sábado, 19 de março de 2016

Apontamentos para uma Estética não-Allegriana

1. O Bayern-Juventus da passada quarta-feira não foi um grande jogo de futebol, ao contrário do que tinha acontecido na primeira mão em Turim, mas serve bem para mostrar de que modo os golos monopolizam as descrições do que foi uma partida de futebol e de que modo a marcha do marcador pode não espelhar nada do que se passou nas quatro linhas. O jogo teve quatro momentos distintos, a meu ver: 1) a primeira parte, em que o Bayern, mesmo com alguns problemas de criatividade numa segunda fase de construção, foi melhor, não obstante os dois golos da Juventus; 2) os primeiros 20/25 minutos da segunda parte, em que a Juventus foi melhor, não obstante não ter marcado nas várias ocasiões que soube criar; 3) o resto da segunda parte, em que o Bayern, sem jogar bem, forçou as iniciativas individuais dos seus jogadores mais habilidosos, colocou muita gente na área, encostou a Juventus nos últimos 15 metros e conseguiu chegar ao empate; 4) o prolongamento, em que o Bayern voltou a ser a equipa que é e acabou por criar as situações de golo que lhe valeram o apuramento. 

2. Para quase toda a gente, a Juventus justificou a vantagem ao intervalo, defendendo bem e aproveitando o balanceamento ofensivo do Bayern para lançar os seus contra-ataques. Luís Freitas Lobo, por exemplo, fartou-se de criticar os riscos que a equipa de Guardiola ia correndo, apesar de a Juventus não conseguir produzir um (um único!!) contra-ataque perigoso. E não se coibiu de justificar o segundo golo dos italianos com a incapacidade da transição defensiva dos alemães. A sério? Num lance que começa com 3 avançados contra 5 defesas, no qual o portador da bola só tem um colega à frente da linha da bola contra quatro defesas adversários, no qual Morata inventa praticamente sozinho a situação de golo, passando por três adversários e deixando Cuadrado isolado, no qual tanto Alaba como Benatia podiam ter resolvido o lance, parando o espanhol em falta, é a transição defensiva dos alemães que merece censura?

3. À excepção desse lance prodigioso de Morata, do qual não há estratégia com que o treinador adversário se possa precaver, a Juventus teve um lance de contra-ataque digno de nota: aquele em que Pogba se conseguiu soltar pela esquerda, já perto do final da primeira parte, e acabou por cruzar rasteiro, com Cuadrado a aparecer ao segundo poste e Neuer a fazer uma excelente defesa. Um único lance, já a acabar a primeira parte, com o resultado a favor a ajudar à desconcentração dos bávaros, é motivo para se dizer que a Juventus fez mais do que defender, nessa primeira parte? Não, não é. A Juventus teve a sorte do jogo, apanhando-se a ganhar após um erro não-forçado de Alaba (e Neuer também não fica isento de culpas), num passe de Khedira para Lichtsteiner que, em condições normais, originaria uma recuperação de bola dos alemães, e dilatando depois a vantagem no lance de Morata já comentado. Não fez mais nada de relevante, em termos ofensivos, nessa primeira parte, até ao lance de Pogba pela esquerda. Mentira: quase que aproveitava um erro de Neuer, a sair a jogar, que deixava Morata isolado. É mesmo isto que as pessoas consideram uma boa primeira parte?

4. Dirão que, mesmo que não tenha atacado bem, a Juventus defendeu bem, e isso precipitou o resto. Deixem-me ser frontal: defensivamente, a Juventus foi miserável. Se calhar, é preciso repetir: miserável! Podia dar vários exemplos, aliás recorrentes em todo o jogo. Veja-se o lance do primeiro golo do Bayern. Antes de a bola chegar a Douglas Costa, que fez o cruzamento para o golo de Lewandowski, a jogada desenvolveu-se da direita para a esquerda, no meio-campo defensivo da Juventus, até que um passe longo descobriu Coman, que atrasou para o brasileiro. Durante todo esse tempo, a Juventus tem 8 (8!) jogadores dentro da área, formando mais ou menos, sem grande critério, uma linha defensiva. A sério que acham que amontoar jogadores ao pé da baliza, sem estarem devidamente alinhados e sem um critério de espaço entre eles devidamente uniforme, é defender bem?

5. Dirão que isso aconteceu na fase final do jogo, quando as forças começaram a faltar e o Bayern estava a começar a recorrer às acções individuais de Ribery, Coman e Douglas Costa, e aos cruzamentos para a área. Posso dar exemplos de coisas parecidas na primeira parte. A Juventus apresentou-se em 541 não para ocupar melhor certos espaços defensivos, mas porque o Bayern, ao colocar Müller muitas vezes perto de Lewandowski, fazia com que a arrumação dos defesas italianos, que se organizavam em função dos adversários que perseguiam individualmente, criasse a ilusão de que se formava uma defesa a cinco. Alex Sandro entrou em campo com uma única missão: vigiar Douglas Costa. Não fez mais nada. Andou atrás dele. E, como o brasileiro passou muito tempo aberto no flanco, houve momentos em que a Juventus jogou literalmente com dois defesas-esquerdos. Atenção, não jogou com dois jogadores que são defesas esquerdos de origem, um à frente do outro ou um ao lado do outro. Jogou com dois defesas esquerdos no mesmo espaço, um às cavalitas do outro. As perseguições individuais eram tão flagrantes, entre os defesas italianos, que não foram poucas as vezes que Barzagli e Evra saíram da linha defensiva para virem perseguir o avançado alemão que lhes calhava marcar. Há um momento, a meio da primeira parte, em que Ribery decide soltar-se do flanco e ir até ao lado direito, até muito perto de Lahm. Como, no início do lance, Barzagli definiu a marcação ao francês, foi atrás dele. Sim, houve um momento, com a bola no meio-campo, em que o Barzagli, que era supostamente o central do lado direito, estava ao pé do Pogba, na ala esquerda. Isto é organização defensiva de excelência em que parte do mundo?

6. Durante os primeiros 70 minutos, Luís Freitas Lobo repetiu um dos seus chavões preferidos: que Allegri é o melhor treinador italiano da actualidade. Ainda que tenha mudado o discurso depois de o Bayern marcar, como bom cata-vento que é, Freitas Lobo cometeu a atrocidade de dizer que um treinador cuja equipa se comporta como descrito acima é o melhor treinador italiano da actualidade. Não terá sido por acaso, aliás, que Arrigo Sacchi tenha dito, há poucos dias, tão mal de Allegri. Para Freitas Lobo, porém, apinhar jogadores dentro da área e à frente dela, sem outro critério que não a referência dos adversários, é arte (sim, também disse que defender assim era arte). Freitas Lobo é só um idiota a quem deram tempo de antena. Que as mesmas ideias se registem em quase toda a gente que viu o jogo é que é grave. A Juventus não defendeu bem; defendeu com muitos. Embora as duas coisas possam produzir resultados parecidos, a diferença entre uma coisa e outra é incomensurável. Chamar "treinador" a Allegri é, de resto, uma hipérbole.

7. Dirão que as duas coisas (defender bem e defender com muitos) não são assim tão diferentes, pois o Bayern não soube tirar partido dessa eventual desorganização. Soube, soube. As pessoas é que não sabem ver um jogo de futebol. A primeira oportunidade de golo é do Bayern. Quase ninguém se lembra desse lance porque Arturo Vidal falhou a recepção (é o primeiro lance neste vídeo). Se a tivesse acertado, ficava dentro da área, sozinho com Buffon pela frente, e possivelmente faria o primeiro golo do jogo, mudando toda a história do mesmo. Esse lance é todo potenciado pela desorganização defensiva da Juventus. Douglas Costa recebe na linha, e flecte para o meio. À sua volta, num raio de 5 metros, tem Alex Sandro, Evra, Hernanes, Khedira e Pogba (este à frente da linha da bola), completamente desinteressados do espaço que os separa da linha defensiva. Além dos dois defesas esquerdos, um em cima do outro (no início da jogada, Evra está a dois metros de Alex Sandro, completamente alheado de tudo), não há linha de meio-campo, não há cobertura recuada ao médio que fecha a esquerda (Khedira está à frente de Hernanes e não alguns metros atrás, como devia), o médio direito não acompanha o restante posicionamento defensivo do meio-campo (Cuadrado está interessado em perseguir Vidal e fica a cerca de 15 metros de Khedira), e o buraco entre o último central e o lateral é absurdo (Lichtsteiner, preocupado com Ribery, que está aberto no flanco, está a cerca de 20 metros de Barzagli, que está perto de Bonucci, o qual descaíra para a esquerda para fazer a cobertura correcta ao lateral). Foi por esse buraco que Vidal entrou e foi aí que o passe de Douglas Costa o descobriu. Estava criada a primeira situação clara de golo. Ninguém fala dela, e é a jogada que melhor explica o que foi a primeira parte do jogo: uma equipa a tentar jogar e a outra a amontoar jogadores.

8. As pessoas falam da estratégia defensiva da Juventus (como se viu, foi miserável), falam do contra-ataque (como se viu, praticamente não existiu) e falam da pressão que conseguiu impor, evitando que o Bayern saísse a jogar como gosta. Também aqui não devem ter visto bem o jogo. O Bayern conseguiu sair a jogar quase sempre. Teve falhas, sim, mas recusou-se a sair de outra forma e, de um modo geral, conseguiu impor o seu jogo habitual. E, tirando a falha de Neuer (precipitada pelo mau posicionamento de Xabi Alonso, que se esconde atrás de Morata e não dá a linha de passe que devia) a qual deixa Morata isolado, nenhuma das iniciativas de pressão alta dos italianos lhes foi particularmente útil. Umas vezes com mais qualidade do que outras, o Bayern saiu a jogar e obrigou invariavelmente a Juventus a baixar as linhas. Onde o Bayern não esteve bem foi na segunda fase de criação. Depois de sair, impunha-se que soubesse construir melhor no meio-campo adversário, e isso não conseguiu fazer. Convenha-se que, sem Thiago ou Lahm nessa zona do terreno, a equipa não o consegue fazer bem. É, a meu ver, a principal fragilidade da equipa de Guardiola neste momento, muito potenciada pelas lesões que têm afectado o plantel (Lahm está a jogar na defesa por isso, e Thiago não está propriamente com o melhor dos ritmos competitivos). Não obstante, construiu mais uma excelente ocasião de golo na primeira parte, que acabou com uma boa defesa de Buffon. Achar que o resultado ao intervalo espelhava o que as duas equipas tinham feito em campo é não saber distinguir o futebol praticado dos golos marcados pelas duas equipas.

