segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

As Teorias de João Rosado e mais um Disparate de David Luiz

É, para mim, sempre reconfortante assistir a jogos na televisão quando comentados por João Rosado. E é-o porque a estupidez continua a ter aquele lado cómico que me encanta. Haverá certamente comentadores desportivos mais irritantes que ele, mas confesso que há qualquer coisa de esquisito nas teorias de João Rosado que me fascina. É, muito provavelmente, o comentador desportivo no activo mais palerma, não sendo porém dos mais mediáticos. João Rosado já aqui foi alvo de alguma chacota e ontem, durante o jogo que opôs o Rio Ave ao Benfica, conseguiu não só superar-se a si mesmo como também repetir uma teoria atoleimada que já antes nos arrancara ruidosas gargalhadas.

A primeira das duas teorias que fazem de João Rosado um autêntico comediante é, portanto, uma repetição, o que, possivelmente, ainda é mais grave. Quando, dentro da área, Cardozo tentou jogar em Aimar e a bola embateu no braço de Gaspar, João Rosado teve a infelicidade de se mostrar convicto de que o paraguaio levantara a bola de propósito para que esta tocasse no braço do adversário. Claro que o fez. Entre dois adversários, estando preocupado em proteger a bola e em encontrar os companheiros a quem iria passar, Cardozo ainda arranjou tempo para pensar na possibilidade que tinha diante de si: ganhar um penalty fazendo a bola tocar num braço adversário. Está certo... João Rosado nunca jogou à bola. Ou então é mentecapto. É que qualquer palerma que já tenha jogado à bola sabe perfeitamente que enviar uma bola contra um braço não é propriamente algo fácil de fazer. Além disso, tendo tanto em que pensar e tendo que o fazer rapidamente, é estúpido imaginar que alguma vez isso passe pela cabeça de um jogador. O mais extraordinário, como disse, é que João Rosado já tinha expressado esta teoria noutra ocasião. Quanto a mim, João Rosado está convencido de que, entre outras coisas, há jogadores que, quando entram na área adversária, em vez de estarem a pensar em marcar golo, em fintar ou em assistir um colega, estão preocupados em tentar mostrar que são peritos a chutar bolas contra braços. Pessoas que estão convencidas deste tipo de coisas são parvas. João Rosado é parvo. Curiosamente, as qualidades "ser parvo" e "ser jornalista desportivo" parecem andar muitas vezes juntas.

Mas João Rosado não se ficou por aqui. Como se não bastasse, passou o jogo a insinuar qualquer coisa que não entendi muito bem. Quando o outro comentador do desafio sugeriu que Aimar estava a passar um pouco ao lado do jogo, João Rosado expressou, bem contente, um "Como é hábito!". Mais tarde, desenvolveu um pouco melhor a teoria e deixou no ar a ideia de que era costume Aimar estar ausente da partida. Para João Rosado, Aimar tem jogado constantemente mal, tem sido incapaz de se impor, perde muitas bolas. Para mim, João Rosado tem-se esquecido constantemente dos medicamentos, tem sido incapaz de se manter mentalmente saudável e perde muitas oportunidades para estar calado. Ou isso ou esteve fora do país durante os últimos seis meses. Ao longo de toda a partida, João Rosado procurou justificar a sua opinião sobre Aimar com o jogo menos brilhante do argentino. O problema, aqui, é que a opinião de João Rosado não faz sentido. Dizer o que quer que seja de negativo em relação a Aimar, depois do que o argentino tem feito, é estúpido. Procurar sustentar a teoria de que Aimar é habitualmente um jogador a menos na equipa não merece, sequer, que se lhe conceda espaço para argumentos. Pessoas com opiniões ridículas são tontinhos. E aos tontinhos deve-se apenas dar-lhes um bocado de plasticina e mudar-lhe a fralda de vez em quando. Mais nada. João Rosado, como tantos outros por aí, tem um canudo que diz que pode exercer jornalismo, tem amigos que o deixam dizer quantidades assustadoras de porcaria na televisão, e até tem a sorte de nunca lhe ter caído um relâmpago em casa, coisa que deveria acontecer a todos os seres humanos com um Q.I. inferior ao de um rinoceronte africano médio. O que não tem é competência para fazer o que faz.


