terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Mania da Objectividade

Uma das principais razões - talvez mesmo a principal - pelas quais a esmagadora maioria das equipas de futebol por esse mundo fora não joga bem é, a meu ver, a objectividade. Não é, aliás, infrequente ouvirmos dizer de uma equipa que mastiga muito o jogo no meio-campo que tem falta de objectividade. Comentadores, treinadores, jogadores, todos sem excepção reconhecem que, quando uma equipa não consegue criar perigo, quando joga demasiado para trás, quando perde tempo a encontrar boas soluções de passe, revela falta de objectividade. Para quase toda a gente, joga bem quem procura constantemente a baliza, quem vai para a frente, quem não perde tempo com inutilidades, quaisquer que elas sejam. Pessoalmente, aborrece-me que dois jogadores que põe quatro ou cinco adversários à rabia, desposicionando-os, desgastando-os, e mantendo a bola, sejam criticados por não serem objectivos. Aborrece-me porque esses jogadores fazem sozinhos o que uma equipa inteira não é capaz de fazer. E, invarialmente, são eles quem estão errados, na opinião de quase toda a gente.

Como sabe quem lê este blogue, considero haver pouquíssima gente que saiba realmente alguma coisa de futebol. Uma das razões pelas quais penso assim é precisamente a ideia praticamente consensual de que todas as acções em campo devem ser objectivas, sejam elas quais forem. Como também deve ser sabido, é costume não concordar com muitas das ideias praticamente consensuais acerca de futebol. Para mim, nenhuma acção em campo deve ser objectiva. Nenhuma! Não o deve porque, embora o jogo tenha um objectivo, cada uma das acções pode apenas ter um objectivo circunstancial. A ideia de que uma equipa deve ser sempre objectiva tem origem precisamente na falácia que consiste em achar que uma acção isolada tem de ser executada em função de um objectivo geral. Pois não tem. O futebol é essencialmente um jogo não-objectivo, nesse sentido. Não é esgrima, nem remo. Em esgrima, não se pode não ser objectivo. Todas as acções são ou para se defender, ou para atacar o adversário. Em remo, não se pode simplesmente não remar, ou remar em círculos. Mas futebol não é isto. É um jogo de tipo diferente. Quando uma equipa só tem em mente ser o mais objectiva possível não tem praticamente nada. Só volta para trás em casos extremos, quando encurralada junto a uma linha, ou quando lhe interessa queimar tempo; só sai a jogar quando o adversário não faz pressão alta; só faz um passe curto quando não tem ninguém na frente que possa correr feito parvo.

É talvez do feitio do que é moderno achar que tudo o que é objectivo é bom. E, por isso, acções cujo fim não seja claro são imediatamente consideradas acções erradas. Acontece em futebol, mas acontece também em muitas outras coisas. É essa a razão pela qual, por exemplo, se aceita geralmente que as Humanidades não merecem um investimento idêntico ao que merecem as Ciências ditas concretas. É também por isso, por exemplo, que se acha que crises económicas se combatem essencialmente com ideias económicas, como se a Economia não fosse influenciada senão por si mesma. Vivemos num tempo em que, habituados pela estupidez das opiniões públicas, achamos que tudo se resolve com um plano bem definido, com metas bem definidas, com continhas bem feitas. Achamos que, se tivermos um objectivo claro, se fizermos tudo o que está ao nosso alcance para atingir esse objectivo, e, se não nos desviarmos do plano e do objectivo do plano, acabamos por ser bem sucedidos. E ignoramos que, muitas vezes, desviarmo-nos de planos e de objectivos é a atitude mais correcta. É um vício científico, um vício que tem por modelo uma mentalidade matemática. Aprendemos a fazer contas quando somos pequenos, e não só nos julgamos imediatamente inteligentes como julgamos que todos os porblemas se resolvem matematicamente, ou seja, juntando parcelas, fazendo contas, e obtendo resultados. Pois nenhum problema complexo se resolve matematicamente, e nenhum problema humano, por assim dizer, pode ser solucionando com habilidades matemáticas. A atitude matemática que estou a atacar consiste em considerar que a execução de meia-dúzia de passos correctamente, e pela ordem correcta, conduz necessariamente ao resultado desejado. Nada no mundo que seja minimamente complexo se resolve assim, e uma das formas de estupidez, porventura a mais moderna das estupidezes, consiste em pensar que sim.