9. A Juventus só foi a melhor equipa em campo no arranque da segunda parte. Por intranquilidade dos bávaros, que pareciam pressionados pela necessidade de fazer o primeiro golo rapidamente, falharam muito ao nível do passe e permitiram aos italianos algumas jogadas interessantes. Aí, sim, a Juventus conseguiu alguns lances minimamente decentes e - diga-se - podia mesmo ter sentenciado a eliminatória. Guardiola esperou o máximo que podia (viu-se o desagrado na sua cara num lance em que Neuer pontapeia a bola para a frente sem nexo) e acabou por decidir abdicar de alguns dos seus princípios para tentar incomodar os italianos, agora muito mais confortáveis, de outro modo. A partir do momento em que Coman entrou, o Bayern colocou ainda mais jogadores na frente e entregou a criação quer aos dois alas (Ribery e Coman), quer a Douglas Costa, que passou a jogar por fora do bloco defensivo da Juventus, quase como único médio. A mudança teve duas intenções: 1) forçar os italianos a recuar ao máximo para dentro da sua área, pois havia agora ainda mais jogadores bávaros em posições avançadas; 2) forçar situações de cruzamento para a molhada que se criara como consequência desse recuo. Ainda que tenha perdido discernimento, e tenha acumulado muitas acções sem nexo, a equipa de Guardiola conseguiu exactamente aquilo que a mudança pressupunha. E, dada a desorganização defensiva dos italianos, era uma questão de tempo até que os golos surgissem. Surgiram na sequência de dois cruzamentos, mas podiam ter surgido na sequência de remates à entrada da área (a Juventus permitiu esse espaço) ou por penetrações pelo solo (há pelo menos um passe de Douglas Costa que deixa Lahm em excelente posição dentro da área, mas a recepção trai o alemão). 

10. No prolongamento, o Bayern voltou a jogar como sabe e como o fizera na primeira parte. Convicto de que aquilo que acontecera nessa primeira parte foi uma anormalidade, voltou ao que sabe fazer e controlou o jogo como quis. É assim que se joga futebol, seja contra que equipa for. Que isso só tenha sido eficaz no prolongamento é uma contingência da natureza aleatória que caracteriza o jogo. O golo de Thiago é o exemplo perfeito do que poderia ter acontecido a qualquer altura, na primeira parte, mas que não aconteceu por acaso (e talvez porque Thiago não estava em campo).

11. A defesa do Bayern, na segunda parte, era constituída por Lahm (1,70m), Kimmich (1,76m), Alaba (1,80m) e Bernat (1,70m). Sim, é possível jogar futebol ao mais alto nível com uma defesa composta por jogadores pequenos, pouco intensos e pouco agressivos. De resto, é um privilégio poder ver o que um miúdo de 21 anos consegue fazer com a bola, numa posição na qual nunca jogou, constantemente exposto ao risco. A qualidade das decisões de Kimmich, sempre à procura de um colega atrás da primeira linha de pressão do adversário, é qualquer coisa de extraordinário. Kimmich é médio de origem, e será decerto como médio que fará carreira. Para aqueles que adoram o Renato Sanches, um médio a sério é alguém que joga como Kimmich. É por jogar como joga, de cabeça levantada, à procura de colegas, e por ser tão criterioso no passe como é, que tem a facilidade que tem para jogar como central. De resto, é possível não admirar o futebol praticado pelas equipas de Guardiola. Mas é preciso ser realmente muito tacanho para não admirar a sua coragem... 

51 comentários:

Anónimo disse...

Curiosamente, o Arrigo Sacchi não terá visto o mesmo jogo que o Nuno: http://calcio.fanpage.it/juventus-ora-sacchi-elogia-allegri-e-stato-perfetto-poteva-vincere-5-0/

Nuno disse...

É possível que não, de facto. Até porque, podendo não estar atento aos comportamentos da defesa da Juventus, tinha de ter visto que o Bayern criou ocasiões de golo na primeira parte, coisa que não parece ter visto.

Ricardo disse...

Curiosamente, isso não anula em absolutamente nada aquilo que o Nuno escreveu.

Juan disse...

A Juventus defendeu tão bem e tão organizada que sofre dois golos de cruzamento onde os jogadores do Bayern conseguem cabecear à vontade e com superioridade naquela zona. No primeiro golo o bayern tem 5 jogadores na zona onde cai a bola contra 4 da Juventus. No segundo golo estão 3 para 3 onde uma movimentação de um jogador do segundo poste para o primeiro deixa completamente sozinho um jogador do bayern ao segundo poste.

Eu cá acho que a Juventus só não passa porque defende mal...

Anónimo disse...

@Ricardo
Óbvio que não anula o que quer que seja - excepto possivelmente a parte em que o Nuno invoca, como argumento de autoridade, a opinião do próprio Sacchi.

Blessing disse...

O Bayern não jogou muito. Mas também não achei que tivesse sido de todo inferior à Juve. No máximo, poder-se-ia falar em equilíbrio.

Antonio disse...

Mais uma perspectiva http://spielverlagerung.com/2016/03/18/bayern-munich-4-2-juventus-aet/

Unknown disse...

http://futebolmitosemitos.blogspot.pt/2016/03/os-treinadores-mais-sobrevalorizados-do.html

Post do meu blog, que penso que vai de encontro com o excelente Entre Dez

Anónimo disse...

@Antonio
Interessantíssimo. Com pontos de contacto, mas menor desenvolvimento: http://www.zonalmarking.net/2016/03/18/bayern-4-2-juventus-flexible-system-puts-juve-in-charge-but-bayern-subs-prompt-comeback/

Unknown disse...

Concordo com o post.
A juve jogou no erro do adversário, principalmente através de acções individuais, e quase que conseguia a qualificação. O bayern não teve a clarividência necessária para aproveitar a (des)organização defensiva da juve. Mas também continuo a pensar que a principal razão tem um nome: vidal. É contra natura ter um gajo destes a tentar corporizar a ideia de jogo do pep. De resto fico convencido que jogando o thiago de início a tarefa ficaria fácil ou menos complicada para os restantes colegas.

Guilherme disse...

O problema dessas analises à la zonalmarking é a forma como um jogo de futebol é resumido a jogos de pares em cada area do terreno, a um agregado de batalhas individuais. é um Freitas Lobo com estatisticas, como a maioria dos ingleses, e completa ignorancia sobre o que é defender hxh ou à zona. Alias, o nome do blog diz tudo: 'zonal marking'...

Dps ha coisas que me fazem confusao nas analises que por ai se escrevem. Por ex., o pressing da Juventus nao diferiu em nada do da 1a mao, e de organizado teve pouco ou nada. Bastou ver qd saiu o Morata pelo Mandzukic: o pressing deles que supostamente é tao trabalhado, e basta sair um gajo e acabou-se o pressing de vez. O que variou nesta 2a mao foram os pezinhos do Benatia, muita nervoseira, mais lesoes, e pouco acerto técnico no ultimo terço do terreno.

Duas adendas, o Sacchi continua a saber muito de futebol, mas também esta mais ou menos parado em 1998, ano em que deixou de treinar (basta ler a autobiografia dele). Na definicao que ele faz do 'calcio totale' - que na cabeça dele é o seu Milan - cabem tanto o Guardiola como o Ancelotti ou o Conte... Depois ha o pormenor de em Italia 95% da imprensa o detestar (porque acham que so ganhou o que ganhou pelo Gullit e Van Basten), e de quase o terem linchado quando ele falou mal do Alegri. Ele e o Alegri ja andaram às turras mtas vezes na tv, e provavelmente ele apenas se quis proteger. Se a malta acha que o entendimento que o adepto comum tem do futebol é primitivo em Portugal, em Italia é aidna pior.

Quanto ao Tiago, de certeza absoluta que nao estava nem esta em grande condição fisica. Mas a malta acha que é como no Fm ou Fifa, em que aparece uma bolinha vermelha em cima do jogador a dizer '77% fisicamente preparado e 42% de intensidade'.

Unknown disse...

Nuno,

Obviamente que há um mundo de distância entre os modelos do Benfica e do Bayern. Tendo em conta a diferença de talento individual e colectivo, o que vaticinas para essa eliminatória?

Antonio disse...

Outro Zonal Marking, agora acerca do primeiro jogo https://earlyshower.wordpress.com/2016/02/26/juventus-2-bayern-munich-2-bianconeri-restore-parity-after-second-half-heroics/ . É tudo burro!!!

Anónimo disse...

@Antonio
De novo, muito interessante. Pessoalmente, já conhecia o spielverlagerung, mas este earlyshower não; além disso, não tive oportunidade de ver o jogo da primeira mão, pelo que o agradecimento é duplo. Ainda no que se refere à análise do spielverlagerung, curiosa aquela nota final onde o autor diz estar certo que o RV pegará naquilo que fez a Juventus para tentar expor as (pouquíssimas, digo eu) fragilidades do Bayern. É uma coisa muito alemã - e pouco latina: partem sempre do princípio que a inteligência/competência não é um exclusivo lá do burgo.

@Guilherme
Interessante a questão da sub Morata/Mandzukic e o efeito que a mesma teve no pressing da Juventus. Sinal de falta de trabalho, como afirmas? Mudança de estratégia? Decorrência do momento do jogo (difícil) que a Juventus vivia? As características individuais dos jogadores a imporem-se sobre o planeamento colectivo? Um pouco de tudo isto e/ou de outros factores? Perguntava-me isso mesmo muitas vezes durante o consulado JJ no SLB; o porquê do pressing do Benfica sobre a última linha adversária ser tão mais incipiente, ao ponto de parecer outra equipa, quando o Cardozo estava em campo em detrimento do Lima/Rodrigo.

