terça-feira, 20 de novembro de 2007

Dependência...

Se vos pedir que pensem em futebol de qualidade, bem jogado, e nos seus intérpretes, na nossa cabeça surgirão, instantaneamente, nomes como Messi, Ronaldinho, Káká, Cristiano Ronaldo, Quaresma, etc. E é o factor desequilíbrio que une todos estes nomes. A capacidade de improviso, a magia, a criatividade, características que os distinguem dos demais. Todavia, os demais são parte fundamental na proliferação destes jogadores.
Os desequilíbrios terão de partir sempre dos equilíbrios. Assim, e só assim, se conseguem obter (bons) resultados. Se não, os desequilíbrios deixam de o ser para se tornarem apenas... Caos.

Um modelo de jogo bem estruturado, com transições bem definidas, posicionamento colectivo correcto e interiorização da filosofia de jogo pretendida: isto será sempre o ponto de partida para se alcançar os equilíbrios necessários, para a partir deste ponto se procurarem os desequilíbrios. E, à partida, pode-se cometer o erro de pensar que, nos desequilíbrios, a percentagem individual é superior à dos equilíbrios. Nada mais errado.
Toda a estrutura, por mais bem estruturada que esteja, se não estiver suportada por jogadores cujas virtudes sejam sobretudo de natureza colectiva, que se distingam pela forma como equilibram a equipa, será sempre instável. Isto, por si só, não vos oferece nada de novo. O que aqui se procura denunciar é a injustiça que este tipo de jogadores sofre.

Jogadores que se distinguem pela sua capacidade de acelerar o jogo, pelo seu drible, pelo último passe, remate, beneficiam da maior visibilidade que as suas características exibem. Vejamos: se a um jogador com este tipo de características for concedido 15/20 minutos num jogo, mais facilmente conseguirá notoriedade que um jogador que se distinga pelos equilíbrios que oferece à equipa, pois os segundos não precisam de ser exuberantes para serem bons, para concederem à equipa as suas qualidades.
Por outro lado, não raras vezes é lembrada a necessidade de existir uma boa organização e disciplina colectiva para o talento e criatividade se manifestarem. Correcto, todavia, se para um jogador que se distingue pela imprevisibilidade e pelo cunho individual das suas acções é necessário que existam rotinas e uma estrutura sólida na equipa onde está inserido, como será com um jogador que se “destaca” pela harmonia e fluidez que confere ao jogo da sua equipa? Se não existe uma filosofia, uma directriz segundo a qual ele possa emprestar todo o seu poder de organização e equilíbrio? Seria tão incorrecto como exigir a um professor competência sem lhe entregarem o plano para o ano lectivo que este leccionasse.
Estes são, na minha opinião, os que mais sofrem com a falta de organização e sincronismos de uma equipa, pois é o próprio colectivo a renegar as características e idiossincrasias destes jogadores. Jogadores como Custódio, Farnerud, Medina, Mikel, não precisam de ser exuberantes para serem bons, precisam apenas de encontrar organização para poderem proporcionar um brilho mais intenso àqueles que pretendem revolucionar o mundo com o seu génio.

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