O futebol é demasiado complexo para que possa ser jogado objectivamente, matematicamente, com sucesso. E é por ser tão complexo que um conceito como "objectividade" é absurdo. A maior parte dos treinadores treina a sua equipa, portanto, para fazer coisas absurdas. É por isso que o jogo é tão mal jogado por esse mundo fora; é por isso que os melhores jogadores, os criativos, os inteligentes, os que pensam por si, recebem pouca atenção. Os treinadores querem animais irracionais que repitam o lhes mandam fazer, que joguem sempre em função de um plano de jogo, que façam, em qualquer situação, aquilo que são treinados para fazer, quer a situação convide a isso, quer não. Tais treinadores não sabem o que é futebol. Um treinador a sério não tem um plano de jogo. Isto é, porventura, radical de mais para que alguém o perceba. Deixem-me remodelá-lo: um treinador a sério, um treinador que saiba o que é o jogo, que perceba que, como outras coisas, o futebol é um jogo demasiado complexo para que o conceito de "objectividade" faça sentido, um treinador que compreenda que o futebol é essencialmente um jogo de situações atípicas, irrepetíveis, e que os seus jogadores não são executantes de um plano, mas seres pensantes, agentes que têm de decidir o que é melhor em cada situação, está-se nas tintas para aquilo a que vulgarmente chamam "planos de jogo". Planos de jogo são coisas de gente idiota que acha que o futebol é um jogo de planos.

O futebol é um jogo em que o plano se elabora constantemente, a cada alteração das circunstâncias de jogo. Antes de uma equipa poder ser objectiva, ou seja, antes de poder materializar o seu futebol numa oportunidade de golo, tem de criar condições para que possa sê-lo.  E isso leva, na maioria das vezes (dependendo, claro está, da forma como o adversário defende), muito tempo. A maior parte das equipas salta este passo, ou ignora-lhe a importância. Se virem uma brecha na frente, não hesitam em tentar um passe de morte, por menores que sejam as probabilidades de sucesso de tal passe. Crê-se que todas as veleidades concedidas pelo adversário, todos os espaços, toda a liberdade ao atleta que conduz a bola deve ser encarada como uma oportunidade de criar imediatamente uma situação de golo. Poucas são as equipas que encaram o jogo como uma sucessão, por vezes muito numerosa, de micro-acções. E é por isso que, por exemplo, a criatividade é um atributo tão pouco procurado. Quando se acha que o jogo é essencialmente objectivo, jogadores que saibam pensar, que saibam imaginar melhor do que os outros, não são especialmente diferentes. Veja-se o caso de Modric, no Real Madrid. É um exemplo, mas haveria muitos outros. No Real, Mourinho pretende dele o que pretendia de Sneijder no Inter: últimos passes. É por isso que Modric não rende o que podia render. O mesmo acontece com Özil. Mourinho acredita na objectividade do jogo, e embora seja, porventura, o melhor treinador do mundo a preparar a sua equipa em função dessa objectividade, reduz dramaticamente o potencial dela ao acreditar nisso. Modric é um criativo. Estaria como peixe na água numa equipa que trabalhasse muito o jogo a meio-campo, com passes curtos, tabelas, movimentos entre linhas, apoios e coberturas próximas. Como o encarregam de uma função, como fazem dele alguém que, a todo o custo, tem de solicitar os atacantes em condições ideais, corta-se-lhe a imaginação. Pedem-lhe que execute meia-dúzia de coisas e que não faça outras tantas, quando ele estaria bem se não lhe dissessem coisa alguma. Em cada lance que intervém, tem de agir de acordo com as instruções que tem. É obrigado, por isso, a agir quase automaticamente, a repetir certos movimentos, a tentar sistematicamente coisas idênticas. Quando resulta (o que acontece devido à sua qualidade), corresponde ao que esperam dele. O problema é quando não resulta, o que acontece muitas vezes, pois o sucesso de tal futebol não depende só dele. Aí, acusam-no de estar pouco inspirado, e não pensam sequer na possibilidade de a falta de inspiração ter sido causada pelas instruções que tem.

