Disse António Tadeia, ainda no jogo da passada quarta-feira entre o Beira-Mar e o Sporting, que a principal desvantagem da marcação homem a homem é a equipa que defende dessa forma estar mal posicionada sempre que recupera a bola, o que inviabiliza qualquer tipo de contra-ataque.
Devo dizer, em primeiro lugar, que a marcação homem a homem é coisa dos tempos das cavernas. Marcar homem a homem está para a História do Futebol como as pinturas rupestres estão para a arte: já há muito tempo que o progresso veio por a nu as suas debilidades técnicas... Pelos vistos, há quem ainda não perceba porquê. Rogério Gonçalves, treinador do Beira-Mar, e Jaime Pacheco são alguns exemplos. Mas António Tadeia é outro. A marcação homem a homem pode, de facto, provocar um mau posicionamento da equipa, quando esta recupera a bola, mas não é de todo necessário que isso afecte a produção ofensiva da mesma. Se esta apostar em processos ofensivos mais pausados, se não quiser fazer o último passe assim que recupera a bola, se jogar tranquilamente, a equipa pode atacar e tem tempo mais do que suficiente para se reposicionar ofensivamente. Claro que, marcando homem a homem, um contra-ataque terá menos sucesso, pois os jogadores que, supostamente, iriam receber a bola na frente, estarão desviados da sua posição por terem ido atrás dos opositores directos. Mas isso é facilmente contornado. O que é verdadeiramente errado na marcação homem a homem não é isso. Aquilo que faz da marcação homem a homem um sistema obsoleto é a facilidade com que é, hoje em dia, ultrapassado. A partir do momento em que o futebol passou a ser jogado a outra velocidade, marcar homem a homem deixou de ser eficaz. Com transições curtas e rápidas, com dinâmica e mobilidade ofensiva, defender assim é um perfeito suicídio. Porquê? A equipa que defende, ao acompanhar individualmente o ataque adversário, está posicionada conforme o adversário. Para abrir espaços, basta que as movimentações sem bola da equipa que ataca sejam constantes. Bastará, então, um simples erro de marcação para que um atacante, desembaraçado em primeiro lugar do seu opositor directo, tenha muito espaço de manobra. Vejam o segundo golo da Argentina na final do mundial de 86. Maradona, marcado em cima por Matthaus, vem tabelar com Enrique ao meio-campo, libertando espaço nas suas costas, porque Matthaus o acompanhou. Enrique recebe a bola e tem muito espaço à sua frente, isolando depois Valdano. A marcação ao homem, feita por Matthaus, resultou na aquisição de espaço pela Argentina, que o aproveitou para marcar. O espaço que deveria ser da incumbência do médio-defensivo estava desocupado porque o médio-defensivo, cuja preocupação mais correcta seria a preocupação com a zona em que está posicionado, estava preocupado em seguir um único jogador por todo o campo. Ao fazê-lo, não pôde estar, ao mesmo tempo, bem posicionado. Uma simples marcação ao homem pode ter resultados tão nefastos quanto estes, porque a equipa não defende em bloco, de forma sustentada. Uma equipa que defenda assim, defende sempre individualmente e, não raro, abre espaços desaconselhados. A melhor maneira de evitar os erros individuais de marcação é fazer uma marcação à zona, isto é, posicionar os jogadores defensivamente por zonas, sem preocupações com quem lá apareça.