Tempo agora para o disparate do desafio. Como é que é possível alguém continuar a aplaudir um jogador que, jogo após jogo, continua a insistir em fazer disparates em campo? Depois de se colocar mal no lance, permitindo que a bola entre em Tarantini, David Luiz vai atrás do médio do Rio Ave e, em plena grande área, arrisca um carrinho por trás do adversário? Nem está em causa se toca na bola ou não. Atropelando-o, só por azar é que não tocaria naquela bola. Agora, aquilo é sempre penalty, em qualquer parte do planeta. E a entrada é a roçar o vermelho. David Luiz nunca pode entrar a uma bola daquela maneira estando por trás do adversário, porque vai sempre derrubá-lo. Já contra o Nacional havia protagonizado um lance semelhante, embora esse, escandalosamente, não tivesse sido assinalado. Para atacar uma bola daquelas de carrinho, tem de fazê-lo estando minimamente de lado, de modo a que o seu movimento para chegar à bola não perturbe a acção do adversário. Por trás, é natural que, antes de chegar à bola, toque de alguma maneira no adversário. A única coisa que David Luiz poderia ter feito, naquele lance, depois de deixar fugir Tarantini, era correr ao lado dele e enviar-se de carrinho para a frente do jogador do Rio Ave, com o pé em posição de interceptar o remate. A opção pelo desarme, nas condições em que se encontrava, ou seja, atrás de Tarantini, foi por isso a pior possível. Dentro da área, então, uma burrice do tamanho do mundo. Mais um disparate e mais uma evidência do pouco crescimento intelectual de David Luiz, nos últimos meses.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Rosto de Liedson agride com Cabeçada o Punho de Sá Pinto!

Agora a sério, o Entre Dez agradece a atenção do ex-jogador, mas rejeita quaisquer responsabilidades...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ficar em contenção

Dois lances, dois golos, duas abordagens diferentes. Os lances em questão dizem respeito aos dois golos sofridos pelo Sporting este fim-de-semana. Apesar de o desfecho de cada um dos lances ter sido igual (golo sofrido), a verdade é que as abordagens defensivas foram diferentes, tendo uma delas sido correcta e a outra não. As jogadas são relativamente parecidas, embora ocorram em flancos opostos, e é por isso que é possível compará-las. Um avançado adversário tem a bola junto à linha e um defesa sai-lhe ao encalço. A missão do defesa, neste tipo de lances, é impedir que o avançado consiga progredir e evitar o mais que puder que se aproxime da sua baliza. Só. Não tem por missão fazer um corte, roubar a bola, parar a jogada. O único objectivo que a sua presença deve ter é a de criar um obstáculo e obrigar o avançado a ter de tomar uma opção. Ainda por cima, em situações como as duas em questão, em que as coberturas não estão imediatamente garantidas, é altamente irresponsável o defesa pensar noutra coisa que não em ficar em contenção. Ir à queima e procurar ganhar o lance tem o risco de, caso o perca, permitir que o avançado se aproxime da sua baliza, uma vez que não tem colegas por perto para o ajudar.