Nunca fui o maior admirador de Sneijder, mas deixei de gostar definitivamente dele precisamente no ano em que muitos achavam que ele merecia a bola de ouro, isto é, no ano em que foi campeão europeu no Inter. Deixei de gostar dele exactamente porque o seu futebol era mecânico: recebia a bola, rodava e tentava um último passe. Falhava trinta passes por jogo, mas eventualmente acertava um ou outro. Evidentemente, com a mecanização da equipa, as acções de Sneijder até tinham alguma eficácia. Por outro lado, na sua selecção, a jogar da mesma maneira, só a prejudicou. Para Mourinho, o seu médio de ataque é uma espécie de quarter-back, e é essa ideia que não aceito. Nenhum jogador de futebol, pelas particularidades do próprio jogo, pode ter uma função específica como têm os jogadores de futebol americano. O futebol é um jogo de decisões, um jogo de criatividade, e é a criatividade, e só ela, que deve ser cultivada. Modric e Özil, em abono da verdade, são muito mais criativos do que Sneijder alguma vez foi. Sneijder era um executante extraordinário, mas nunca me pareceu o mais criativo dos jogadores. O croata e o alemão renderiam muito mais se estivessem numa equipa que preconizasse um modelo de jogo menos objectivo, se lhes fosse pedido não uma série de tarefas, mas apenas que criassem, consoante as circunstâncias, e de acordo com a posição relativa em que fossem colocados no campo. Hoje em dia, com a cientificidade a que se aproximou o futebol, vive-se uma autêntica mania da objectividade. E os melhores jogadores, aqueles que arranjam soluções de que ninguém estava à espera, aqueles que são capazes de criar a partir do nada, que solucionam problemas absolutamente inéditos, sem nunca terem sido preparados para solucioná-los, acabam ostracizados no meio de tanta objectividade. E nem sequer se percebe que, juntando meia-dúzia de jogadores criativos e deixando-os encarregues apenas de criar se fica, ainda que de forma menos óbvia, bem mais perto dos objectivos a que se propõe qualquer equipa de futebol do que cultivando um ideal de objectividade que apenas coarcta o potencial criativo de uma equipa.

20 comentários:

da Costa disse...

embora compreenda a ideia do texto, considero que até o barcelona (a única equipa no mundo que não segue os mecanismos prejudiciais ditos aqui) utiliza certos padrões, nomeadamente a defender. sem bola, a equipa comporta-se de uma determinada forma, mecânica, trabalhada diariamente no treino.

Blessing disse...

Mais um grande texto, hahahaha
Brilhante Nuno,
As acções no jogo devem ser objectiváveis e isso é muito, muito diferente de serem objectivas.

Por mim também poderiam ser objectivas, mas o significado de objectividade depende da forma que cada um o apreendeu. Para mim a acção ser objectiva, significa que a acção teve um objectivo, teve um fim, que tanto pode ser variável consoante o pensamento de quem o executou, e com os mais criativos isso só vai ser visível, ou seja, a sequência só vai ser decifrada, na conclusão da mesma! Porque os criativos não são óbvios, os criativos fazem coisas, que mesmo eu como treinador, tenho dificuldade em descortinar logo a partida! E as pessoas acham estranho eu delirar com acções super criativas de jogadores, mesmo que veja e saiba da capacidade do jogador, mas não compreendem o porquê da minha reacção de surpresa, de espanto e de admiração cada vez que vejo uma. O motivo é simples, isso é raríssimo no futebol actual! Raríssimo!

Enfim, se algum dia quiser mostrar um texto que explane bem o meu pensamento quanto a liberdade criativa que quero sempre que as minhas equipas tenham, e uma justificação vou tagar este!

Um abraço, e continua

Hélder disse...

Muito bom texto, no seguimento dos restantes do blog.

Concordo que a criatividade venha a perder o seu espaço no futebol, no entanto não posso negar as vantagens de um estilo de jogo mais objectivo. Acredito que um equipa top deve ser criativa e objectiva e saber que peso dar a cada uma destas num determinado momento de jogo.

