A maioria das pessoas concederá a Pizzi, nesse lance, a excelência técnica do apontamento de calcanhar. Eu acho que a virtude do lance está toda no modo como o transmontano, ao ocupar aquele espaço, entre o central, o lateral e os dois médios bracarenses, antecipa o desequilíbrio que tornará possível a situação de golo. Quando Pizzi invade esse espaço, não o faz apenas porque o lateral precisava de um apoio em quem soltar a bola; fá-lo porque, imaginando Gonçalo Guedes a ganhar vantagem sobre o lateral bracarense (como se haveria de verificar), sabe que, recebendo ali o passe, o pode redireccionar de imediato para a esquerda, assim criando um desequilíbrio imediato junto à faixa. Pode não antecipar toda a jogada, não antever que o central do Braga, ao aproximar-se de si no momento em que a bola lhe é passada, fará com que Gonçalo Guedes fique com espaço para ganhar a linha de fundo, mas também não ocupa o espaço, como a maioria dos jogadores, em quem a criatividade não abunda, apenas para que a bola lhe seja endossada. Quando Gonçalo Guedes atrasa a bola para Grimaldo, Pizzi tem já várias ideias acerca do que poderá fazer à bola quando ela lhe chegar (dominar e esperar pelo apoio, devolver de primeira ao lateral, ou colocar em Guedes na linha, etc.), e quando o espanhol se enquadra, algumas fracções de segundo depois, o transmontano já percebeu que a melhor decisão, das três acima mencionadas, será de facto jogar de primeira para Gonçalo Guedes, que entretanto ganhou a frente ao lateral. Pizzi antecipou o lance na medida em que ocupou antecipadamente um espaço cuja mera ocupação, no momento em que receber a bola, será decisiva para que o desequilíbrio se concretize. Ainda que, no momento em que decide ocupá-lo, o desequilíbrio não fosse evidente (era preciso que Gonçalo Guedes ganhasse a frente ao lateral bracarense e criasse aquela superioridade numérica, o que ainda não acontecera), a decisão de ocupá-lo contempla esse desequilíbrio futuro. Claro que, se tal desequilíbrio não se proporcionasse, a decisão a tomar, no momento em que recebesse o passe, seria outra. Mas o que está em causa é a capacidade de imaginar o desequilíbrio antes de ele acontecer. A criatividade é, antes de qualquer outra coisa, essa capacidade imaginativa. Pizzi faz uma leitura perfeita das circunstâncias, imagina o que ainda não aconteceu, e mexe-se em função daquilo que imaginou. Se, instantes depois, acontecer exactamente aquilo que antecipou que aconteceria, está em posição privilegiada para definir a jogada como pensou possível defini-la. O futebol de Pizzi é pensado como o pensam os melhores. Equaciona todas as possibilidades, mas imagina também o que vai acontecer de seguida. Num colectivo que esteja melhor trabalhado, com mais jogadores capazes de pensar bem à sua volta, será sempre mais influente do que é numa equipa que, colectivamente, é apenas o que os jogadores quiserem que seja. Apesar de continuar sem ser chamado à selecção, e de continuar a motivar assobios vindos das bancadas - por razões que só os seus detractores saberão - é, de longe, o melhor jogador português a actuar em Portugal. Já o era, aliás, o ano passado.