Outra situação em que a defesa à zona é mais eficaz que a defesa ao homem é nos pontapés de canto. Alguém se lembra da quantidade de golos que Costinha, no tempo de Mourinho no Porto, marcava no seguimento de pontapés de canto ou de bolas paradas? Muitos acharão que isso se deveu ao acaso, ou porque Costinha tinha um apurado faro de golo nessas situações específicas. Nada disso. Nas bolas paradas ofensivas, o Porto de Mourinho aproveitava exactamente o facto de a marcação homem a homem dividir os jogadores por pares de marcador/jogador marcado. Costinha movimentava-se então na direcção de um par desses, arrastando o seu marcador. Acontece, então, que a situação estava trabalhada de maneira a que o colega de Costinha desse par para o qual ele se dirigia bloqueasse o opositor de Costinha, libertando-o. Como é usual no basquetebol, ocorria um bloqueio ofensivo, que prendia o marcador de Costinha o tempo suficiente para que este, solto, aparecesse a finalizar sem oposição. Ora, se os adversários do Porto defendessem os cantos por zonas, nada disto seria possível. Defender os cantos à zona é a melhor maneira de evitar a distribuição dos jogadores por pares e de evitar eventuais bloqueios. Uma equipa que trabalhe bem as bolas paradas ofensivas saberá sempre tirar partido dessa distribuição, pelo que a forma de defender as bolas paradas terá de passar por uma defesa zonal. Jesualdo Ferreira já o fazia no Braga, com admirável sucesso, e continua a fazê-lo no Porto. O Sporting, na era de Paulo Bento, tem sido uma equipa pouco produtiva nas bolas paradas e, sobretudo este ano, permeável às mesmas, pelo que faria sentido uma mudança na forma de defendê-las e um trabalho mais apurado na hora de aproveitá-las, uma vez que grande parte das equipas ainda opta pela marcação ao homem nesse tipo de lances.
Ao contrário do que António Tadeia pensa, o principal problema da marcação ao homem não é a nível ofensivo, mas a nível defensivo. Uma defesa assim é sempre mais permissiva do que uma defesa à zona, pois preocupa-se apenas com a capacidade individual dos opositores e não com o colectivo do adversário. Uma defesa assim pode perfeitamente resultar, se as individualidades adversárias forem fáceis de anular e se o colectivo adversário não fizer grandes estragos. Mas, contra uma equipa com tão poucos argumentos como esses, qualquer preocupação defensiva é excessiva. Logo, a única preocupação defensiva, seja contra que equipa for, tem de ser uma preocupação com as zonas. Não perceber que não há outro caminho para defender correctamente que não o posicionamento correcto dos jogadores em campo, ignorando a preocupação desmesurada com as unidades adversárias, é um engano da mesma espécie que ainda acreditar que é o Sol que gira em torno da Terra.
Devo dizer, em primeiro lugar, que a marcação homem a homem é coisa dos tempos das cavernas. Marcar homem a homem está para a História do Futebol como as pinturas rupestres estão para a arte: já há muito tempo que o progresso veio por a nu as suas debilidades técnicas... Pelos vistos, há quem ainda não perceba porquê. Rogério Gonçalves, treinador do Beira-Mar, e Jaime Pacheco são alguns exemplos. Mas António Tadeia é outro. A marcação homem a homem pode, de facto, provocar um mau posicionamento da equipa, quando esta recupera a bola, mas não é de todo necessário que isso afecte a produção ofensiva da mesma. Se esta apostar em processos ofensivos mais pausados, se não quiser fazer o último passe assim que recupera a bola, se jogar tranquilamente, a equipa pode atacar e tem tempo mais do que suficiente para se reposicionar ofensivamente. Claro que, marcando homem a homem, um contra-ataque terá menos sucesso, pois os jogadores que, supostamente, iriam receber a bola na frente, estarão desviados da sua posição por terem ido atrás dos opositores directos. Mas isso é facilmente contornado. O que é verdadeiramente errado na marcação homem a homem não é isso. Aquilo que faz da marcação homem a homem um sistema obsoleto é a facilidade com que é, hoje em dia, ultrapassado. A partir do momento em que o futebol passou a ser jogado a outra velocidade, marcar homem a homem deixou de ser eficaz. Com transições curtas e rápidas, com dinâmica e mobilidade ofensiva, defender assim é um perfeito suicídio. Porquê? A equipa que defende, ao acompanhar individualmente o ataque adversário, está posicionada conforme o adversário. Para abrir espaços, basta que as movimentações sem bola da equipa que ataca sejam constantes. Bastará, então, um simples erro de marcação para que um atacante, desembaraçado em primeiro lugar do seu opositor directo, tenha muito espaço de manobra. Vejam o segundo golo da Argentina na final do mundial de 86. Maradona, marcado em cima por Matthaus, vem tabelar com Enrique ao meio-campo, libertando espaço nas suas costas, porque Matthaus o acompanhou. Enrique recebe a bola e tem muito espaço à sua frente, isolando depois Valdano. A marcação ao homem, feita por Matthaus, resultou na aquisição de espaço pela Argentina, que o aproveitou para marcar. O espaço que deveria ser da incumbência do médio-defensivo estava desocupado porque o médio-defensivo, cuja preocupação mais correcta seria a preocupação com a zona em que está posicionado, estava preocupado em seguir um único jogador por todo o campo. Ao fazê-lo, não pôde estar, ao mesmo tempo, bem posicionado. Uma simples marcação ao homem pode ter resultados tão nefastos quanto estes, porque a equipa não defende em bloco, de forma sustentada. Uma equipa que defenda assim, defende sempre individualmente e, não raro, abre espaços desaconselhados. A melhor maneira de evitar os erros individuais de marcação é fazer uma marcação à zona, isto é, posicionar os jogadores defensivamente por zonas, sem preocupações com quem lá apareça.