Antonio disse...

Cheguei ao earlyshower através do https://footballhunting.wordpress.com

Nuno disse...

Humpty Dumpty diz: "Óbvio que não anula o que quer que seja - excepto possivelmente a parte em que o Nuno invoca, como argumento de autoridade, a opinião do próprio Sacchi."

Achas mesmo que conjecturar acerca dos motivos pelos quais o Sacchi não gosta do Allegri é invocar a opinião de alguém como argumento de autoridade?? A sério? Se há coisa que me escuso de fazer, neste blogue, é justificar as minhas opiniões com argumentos de autoridade.

"@Antonio
Interessantíssimo. Com pontos de contacto, mas menor desenvolvimento: http://www.zonalmarking.net/2016/03/18/bayern-4-2-juventus-flexible-system-puts-juve-in-charge-but-bayern-subs-prompt-comeback/"

O Zonal Marking não percebe nada do jogo que tenta comentar.

Blessing diz: "O Bayern não jogou muito. Mas também não achei que tivesse sido de todo inferior à Juve. No máximo, poder-se-ia falar em equilíbrio."

Pois, não sei se se poderá falar de equilíbrio. Se formos superficiais, sim, a Juventus teve tantas ou mais probabilidades de ganhar o jogo. Mas temos de enquadrar isso com as circunstâncias do jogo. O Bayern não fez um bom jogo, no geral, mas podia perfeitamente estar a vencer ao intervalo. E isso mudava toda a segunda parte, no início da qual a Juventus foi mais forte. O que me esforcei por fazer foi mostrar como, apesar de a Juventus ter estado a ganhar até perto do fim, e apesar de ter tido oportunidades para sentenciar a eliminatória, não fez por isso e não merece os elogios rasgados que lhe foram dados. Nem defensivamente, nem ofensivamente, a equipa italiana fez um bom jogo. Teve boas probabilidades de passar, mas não por aquilo que jogou. As circunstâncias do jogo, muitas vezes, explicam melhor o êxito e o fracasso do que as competências das equipas. E toda a gente negligencia isto...

Nuno disse...

Antonio diz: "Mais uma perspectiva http://spielverlagerung.com/2016/03/18/bayern-munich-4-2-juventus-aet/"

Mais uma perspectiva que não é capaz de dissociar os golos a que a Juventus chegou (e a marcha do marcador) das competências exibidas em campo.

"Outro Zonal Marking, agora acerca do primeiro jogo https://earlyshower.wordpress.com/2016/02/26/juventus-2-bayern-munich-2-bianconeri-restore-parity-after-second-half-heroics/ . É tudo burro!!!"

De novo, a análise não consegue dissociar-se dos golos. E, por exemplo, o primeiro golo da Juventus (aquele que traz a Juventus para o jogo) não é mérito dos italianos. É um erro do Kimmich, num lance que estava absolutamente controlado. Uma análise que não se foque no quão importante esses pequenos detalhes são e que queira explicar um resultado recorrendo exclusivamente àquilo que os treinadores cogitam e planeiam nos bancos não é uma análise séria. O Allegri pode ter tido intenção de subir as linhas e pressionar de maneira diferente na segunda parte dessa primeira mão, mas o sucesso que teve não é indissociável da circunstância absolutamente contingente de ter marcado sem ter feito nada por isso.

Pedro Gama diz: "Post do meu blog, que penso que vai de encontro com o excelente Entre Dez"

Muito bom.

Miguel Pinto diz: "Mas também continuo a pensar que a principal razão tem um nome: vidal. É contra natura ter um gajo destes a tentar corporizar a ideia de jogo do pep."

Também acho difícil o Vidal dar alguma coisa de bom a esta equipa. Se nem os movimentos verticais, a aproveitar a basculação defensiva do adversário para entrar entre os defesas ele garante...

Guilherme diz: "O problema dessas analises à la zonalmarking é a forma como um jogo de futebol é resumido a jogos de pares em cada area do terreno, a um agregado de batalhas individuais. é um Freitas Lobo com estatisticas, como a maioria dos ingleses, e completa ignorancia sobre o que é defender hxh ou à zona. Alias, o nome do blog diz tudo: 'zonal marking'..."

Nem mais.

Bcool diz: Obviamente que há um mundo de distância entre os modelos do Benfica e do Bayern. Tendo em conta a diferença de talento individual e colectivo, o que vaticinas para essa eliminatória?"

Não sei. Depende de muita coisa. Depende do que o Rui Vitória pensar, da recuperação de alguns jogadores do Bayern até lá, e das circunstâncias. Mas calculo que vá ser um jogo de sentido único, com o Benfica a retrair-se atrás e a tentar sair à bruta, e a subir as linhas para tentar pressionar mais alto em certos momentos.

Blessing disse...

Nuno, eu concordo. Por exemplo, a semana passada perdemos com o Belenenses 3-0. Os dois primeiros golos foram irregulares, e foram nos primeiros 20 minutos. O terceiro na segunda parte. E, ainda que sem os primeiros dois golos o jogo pudesse ter seguido outro rumo, a verdade é que estávamos a ser dominados ofensiva e defensivamente. E por isso, no final, achei a vitória deles inteiramente justa e indiscutível.

De resto, como já tinha falado no facebook é Kimmich (que tem estado tremendo e a aprender) que mete a Juve na eliminatória de novo. E são os erros nos dois primeiros golos que ditam a vantagem em Munique. Depp, também falei desse lance do Vidal no Lateral Esquerdo, respondendo à alguém que disse que o Bayern não tinha rematado. Ainda que não tenha dado remate, aquele lance é de golo iminente, não fosse a fraca recepção. Por fim, falei em equilíbrio exactamente pelas circunstâncias do jogo, pois no modelo Allegri, para mim, é zero. E isso não tem comparação com Guardiola. Nem sequer na tão gabada estratégia de alta pressão.

Blessing disse...

Para finalizar, dizer também que naturalmente o Bayern chega ao empate. Reparaste nos jogadores do Juve todos rotos?

João disse...

O Freitas Lobo é um cómico. A Juve marca o segundo e como o Alaba nessa jogada tinha ido ao meio dar uma linha de passe estava encontrado o erro do Bayern: a ala esquerda ficou descompensada. E como é costume dele repetiu a ladainha ad eternum ao mesmo tempo que as repetições mostravam que o Vidal tinha compensado o Alaba.

Vulgar Knight disse...

Um bocado offtopic, mas o que achas do Dortmund do Tuchel e mais especificamente do Mkhitaryan? Deve ser dos jogadores mais subvalorizados no futebol europeu, talvez por não se acompanhar assim tanto a Bundesliga quanto isso. Não vejo muitos médios-ofensivos melhores que ele por aí, sinceramente...

https://www.youtube.com/watch?v=W8HMlT22Ve8

DM disse...

Picareta, tambem acho o Mkhitaryan um dos melhores médios ofensivos... do mundo! É fantástica a forma como faz tudo bem no último terço. Finaliza, cria, assiste. É uma delicia vê-lo em campo, mas por algum motivo (nacionalidade? empresário?) parece que não tem grande reconhecimento ou projeção internacional. Mas também só esta época atingiu este nível estrastosférico e já tem 27 anos. Sempre que o via jogar no passado achava que ele tinha capacidade para fazer aquilo que faz agora. Mas por algum motivo (modelo?) só esta época se tornou indispensável na manobra ofensiva da equipa.

Gonçalo Matos Ramos. disse...

Nuno,

escreveste o melhor texto sobre o Eusébio que eu alguma vez li. Muito superior às palavras de circunstância do costume.


Neste sentido, lanço-te o desafio para que faças o mesmo em relação ao Cruyff, salientando a importância dele no delinear do so-called "Futebol Total", na filosofia do Barcajax e na influência alegadamente exercida sobre Guardiola.


Iria ler esse texto com muito interesse.


Abraço,

Gonçalo.

Nuno disse...

Blessing diz: "Para finalizar, dizer também que naturalmente o Bayern chega ao empate. Reparaste nos jogadores do Juve todos rotos?"

Sim, o meio-campo já não dava mais. Tirando o Pogba, que me pareceu o único que continuou a conseguir chegar à frente, os outros morreram todos aos 70 minutos.

João diz: "O Freitas Lobo é um cómico. A Juve marca o segundo e como o Alaba nessa jogada tinha ido ao meio dar uma linha de passe estava encontrado o erro do Bayern: a ala esquerda ficou descompensada. E como é costume dele repetiu a ladainha ad eternum ao mesmo tempo que as repetições mostravam que o Vidal tinha compensado o Alaba."

Pois, na verdade ele já tinha falado do risco a que o Alaba se estava a expor uns minutos antes. Aproveitou um golo que nada teve a ver com isso para justificar a ideia anterior.

PicaretaLeonina diz: "Um bocado offtopic, mas o que achas do Dortmund do Tuchel e mais especificamente do Mkhitaryan? Deve ser dos jogadores mais subvalorizados no futebol europeu, talvez por não se acompanhar assim tanto a Bundesliga quanto isso. Não vejo muitos médios-ofensivos melhores que ele por aí, sinceramente..."

Gostava de ter tempo para ver o Dortmund com atenção. Tirando os jogos com o Bayern, tenho visto apenas parcialmente. Mas gosto muito. Aliás, acho que me agrada mais do que a equipa do Klopp. E, se não perderem ninguém importante, acho que podem lutar pelo título com o Bayern para o ano. Quanto ao Mikhitaryan, acho que melhorou muito no último ano. Quando chegou ao Dortmund, achava que lhe faltava alguma criatividade. Era muito disponível, rápido a pensar, inteligente e tecnicamente dotado, mas achava que lhe faltava pensar fora da caixa. Os seus movimentos e as suas decisões eram, para o meu gosto, excessivamente padronizados. É possível que isso tivesse a ver com o modelo anterior, e com a função que desempenhava. Neste modelo, parece mais solto e, ao mesmo tempo, mais próximo de alguns colegas com os quais aparece a combinar. Neste momento, está feito um grande jogador. Há outro jogador na Alemanha de quem espero muito, mas que acho que não está inserido no modelo certo: o Çalhanoglu do Leverkusen.