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
A Criatividade de Pizzi, o Discernimento de William e a Vox Populi
A maioria das pessoas concederá a Pizzi, nesse lance, a excelência técnica do apontamento de calcanhar. Eu acho que a virtude do lance está toda no modo como o transmontano, ao ocupar aquele espaço, entre o central, o lateral e os dois médios bracarenses, antecipa o desequilíbrio que tornará possível a situação de golo. Quando Pizzi invade esse espaço, não o faz apenas porque o lateral precisava de um apoio em quem soltar a bola; fá-lo porque, imaginando Gonçalo Guedes a ganhar vantagem sobre o lateral bracarense (como se haveria de verificar), sabe que, recebendo ali o passe, o pode redireccionar de imediato para a esquerda, assim criando um desequilíbrio imediato junto à faixa. Pode não antecipar toda a jogada, não antever que o central do Braga, ao aproximar-se de si no momento em que a bola lhe é passada, fará com que Gonçalo Guedes fique com espaço para ganhar a linha de fundo, mas também não ocupa o espaço, como a maioria dos jogadores, em quem a criatividade não abunda, apenas para que a bola lhe seja endossada. Quando Gonçalo Guedes atrasa a bola para Grimaldo, Pizzi tem já várias ideias acerca do que poderá fazer à bola quando ela lhe chegar (dominar e esperar pelo apoio, devolver de primeira ao lateral, ou colocar em Guedes na linha, etc.), e quando o espanhol se enquadra, algumas fracções de segundo depois, o transmontano já percebeu que a melhor decisão, das três acima mencionadas, será de facto jogar de primeira para Gonçalo Guedes, que entretanto ganhou a frente ao lateral. Pizzi antecipou o lance na medida em que ocupou antecipadamente um espaço cuja mera ocupação, no momento em que receber a bola, será decisiva para que o desequilíbrio se concretize. Ainda que, no momento em que decide ocupá-lo, o desequilíbrio não fosse evidente (era preciso que Gonçalo Guedes ganhasse a frente ao lateral bracarense e criasse aquela superioridade numérica, o que ainda não acontecera), a decisão de ocupá-lo contempla esse desequilíbrio futuro. Claro que, se tal desequilíbrio não se proporcionasse, a decisão a tomar, no momento em que recebesse o passe, seria outra. Mas o que está em causa é a capacidade de imaginar o desequilíbrio antes de ele acontecer. A criatividade é, antes de qualquer outra coisa, essa capacidade imaginativa. Pizzi faz uma leitura perfeita das circunstâncias, imagina o que ainda não aconteceu, e mexe-se em função daquilo que imaginou. Se, instantes depois, acontecer exactamente aquilo que antecipou que aconteceria, está em posição privilegiada para definir a jogada como pensou possível defini-la. O futebol de Pizzi é pensado como o pensam os melhores. Equaciona todas as possibilidades, mas imagina também o que vai acontecer de seguida. Num colectivo que esteja melhor trabalhado, com mais jogadores capazes de pensar bem à sua volta, será sempre mais influente do que é numa equipa que, colectivamente, é apenas o que os jogadores quiserem que seja. Apesar de continuar sem ser chamado à selecção, e de continuar a motivar assobios vindos das bancadas - por razões que só os seus detractores saberão - é, de longe, o melhor jogador português a actuar em Portugal. Já o era, aliás, o ano passado.
Escrito por Nuno às 15:57:00 39 bolas ao poste
Etiquetas: Pizzi, Raciocínios Tácticos, William Carvalho
domingo, 24 de julho de 2016
Orgulho e Preconceito
12 Apontamentos sobre o Euro 2016:
1. A selecção francesa chegou à final sem mostrar grande coisa para além de algumas individualidades muito inspiradas: Lloris, Payet, Griezmann e Giroud, principalmente, estiveram a um bom nível, e isso chegou, muitas vezes, para que os problemas colectivos não fossem relevantes.
2. A evolução do futebol suíço, nos últimos anos, tem sido notável, e a selecção suíça é hoje muito mais respeitada do que era há uma década. Além do trabalho federativo, que permitiu aos suíços uma quantidade de jogadores de algum talento, há a salientar na selecção A a mudança de paradigma: ao contrário da selecção de Hitzfeld, que apostava tudo na organização defensiva, a selecção de Petkovic é uma equipa que procura ter a iniciativa do jogo. Falta-lhe criatividade no miolo do terreno, é verdade, mas assume esse jogo e procura fazer mais do que aproveitar os erros dos adversários.
3. Ao contrário da generalidade das opiniões que fui lendo, gostei do que a selecção do País de Gales fez. Não é tacticamente extraordinária, e procurou acima de tudo povoar a sua defesa com muita gente. Soube, no entanto, tirar o melhor partido dos seus três melhores jogadores (Ramsey, Bale e Allen, que mostrou que nunca lhe deram o devido valor em Liverpool), os quais procuraram sempre combinar uns com os outros. A liberdade que estes três jogadores tiveram para se procurarem constantemente, e que lhes foi possibilitada pela estratégia colectiva, foi a grande arma desta selecção. E só quando um deles, exactamente aquele que melhor se ligava aos outros dois, não pôde jogar é que foram vencidos.