Ora, no primeiro golo do Nacional, Daniel Carriço toma precisamente a melhor das opções, saindo ao avançado madeirense, mas ficando em contenção, não correndo o risco de ser ultrapassado. Ao fazê-lo, deu a iniciativa ao adversário, o que se recomenda, em casos como este. A partir desse momento, o avançado pode ir para o drible, pode jogar para trás, ou pode tirar um cruzamento pouco perigoso, uma vez que não é feito da linha de fundo e a defesa está de frente para o lance. Qualquer das opções é preferível a tentar o corte, opção que acarretaria o risco de, caso não fosse bem sucedida, permitir que o avançado levasse a bola mais para perto da baliza e, aí sim, causar estragos irreparáveis. Como o atacante não tinha a possibilidade de soltar a bola num colega, o defesa não tem que ir direito a ele para ganhar a jogada a qualquer custo. Como a situação é de um para um e nem o atacante tem apoios próximos nem o defesa tem atrás de si a cobertura que lhe permita o risco de tentar ganhar a jogada, o melhor a fazer é parar à frente dele. Ao parar à frente do adversário, Carriço dá-lhe a iniciativa. Isto não só faz com que fique preparado para aquilo que o atacante vai fazer, como dá tempo aos colegas para se reorganizarem. Carriço adopta a postura correcta, não procurando ganhar o lance e obrigando o avançado a definir a jogada. Se, por acaso, a opção tivesse sido o drible, o defesa tem sempre mais probabilidades de ganhar duelos no um para um quando deixa ser o adversário a iniciar o drible, porque está preparado para essa eventualidade. Tendo sido a opção o cruzamento, não é propriamente algo que constitua perigo imediato, tendo em conta que a defesa está de frente para o lance. O facto de o lance ter dado golo não pode servir de justificação contra isto. Não só era muito improvável que, naquelas condições, acontecesse um golo, como a probabilidade de ele acontecer aumentaria muito se a postura de Carriço tivesse sido outra. Apesar do golo sofrido, o central do Sporting esteve, por isso, muito bem.



No segundo golo do Nacional, a história é outra. O lance é muito semelhante, mas acontece no flanco contrário e, em vez de Daniel Carriço, é João Pereira quem sai ao adversário. Ao contrário do colega que interveio no primeiro lance, João Pereira ignora por completo o facto de não ter cobertura nas costas e vai ao lance para ganhá-lo. Em vez de ficar em contenção, esperando pela iniciativa do adversário, ataca a bola. Ao fazê-lo, deixa parte do desfecho do lance entregue ao acaso e acaba por perdê-lo. Isso permite que o adversário se acerque da baliza e que cruze numa zona muito mais perigosa. As consequências, apesar de serem as mesmas que no lance anterior, podiam facilmente ter sido evitadas se João Pereira tivesse tomado a melhor opção, que passaria por ficar em contenção e obrigar o adversário a optar pelo drible ou a cruzar bem de longe. João Pereira teve um comportamento, portanto, incorrecto, potenciando a jogada de perigo adversária. Ao contrário, portanto, de Daniel Carriço, no primeiro lance, é o principal responsável pelo golo sofrido.

Estes dois comportamentos antagónicos ilustram, com exactidão, aquilo que se pode esperar dos dois intervenientes em termos de interpretação dos lances. Daniel Carriço é um jogador sóbrio, com escola, que entende as necessidades de cada lance. O seu comportamento é, por isso, invariavelmente condizente com aquilo que a jogada requer dele. Já João Pereira é um jogador impetuoso, que vale pelos seus atributos físicos e técnicos, pela velocidade de reacção e pela agressividade. Em lances defensivos, a sua interpretação é quase sempre a mesma: atacar a bola, sejam as condições quais forem. João Pereira está, por isso, muito mais susceptível ao erro. Não tendo propriamente concorrente à altura para a sua posição na equipa comandada por Carlos Carvalhal, não deixa de ser, por isso, um jogador cujo comportamento, em alguns aspectos do jogo, não é o melhor, e um jogador que não tem tanta qualidade quanto a que lhe querem conferir. Muito se tem falado, nos últimos dias, da qualidade que João Pereira veio trazer à equipa. Acredito que veio trazer presença no ataque ao seu flanco e agressividade ao mesmo, mas pouco mais. Este é apenas um exemplo daquilo que faz de João Pereira um jogador menos correcto do que o têm feito. Mais coisas virão, certamente.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Certezas (17)

