quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Han?????

Encontro, para meu grande espanto, este artigo, no qual a Comissão de Arbitragem da Liga dá razão a Pedro Proença no muito badalado caso do atraso de Polga para Stojkovic. Entre outras coisas, retiro isto:

""Ao contrário do que foi veiculado em diversos meios de informação, se um defensor efectua um pontapé que leve a bola no sentido da linha de baliza, seja esse pontapé um corte ou um passe, pode ser punido com pontapé-livre indirecto, no caso de o guarda-redes tocar a bola com as mãos", pode ler-se no comunicado assinado por Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem da Liga."

Não estou indignado. Estou perplexo. Decidir no momento pode ser complicado e, como tal, admito o erro de interpretação do árbitro. Aceitar esse erro só pode querer dizer duas coisas: ou não se sabe interpretar um lance, ou quis-se branquear a situação. Não há mais possibilidades. Não quero aceitar a segunda hipótese, até porque não tenho como prová-la. Resta-me a primeira. E digo-o, sem rodeios: quem quer que considere aquilo um passe precisa rapidamente de um par de neurónios novos. No caso do comunicado da Comissão de Arbitragem, parece que tentaram ter razão adulterando a lei. Ou seja, agora, já não é preciso que a bola seja endossada deliberadamente: basta que o pontapé "leve a bola no sentido da linha de baliza, seja esse pontapé um corte ou um passe". O que a Comissão de Arbitragem fez é inédito: ignorou a lei oficial da FIFA e fez uma nova lei, de modo a desculpar um erro evidente. Coloco aqui a lei oficial, para que se possa comparar. O documento é este e, sobre isto, diz o seguinte na página 38:

"An indirect freekick is awarded to the opposing team if a goalkeeper, inside is own penalty area, commits any of the following four offences:"

e a terceira é:

"touches the ball with his hands after it has been deliberately kicked to him by a team-mate".

A FIFA diz, portanto, que só é punível com livre indirecto a bola que for deliberadamente pontapeada para o guarda-redes. Não podia ser mais claro. A Comissão de Arbitragem decidiu inventar uma alínea nova e dizer que, se essa bola, ainda que não tenha sido deliberadamente pontapeada, levar a direcção da linha de baliza e for agarrada pelo guarda-redes, é punível. O que se passou aqui foi, essencialmente, uma mudança de regras em favor próprio. A Comissão de Arbitragem queria desculpar Pedro Proença e mudou as regras oficiais de modo a que isso pudesse acontecer "legalmente". Eu hoje, por acaso, acordei com uma vontade enorme contradizer Newton. Diz o palerma do Isaac, na sua Lei da Gravitação Universal, que "dois objectos quaisquer se atraem gravitacionalmente por meio de uma força que depende das massas desses objectos e da distância que há entre eles." Não concordo. A partir de agora, apetece-me que a força dependa da cor dos objectos e não dessa treta da massa e da distância. Como tal, se nas Olímpiadas de Pequim um tipo, no salto em altura, fizer 210 metros, não se espantem. E não venham dizer que, no lançamento do dardo, um gajo que atinja Nova Iorque só pode estar dopado, porque isso, a partir de agora, é perfeitamente possível...

6 comentários:

Anónimo disse...

Toda esta situação começa a ficar ridícula, sendo que a CA abriu um precedente perigoso. Vou esperar para ver se isto vai voltar a acontecer no futuro.

Anónimo disse...

Acho que está a cometer uma desonestidade intelectual e factual.
Niguém mudou seja o que for na lei tudo o que foi dito e escrito neste comunicado já tinha sido estabelecido em 1992, por isso não seja desonesto.
Fiquei um bocado supreendido pois foi bastante correcto na pequena troca de posts anteriores.

Hélder

Nuno disse...

Já tinha sido estabelecido em 1992? Então desde essa altura que têm mais autoridade que a FIFA. Só comparei o que foi dito com o que a FIFA estipula. E o que a FIFA estipula é radicalmente diferente. Ou seja, quer tenha sido agora, quer tenha sido em 1992, não faz sentido rigorosamente nenhum, porque vai contra a lei supostamente oficial, que é a da FIFA. Onde é que está a desonestidade? A FIFA diz que só é punível com livre indirecto se a bola for pontapeada deliberadamente. Estamos de acordo em relação a isso, certo? O Polga não a pontapeou deliberadamente. Também estamos de acordo nisto? Então, não há lugar a livre-indirecto. Qual é a dúvida? Onde é que estou a ser desonesto? Lembras-te de um pontapé do meio-campo do Katsouranis, o ano passado, no Torneio do Guadiana, que deu auto-golo? Se o Quim estivesse mais atrás e conseguisse evitar o golo com uma palmada para canto, também era livre-indirecto?

Anónimo disse...

Os exemplos do tackle por trás são da altura em que foi criada a lei pela FIFA e não pela FPF.
Lá está como lhe disse no outro post, é subjectivo, logo a única pessoa que pode julgar é o juíz, o que neste caso é o árbitro.
Eu, você e seja quem for pode concordar ou discordar da decisão mas quem aplica e quem retira intenções é sempre o juiz.
Intencional ou não só o Polga é que sabe, mas o "criminoso" nunca faz juizo em causa própria, logo resta o árbitro e ele podia ou não marcar.
Marcou...uns ficaram chateados com isso outros contentes. Se o árbitro entendesse que não era intencional ficavam os outros descontentes e vocês contentes, tão simples quanto isto.

Nuno disse...

Vocês? Não estou contente, nem descontente, até porque não sou nem do Sporting, nem do Porto. Mas o que está aqui em causa é uma má interpretação clara do lance. Claro que quem ajuiza é o árbitro, e só ele tem poder para interpretar o lance. O que digo é que ninguém, se pensar bem, pode julgar que aquilo foi deliberado pelo Polga. É facil de perceber. Mais: a regra foi instituída para se evitar que os jogadores queimassem tempo, passando a bola ao guarda-redes. Esta lei, como as leis em geral, não visam acumular as penalidades correspondentes, mas impedir certo tipo de atitudes. Ora, o lance do Polga é tudo menos querer queimar tempo. A única coisa que poderiam alegar é que ele, uma vez apertado, recorreu ao guarda-redes para safar a jogada. Mas, como é óbvio, não foi isso que aconteceu. Ele quis desarmar o Postiga. Só isso. Nunca lhe passou pela cabeça, além de desarmar o Postiga, passar a bola ao guarda-redes como forma de segurança. Acho que isso é perceptível. Assim sendo, foi um erro de interpretação do árbitro, erro esse que, repito, aceito. O que não aceito é que alguém que veja o lance com calma, que não tenha que decidir no momento, continue a achar que aquilo foi intencional.

Anónimo disse...

Para começar, nunca me lembro de comissão disciplinar da liga aparecer assim com documentos PDF feitos á pressa quando anteriormente aconteceram lançes duvidosos... e houve alguns muito mais duvidosos que este...

Só quero saber se esta parte seguinte aparece nas regras da fifa, se sim então o arbitro faz o que quiser, se não... então há aqui novas regras, e isso é grave...

"Um defesa entra em tackle por detrás sobre um adversário que conduz a bola, conseguindo desarmar o adversário, indo a bola na direcção do guarda-redes.

Conclusão – Competirá ao árbitro decidir se a bola foi atirada deliberadamente em
direcção ao guarda-redes para que este a possa agarrar e punir se o fizer."