4. Enquanto em terras de Sua Majestade se continuar a pensar como há 50 anos, o futebol inglês andará longe das vitórias. Não sou contra a ideia de Rooney jogar no meio-campo, e até gostei de ver, talvez pela primeira vez na história do futebol inglês, um médio-defensivo com critério com bola. Mas a aposta nas qualidades atléticas é inequívoca. Em Inglaterra, continuam a achar que o cérebro, em futebol, não serve para nada. Enquanto pensarem assim, vai ser difícil.
5. Sobre a Eslováquia, apraz-me dizer que se confirma aquilo que há muito penso: que o melhor jogador desta geração não é Marek Hamsik, como se faz crer, mas Vladimir Weiss. Hamsik é um médio expedito, muito rápido a ler o jogo e tecnicamente evoluído. Mas não é um médio criativo. É competente a ligar o meio-campo ao ataque, e garante fluidez ao futebol ofensivo da sua equipa, mas raramente é capaz de encontrar uma solução inesperada. Não é inventivo nem imaginativo como Weiss, que a partir da ala procura constantemente o apoio interior. Hamsik pode ser um jogador muito competitivo, mas sem aquilo que distingue Weiss, a criatividade, não passa de um médio relativamente banal.
6. A Rússia teve o que mereceu. Quando se fala tanto em pragmatismo, e quando se pensa que a abordagem pragmática é aquela que, nos dias que correm, tem tido mais sucesso, olhe-se, por exemplo, para a Rússia. O pragmatismo tanto pode dar para ter sucesso como para ser sovado. Os russos não podiam ter sido mais pragmáticos, e foram para casa mais cedo precisamente por causa desse pragmatismo.
7. A selecção croata foi das que mais gostei, neste europeu. Tive pena de não ver Coric, ou de ter visto tão pouco de Pjaca. Mas a qualidade individual dos croatas já não é uma novidade. O que me parece que está a melhorar, no futebol croata, são as ideias colectivas. É possível que, num futuro próximo, consigam bater o pé às melhores selecções. Têm qualidade individual para isso, tê-la-ão nesse futuro próximo, e parecem-me interessados em trabalhar colectivamente para que essas individualidades possam finalmente sobressair.
8. A Alemanha foi a melhor selecção do torneio. Não se pode ganhar sempre, e um pequeno detalhe (penalty de Schweinsteiger), num jogo que estava a dominar, deitou tudo a perder. Mas o futebol jogado foi, no cômputo geral, muito bom. Contra a Eslováquia, por exemplo, roçou a perfeição. Pode não ter dado seguimento ao título mundial conquistado há 2 anos, mas fez tudo bem feito, e é isso que lhes garante que vão continuar a ser favoritos, nos próximos torneios.
9. A Espanha começou bem o campeonato. Sem os erros do mundial de 2014 (titularidade de Koke e Diego Costa), Vicente del Bosque soube escolher um bom onze, mérito que já lho reconhecera anteriormente. Mas não soube estar à altura dos acontecimentos, quando era preciso que estivesse. Primeiro, não soube evitar que a sobranceria se apoderasse dos seus jogadores, depois das duas primeiras vitórias, e não soube convencê-los da importância de vencer o último jogo do grupo. E depois, perante uma selecção italiana a pressionar alto e a esconder a bola dos espanhóis, não soube reagir à adversidade. Já devia ter saído há muito tempo.
10. Zlatan Ibrahimovic terminou o seu percurso na selecção. Deixou de haver razões para ver a Suécia a jogar.
11. A qualidade individual da Bélgica está hoje ao nível das melhores da Europa. Para ser sincero, só vejo melhor conjunto de jogadores na Alemanha, na Espanha e, talvez, na França. Ainda assim, a selecção belga continua sem conseguir impor-se a nível europeu. Colectivamente, o futebol belga continua a ser pobre, e é isso que falta agora mudar.
12. A selecção italiana que se apresentou no Euro 2016 foi uma das mais fracas, em termos individuais, de que me lembro. E sem Marchisio e Verratti, os dois melhores médios italianos (se excluirmos Andrea Pirlo), mais fraca ainda ficou. O futebol italiano precisa urgentemente de uma revolução, e esta geração de jogadores é o sinal claro disso. Ainda assim, Antonio Conte conseguiu construir uma selecção muito competitiva. A forma como eliminou a Espanha foi notável.