Pequeno, ágil e tecnicista. É no cérebro, porém, que moram as principais virtudes deste jovem jogador. Desde a pré-época que me pareceu o jovem mais habilitado a servir as necessidades do plantel principal da sua equipa, embora outros nomes fossem bem mais falados. Irmão de outro jogador cuja reputação supera a sua real qualidade, e que não vingou, até agora, no mundo do futebol, apesar de todos os prognósticos, este jovem é das maiores esperanças do seu país e já foi mesmo chamado à principal selecção do mesmo. A velocidade a que pensa e a perfeição técnica fizeram com que lhe predissesse o futuro que agora parece começar a raiar. A sua criatividade faz com que deva ser aproveitado em posições ofensivas, mas o seu jogo cerebral, a capacidade de jogar ao primeiro toque e a grande visão de jogo que possui não podem fazer dele senão um médio de ataque. Está na calha para ficar, para já, na sombra de Xavi e de Iniesta, mas é o melhor jovem que o Barcelona tem para aquela posição. O futebol curto dos catalães precisa, para aquela posição em particular, de jogadores que o saibam interpretar bem, jogadores imaginativos, inteligentes, com uma capacidade técnica acima da média, e que ponham as suas qualidades ao serviço do colectivo, pensando e executando rápido. Este miúdo tem tudo isso. Faltar-lhe-á, ainda, a confiança dos graúdos ao lado de quem joga, mas o resto já lá está. Será, pois, uma questão de tempo para que comece a dar, realmente, nas vistas. Quando se fala na possibilidade de Cesc Fabregas voltar a Camp Nou, pergunto-me que tipo de meio-campo pode o Barcelona constituir em anos vindouros com jogadores como Fabregas, Xavi, Iniesta, Busquets e este jovem prodígio. Tal como Bojan Krkic, o tamanho é inversamente proporcional ao seu talento e, tal como o sérvio-espanhol, é das maiores pérolas que os catalães possuem. O futuro é dos pequeninos e a Jonathan dos Santos antevejo um bem promissor...

domingo, 10 de janeiro de 2010

O que fazer?

O Arsenal empatou esta tarde em casa frente ao Everton e esteve mesmo a ponto de perder o desafio, não fosse o golo marcado já em período de descontos por Rosicky. O que me traz aqui, porém, não é o jogo em si, mas aquilo que permitiu, de certo modo, o desfecho negativo para os homens de Wenger. Falo do segundo golo, um lance de contra-ataque que Pienaar concluiu com categoria e que, para muitos exemplifica um contra-ataque bem gizado. A apreciação que faço do lance é, todavia, bem diferente. E explica, de certo modo, não só este resultado mas também a frequência com que os deslizem acontecem a este Arsenal. Já frente ao Chelsea tinha identificado os erros individuais de Sagna como as principais causas do mau resultado e já contra o Manchester City a derrota pode bem ser explicada por vários erros de Clichy. Agora foi a vez de Traore, um jogador veloz e que até cruza bem, mas cujas deficiências a nível posicional e de interpretação dos lances fazem dele uma constante ameaça à sua própria equipa. O lance do golo encontra-se já a seguir; a análise ao mesmo logo abaixo.



Após um canto do Arsenal, o Everton recupera a bola e fá-la chegar ao seu homem mais adiantado - creio que Bilyaletdinov - e Traore é o último homem. Nasri vem a recuar para compensar e Pienaar aparece apenas atrás de Nasri. Tendo Nasri feito a aproximação a Bilyaletdinov, Traore não tem que ir cair em cima do russo. Sendo o último homem, não pode ir obstruir a passagem ao russo sem esperar por reforços. Mas foi o que fez. Ao ir direito ao jogador do Everton, desguarneceu a zona central do terreno e permitiu que a bola aí entrasse depois. Naquela situação, recomendava-se uma de duas coisas: 1) ou fazer contenção, procurando que Bilyaletdinov avançasse com a bola, de preferência obrigando-o a derivar ligeiramente para a linha, e esperando que os restantes jogadores do Arsenal recuperassem posições para, aí sim, poder atacar o portador da bola; 2) ou então, se é para ir direito ao russo, que fosse para fazer falta ou para recuperar a bola a qualquer custo. Traore nem ficou em contenção, nem foi morder os calcanhares ao russo ou impedi-lo de soltar a bola. Naquela situação, sendo o último homem, se decide atacar o portador da bola, tem de, pelo menos, impedi-lo de passá-la. Mas Traore foi só para cima do russo, ficando a um metro dele, à espera do que ele ia fazer para reagir a isso. Esperava, certamente, que este arrancasse individualmente, para depois persegui-lo, não antecipando a possibilidade de ele passar a bola a um colega. Ao preocupar-se apenas com o russo, não antecipou as possibilidades que o russo teria depois de receber a bola. Conclusão: uma cratera enorme a facilitar a entrada de Pienaar, que conclui sem oposição, e o Arsenal em desvantagem, outra vez por causa da infantilidade de alguns dos seus jogadores.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sergio Busquets e o 343 de Guardiola