Gonçalo Matos Ramos diz: "escreveste o melhor texto sobre o Eusébio que eu alguma vez li. Muito superior às palavras de circunstância do costume.

Neste sentido, lanço-te o desafio para que faças o mesmo em relação ao Cruyff, salientando a importância dele no delinear do so-called "Futebol Total", na filosofia do Barcajax e na influência alegadamente exercida sobre Guardiola."

Gonçalo, obrigado. Fico contente. Devo dizer que o texto sobre o Eusébio me saiu um bocado sem pensar. Isto é, não é o tipo de texto que normalmente escrevo aqui. É sobre a minha relação com o Eusébio, que não é nada de extraordinária, visto que não o vi jogar, e sobre aquilo que me parece ser tipicamente a relação de um vulgar adepto de futebol com um ídolo do qual só ouviu falar, só leu ou só viu meia-dúzia de lances em registo. A minha relação com o Cruyff, pelo menos enquanto jogador, não é muito diferente. Mas há depois o lado de Cruyff enquanto treinador e, mesmo como jogador, enquanto representante de uma coisa muito importante. Esse lado merece referência, mas merece mais do que a referência do costume, que é falar na ideia abstracta de "futebol total", fazendo incluir nessa ideia tudo aquilo que vagamente se pensa acerca desse conceito. Gostava muito de ter tempo, nos próximos dias, para escrever uma coisa sobre ele, mas não sei se terei. Aliás, andava para escrever uma coisa especificamente sobre a final do Mundial de 1974 que agora não sei se fará sentido. Veremos.

Anónimo disse...

- Nuno diz: “Achas mesmo que conjecturar acerca dos motivos pelos quais o Sacchi não gosta do Allegri é invocar a opinião de alguém como argumento de autoridade??”
Não, não é. Mas não foi isso que fizeste. Largaste o magister dixit a meio duma invetiva contra o Freitas Lobo (amiúde tolo, reconheça-se), e nada mais. Podemos é ficcionar que o fizeste. Vamos pois imaginar que o Nuno efetivamente cotejou as ideias do Sacchi com a abordagem de jogo revelada pela Juventus face ao Bayern, e com isso pôde concluir quais as opções táticas do Allegri que, à partida, o Sacchi repudia. Problema: conforme ilustra o artigo que citei, o Sacchi da vida real, aquele que existe fora da cabeça do Nuno, disse que a abordagem do Allegri contra o Bayern foi um brinco. Como se resolve esta contradição? Não sei; o Nuno é que é o mestre ilusionista. Ainda a este respeito, disse o Guilherme que o Sacchi terá elogiado o Allegri numa lógica de auto-preservação. O Sacchi preocupado com aquilo que pensam dele? Preocupado em ser politicamente correto? O Sacchi?! Pois…

- Nuno diz: “O Zonal Marking não percebe nada do jogo que tenta comentar” (…) Mais uma perspectiva que não é capaz de dissociar os golos a que a Juventus chegou (e a marcha do marcador) das competências exibidas em campo.”
Já sabemos que a inteligência e as competências analíticas são exclusivas do Nuno e de quem quer que seja que se identifique com as suas ideias. Eu estou com ele: que alguém dê ao Bruno “Zidane” Pereirinha a Bola de Ouro que sempre mereceu. Anyways, não é verdade que o artigo do zonalmarking, e muito menos os outros dois que foram citados, façam o que o Nuno diz. Pior, a crítica vem de alguém que, a contrario, é incapaz de associar os golos da Juventus, e tudo o resto que a equipa fez em campo, a qualquer sombra de competência. Nada de positivo no jogo da Juventus foi preparado ou intencional, apenas o negativo. Já sei, já sei: “quando as coisas correm bem”. O mérito dos artigos do spielverlagerung, do earlyshower, e mesmo do zonalmarking (sendo o mais fraco dos três), é que pegam na abordagem da Juventus nos seus próprios termos. O que é que a Juventus tentou fazer, o que é que conseguiu efetivamente fazer, e como é que isso impactou no jogo? Já o Nuno, porque considera a priori errada grande parte da ideia de jogo da Juventus, nada mais faz que denunciar a dimensão do erro. O que não é um exercício fácil, diga-se, atendendo ao que se passou em campo. Mas exatamente porque não é fácil, tão necessário se torna, sob pena de que se ponha em causa o dogma futebolístico do Nuno. (cont)

Anónimo disse...

Façamos um exercício: vamos imaginar que o Bayern não tinha conseguido marcar golos no tempo regulamentar, naquela fase final em jogou em modo “enfarte de cruzamentos” à SLB do RV @ Agosto2015. O que mudaria na análise do Nuno? Pouco ou nada dirá ele. Ora, o Bayern teria sido eliminado em casa pela Juventus, sem nunca ter conseguido impor verdadeiramente o seu futebol em 90mins de jogo, e o Nuno diria exatamente o que disse. Isso seria razoável? Não, não seria, tal como não é razoável que o Nuno o diga agora face ao que efetivamente se passou em termos de marcador. Que os golos, a marcha do marcador, não obscureça aquilo que se passou em campo digo eu, citando aliás o Nuno. Incompreensível que ele o faça apenas para desvalorizar o que fez a Juventus, e não para o que fez o Bayern. Ou melhor, compreensível face àquilo que é a sua intenção. Porque, contrariamente ao que fazem o spielverlagerung, o earlyshower e o zonalmarking, e independentemente dos respetivos méritos, o método de trabalho do Nuno não é analítico. Ele mascara de análise o que é apenas uma afirmação acrítica das suas crenças futebolísticas mais profundas, e assim procura afirmar como verdade universal, objetivamente válida, aquilo que não é mais que uma preferência, a sua preferência. Diz solenemente o Nuno da Juventus: “meus senhores, embora tal possa não ser evidente para vós, é assim que NÃO se joga futebol, porque X, Y, Z”, sendo que X, Y, Z sustentam o que o Nuno disse e o seu contrário. E desse modo tenta fazer passar por ciência informada, por conhecimento, o que apenas é - nos termos em que ele o faz e como o título do seu post deliciosamente sugere - uma discussão de preferências estéticas, uma discussão de gosto. Pior ainda, tenho a convicção que o Nuno nem sequer é coerente na sua preferência estética; digamos que gosta mais de determinados pintores do que doutros, e não pela obra mas sim, vamos lá, pela simpatia ou pela estampa dos tipos. Ou alguém acredita que se fosse uma equipa do Bielsa (génio, reconheça-se) a apresentar - como já aconteceu - ideias defensivas comparáveis às desta Juventus, a reação do Nuno seria igual?
Ainda a este respeito, disse o Gulherme: "como a maioria dos ingleses, completa ignorancia sobre o que é defender hxh ou à zona. Alias, o nome do blog diz tudo: 'zonal marking'..."; o que mereceu a concordância do Nuno. Sinceramente, ou o vosso desconhecimento e soberba são babilónicos, ou estão de má-fé. Em qualquer dos casos, shame on you.

Anónimo disse...

- Pedro Gama diz: "Post do meu blog, que penso que vai de encontro com o excelente Entre Dez"; Nuno responde “Muito bom”.
Não querendo questionar ou pôr em causa o que quer que seja no contributo do Pedro, gostaria apenas de contar uma história pessoal de que me lembrei a este propósito: há uns anos atrás, um conhecido meu, bastante crítico da análise futebolística via fotogramas & cromo do Photoshop, apostou com outro colega uma espécie de prova cega. Imagens escolhidas e isoladas do comportamento defensivo, por um lado, do Setúbal do Azenha no célebre 8-1 da Luz, por outro, dum jogo qualquer do Barça do Guardiola nessa mesma época; em ambos os casos, naturalmente, com as equipas e jogadores manipulados/irreconhecíveis. Sei que parece inacreditável, mas é de facto possível fazer o Porta da Ravessa passar por Pêra-Manca, e vice-versa.

- Miguel Pinto diz: "Mas também continuo a pensar que a principal razão tem um nome: vidal. É contra natura ter um gajo destes a tentar corporizar a ideia de jogo do pep."; Nuno responde: “Também acho difícil o Vidal dar alguma coisa de bom a esta equipa.”
Tema interessante, mas estranho a forma como tanto o Miguel como o Nuno o abordam. De mim para mim, eu inverto a pergunta: porque é que o Guardiola assentiu na contratação e parece confiar num jogador cujos atributos, nas funções que lhe são atribuídas, parecem ir contra aquilo que se associa normalmente à ideia “guardiolista” para aquela posição. É óbvio que, em última análise, Guardiola pode estar a ver mal a coisa; mas sou forçado a ter isso como explicação de último recurso. Embora não tenha uma tese muito sólida para oferecer a este respeito, gosto de pensar que a aposta em Vidal, a par dum punhado de outros “contra-sensos” deste Bayern, ilustram de algum modo a exata dimensão do génio de Guardiola; o génio permeável e aberto, o génio ávido, o génio insatisfeito. Alguém que põe o mundo de pantanas mas nem por isso acha que o seu trabalho está feito de uma vez por todas; alguém sempre disponível para aquilo que pode ser, porventura, retocado ou aperfeiçoado. Partir do princípio que Vidal e algumas outras coisas deste Bayern são erros negligentes do Guardiola faz-me lembrar aquela personagem do Lagerkvist, o anão que tanto idolatra e se identifica com o príncipe cuja corte integra que, a partir de certo ponto, se convence que é ele e apenas ele quem sabe o que é melhor para o príncipe, ainda que este último ordene expressamente o contrário; que é ele, o anão, e não a consciência do próprio príncipe, quem melhor interpreta e serve os interesses do seu Senhor.