Melhor Onze:
Avançados: Antoine Griezmann
Treinador: Joachim Löw
Suplentes:
Guarda-Redes: Gianluigi Buffon
Defesa Direito: Alessandro Florenzi
Defesa Esquerdo: Jan Vertonghen
Defesas Centrais: Giorgio Chiellini e Ricardo Carvalho
Médio Defensivo: Joe Allen
Médios Interiores: Luka Modric e Toni Kroos
Extremos: Julian Draxler e Nani
Avançado: Cristiano Ronaldo
Treinador: Antonio Conte
Escrito por Nuno às 20:50:00 43 bolas ao poste
Etiquetas: Eleições, Euro 2016, Raciocínios Tácticos
domingo, 10 de julho de 2016
Renatices
59 mins: Má opção. (Apanha uma sobra, conduz, tenta passar por Gareth Bale e é desarmado.)
Fica o video com os apontamentos individuais do Renato (excluem-se os lances sem bola a que dei destaque), ao longo do jogo, com o agradecimento ao PicaretaLeonina, que o deixou na caixa de comentários do texto anterior:
Conclusões:
2) Além da jogada do minuto 25, que serve para demonstrar que aquilo que as pessoas mais admiram no futebol de Renato Sanches não acarreta benefícios colectivos, devo ainda destacar a primeira e a última jogada em que o médio português se viu envolvido. A primeira porque é perfeita para mostrar o quão inconsequente é a sua irreverência e a sua hiperactividade: ir buscar a bola aos pés de um central e conduzi-la a toda a velocidade apenas para a deixar nos pés do lateral adversário é a melhor ilustração daquilo que vale. A última porque é perfeita para mostrar o quão irracionais são as suas cavalgadas com bola e o quão mal define, ao contrário do que se julga, em lances de condução: se não consegue respeitar o trabalho sem bola dos colegas, de nada serve que consiga acelerar o jogo.
3) Desde que o europeu começou que me parece o mais fraco de que tenho memória. É pelo menos tão fraco quanto o de 2004. Salvava-se a Alemanha, que acabou por não ter sorte nas meias-finais, a Espanha, que insiste em vir para estas provas sem treinador, a Itália, à qual falta a qualidade individual de outros tempos, e em certa medida a criatividade isolada de certos grupos jogadores croatas (Modric e Rakitic) e galeses (Allen e Ramsey). Na final, estará a equipa anfitriã, que teve muitas dificuldades para superar as poderosíssimas selecções da Roménia e da Albânia, nos dois primeiros jogos (o que conseguiu apenas porque tem individualidades notáveis), e estará também uma equipa que passou o seu grupo em terceiro, com três empates contra equipas dificílimas como a Islândia, a Áustria e a Hungria, e que se foi apurando, eliminatória após eliminatória, quase que por milagre (ou porque teve uma sorte inacreditável no sorteio, ou porque tem o melhor cabeceador de todos os tempos, ou através das grandes penalidades, ou num lance de contra-ataque depois de levar uma bola no poste). Num europeu medíocre, cujo desenho favorece os medíocres, ganhará, portanto, uma equipa medíocre. Para bem do futebol, era bom, ainda assim, que ganhasse a menos medíocre das duas.
Escrito por Nuno às 13:55:00 170 bolas ao poste
Etiquetas: Estudos, Euro 2016, Raciocínios Tácticos, Renato Sanches
segunda-feira, 30 de maio de 2016
O Benitez que há em Simeone
Escrito por Nuno às 01:00:00 80 bolas ao poste
Etiquetas: Atlético Madrid, Benitez, Competições Europeias, Oliver Torres, Raciocínios Tácticos, Simeone
segunda-feira, 16 de maio de 2016
Os Melhores de 2015/2016
Eis os melhores da Liga Portuguesa, em 442 losango:
Guarda-Redes: Júlio César
Defesa Direito: Maxi Pereira
Defesa Esquerdo: Miguel Layún
Defesas Centrais: Lindelof e Ricardo Ferreira
Médio Defensivo: William Carvalho
Médios Interiores: João Mário e Pizzi
Médio Ofensivo: Gaitán
Avançados: Bryan Ruiz e Jonas
Treinador: Jorge Jesus
Suplentes (433)
Guarda-Redes: Salin
Defesa Direito: André Almeida
Defesa Esquerdo: Nuno Pinto
Defesas Centrais: Coates e Jardel
Médio Defensivo: Bakic
Médios Ofensivos: Adrien Silva e Herrera
Extremos: Iuri Medeiros e Rafa
Avançado: Mitroglou
Treinador: Paulo Fonseca
Escrito por Nuno às 12:21:00 34 bolas ao poste
Etiquetas: Eleições
sábado, 19 de março de 2016
Apontamentos para uma Estética não-Allegriana
Escrito por Nuno às 16:13:00 51 bolas ao poste
Etiquetas: Allegri, Bayern de Munique, Competições Europeias, Guardiola, Juventus, Kimmich, Luís Freitas Lobo, Morata, Raciocínios Tácticos
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Quando as coisas correm bem...