Outra situação em que a defesa à zona é mais eficaz que a defesa ao homem é nos pontapés de canto. Alguém se lembra da quantidade de golos que Costinha, no tempo de Mourinho no Porto, marcava no seguimento de pontapés de canto ou de bolas paradas? Muitos acharão que isso se deveu ao acaso, ou porque Costinha tinha um apurado faro de golo nessas situações específicas. Nada disso. Nas bolas paradas ofensivas, o Porto de Mourinho aproveitava exactamente o facto de a marcação homem a homem dividir os jogadores por pares de marcador/jogador marcado. Costinha movimentava-se então na direcção de um par desses, arrastando o seu marcador. Acontece, então, que a situação estava trabalhada de maneira a que o colega de Costinha desse par para o qual ele se dirigia bloqueasse o opositor de Costinha, libertando-o. Como é usual no basquetebol, ocorria um bloqueio ofensivo, que prendia o marcador de Costinha o tempo suficiente para que este, solto, aparecesse a finalizar sem oposição. Ora, se os adversários do Porto defendessem os cantos por zonas, nada disto seria possível. Defender os cantos à zona é a melhor maneira de evitar a distribuição dos jogadores por pares e de evitar eventuais bloqueios. Uma equipa que trabalhe bem as bolas paradas ofensivas saberá sempre tirar partido dessa distribuição, pelo que a forma de defender as bolas paradas terá de passar por uma defesa zonal. Jesualdo Ferreira já o fazia no Braga, com admirável sucesso, e continua a fazê-lo no Porto. O Sporting, na era de Paulo Bento, tem sido uma equipa pouco produtiva nas bolas paradas e, sobretudo este ano, permeável às mesmas, pelo que faria sentido uma mudança na forma de defendê-las e um trabalho mais apurado na hora de aproveitá-las, uma vez que grande parte das equipas ainda opta pela marcação ao homem nesse tipo de lances.
Ao contrário do que António Tadeia pensa, o principal problema da marcação ao homem não é a nível ofensivo, mas a nível defensivo. Uma defesa assim é sempre mais permissiva do que uma defesa à zona, pois preocupa-se apenas com a capacidade individual dos opositores e não com o colectivo do adversário. Uma defesa assim pode perfeitamente resultar, se as individualidades adversárias forem fáceis de anular e se o colectivo adversário não fizer grandes estragos. Mas, contra uma equipa com tão poucos argumentos como esses, qualquer preocupação defensiva é excessiva. Logo, a única preocupação defensiva, seja contra que equipa for, tem de ser uma preocupação com as zonas. Não perceber que não há outro caminho para defender correctamente que não o posicionamento correcto dos jogadores em campo, ignorando a preocupação desmesurada com as unidades adversárias, é um engano da mesma espécie que ainda acreditar que é o Sol que gira em torno da Terra.
5 comentários:
Estou de acordo, como é evidente, com o facto da marcação ao homem a homem estar completamente desactualizada e ultrapassada. Também acho que a ideia que é limitativa para o contra ataque é uma generalização de algo que tem de ser analisado caso a caso. Por exemplo, se uma equipa fizer marcação homem a homem frente a um conjunto que deixa sempre 2 homens atrás, liberta sempre 2 homens para o contra ataque, podendo aproveitar situações de 2 para 2. O problema é que é impossível operacionalizar rotinas de transição ofensiva quando, no momento da perda de bola se está dependente do adversário contra quem se joga...