- Nuno diz: “Não sei. Depende de muita coisa. Depende do que o Rui Vitória pensar, da recuperação de alguns jogadores do Bayern até lá, e das circunstâncias.”
Então Nuno? Tão dócil? Desde logo, aquilo que o RV pensa ou não acerca do jogo vale zero; cito-te: “Não preciso de ter acesso aos treinos para perceber, comparando comportamentos de jogadores diferentes, comportamentos dos mesmos jogadores em jogos diferentes, e, no fundo, olhando para o jogo, para perceber que o Rui Vitória não trabalha (além do que é trivial) especialmente esse tipo de coisas (...) O Rui Vitória não impõe nem um determinado tipo de movimentos, nem o seu contrário. Deixa ao critério dos jogadores.”

P.S. Prossegue a saga do Humpty Dumpty. Sério, Nuno, é mais provável que eu seja o teu verdadeiro pai que esse Humpty Dumpty de que falas. Mas já pus as cartas na mesa no último post: insistes na bovinidade e o pai cala-se, pelo menos até ao post seguinte. Um autêntico lápis-azul, portanto. No fundo, tudo isto é a modos que habermasiano: se insistes em negar a personalidade/dignidade do teu interlocutor, então é como se não tivesses realmente interlocutor. Boa continuação para os restantes.
P.S.2. Apoio a sugestão do Gonçalo. Apesar das evidentes diferenças de opinião – ou talvez, precisamente por causa das mesmas –, também eu gostaria de ler um memorial/reflexão do Nuno acerca do Cruyff. E isto, espero que se entenda, sem qualquer tipo de cinismo ou reserva mental da minha parte.

Nuno disse...

Humpty Dumpty diz: "Largaste o magister dixit a meio duma invetiva contra o Freitas Lobo (amiúde tolo, reconheça-se), e nada mais"

Humpty Dumpty, eu posso lembrar que alguém formulou uma opinião sobre alguma coisa implica escusando-me de averiguar as razões pelas quais formulou essa opinião, ou não? O Sacchi criticou o Allegri. Eu acho que o Allegri merece ser criticado. Mesmo que não seja por razões idênticas, parece-me que posso referir a crítica do Sacchi. Já pensaste que, se calhar, é por embirrações parvas destas que te chamo Humpty Dumpty?

"Anyways, não é verdade que o artigo do zonalmarking, e muito menos os outros dois que foram citados, façam o que o Nuno diz."

Desculpa, mas é. É só isso. E um texto que parte do pressuposto de que os três ou quatro lances que definem um jogo são necessariamente o reflexo das centenas de lances que um jogo tem é um texto que não me interessa levar a sério.

"Pior, a crítica vem de alguém que, a contrario, é incapaz de associar os golos da Juventus, e tudo o resto que a equipa fez em campo, a qualquer sombra de competência"

Pois, não me parece que tenhas percebido bem o texto. O segundo golo, por exemplo, é mérito quase exclusivo do Morata (por acaso, tinha pensado mais um ponto sobre o Allegri, que era a estupidez de ter deixado Morata no banco no jogo da primeira mão). O que eu fiz não foi recusar a associação desses golos à competência da Juventus; foi recusar associá-los às competências colectivas. Nesse caso, o segundo golo não foi mérito da transição ofensiva da Juventus nem demérito da transição defensiva do Bayern. Foi mérito de um gajo.

"Nada de positivo no jogo da Juventus foi preparado ou intencional, apenas o negativo"

O que é que, então, houve de positivo na preparação do jogo da Juventus? É que, para mim, perseguições ao homem em todo o campo não é positivo. Pode ser para ti, mas ainda não percebi.

"Já o Nuno, porque considera a priori errada grande parte da ideia de jogo da Juventus, nada mais faz que denunciar a dimensão do erro"

Claro que considero. Marcações homem a homem, a abrir brechas absurdas entre sectores e entre elementos do mesmo sector, é errado desde o princípio. Pode-se ganhar assim, e a Juventus quase que o conseguia. Mas não deixa de ser mau por isso.

"Façamos um exercício: vamos imaginar que o Bayern não tinha conseguido marcar golos no tempo regulamentar, naquela fase final em jogou em modo “enfarte de cruzamentos” à SLB do RV @ Agosto2015. O que mudaria na análise do Nuno? Pouco ou nada dirá ele."

O que é que mudava, se o Muller se tivesse atrasado para dar seguimento àquele cruzamento do segundo golo? Rigorosamente nada, além de o Muller se ter atrasado nesse lance e não ter feito o 2 a 2. Uma análise honesta não pode ser influenciada por dois ou três lances em centenas.

"Ora, o Bayern teria sido eliminado em casa pela Juventus, sem nunca ter conseguido impor verdadeiramente o seu futebol em 90mins de jogo, e o Nuno diria exatamente o que disse. Isso seria razoável?"

Mas quem é que disse que não impôs? Na primeira parte impôs. Saiu a perder 2 a 0 para o intervalo, mas impôs o seu jogo. Faltou-lhe alguma criatividade na segunda fase de construção, é certo, mas impôs o seu jogo.

Nuno disse...

"contrariamente ao que fazem o spielverlagerung, o earlyshower e o zonalmarking, e independentemente dos respetivos méritos, o método de trabalho do Nuno não é analítico. Ele mascara de análise o que é apenas uma afirmação acrítica das suas crenças futebolísticas mais profundas"

Presta atenção à análise concreta do lance em que o Vidal aparece solto dentro da área e falha a recepção. Ao analisar esse lance, explico por que motivo ele se originou, criticando a organização defensiva da Juventus. Queres discutir esse lance? Eu usei esse lance como exemplo, para justificar por que razão a Juventus não defendeu bem. O argumento é simples: uma equipa que defende assim não defende bem. Tu achas que aquilo que digo sobre o lance advém das minhas crenças e, portanto, não tem validade analítica. Portanto, achas que a Juventus defendeu esse lance bem?

"E desse modo tenta fazer passar por ciência informada, por conhecimento, o que apenas é - nos termos em que ele o faz e como o título do seu post deliciosamente sugere - uma discussão de preferências estéticas, uma discussão de gosto."

Não, Humpty Dumpty, não. O título é um citação de um texto do Álvaro de Campos: "Apontamentos para uma Estética não-aristotélica". O título não sugere uma discussão estética, como deliciosamente pensas. Mas serviu bem para que fizesses figura de parvo.

"Pior ainda, tenho a convicção que o Nuno nem sequer é coerente na sua preferência estética; digamos que gosta mais de determinados pintores do que doutros, e não pela obra mas sim, vamos lá, pela simpatia ou pela estampa dos tipos. Ou alguém acredita que se fosse uma equipa do Bielsa (génio, reconheça-se) a apresentar - como já aconteceu - ideias defensivas comparáveis às desta Juventus, a reação do Nuno seria igual?"

As ideias defensivas do Bielsa são antiquadas.

Ainda a este respeito, disse o Gulherme: "como a maioria dos ingleses, completa ignorancia sobre o que é defender hxh ou à zona. Alias, o nome do blog diz tudo: 'zonal marking'..."; o que mereceu a concordância do Nuno. Sinceramente, ou o vosso desconhecimento e soberba são babilónicos, ou estão de má-fé. Em qualquer dos casos, shame on you"

Realmente, não foi nada à Humpty Dumpty, este comentário.

"há uns anos atrás, um conhecido meu, bastante crítico da análise futebolística via fotogramas & cromo do Photoshop, apostou com outro colega uma espécie de prova cega. Imagens escolhidas e isoladas do comportamento defensivo, por um lado, do Setúbal do Azenha no célebre 8-1 da Luz, por outro, dum jogo qualquer do Barça do Guardiola nessa mesma época; em ambos os casos, naturalmente, com as equipas e jogadores manipulados/irreconhecíveis. Sei que parece inacreditável, mas é de facto possível fazer o Porta da Ravessa passar por Pêra-Manca, e vice-versa".

Sabes porquê? Porque tu achas que há factos. Achas que uma fotografia, como um dado estatístico, possui conteúdo epistémico. Não possui. É a interpretação da fotografia que lhe determina o conteúdo. A fotografia que está ali em cima, em que o Maradona tem 6 belgas horrorizados a olhar para ele, parece sugerir uma desorganização ofensiva absurda dos belgas. Mas era só uma barreira que acabara de se desfazer.

Nuno disse...

"De mim para mim, eu inverto a pergunta: porque é que o Guardiola assentiu na contratação e parece confiar num jogador cujos atributos, nas funções que lhe são atribuídas, parecem ir contra aquilo que se associa normalmente à ideia “guardiolista” para aquela posição"

Em primeiro lugar, o Vidal está a jogar agora, mas não foi opção durante boa parte da época. Em segundo lugar, reza a lenda de que o Guardiola não assentiu na contratação, e que foi uma das razões que o levou a não querer permanecer na Baviera. Em terceiro lugar, que posição? O Vidal fez 2 posições diferentes contra a Juventus. Como médio ofensivo, o Guardiola sempre teve no plantel um médio com características parecidas, ao qual dava bastantes minutos: o Keita no Barça. Como médio-defensivo, o Vidal fez pouquíssimos jogos e não é, de todo, primeira opção.

"Embora não tenha uma tese muito sólida para oferecer a este respeito, gosto de pensar que a aposta em Vidal, a par dum punhado de outros “contra-sensos” deste Bayern, ilustram de algum modo a exata dimensão do génio de Guardiola; o génio permeável e aberto, o génio ávido, o génio insatisfeito. Alguém que põe o mundo de pantanas mas nem por isso acha que o seu trabalho está feito de uma vez por todas; alguém sempre disponível para aquilo que pode ser, porventura, retocado ou aperfeiçoado".

Uma vez que o Vidal não tem sido a aposta que tu pensas que tem sido, estas 5 linhas eram escusadas. O disparate em que elas consistem também.