Parece-me também que a preferência pela objectividade tem a ver com a ideia (errada!) de que o risco e os erros são minimizados, comparando com um estilo mais fluido de jogo. Parece-me que as pessoas por vezes colam os conceitos da periodização e mecanização a este raciocinio.

Esta questão é transversal a váriasáreas. Mesmo no contexto da minha profissão, onde me vejo talvez mais como um criativo, sinto que a sinergia entre as pessoas com maior criatividade e objectividade produz maior resultado.

Por fim, que aparentou o Mourinho ser, a longo da sua carreira, que não objectivo?

Cumprimentos

Hélder Ribeiro

Fenómeno disse...

Excelente texto. Deixo uma questão que muitos já levantaram: como verias Moutinho no Barcelona? é que, na minha opinião, aquilo que muitos elogiam no Moutinho, não é aquilo que o Barcelona melhor tem e que tu aqui referes.

Pedro disse...

No recente SLB-Académica, com os 11 jogadores da Briosa atrás da linha da bola um dos melhores momentos do Benfica foi quando trocou, muitas vezes, a bola entre os seus jogadores já no meio campo do adversário. Trocas de bola, mudanças de flanco, sempre a bola a rolar.
Estiveram um minuto nisto, talvez. Começa a sentir-se um ruído das bancadas, o típico "joga pá frente" e pouco depois André Almeida, talvez pressionado por isso, arrisca um passe a rasgar a defesa da Académica que acaba por sair pela linha final perdendo assim, a equipa, a posse da bola.

Naquele minuto de troca de bola a equipa estava a desgastar o adversário, como focas, e estava à procura de uma desmarcação, de um buraco, de uma oportunidade. E, muito importante, mantinha a posse de bola. Com a bola no nosso lado o adversário nunca marcará golo. Mas a malta não percebe.

Só não concordo que digas que isto não é objectividade. Claro que é. o objectivo é ganhar e sendo esta a melhor forma de o fazer (naquela situação, noutras pode ser diferente) então a equipa está a ser objectiva.

Ser objectivo não é bombear bolas para a área. A isso prefiro chamar futebol directo.

Batalheiro disse...

Pedro,

A discussão sobre qual é o objectivo do jogo já deu para uma longa discussão neste blogue... se era o "golo" ou se era "vencer" ou, a tese do Nuno, "jogar bem em todas as circunstâncias."

Nuno, aquilo que denominas como "situações atípicas" talvez possa ser melhor compreendido utilizando o conceito operativo de "wicked problems," lamento mas não conheço o termo em Português. Na sua assumpção mais geral wicked problems são "originally used in social planning to describe a problem that is difficult or impossible to solve because of incomplete, contradictory, and changing requirements that are often difficult to recognize. The term ‘wicked’ is used, not in the sense of evil but rather its resistance to resolution. Moreover, because of complex interdependencies, the effort to solve one aspect of a wicked problem may reveal or create other problems." da wikipedia. Talvez mereça que procures referências neste sentido, até porque continuo à espera do vosso livro!

Os "idiotas da objectidade" (Nélson Rodrigues :) ) quando se referem a "criatividade" aplicam-na a patetices como as que o Neymar gosta de fazer, e não às acções que o Matic, por exemplo, tem por hábito oferecer.

Jorge Ramiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hélder disse...

Concordo sobre o Matic. É claramente um criativo!

Nuno disse...

Pedro M Magalhães diz: "embora compreenda a ideia do texto, considero que até o barcelona (a única equipa no mundo que não segue os mecanismos prejudiciais ditos aqui) utiliza certos padrões, nomeadamente a defender. sem bola, a equipa comporta-se de uma determinada forma, mecânica, trabalhada diariamente no treino."

Sim, é verdade. Acho que há alguns aspectos do jogo em que o treino por repetição é especialmente útil. Nomeadamente, bolas paradas, inícios de transições (defensivas e ofensivas), momentos de pressing e alguns momentos de (re)organização defensiva. Apesar disso, o grosso do jogo é essencialmente absolutamente circunstancial, e a resposta dos jogadores não pode ser mecanicazada. O jogo é essencialmente uma sucessão de situações atípicas, e tentar criar padrões de comportamento para responder a situações atípicas parece-me um absurdo.

