sábado, 22 de março de 2008

A Modest Proposal

A Modest Proposal é o título de um famoso artigo publicado em 1729 por Jonathan Swift. Perante os problemas sociais da Irlanda, sobretudo a pobreza das classes baixas e a fome, Swift sugeria que os filhos das famílias mais pobres, constituindo mais uma boca para alimentar e sendo, por isso mesmo, um fardo demasiado pesado, deveriam ser vendidos e servir de alimento para os mais ricos. Num tom sério, Swift afirma que esta medida salvaria da miséria os mais desprotegidos e da míngua toda a Irlanda.

Como Swift, tenho também uma "proposta modesta", proposta essa que, estou em crer, catapultaria o futebol português para níveis competitivos bastante consideráveis. Proponho, portanto, que, a partir de agora, os jogadores de futebol que não agridam nenhum adversário, no decorrer dos noventa minutos, sejam alvos de processos sumaríssimos. Acho que já chega de gente pacata nos relvados portugueses; fazem falta aqueles jogadores que são autênticas bestas dentro de campo. Um rapaz que, ao saltar com o adversário, não o atinja com a bota no pescoço é um cobarde. E de cobardes andamos nós fartos! O que o futebol português precisa é de verdadeiros energúmenos, de gente sem escrúpulos que agride descaradamente os adversários, por vezes nas barbas dos árbitros. Esses, sim, é que são jogadores a sério! O verdadeiro português é um brutamontes, um bárbaro. D. Afonso Henriques andou à espadeirada com os mouros todos e conquistou-nos um país para quê? Temos de seguir-lhe as pisadas e passar a bater com força! Só com porrada é que isto vai lá! Aquele que não der uma valente pisadela num companheiro de selecção não presta para nada; aquele que não intimidar, em todos os jogos, o adversário que lhe cabe marcar é um franganote. A minha proposta é simples: a partir de agora, perante uma bola dividida, o árbitro só deve mostrar cartões caso os jogadores não se toquem. Nesse caso, deverá atribuir cartão àquele que, na disputa da bola, não meter o pé acima da cintura do adversário. Aliás, acho mesmo que isto deveria ir mais longe; acho que o jogador cujo maxilar fica deslocado após uma cotovelada de um adversário deve ser imediatamente expulso pelo juiz da partida. No futebol, não há lugar para aleijados. Era o que faltava...

Creio que Swift, caso percebesse alguma coisa de futebol, concordaria comigo e penso, honestamente, que o futebol português teria muito a ganhar se se livrasse desses pseudo-jogadores que têm muito jeitinho, mas que, na hora de sacar da moca para bater nos outros, se encolhem. Proteger os artistas? Está bem, está. Protejamos antes os que vão às canelas em vez de irem à bola... Estou farto de tecnicistas, de intelectuais e de gente bem formada e civilizada. Viva os carniceiros! Viva os desajeitados! Viva as bestas! E, acima de tudo, viva a conivência e a cegueira selectiva dos árbitros e de quem tem poder para castigar os jogadores! A esses, peço-lhes, com toda a sinceridade e do fundo do coração: por favor, abram os olhos e não deixem passar impunes aqueles que, por escrúpulo ou nobreza de espírito, têm a desfaçatez de não atingir, com força suficiente para aleijar a sério, os adversários com quem disputam a bola!

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente.
Há pessoas que parece que sofrem de algum problema ocular. Acho que mesmo que levassem porrada destes pseudo-jogadores, como defendem as suas cores, ainda lhe iam dizer obrigado!