"Então Nuno? Tão dócil? Desde logo, aquilo que o RV pensa ou não acerca do jogo vale zero; cito-te: “Não preciso de ter acesso aos treinos para perceber, comparando comportamentos de jogadores diferentes, comportamentos dos mesmos jogadores em jogos diferentes, e, no fundo, olhando para o jogo, para perceber que o Rui Vitória não trabalha (além do que é trivial) especialmente esse tipo de coisas (...) O Rui Vitória não impõe nem um determinado tipo de movimentos, nem o seu contrário. Deixa ao critério dos jogadores.”

Humpty Dumpty, o que é que isto tem a ver com a opção estratégica do RV para Munique? Já começou jogos com o bloco alto e fê-lo baixar depois de estar em vantagem, e já começou jogos com o bloco baixo. Não sei qual das opções vai tomar. Isso não invalida que não continue a achar que o RV não trabalha "especialmente esse tipo de coisas", ou seja, as movimentações específicas dos seus jogadores mais ofensivos.

"Prossegue a saga do Humpty Dumpty. Sério, Nuno, é mais provável que eu seja o teu verdadeiro pai que esse Humpty Dumpty de que falas."

Se usasses o teu nome verdadeiro, eu ainda compreendia que ficasses ofendido por te chamarem outra coisa. Mas não usas. Pareces aqueles miúdos que quer à força que os outros o tratem pela alcunha que escolheu. As alcunhas não se escolhem. A mim apetece-me chamar-te Humpty Dumpty. Tenho boas razões para isso. E achas que ainda não te deste ao trabalho de tentar perceber quais são. Mas se quiseres também te posso chamar Virgem Ofendida.

"Mas já pus as cartas na mesa no último post: insistes na bovinidade e o pai cala-se, pelo menos até ao post seguinte. Um autêntico lápis-azul, portanto. No fundo, tudo isto é a modos que habermasiano: se insistes em negar a personalidade/dignidade do teu interlocutor, então é como se não tivesses realmente interlocutor. Boa continuação para os restantes."

Portanto, se eu te chamar rinusmichels, com letra minúscula, e não Humpty Dumpty ou Virgem Ofendida, estou a negar a tua personalidade e a tua dignidade, é isso? Vai certo...

L. A. Vicente disse...

boas,

o vosso conteúdo é optimo, a experiência de leitura é horrível. ainda por cima têm textos muito interessantes mas longos. eu não sou nenhum expert, mas aconselhava-vos a mudar o design. tentem ter uma visualização parecida à do Expresso, por exemplo.
Como não vos consigo contactar em mais lado nenhum, foi por aqui.

Grande abraço.
(não trabalho no expresso)

Unknown disse...

Primeiro, uma declaração de interesses: eu sou adepto do Bayern (e considero o Guardiola o maior génio estratégico do futebol mundial dos últimos 357 anos).
Aprecio as vossas análises embora não concorde com muitas coisas. Neste momento, não tenho tempo para deixar um comentário mais elaborado, por isso vou apenas referir aqui algumas ideias que gostaria de ver contestadas.
1º No decorrer do jogo eu, um pessimista inveterado, sempre tive a sensação que o meu Bayern ganharia a eliminatória.
2º Apenas gostei de Neuer, Thiago, Douglas Costa e Coman -recordo que o momento decisivo do jogo é, para mim, a defesa assombrosa(?) de Neuer a evitar o 0-3 por Cuadrado -.
3ºA Juventus é, depois do Atlético de Madrid de Simeone, e porque o futebol é o desporto colectivo com mais percentagem de aleatoriedade, a equipa mundial mais difícil de vencer.
4º Considero extremamente preocupante a enorme quantidade de erros-não forçados cometidos pelos alemães durante a era Guardiola.
5º A única explicação que encontro para o facto de o Bayern de Guardiola ser, com muita pena minha, muito inferior ao Barcelona de Guardiola é que Dani Alves, Piqué, Busquets, Xavi, Iniesta e Messi jogaram, e jogam - ainda alguns -, apenas pelos catalães.(E não vou falar sequer da vantagem que é ter o Neuer no lugar do Valdés e de como admiro imenso Lahm, Boateng, Vidal, Alaba, Muller e Robben.) Como é óbvio, agradecia outras explicações da vossa parte.

Antonio disse...

Mais um artigo excelente em que se opta por elogiar quem se admira e não deitar abaixo quem não se gosta https://footballhunting.wordpress.com/2016/03/31/bayern-munich-ataquemos-despacio-que-tenemos-prisa/

Nuno disse...

L. A. Vicente diz:

"o vosso conteúdo é optimo, a experiência de leitura é horrível. ainda por cima têm textos muito interessantes mas longos. eu não sou nenhum expert, mas aconselhava-vos a mudar o design. tentem ter uma visualização parecida à do Expresso, por exemplo."

Para dizer a verdade, nunca quis perder muito tempo com o grafismo do blogue. Escolhi uma coisa simples, principalmente para facilitar a leitura. É possível que a experiência de leitura não seja a melhor, e lamento se assim for. Não é decerto, porém, a pior experiência do mundo. Neste momento, não tenho tempo para investir nessa parte. Se tivesse tempo para escrever regularmente no blogue, já me dava por satisfeito.

Jorge Breitner diz: "2º Apenas gostei de Neuer, Thiago, Douglas Costa e Coman -recordo que o momento decisivo do jogo é, para mim, a defesa assombrosa(?) de Neuer a evitar o 0-3 por Cuadrado"

Sim, o Bayern não fez um jogo extraordinário. Gostei do trabalho do Muller sem bola, mas raramente os companheiros o procuraram. Quanto ao momento decisivo, e se o Vidal recebe aquela bola como deve ser?

"3ºA Juventus é, depois do Atlético de Madrid de Simeone, e porque o futebol é o desporto colectivo com mais percentagem de aleatoriedade, a equipa mundial mais difícil de vencer."

A equipa mais difícil de vencer ou a equipa mais difícil de contrariar defensivamente? É que a equipa mais difícil de vencer, para mim, é necessariamente a melhor equipa. E nesse aspecto o Barça está bem à frente.

"4º Considero extremamente preocupante a enorme quantidade de erros-não forçados cometidos pelos alemães durante a era Guardiola."

É verdade, mas acho que tem sobretudo a ver com a qualidade dos intervenientes na linha defensiva. É preciso não esquecer que o modelo de Guardiola expõe muito os seus defesas. Se forem jogadores pouco rotinados, ou tecnicamente mais incapazes, têm mais dificuldades. Não obstante, devo dizer que ainda não vi nenhum defesa do Bayern cometer a quantidade de erros que o Mascherano no Barça de Guardiola.

"5º A única explicação que encontro para o facto de o Bayern de Guardiola ser, com muita pena minha, muito inferior ao Barcelona de Guardiola é que Dani Alves, Piqué, Busquets, Xavi, Iniesta e Messi jogaram, e jogam - ainda alguns -, apenas pelos catalães.(E não vou falar sequer da vantagem que é ter o Neuer no lugar do Valdés e de como admiro imenso Lahm, Boateng, Vidal, Alaba, Muller e Robben.) Como é óbvio, agradecia outras explicações da vossa parte."

Acho que há várias explicações. Em primeiro lugar, um meio-campo com Busquets, Xavi e Iniesta é difícil de igualar. E aí acho que se explica o principal defeito desta equipa, a de não conseguir índices de criatividade em zonas interiores tão altos como poderia. Mas há outras explicações. A quantidade de lesões que o Bayern teve o ano passado, e este ano também. Nunca na Catalunha Guardiola enfrentou uma realidade desse género. E isso condiciona, obviamente, uma equipa. De resto, podemos separar duas coisas: os níveis da equipa e o nível do trabalho do treinador. No segundo aspecto, creio que Guardiola esteve a um nível muito semelhante. A flexibilidade táctica desta equipa é extraordinária. Não tem intervenientes tão decisivos, falta-lhe alguma criatividade no meio-campo e tem tido muito mais lesões, mas o seu trabalho tem sido excepcional. Eu não consigo apontar-lhe praticamente nada.

Nuno disse...

Antonio diz: "Mais um artigo excelente em que se opta por elogiar quem se admira e não deitar abaixo quem não se gosta"

Antonio, toda a gente elogiou o trabalho do Allegri. Se as pessoas tivessem visto que o que a Juventus fez em campo foi horrível a todos os níveis, eu não precisava de deitar abaixo o Allegri. Agora, do facto de eu gostar de Shakespeare segue-se obrigatoriamente que não goste de José Luís Peixoto. Porquê? Porque a qualidade do primeiro me obriga a subir os padrões. Se aceito como válido aquilo que o Allegri faz enquanto treinador, estou a menosprezar o que o Guardiola propõe. Respondendo directamente à tua insinuação: não, na verdade não podia ter elogiado quem admiro sem ter deitado abaixo quem não gosto. Uma coisa obriga à outra.

Unknown disse...

Obrigado, Nuno, pela resposta célere. Apenas para fazer um rápido ponto da situação: acho que invocares a situação do Vidal é um contra-senso em relação ao que todos admirámos no objectivo de Guardiola - enquanto Mourinho vive à custa , e procura promover, tudo o que é factor aleatório (interno e externo) ao jogo, o de Santpedor tem como objectivo eliminar dentro do possível a influência dos factores aleatórios no jogo. (Aproveito para dizer que mais do que Cruyff, e do que do muitas vezes injustamente esquecido Névio Scala, Pep foi o treinador que mais fez evoluir o futebol.) A Juventus, quando joga para não perder um jogo, é uma equipa mais difícil de vencer do que o Barcelona que, como sabemos, joga sempre para ganhar.Infelizmente no futebol, quando se joga para ganhar, muitas vezes perde-se. E, quando se joga para não perder, demasiadas vezes consegue-se alcançar esse objectivo (indo além do empate e ganhando, inclusive). Sim, as lesões são, e foram, incontornáveis. Sei também que a maior parte das lesões traumáticas dependem quase exclusivamente da (má) sorte. Mas fico fulo com a enorme quantidade de lesões que o Bayern, o Dortmund de Klopp e o Arsenal de Wenger (tudo equipas que têm uma ideia bem arreigada de futebol ofensivo) tiveram em anos anteriores, enquanto o vergonhoso Chelsea do psicopata de Setúbal foi campeão a época passada sem praticamente nenhum perna-de-pau lesionado. Por último, deixo aqui uma, para mim, evidência que gostaria que servisse de reflexão: sem Busquets, Xavi, Iniesta e Messi, o modelo de Guardiola perde muita efectividade. Robben, o meu jogador preferido, não é Messi. E Thiago Alcântara, o que há de mais parecido com uma espécie de herdeiro de Xavi, não chega para tudo. Assim, o que eu esperava de Pep é que tivesse sido mais flexível e astuto. E não lhe faltaram lições para que aprendesse isso (a mais flagrante foi o 0-4 contra o Ancelotti).