Hélder diz: "Acredito que um equipa top deve ser criativa e objectiva e saber que peso dar a cada uma destas num determinado momento de jogo."

Pois. O que eu queria criticar era apenas a ideia de que todas as acções, em futebol, devem ser objectivas. Basta ver um jogo do Barcelona para ver que 90% dos passes não têm nenhum objectivo senão movimentar a bola e desposicionar, naquele momento, um adversário ou outro. Os únicos objectivos devem ser circunstanciais, e todas as acções devem ter por finalidade apenas a possibilidade de se passar à acção seguinte.

Fenómeno diz: "Excelente texto. Deixo uma questão que muitos já levantaram: como verias Moutinho no Barcelona? é que, na minha opinião, aquilo que muitos elogiam no Moutinho, não é aquilo que o Barcelona melhor tem e que tu aqui referes."

Acho que o Mourinho (já o escrevi aqui) mudou de perspectivas ao longo da carreira. Sempre foi muito pragmático, e sempre acreditou na objectividade, é verdade. Mas no Porto e nos primeiros 2 anos de Chelsea, acreditava noutras coisas também. Entretanto, foi-se tornando cada vez mais obcecado por controlar todos os momentos de jogo, e as suas equipas foram-se tornando cada vez mais no tipo de equipas que critico aqui. Não o veria no Barcelona, portanto.

Pedro diz: "Só não concordo que digas que isto não é objectividade. Claro que é."

Como já expliquei, o que queria dizer com "objectividade" era a ideia de que uma acção X (suponhamos, um passe no meio-campo para o lateral) tem por finalidade o objectivo do jogo. Não tem. A única finalidade que tem é fazer um passe para o lateral. Só é uma acção objectiva nesse sentido.

Batalheiro diz: "aquilo que denominas como "situações atípicas" talvez possa ser melhor compreendido utilizando o conceito operativo de "wicked problems,"

Não conhecia a expressão. Vou investigar.

"Talvez mereça que procures referências neste sentido, até porque continuo à espera do vosso livro!"

Quanto ao livro, não sei o que o futuro reserva. É um plano que tenho, mas ao qual não posso dedicar-me agora. Havia a possibilidade de uma coisa do género, que entretanto está em stand-by. Entretanto, pode ser que venham a acontecer coisas parecidas nos próximos tempos. Se for o caso, anunciá-lo-emos.

"Os "idiotas da objectidade" (Nélson Rodrigues :) ) quando se referem a "criatividade" aplicam-na a patetices como as que o Neymar gosta de fazer, e não às acções que o Matic, por exemplo, tem por hábito oferecer."

Quem é o Nélson Rodrigues? Sim, criatividade não é malabarismos. O Matic parece-me muito mais criativo do que a maioria dos jogadores a que essa gente chama criativos.

Jorge Ramiro diz: "Você pode jogar um jogo de futebol com os óculos? Edgar Davis jogava com óculos, mas foi autorizado a jogar. Além disso, os óculos de Davis eram especiais. Mas eu digo, e se um dia Cristiano Ronaldo entra no estadio com óculos de sol? Pode jogar com óculos de sol?"

Jorge Ramiro, o seu comentário fica desde já registado para uma nova resenha do Campeonato do Mundo dos Comentários Hilariantes.

Bruno Pinto disse...

Boas Nuno,

Estavas com saudades minhas, não estavas? Ora confessa lá. Eu também estava, daí que hoje decidi dar cá um salto.

Parece que hoje o Barcelona passou o jogo a fazer passes sem qualquer objectivo concreto. Apanhou um Milan forte a nível posicional e agressivo na pressão e não me lembro de uma única oportunidade de golo do Barça. Por outro lado, o Milan revelou objectividade quando atacou, sabia exactamente o que queria: chegar à baliza o mais rápido possível. Resultado: o Barça levou na peida sem contestação.

PS: é agora na Lázio que o Pereirinha, o gajo mais talentoso saído da Academia do Sporting em muitos anos, vai explodir??

PS2: o sacana do Ronaldo continua com uma dificuldade dos diabos em marcar golos em Espanha.

Grande abraço; e daqui a um ano ou dois volto cá a ver se continuas o mesmo idiota.