Busquets apareceu numa altura em que, por azar, ainda o Entre Dez não se preocupava em escrever sobre jovens talentos que não os portugueses. Se assim não fosse, teria certamente constado de entre os vários jogadores já avaliados na rubrica "Certezas". Desde os primeiros jogos que nos pareceu ser um jogador de qualidade inegável e alguém que, mais tarde ou mais cedo, se iria impor na alta roda do futebol europeu. Confesso que a minha referência actual como médio-defensivo, aquele jogador que me encanta como me encantaram Redondo, Guardiola e Paulo Sousa, por exemplo, não faz sequer parte dos principais planos da sua equipa, sendo o terceiro médio-defensivo do seu plantel. Falo de Gago. Não estando a jogar, é difícil prever a sua evolução e não sei que jogador será daqui a uns anos. Como tal, a referência volta a ser Andrea Pirlo. O que tem o jovem catalão, então, a ver com Pirlo? O facto de ser aquele que, no futuro, me parece ter melhores condições para seguir o legado do italiano, tendo em conta que Gago permanece ignorado em Madrid.

O futebol de Busquets começou por ser correcto e simples. As suas decisões, não raro as melhores, eram a sua imagem de marca. Não inventava, não complicava; tudo o que saía dos seus pés era simples. A matemática exacta do seu jogo, não sendo este muito extravagante, muito imaginativo, de levantar estádios, sustentava-se por si mesma. Para a posição que ocupava em campo, era, mais do que suficiente, aconselhável. Um médio-defensivo deve ser um jogador de toque curto, de apoios, um jogador que consiga municiar os médios mais criativos sem comprometer, que consiga fazer fluir o jogo atacante o mais rapidamente possível, embora sem se precipitar. Busquets fazia isto tudo e a equipa agradecia. Dificilmente poderia fazer mais. E já a época passada defendíamos que, apesar da sua imaturidade, tornava o futebol do Barcelona mais inteligente do que quando no seu lugar se apresentava Yaya Touré. Volvida que está a primeira volta do campeonato espanhol, Busquets apresenta-se como primeira opção para Guardiola, tendo relegado para o banco de suplentes o costa-marfinense. Mas o catalão não se ficou por aqui. A sua tenra idade permite que continue a evoluir. E à magia da simplicidade de processos, aos pezinhos de lã com que joga, juntou agora a classe e os números dos predestinados. Têm sido habituais, para quem tem visto os jogos do Barcelona, algumas ousadias de Busquets, toques de calcanhar, fintas em zonas complicadas, números artísticos colectivamente eficazes. E tudo isto sem sacrificar a eficácia e a qualidade das suas decisões. O menino certinho, bem comportado, parece ter dado lugar ao adulto emancipado, com um autodomínio assinalável e competências antes ignoradas.