Unknown disse...

A propósito do clássico Barcelona-Real Madrid de sábado, lembrei-me dos três anos em que o imbecil que (para alguns tolos) é uma espécie de Némesis de Guardiola foi humilhado em Espanha. Todos sabemos o que Roberto Palomar e Diego Torres pensam do personagem. Ou Valdano e Angel Cappa e Cruyff. Mas a análise mais perspicaz sobre "o melhor do mundo" a rasgar a camisola de Rui Jorge e a meter o dedo no olho de Tito Vilanova li-a eu na iconoclasta caixa de comentários d'A Causa Foi Modificada, do maradona com m minúsculo. Ei-la:


"O discurso simultaneamente delirante e chorão de Zequinha Tradutor visa alcançar três objectivos facilmente identificáveis: desculpa; condicionamento; manobra de diversão. Atendendo aos distúrbios mentais (uma megalomania paquidérmica) de que padece, acredito que nenhum destes objectivos tenha ascendência sobre os demais - assim, a ordem pela qual os enumero é da minha exclusiva responsabilidade.

Desculpa - Justificar o mau resultado obtido. O Tradutor nunca deixou de ganhar um jogo por culpa e erros próprios. Os seus empates e derrotas são sempre devido a factores externos a ele; é claro que os seus jogadores são, às vezes, um desses factores. Quem não se lembra de: Unicef, dinossauros, calendário, Pai Natal, árbitros, aquecimento global, falta de empenhamento dos seus jogadores, Primavera Árabe, Uefa e G. W. Bush?

Condicionamento - Ao contrário de todos os outros treinadores que, legitimamente, apenas querem não ser prejudicados por factores externos no geral e pela arbitragem em particular, o Tradutor (e aqui, de forma irónica, ele quase faz jus ao epíteto "The Special One" - mais abaixo, explico o "quase") quer mais: por saber que os árbitros, voluntária ou involuntariamente, podem influenciar os resultados e por ter noção de que o futebol praticado pelas suas equipas é limitado, Zequinha quer (e precisa de) ser beneficiado. Por isso, o seu discurso é extraordinariamente agressivo quando os árbitros cometem erros e, sobretudo, quando não o beneficiam (mesmo tendo tomado as decisões acertadas!). O Tradutor cria na opinião pública - e, muuitas vezes, em alguma opinião publicada também - a sensação de que é prejudicado. Os árbitros dos jogos futuros ficam condicionados, assim, a fazerem tudo para beneficiá-lo e, consequentemente, não serem as futuras vítimas dos violentos ataques dele. Numas linhas acima, disse que ele, neste quesito, era quase "The Special One". Quase Porquê? Porque por mais estranho que pareça a quem não tem a mínima pachorra para acompanhar o futebol português (inequívoca demonstração de bom senso!), todos sabemos que,embora ele tenha aperfeiçoado este método até ao paroxismo, o mentor da estratégia foi e é o Papa das Antas. (Pinto da Costa "inventou" esta estratégia mas nunca utilizou, pelo menos de forma tão sistemática quanto Zequinha, os objectivos "desculpa" e "manobra de diversão". O objectivo do F.C.Porto, que sempre teve a convicção de ter sido prejudicado durante muitos anos, sempre foi, quase exclusivamente, o "condicionamento".)

Unknown disse...

(Continuacão:)


Manobra de diversão - Zequinha (tal como a maior parte dos adeptos que gostam de "pensar" o futebol) tem perfeita noção das limitações técnico-tácticas que tem e, por consequência, de que a sua carreira de treinador está, a breve trecho, inexoravelmente condenada ao fracasso. Falta-lhe a quase totalidade das capacidades que têm os Guardiolas e Klopps desta vida. Analisemos um jogo do Chelsea - um qualquer, embora seja mais instrutivo um que seja contra uma equipa pequena! - e facilmente chegaremos à conclusão de que o nível de jogo dos londrinos é confrangedor. Ora, Zequinha tem disso plena consciência e vive no pânico de, se esse assunto começar a ser discutido de forma séria, ser desmascarado. Assim, como manobra de diversão, recorre ao folclore: queixas e teorias da conspiração inefáveis; mau carácter e "sound bites" ridículos; desculpas e "mind games" patéticos são um cocktail que atrai, e distrai, os pueris imprensa e adeptos - tudo para desviar a atenção do cerne da questão : o futebol praticado pelas equipas por ele treinadas(?) é, por sua culpa, rudimentar.
Ao contrário de Zequinha Tradutor, cujo discurso está eivado de erros factuais (chegou a afirmar que tinha ganhado uma Supertaça Espanhola a Guardiola; ganhou essa prova sim - e sabe Deus como! - mas a Tito) , tudo o que aqui escrevi - com a excepção das palavras "dinossauros", "Pai Natal", "aquecimento global", "Primavera Árabe" e "G.W. Bush" - é factualmente exacto."

Tratador irado disse...

Bom dia a todos,

Começar por dizer que desde a primeira hora que digo a alguns amigos próximos que o Nuno é um comentador como há poucos. Lembra-me o grande doutor Leiria que lá no Ultramar nos meteu a jogar em MW contra a seleção dos Convalescentes. Havia lá nos Convalscentes um que era o Tomé que era caceteiro e a cada entrada do pobre Tomé ele dizia que era amarelo e ria-se muito sozinho. Só depois soubemos que o Tomé tinha icterícia. O que nos rimos à conta dessa.
Bem, no fundo era só para dizer que gosto muito do Nuno mas que se hoje metermos uma ou duas batatas naquele Neuer (a mim ninguém me tira da ideia que esse, apesar de ser germânico, é maricas) eu e o Esteves vamos disparar umas espingardadas para a porta do conceituado analista.

Obrigado e bom trabalho a todos,
Luís Silva

Unknown disse...

Off-topic

Nuno, tenho só uma pequena pergunta para ti.
Qual a característica que achas se fosses treinador e se fosses contratar um jogador mais valor davas?
Por exemplo entre inteligência,criatividade,técnica,tomada de decisão e velocidade de pensamento/execução?
E se achas que das caracteristicas que mencionei, devia ser mais alguma acrescentada?

Nuno disse...

The Beast OnFire diz: "Qual a característica que achas se fosses treinador e se fosses contratar um jogador mais valor davas?
Por exemplo entre inteligência,criatividade,técnica,tomada de decisão e velocidade de pensamento/execução?"

A características de que não prescindo, seja para que posição for, é a inteligência (subentendendo que a inteligência pressupõe a tomada de decisão). Se puder juntar a isso criatividade, melhor. Mas, lá está, depende muito da posição. Para defesa central, não faria tanta questão de ter um jogador criativo como para médio-ofensivo. De qualquer modo, uma equipa (como eu entendo que uma equipa deve ser) deve ser constituída por jogadores inteligentes, criativos e tecnicamente dotados. Se estas características se verificarem, quase todas as outras são secundárias.

Unknown disse...

Nuno,

Então por exemplo na questão da definição, como a velocidade de pensamento/execução, nao terias tanto em conta?
Inteligente pressupõe tomada de decisão mas também inteligente nas movimentações, por exemplo no caso do ponta de lança,perceber se deve sair em rutura ou baixar para dar apoio, pelo menos é assim que vejo posso estar errado.

Obrigado e Cumprimentos

Unknown disse...

E inteligência tambem em perceber o que fazer em todos os momentos de jogo, seja em organização tanto ofensiva como defensiva e nas transições. Por exemplo em organização ofensiva saber ler o jogo e o que é melhor para a sua equipa e em organização defensiva ser inteligente no posicionamento,isto é pelo menos a minha ideia e não sou nenhum entendido na matéria.

Anónimo disse...

Nuno,

está na hora de um texto sobre a eliminatória do Bayern-Benfica, por favor.


Abraço,

Gonçalo.

Nuno disse...

The Beast on Fire diz: "Então por exemplo na questão da definição, como a velocidade de pensamento/execução, nao terias tanto em conta?"

Sim, teria. Mas tenho algumas dificuldades em separar a inteligência disso.

"Inteligente pressupõe tomada de decisão mas também inteligente nas movimentações, por exemplo no caso do ponta de lança,perceber se deve sair em rutura ou baixar para dar apoio"

Sim, mas como não há jogadores bons na tomada de decisão que não sejam inteligentes, é um bocado redundante falar de duas características. Se pensarmos na tomada de decisão enquanto a manifestação da inteligência com bola e na movimentação enquanto manifestação da inteligência sem ela, não precisamos de falar em inteligência enquanto característica específica.

Pedro Lingueiral diz: "está na hora de um texto sobre a eliminatória do Bayern-Benfica, por favor."

O pouco tempo que tenho tido nas últimas semanas impedem-no. Muito rapidamente, posso dizer que o Bayern me desiludiu. É verdade que teve sempre a eliminatória controlada e que nunca precisou de mostrar a sua verdadeira força, mas estrategicamente o Guardiola tomou algumas decisões com as quais não concordo. Acho que abdicou das penetrações frontais de modo a nunca permitir ao Benfica, cujo pressing é caracteristicamente vertical, pudesse roubar a bola e contra-atacar, e com isso conseguiu, de facto, expor-se menos a esse tipo de situações. Mas também nunca incomodou o Benfica como poderia. Não percebo a euforia dos benfiquistas com uma eliminatória em que, tirando os 10 minutos entre o golo do Jimenez e o golo do Vidal, nunca esteve minimamente nivelada, e não consigo compreender que o Rui Vitória defenda que disputou a eliminatória olhos nos olhos, mas o Bayern esteve muito longe do seu melhor.