Fenómeno disse...

É fácil perceber nos teus textos que é isso que achas o Mourinho, mas eu estava a perguntar era sobre o Moutinho (jogador do fcp) :)

Nuno disse...

Fenómeno, foi um problema de visão meu. :) Embora a resposta seja parecida. Gosto do Moutinho q.b. É um jogador que decide bem, que não complica, que é cumpridor, que se movimenta bem, que executa bem, etc.. Mas não é um jogador criativo, ainda que não seja propriamente um jogador cinzento como outros médios. Teria dificuldades, a meu ver, para entrar neste Barça, a menos que fosse utilizado como, por exemplo, o Keita o era.

Nuno disse...

Monsieur Homais, tinha saudades, sim.

E sabia que tu ou outro dos milhares de trogloditas que queriam ver o Barcelona a cair porque são demasiados estúpidos para lhe suportarem a grandeza viriam cá mais tarde ou mais cedo.

Quanto ao jogo, não é a primeira vez que o Barcelona apanha uma equipa que defenda com todos os jogadores atrás da linha da bola. E, como já o mostrou noutras ocasiões, não é por isso que as coisas correm menos bem. Portanto, a qualidade posicional do Milan e a sua agressividade (para ser sincero, não acho que o Milan tenha defendido bem, sequer) não foram propriamente as razões para este resultado. Para ser sincero, houve uma razão, acima de todas as outras: o estado do relvado. Aquele relvado, aliado a uma equipa que não quis jogar, tornou a missão de uma equipa que vive das trocas curtas, das recepções e dos passes de primeira em espaços curtos, quase impossível. Como já disse várias vezes, as únicas duas maneiras de parar este Barcelona é jogar como o Barcelona ou jogar outro desporto. Foi o que aconteceu em San Siro esta noite: aquilo não era futebol. E, como não era futebol, a vantagem do Barcelona anulou-se. Era um jogo para 0-0, se a sorte não interviesse e modificasse as coordenadas da partida, para um lado ou para outro. Mudou-as para o lado do Milan, que foi tudo menos objectivo. Não me lembro de um único contra-ataque do Milan. Um único. O que não espanta, visto que eles não quiseram contra-atacar. Defenderam e esperaram que a sorte fizesse o resto. E fez. Não foi por o Milan ter sido objectivo, que não foi. Foi porque teve sorte, porque o árbitro não interrompeu a jogada do primeiro golo como devia, porque não marcou 3 penaltys a favor do Barcelona. Por tudo isso. Factores externos ao jogo: relvado, sorte, e arbitragem. São 3 das coisas que podem acidentalmente fazer com que esta equipa perca. Aconteceu. Não significa, porém, rigorosamente nada. E não belisca, se é isso que queres, a supremacia deles. O Barcelona perdeu 2-0 e foi infinitamente superior ao Milan. Acontece que o futebol é um jogo em que nem sempre os melhores ganham e é possível que se perca sem se criar uma única ocasião de verdadeiro perigo e, ainda assim, jogar melhor. Foi o que aconteceu. De resto, continuo a achar o Barcelona favorito a passar. Esta é, provavelmente, a pior equipa do Milan dos últimos 40 anos.

Quanto às piadas mais do que gastas, não vou comentar.

Mike Portugal disse...

"Não me lembro de um único contra-ataque do Milan. Um único. O que não espanta, visto que eles não quiseram contra-atacar. Defenderam e esperaram que a sorte fizesse o resto. E fez."

Olha que isto não é verdade Nuno. Eu só vi a 1ª parte e vi vários contra-ataques do Milan, dos quais 2 estiveram muito perto do golo. O Milan sobe fazer pressão no Barça e fazê-los errar, tanto que recuperou a bola inúmeras vezes lançando a velocidade dos seus jogadores imediatamente. E houve momentos na 1ª parte em que trocaram muito bem a bola chegando com perigo à àrea do Barça.

Nuno disse...