Quando as coisas correm bem, e uma equipa assim recupera muito do atraso que chegou a ter para os principais rivais, reentrando na luta pelo título quando isso já parecia fora de equação, a tendência das pessoas é acreditar que tudo vai bem.
Quando as coisas correm bem, e a equipa consegue vencer quase todos os jogos contra adversários mais fracos, compensando assim as derrotas com adversários do mesmo nível, todos acham razoável que, em muitos momentos desses jogos contra adversários mais fracos, não seja importante assumir a iniciativa do jogo.
Quando as coisas correm bem, e a equipa marca 4 ou 5 golos de forma sistemática e se estabelece como o ataque mais concretizador da prova, ninguém se atreve a pensar que está longe de ser o melhor ataque da prova, ou que as ideias ofensivas continuam a ser muito pobres.
Quando as coisas correm bem, e a equipa atinge registos ofensivos que deslumbram os que se maravilham com as estatísticas, poucos são os que ousam sugerir que a competência ofensiva da equipa depende quase exclusivamente das competências individuais dos seus principais atacantes e da forma como alguns deles conseguem conseguem camuflar a banalidade dessa competência colectiva.
Quando as coisas correm bem, e a equipa sofre poucos golos e concede poucas oportunidades aos adversários, ninguém olha para o espaço entre linhas que a dupla de meio-campo, cujo posicionamento excessivamente rígido é desprezado pelos analistas e o qual só não gera problemas irresolúveis contra adversários mais débeis, concede jogo após jogo.
Quando as coisas correm bem, e um jogador banalíssimo se torna no principal motivo de regozijo dos adeptos, dificilmente se notam as faltas sistemáticas que faz, sempre que disputa um lance, a irresponsabilidade posicional que denota, as dificuldades que tem ao nível do passe, o descontrolo emocional que manifesta em diferentes momentos de jogo, ou, simplesmente, a má leitura que faz das situações de jogo em que se envolve, coisa que, por exemplo, o leva a não compreender que, quando os adversários têm a bola junto a uma linha e o colega de meio-campo corrige o seu posicionamento em função disso, o que deve fazer é corrigir o seu posicionamento em função do comportamento do colega, e não permanecer no meio do terreno, parado, a ver os adversários a trazerem a bola de novo para dentro e a aproveitarem o buraco que se criou entre ele e o colega para empatarem o clássico.
Quando as coisas correm bem, e a equipa consegue controlar a ansiedade, subir os níveis de confiança e enfrentar todo e qualquer adversário com uma intensidade assinalável, poucos são os que se lembram de que a intensidade só serve para alguma coisa enquanto houver tranquilidade e confiança, e que estas, dependendo da contingência dos resultados positivos e não do trabalho diário, tão depressa desaparecem como aparecem.
Quando as coisas correm bem, e as pessoas, não aceitando a possibilidade de estarem a correr bem apenas porque sim, acreditam que há-de haver boas razões para que estejam a correr dessa maneira e não de outra, dificilmente se poderá convencer quem assim pensa de que nenhuma equipa de futebol, nos dias que correm, pode ser bem sucedida a longo prazo com base no facto de as coisas continuarem a correr bem, e dificilmente se poderá convencer quem assim pensa de que, portanto, é apenas uma questão de tempo para que as coisas deixem de correm bem.
Escrito por Nuno às 12:35:00 164 bolas ao poste
Etiquetas: Benfica, Cortesias, Raciocínios Tácticos, Renato Sanches, Rui Vitória
domingo, 3 de janeiro de 2016
O Jogo Interior, a Criatividade e o Sucesso
Escrito por Nuno às 18:20:00 27 bolas ao poste
Etiquetas: Bryan Ruiz, João Mário, Jorge Jesus, Lopetegui, Porto, Raciocínios Tácticos, Rúben Neves, Sporting