Pedro disse...

Não é euforia. Os benfiquistas não podem ficar contentes que são logo apelidados de "eufóricos". Estamos contentes por ver o SLB a bater-se sem medos contra o Bayern. Eles tiveram sempre a eliminatória na mão? E depois? Alguém pensava que seria o contrário? Por todos pensarem que o SLB ía ser esmagado é que os benfiquistas ficaram contentes com esta prestação. Não percebo o pq de isso incomodar tanto.

Unknown disse...

Não resisto, esta vale a pena:

Mourinho dice no a la guerra

¿Cómo pudo haber sido la conversación entre el técnico y su representante tras la oferta de la selección siria?

JOHN CARLIN
16 ABR 2016 - 23:00

“No es justo cometer un error y echarle la culpa a otro”. Bachar el Assad, presidente sirio


La agencia que representa a José Mourinho, Gestifute, ha recibido una carta de la asociación de fútbol de Siria. Escrita en español, empieza así:

“Estimados Sñrs/as en gestifute:

Nos ponemos en contacto con ustedes para informarles que nos gustaría proponerles oficialmente una oferta para fichar al señor José Mourinho para entrenar a la selección absoluta siria”.

Mourinho hizo pública su repuesta la semana pasada a través de su agente, el dueño de Gestifute, Jorge Mendes. Mientras Mourinho “se sentía honrado de haber recibido la invitación”, dijo Mendes en un comunicado, “no podría aceptarla en este momento”.

Lo que sigue es la transcripción de la conversación telefónica, grabada en secreto por Iker Casillas, que hubieran mantenido Mourinho y Mendes antes de redactar el elegante rechazo a la oferta.

—Mendes: ¡No te lo vas a creer, José!

—Mourinho: ¿Qué? ¿Otra vez Florentino?

—No, no.

—¿El Paris Saint Germain? ¿Valencia? ¿Roma?

—Tampoco. Escucha…

—No me digas que los chinos han vuelto a la carga...

—Sí, los chinos no dejan de llamar, pero…

—Ah. Ya, ya. Lo oigo en tu voz. ¡Qué alegría! ¡El Manchester United viene a por mí! Ya era hora.

—No. No es eso. Ya sabes que está complicado. Ese viejo cabronazo de Bobby Charlton presiona a la directiva para que no te fichen. No, no, la oferta es otra…

—¡Qué filhos da puta! No lo entiendo, Jorge. Soy el mejor entrenador de la historia y eres incapaz de convencerles. No olvides que cuando me fui del Chelsea le dije a la prensa que no pensaba tomarme ningún año sabático y ya van casi seis meses en el desempleo. Estoy cayendo en el ridículo. Y es todo culpa tuya.

—Por favor, José. Soy tu hermano. Sabes que daría mi vida por ti…

—Bueno… vamos… ¡cuenta de una vez!

—Eh… pues…

—¿Qué te pasa, caralho? Habla. ¿Qué tienes para mí?

—¿Estás sentado?

—Sí, ¡caralho!

—Pues, como te dije, no te lo vas a creer…

—¡Cuenta!

—La selección nacional de Siria… te quieren como entrenador.

—(Silencio.) Me estás jodiendo…

—No. En serio. Tengo aquí en mis manos una carta oficial, con el membrete de la asociación siria y todo, firmada por su secretario general.

—(Silencio)

—José… José… ¿Me escuchas, José?

—Pero… ¿Por qué? ¿Por qué? ¿Por qué me insultan? ¿No recuerdan los trofeos que he ganado, la Champions con dos equipos, campeonatos de liga en cuatro países, todo lo que he hecho por el bien del fútbol…? (Se le escapa un sollozo). ¿Por qué, Jorge, por qué…?

—Tranquilo, José. Reflexiona. Tienen petróleo. Putin los apoya. Irán tambien. Igual nos ofrecen una fortuna…

—Pero, merda, Jorge… ¿No sabes que están en guerra?

—Escúchame, José. Piénsatelo. Recuerda lo que dijiste cuando volviste al Chelsea; que estabas tan feliz de estar en un lugar donde te querían de verdad. Los sirios te van a querer con locura. Y piensa esto: la prensa, la maldita prensa que tanto te amargó la vida en España y en Inglaterra no volverá a ser un problema. Assad tiene a los periodistas completamente amansados. A cualquiera que se meta contigo le corta la cabeza.

—Mmmm… Ahora que lo dices… Hay que reconcerlo: Assad es de los míos. No toma prisioneros; feroz en defensa, letal en el contrataque...

—Sabía que entrarías en razón. ¿Qué les decimos?

—Esperemos al Manchester, que aún nos puede salir. Mientras, no cerremos la puerta del todo. Aségurate de decirles que les digo que no, pero solo “en este momento”.

—”En este momento”. Apuntado.

—Hecho. Adiós, Jorge. Me entra otra llamada… ¡Caralho! ¡De nuevo Florentino!

—No le contestes.

Unknown disse...

Só para desmistificar uma ideia repetida ad nauseam ultimamente por apedeutas oportunistas de que El Cholo é parecido com Zequinha Tradutor:


Tiene algo Diego Simeone que excita a los ingleses, una atracción nacida de las antiguas leyendas que han forjado su identidad nacional. Se vio en el entusiasmo que expresaron por el argentino y por el equipo que entrena, el Atlético de Madrid, tras su victoria por 1 a 0 contra el Bayern Múnich en las semifinales de Champions el miércoles pasado.

Los cuatro exjugadores que analizaron el partido en el canal inglés que transmitió el partido en directo proclamaron, exuberantes, que les hubiera encantado trabajar a las órdenes de Simeone. Uno de ellos, Rio Ferdinand, ex del Manchester United y de la selección inglesa, dijo algo que no se suele oír mucho de la boca de un neutral, ni siquiera en España: es maravilloso ver jugar al Atlético.

Otros, por ejemplo aficionados del Bayern o del Barcelona, podrían haberse quejado de que, tras la perla de gol que marcó Saúl, a lo que se dedicó el Atleti fue a aparcar el autobús. Nada de eso en la prensa inglesa el día después del partido. Leyendo una crónica tras otra, parecía que había una competición en juego para ver quién podía dar con el elogio más desbordado hacia Simeone y sus soldados. “Una clase maestra”, escribieron al menos dos renombrados periodistas deportivos. “Magnífico Atlético”, otro. Y el consenso era total, Simeone había labrado un equipo hecho, más que el de ningún otro entrenador, a su imagen y semejanza. Es decir, guerrero, disciplinado, en movimiento perpetuo y obsesivamente trabajador.

Unknown disse...

Simeone es con el fútbol como los ingleses, en su imaginario, con todo: pragmático, resultadista, marcial

¿Qué tiene que ver esto con el mito nacional que desean ver los ingleses cuando se miran en el espejo? Casi todo. Contemplan su historia y ven a un David convertido en Goliat; a un pequeño país isleño que a lo largo de 600 años derrotó a un enemigo temible tras otro: a los nazis en la II Guerra Mundial; a Napoleón en Waterloo; a la Armada Invencible, con la inestimable (pero muchas veces convenientemente olvidada) ayuda del mal tiempo; a los franceses en la batalla de Agincourt de 1415.

Esta última victoria fue celebrada por Shakespeare en su obra Enrique V. La arenga del rey a sus soldados antes de la batalla es una de las invenciones más memorables que el escritor ha aportado a la creación del mito de la inglesidad.

“Nosotros pocos, nosotros felices pocos; nosotros, una banda de hermanos. Porque el que hoy derrame su sangre conmigo, será mi hermano… Y los gentilhombres, ahora en la cama en Inglaterra, se creerán malditos por no haber estado aquí”.

Quizá Simeone no tenga la misma facilidad verbal cuando exhorta a sus jugadores a morir por la causa pero, por lo demás, el Cholo es el Enrique V de Shakespeare hecho carne. Según la versión shakespeariana, los ingleses se enfrentaban en Agincourt a un ejército más grande, más fino, con mejores caballos, mejor armadura y más plumas, como el Atleti peleón contra los aristócratas del Barça que Pep Guardiola construyó o el Bayern que Guardiola hoy dirige.

Una diferencia, entre ellas que en los partidos del Atlético se suele derramar menos sangre, es que la guerra futbolera que presenciamos en la Champions no es por la adquisición de tierras; es ideológica. La escuela de Guardiola, a la que se suscribe la selección española y la mayoría de los equipos españoles, pregona la posesión del balón como principal artículo de fe; el subversivo Simeone la desprecia, o al menos la considera de importancia secundaria ante el único objetivo que vale la pena, ganar como sea; obtener la victoria, como diría Winston Churchill, a toda costa, por más largo y duro que sea el camino, con sangre, sudor y, si fuera necesario, lágrimas.

Diego Pablo Simeone es con el fútbol como los ingleses, en su imaginario, con todo: pragmático, resultadista, marcial. Es el Enrique V que contra todo pronóstico ganó la batalla de Agincourt; el Churchill cuya reducida fuerza aérea venció a la Luftwaffe en la batalla de Inglaterra. Si hubiese un referéndum mañana entre los ingleses sobre si ceder la soberanía de las Islas Malvinas a cambio de que el argentino tomase cargo de su infeliz selección, la propuesta ganaría por goleada.

Anónimo disse...

Nuno,

estou a ficar saturado das análises do Freitas Lobo e quejandos ao Bayern-Atlético...


Se não for abusar, tenho de te pedir um textinho sobre isso! eheheh


Abraço!

Nuno disse...

Pedro, tenho um texto pendente sobre o Cruyff, que ainda não consegui terminar por falta de tempo. Acho que não vai sair nada sobre isso. No final da época, talvez faça um apanhado de várias coisas das quais me apetece falar, ou talvez dedique um texto ao Atlético do Simeone. Mas para já não consigo.

Abraço!