Mike, devemos ter visto jogos diferentes, então. Aquilo a que tu chamas contra-ataques eu chamo queimar tempo. Que esperanças é que uma equipa deposita em contra-ataques em que só coloca 1 homem contra 3 ou 4 defesas, ou 2 contra 5? O Milan nunca contra-atacou. Lançou 1 ou 2 jogadores em ataque, entregues a eles próprios, e que ganharam um ou outro canto. Não me lembro de uma única ocasião, nos 90 minutos, em que o Milan tenha executado um contra-ataque em que houvesse 2 ou mais jogadores à frente do portador da bola. Isso não é contra-atacar.

De resto, que pressão é que o Milan fez??? Ficou fechado lá atrás, e o Barcelona só não conseguiu entrar nas suas linhas porque de cada vez que a bola entrava num sítio povoado era meia-hora para executar a recepção.

Mike Portugal disse...

Então vimos um jogo diferente. Eu vi 2 oportunidades claríssimas de golo do Milan na 1ª parte desperdiçadas uma porque o gajo que ía com a bola isolado deu um toque com força a mais e o Puyol pode cortar, um centro que o avançado do Milan falhou por milimetros.

Pedro disse...

Aquilo que mais gosto do Barça é a forma como defende sem bola. É impressionante a ocupação de espaços que realiza tirando muita margem de manobra ao adversário. Curiosamente será aquilo que mais fácil é de "copiar" por outras equipas pq resulta "apenas" de táctica e treino. Não carece de qualidade técnicas individuais dos jogadores (isso tem muita importância quando o Barça tem posse de bola, daí defender que nem todas as equipas são capazes de fazer o q o Barça faz, nem o Barça seria capaz de o fazer com outros jogadores. Podia tentar mas o sucesso seria diferente).

Por várias vezes o Milan conseguiu cortar ataques do Barça mas foi sempre incapaz de sair com a bola jogável pq sempre que a cortava disparava um chutão lá para a frente. isto apesar de ter possibilidade de controlar a bola e sair com ela jogável. Mas o "medo" que as equipas têm da pressão do Barça provoca estes chutões. E claro, a bola cai nos defesas do Barça e lá vêm eles novamente para cima do adversário.

Nuno disse...

Mike, estás a gozar? No primeiro lance, o El Sharawy está em fora de jogo, no início da jogada. No segundo, falha por metros, não por centímetros. Mas como se atirou de rojo, as pessoas acham que foi por pouco. Mesmo que tivesse tocado na bola, achas que se encontrava em condições ideais de finalização? É esse o problema de quem analisa jogos do Barça. Os adversário do Barça, como só lá vão esporadicamente, vão lá sempre em esforço. E as pessoas nem sequer ligam a isso. Acham que uma oportunidade dessas, em esforço, é o mesmo que uma oportunidade real de golo. Achas mesmo que aquilo é um lance de perigo? É por isso, também, que acham que o Barcelona não criou grandes situações. Realmente, se tivesse passado o jogo a cruzar bolas para a área, teria sobrado uma ou outra para um lance de perigo. Como não o fez, não chegou a ter lances de perigo. Mike, nenhum desses 2 são lances de perigo, e nenhum desses 2 são lances de contra-ataque dignos de nota. O único lance de perigo do Milan na primeira parte é proveniente de um canto. O resto são histórias.

Pedro, totalmente de acordo. Foi isso que o Milan fez o jogo todo. E o jogo era claramente para 0-0. O relvado e a estratégia não permitia mais. A verdade é que o futebol, por ser um jogo de poucos golos (ao contrário de outros jogos), presta-se a injustiças destas. Como há poucas oportunidades, de repente 2 que dão golo fazem toda a diferença. Não significa, porém, que o Barça tenha sido inferior ao Milan. Pelo contrário, foi bem superior em quase tudo.

Mike Portugal disse...

Nuno, sim, se o jogador tem tocado na bola havia grandes probabilidades dela entrar na baliza, pelo angulo em que vinha e com a tensão com que vinha.

Mas não estou a dizer que o Milan foi melhor que o Barça. Estou a dizer que criou algum perigo em transições ofensivas, que é a única forma de vencer o Barça neste momento. O jogo em CampNou será diferente, com certeza, mas o Barça vai ter que se expôr a muitas transições de novo.

Batalheiro disse...

Este Nélson Rodrigues http://pt.wikipedia.org/wiki/Nelson_Rodrigues

Bruno,

Qual é a sensação de ser um idiota?