Tomei a liberdade de resgatar o vídeo acima do extraordinário blogue Paradigma Guardiola. É composto de várias intervenções de Busquets no último jogo do Barcelona para o campeonato, frente ao Villareal, sendo que algumas dessas intervenções corroboram o que acima foi dito. A qualidade de Busquets com bola e a sua evolução em termos mentais terá mesmo permitido a Guardiola utilizá-lo de um modo que, antes, não acreditava ser possível. Guardiola preparou a equipa, no início desta época, para jogar em 343 sempre que isso fosse recomendável. Com efeito, quando com 4 defesas, o Barcelona, para sair a jogar, faz subir muitíssimo os laterais e abre os centrais. A bola sai então num dos centrais, que deve dar início ao processo ofensivo. Acontece, porém, que equipas que pressionem muito alto e com dois avançados podem constranger esta estratégia usando cada um dos avançados para pressionar os dois centrais catalães. Prevendo essa situação e para não abdicar de sair a jogar desde a defesa, Guardiola projectou a equipa para se estender no campo em 343 quando a bola está no seu guarda-redes. Assim, sempre que se justificasse, o médio-defensivo baixava, ocupando o centro da defesa que estaria vago pela abertura dos centrais, e os laterais subiriam para a linha dos dois médios-ofensivos. No início da época, vimos o Barcelona optar por esta estratégia várias vezes, mas sempre com Yaya Touré. Talvez porque isso não era treinado com Busquets, sempre que o médio catalão jogava, o Barcelona não optava por este método, mesmo quando o mesmo se justificava. Com o Villareal, contudo, várias foram as vezes que Busquets baixou para a linha dos centrais, de modo a ocupar um espaço livre, dada a pressão altíssima protagonizada pelos avançados adversários. Acredito que a inclusão de Busquets nesta estratégia não tem apenas a ver com o facto de o jovem parecer ter agarrado a posição, mas sobretudo com o facto de ter já maturidade suficiente para que não seja um risco entregar-lhe a bola sendo o último homem.

Posto isto, falta falar da utilidade do 343 de Guardiola e de como o Barcelona, mesmo utilizando essa estratégia, acabou por não se conseguir soltar das amarras da pressão da equipa de Ernesto Valverde. Creio que a estratégia é especialmente útil para facilitar ao Barcelona a saída de bola, sempre que pressionado em cima. Baixando o médio-defensivo, cria uma situação de superioridade numérica e pode começar a construir sem ter de recorrer a passes mais longos. Importa, por isso, que depois dessa primeira fase o médio-defensivo reocupe o seu lugar natural, aproximando-se dos médios-ofensivos para lhe dar os devidos apoios. O jogo contra o Villareal, porém, não é exemplo. O jogo não correu bem aos catalães por várias razões. Em primeiro lugar, falharam-se muitos passes, alguns deles em zonas complicadas. Isso fez com que a equipa não tivesse tanta bola e, sobretudo, que se intranquilizasse. Fora isso, seria plausível que uma equipa como o Barcelona, fazendo uso da estratégia do 343, conseguisse anular a pressão alta do adversário e fosse capaz de sair a jogar, de pé para pé, de forma faseada, sem saltar etapas. No entanto, o Barcelona poucas vezes o conseguiu fazer. A forma como o Villareal pressionava nem sequer era exemplar, muito focada nas individualidades. Em 442 clássico, os dois avançados atacavam os dois centrais do Barcelona, os alas fixavam-se nos laterais e os médios nos dois médios-ofensivos do Barça. Às vezes, quando Busquets baixava, um dos médios saía para pressioná-lo. Nestas alturas, o médio do Barça que ficava solto deveria ter aproveitado para procurar receber a bola. Creio que faltou, acima de tudo, maior movimentação dos dois médios-ofensivos e essencialmente a passagem da primeira fase de construção à segunda. Não conseguindo ligar os defesas e Busquets aos médios-ofensivos, o Barça foi recorrendo cada vez mais aos lançamentos longos para Ibrahimovic, acabando por não conseguir permanecer com a posse de bola, como tanto gosta. Concedendo maior mobilidade aos médios-ofensivos quando a equipa tinha a bola na defesa ou em Busquets, o Barcelona teria certamente desamurrado as marcações e criado buracos importantes no meio-campo. Por exemplo, poderia ter sido estratégia obrigar Xavi, que era quem estava mais policiado, a movimentar-se, sem bola, numa diagonal para a ala esquerda, por exemplo. Levaria, pelo menos momentaneamente, o seu adversário com ele, o que daria espaço, por exemplo, para Ibrahimovic baixar e receber de costas para a baliza, e servir de apoio vertical. As solicitações para o sueco seriam assim pelo chão e mais curtas, facilitando-lhe a vida. Entrando a bola em Ibrahimovic, estaria feita a ponte da primeira para a segunda fase de construção. Depois disto, fazia sentido o sueco jogar de frente com Jonathan dos Santos ou obrigar Pedro a aproximar-se de Ibrahimovic para que ele lhe desse a bola.