Sobre as bolas paradas não estou tão de acordo - aliás, julgo não me enganar se disser que o próprio Mourinho usa marcações ao homem para defender bolas paradas. Creio que é fundamental a utilização, em qualquer dos casos, de 2 ou 3 jogadores posicionais, nomeadamente no primeiro poste. Mas o problema com as marcações zonais na área é que perdendo-se a referência homem pode surgir o aparecimento de uma antecipação entre dois jogadores (Vejam um golo que o Porto sofre em Liverpool http://profile.imeem.com/5qUuXn6/video/Du_Knu9E/liverpool_10_porto_sports_video/).
Enfim, não tenho a certeza de qual o melhor método para as bolas paradas mas sei que dentro da área a referência homem é muito importante...
Abraço
Como é óbvio, tudo isto é no plano teórico. Não tenho a experiência de treinador nem há muitas equipas que optem por defender bolas paradas à zona para que se possa analisar convenientemente o sucesso deste tipo de estratégia. Mas, num plano meramente teórico, defender as bolas à zona faz mais sentido, porque é (creio que o exemplo do Costinha é claro) fácil de arranjar espaços na marcação homem a homem.
"o problema com as marcações zonais na área é que perdendo-se a referência homem pode surgir o aparecimento de uma antecipação entre dois jogadores"
Não foi isso que aconteceu no lance do Porto. Aconteceu que as zonas se desfizeram antes da bola partir. Como resultado, apareceu o Torres a cabecear atrás do Lucho, numa zona que estava antes ocupada por um jogador do Porto que saiu dali. Não sei se a distribuição dos jogadores como o faz Jesualdo é a mais indicada, mas parece-me evidente que, tendo as zonas bem ocupadas, é muito mais difícil aos adversários conseguirem marcar.
Não tenho estatísticas concretas, mas sei que houve um ano em que o Braga de Jesualdo foi a equipa que menos golos sofreu em lances de bola parada (cantos ou cruzamentos). Isto não significa, por si só, nada. Mas pode ilustrar alguma coisa. Pela televisão, ficamos sempre dependentes da realização, pelo que muitas vezes não nos apercebemos da utilização deste sistema. Não sei se Mourinho o usa para defender ou não, ou se usa apenas 2 ou 3 jogadores à zona e o resto a marcar, que me parece uma alternativa a ter em conta. Em todo o caso, sei que Mourinho tira partido de os adversários defenderem os cantos homem a homem, pelo que me parece plausível que ele os defenda de maneira a não ser apanhado pelos mesmos erros.
eu vejo sempre o inter e eles fazem marcaçao à zona nos cantos. primeiro fica a equipa toda dentro da àrea. não fica ninguém fora dela. de facto não é fácil marcar assim mas tem alguns problemas.
como aconteceu ainda agora frente à juventus. Um jogador que cobre a zona está num determinado sítio e irá disputar o lance com um jogador que "aparece". Esse jogador tem uma grande ventagem porque vem em corrida e consegue subir bem mais alto do que o defesa estático, como aconteceu com o boumsang que subiu bem mais alto que o cruz.
outro problema acaba por ser a segunda bola que muitas vezes sobra para a zona de tiro onde apenas há jogadores adversários e isso às vezes sai cara, como o silva do valencia marcou o ano passado no meazza no cair do pano!
cumprimentos
O problema das marcação à zona é mesmo esse, ou seja, como qualquer palmo de terreno na zona frontal da área é fundamental é necessário ter muitos jogadores para fazer a cobertura da área. O que digo - e nesse aspecto parece-me um bom exemplo o golo em Liverpool - é que nesse tipo de situações, mesmo defendendo-se à zona é fundamental manter referências homem. Basicamente, quando vez a bola a vir para a tua zona sabes que a vais ganhar se ninguém saltar contigo. Mas se um adversário vier de trás e tiver a noção do teu posicionamento pode antecipar-se e surpreender-te.
Ainda sobre marcações à zona, acrescento que, sendo verdade que poucas são as equipas que adoptam um método "estritamente homem" poucas são aquelas que não usam o homem como sua principal referência. Ou seja, os jogadores ocupam a sua zona, mas porque não há uma noção completa e colectiva da cobertura dos espaços, os jogadores acompanham individualmente os jogadores que caem nas suas zonas. Repito, poucas são ainda as equipas que em Portugal fazem uma zona sem ter o homem como principal referência...
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