores não devem servir para que este desempenhe um papel individual dentro de um colectivo; as características de um jogador devem servir para que ele desempenhe um papel colectivo. Por jogar bem entendo jogar colectivamente, neste sentido específico. Como tal, o melhor campeonato será aquele em que isto aconteça com mais frequência. E que campeonato é esse então?
Acredito que seja unânime a opinião de que os três melhores campeonatos do mundo são o italiano, o espanhol e o inglês. Isto porque os melhores atletas se encontram distribuídos por estes campeonatos. Como é óbvio, o melhor campeonato do mundo terá de ser sempre um destes três. Em qual destes três, então, se joga melhor futebol, no sentido em que referi? Ou seja, qual é, destes, o campeonato em que se joga mais em colectivo? A resposta é simples: no espanhol. Em Inglaterra, pelo estilo do futebol, o jogo assenta essencialmente numa base individual. O futebol é de pontapé para a frente e aqueles que tiverem melhores intérpretes na frente são os que ganham mais bolas, os que conservam melhor a posse de bola, os que concretizam mais. Em Inglaterra, o futebol pode ser mais emocionante e mais competitivo que noutro lado qualquer, mas não é mais colectivo. E, como não é mais colectivo, é mais ingénuo, está mais sujeito à acção da sorte e à inspiração das individualidades. Embora o mais competitivo, não é o mais bem jogado. Em Itália, passa-se algo idêntico. As equipas privilegiam uma defesa sólida e um estilo directo. Assim, confiam a sorte à organização defensiva, que tanto pode ser conseguida através da presença das melhores unidades para essas posições como pode ser fruto de uma arrumação colectiva, e à inspiração dos avançados, que devem aproveitar o melhor possível as bolas que lhes chegam. Em Itália, joga-se em dois blocos, o defensivo e o ofensivo. Uns têm missão de defender, outros de atacar. Isto não é jogar colectivamente. Se é verdade que as equipas defendem muito, não é menos verdade que não o fazem em colectivo. São recrutados alguns jogadores para essas funções e esses jogadores, nunca os onze, devem defender para que os restantes possam atacar. Esta é a filosofia de jogo italiana: uma equipa partida em duas. Ora bem, resta a Espanha. Sem a pressão da tradição, como acontece em Inglaterra ou em Itália, o futebol espanhol é mais livre. Não está preso a um estilo obsoleto de futebol rápido, impensado, que assenta na força e na vontade de ganhar, como em Inglaterra. Também não está preso à obsessão italiana de defender para depois poder atacar. O futebol espanhol, de uma maneira geral, é hoje em dia o mais moderno. E, como tal, é aquele em que se joga mais em colectivo, no sentido que defini. Não é preciso, sequer, recorrer ao Ranking da UEFA para atestar esta certeza. As equipas espanholas comandam o futebol europeu, mas nem sequer é isso que faz do campeonato espanhol o melhor do mundo. Enquanto que no campeonato inglês ou italiano há, talvez, uma maior aproximação das equipas pequenas às grandes, essa aproximação não acontece por essas ditas equipas pequenas terem crescido. Isso acontece porque o estilo de futebol nesses dois países assim o permite. Em Espanha, talvez não haja tanta competitividade. Não há, também, a emoção perante a incerteza do resultado que há em Inglaterra. Mas, a nível europeu, as mesmas equipas que conseguem bater-se de igual para igual com os grandes em Inglaterra e em Itália não conseguem bons resultados. Em Itália, há muito tempo que não se houve falar de êxitos de outras equipas que não o Milan, o Inter, a Juventus e a Roma. Em Inglaterra, além de Manchester United, Liverpool, Arsenal e Chelsea, pouca coisa têm feito os outros. Em Espanha, para além de Barcelona, Real Madrid e Valência, temos outras equipas a dar cartas na Europa nos últimos anos: o Villareal, no ano em que encontrou o Benfica nos grupos, chegou às meias-finais da prova; no ano anterior, o mesmo Villareal tinha ficado nas meias-finais da UEFA; o Sevilha ganhou as duas últimas edições da UEFA; o Espanhol, o ano passado, foi até à final; o Deportivo da Corunha, embora desaparecido nos últimos anos, andou durante várias épocas entre os melhores da Europa. Não me lembro de equipas de segundo plano em Itália fazerem coisas destas desde os tempos áureos do Parma, ou da Fiorentina de Rui Costa e Batistuta, ou da Lázio na altura em que lá jogava o Sérgio Conceição. Não me lembro de equipas inglesas de segundo plano terem boas campanhas europeias desde o Leeds de David O'Leary. É por tudo isto que o campeonato espanhol é, no meu entender, o melhor do mundo, isto é, aquele em que se joga melhor futebol e aquele que produz um maior número de equipas capazes de atingir grandes feitos a nível europeu.
1 comentário:
O melhor do mundo é sempre demasiado subjectivo para se levar a debate. Há quem o considere melhor do mundo pela competitividade, outros pela emoção, outros pela qualidade . E todas estas características tb são subjectivas.
Gosto do futebol inglês pela velocidade empregue, pela disputa da bola, pela não fitice, etc. Gosto do futebol italiano pelo ambiente gerado das bancadas para o relvado (minha costela ultra a falar). Gosto do futebol espanhol por ser aquele onde há mais equilibrio, não na tabela classificativa mas no jogo jogado. É comum os pequenos irem sacar pontos aos grandes, jogam de igual para igual, jogam abertos e, curiosamente, muitas vezes sacam pontos invês de serem goleados.
Quem o melhor? Não sei.
Em relação ao conjunto não sei até q ponto concordo ctg. Percebo claramente a tua argumentação mas talvez seja demasiado utópica.
Nunca os 11 jogadores estarão no mesmo patamar fisico-táctico. Um defesa central será sempre escolhido de acordo com caraterísticas completamente diferentes de um médio ofensivo.
Sim, é verdade q no futebol moderno cada vez mais se exige ao defesa central que não seja um tosco com a bola nos pés (o q vai ao encontro do q dizes) mas, muito dificilmente será um virtuoso como um médio ofensivo precisa de ser.
Onde essa transformação mais se nota é nos médios defensivos. O mero carregador de piano está em desuso. Os médios "box to box" estão na moda e cada vez mais prepoderantes na filosofia de jogo de uma equipa. Jogadores capazes de recuperar bolas e ao mesmo tempo capazes de a fazer chegar jogável aos restantes companheiros.
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