Estas são apenas algumas possibilidades estratégicas que teriam sido proveitosas para desbloquear aquele que me pareceu o principal problema do Barça no desafio, a capacidade de fazer a bola entrar em condições jogáveis na zona intermediária do adversário. O papel de Busquets, nessa manobra, como já o disse, foi importante. Mas mais importante ainda é o Barcelona saber que pode contar com ele para este tipo de soluções. O seu crescimento está à vista e a sua qualidade parece cada vez mais. Para terminar com chave-de-ouro, arrisco-me a dizer que será um dos grandes nomes deste desporto durante a próxima década.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Dois Avançados com Escola

A jogada é a do primeiro golo do Sporting frente ao Braga, ontem, e a razão pela qual a trago a lume prende-se com o desenho da mesma. Após o golo, os comentadores enalteceram a jogada e a assistência de Grimi, assim como a finalização de Saleiro. Esqueceram-se, porque é assim que vêem futebol, da principal causa do golo, daquilo que, de facto, teve maiores responsabilidades na construção da oportunidade de golo. A execução do remate de Saleiro e a execução do passe de Grimi não são coisas extraordinárias e têm pouco a ver com as razões pelas quais o Sporting chegou ao golo. A principal causa do desfecho da jogada é o movimento, sem bola, dos dois atacantes leoninos, sobretudo o movimento de Postiga, por ter sido aquele que soltou Saleiro.



Este lance é especialmente útil para várias coisas. Em primeiro lugar, para demonstrar como, sem tocar na bola, alguém pode ser o principal responsável por um golo. O movimento de Postiga é óptimo, trocando posicionalmente com Saleiro na altura exacta, ou seja, quando Grimi conduzia a bola e ia ter de decidir para quem enviá-la. Ao movimentar-se como se movimentou, arrastou o central que tinha mais perto de si e abriu um espaço entre esse central e o lateral que o movimento de Saleiro acabou por aproveitar. Sem o movimento de Postiga, nunca este golo tinha sido possibilitado. Em segundo lugar, para demonstrar como a referência do homem pode ser nociva para quem defende, mesmo que em zonas próximas da área. Ter-se preocupado com Postiga fez com que André Leone se movimentasse para cima do seu colega de sector, Moisés, abrindo um espaço entre si e Evaldo que foi aproveitado por outro jogador do Sporting. Se Leone estivesse preocupado com as referências certas, com a posição da bola, com a posição dos colegas e com a baliza, deveria ter permanecido na sua posição, mantendo a linha de quatro e o espaço interior protegido, e nunca Saleiro gozaria do espaço que gozou. Assim, a par do movimento de Postiga, o erro de Leone pesou na obtenção do golo do Sporting. Em terceiro lugar, para relembrar a importância da inteligência e da "escola" num jogador de futebol. Um lance aparentemente inofensivo é transformado, com um só passe, numa ocasião de golo. Isto só foi possível por causa da movimentação de Postiga e Saleiro, algo que se aprende na formação e que constitui uma movimentação canónica em lances de 3 para 2. Jamais o Sporting obteria este golo sendo um dos dois avançados alguém sem escola, alguém que jamais corresponderia à diagonal de Saleiro com uma diagonal no sentido inverso, alguém que não compreende que pode soltar um colega meramente através da sua movimentação. É por causa deste tipo de lances e das possibilidades que se abrem à equipa tendo este tipo de jogadores no ataque em detrimento de jogadores que não possibilitam este tipo de coisas que é com este tipo de jogadores e não com o outro tipo que o Sporting é mais equipa.