Eis que nasce uma nova rubrica neste espaço, dedicada a jogadas geniais. Tínhamos pensado nesta ideia há já algum e tínhamos já algumas jogadas na gaveta de modo a servir-lhe os propósitos. No entanto, visto que este fim-de-semana a jogada genial do segundo golo do Real Madrid não passou despercebida e visto que se tem comentado mais essa jogada num texto dedicado ao Porto do que propriamente os problemas que o texto em causa levanta, decidi antecipar a estreia e aqui vai o lance.
Depois de lançado por Kaká, num lance de contra-ataque em que a defesa do Deportivo da Corunha abre um buraco imenso - onde andas, Zé Castro? - Guti fica isolado perante o guarda-redes adversário. É então que o inesperado acontece, com o jogador do Real a lembrar-se de tocar a bola de calcanhar em vez de tentar a finalização. Atrás dele vinha Benzema, que ficou assim com a baliza escancarada, perante um central e um guarda-redes adversário completamente apanhados de surpresa. O toque de Guti não tem nada de irresponsável. Como é óbvio, Guti sabia que tinha um colega atrás de si. Poderia não saber quem era nem saber exactamente onde estava quando tentou o passe, mas sabia que tinha alguém atrás de si. Nunca, como chegou a ser sugerido, Guti tentaria aquilo se não soubesse tal coisa. No momento anterior a receber a bola, Guti ter-se-á certamente apercebido da posição dos colegas e só terá perdido o contacto com eles a partir do momento em que concentrou o olhar na bola para a receber. Daí que o toque de calcanhar não seja uma tentativa louca de fazer algo extravagante. Foi, isso sim, uma ideia genial baseada numa percepção correcta da posição e da movimentação lógica dos colegas. Se Guti tivesse deixado de ver Benzema a partir do momento em que passou por ele no meio-campo, jamais se lembraria de fazer o que fez.
A jogada é genial e, ao mesmo tempo, uma boa opção. Pode alegar-se que, numa situação de finalização clara, com apenas o guarda-redes pela frente, o avançado deve sempre tentar o golo. Discordo disto. Em todo o instante, a melhor opção é aquela que aumenta as probabilidades de êxito de uma jogada. Quando se está num dois para um com um guarda-redes, é sempre aconselhável transformar essa situação num um para zero, com o avançado a ficar com a baliza escancarada para finalizar. Do mesmo modo, se for possível, numa situação de um para um com o guarda-redes, transformar essa situação numa situação de um para zero, com um colega a ficar com a baliza aberta para finalizar, essa é sempre a melhor opção. Foi o que Guti fez. É verdade que poderia ter corrido mal, mas não é menos verdade que, ao correr bem, aumentou extraordinariamente as probabilidades de êxito. Ter pela frente apenas o guarda-redes é uma jogada de golo óbvia, mas mais óbvio ainda é não ter ninguém pela frente. O génio de Guti transformou uma jogada com algumas probabilidades de sucesso numa jogada de sucesso evidente. Com o seu gesto, não só o fez como deixou imediatamente batidos o guarda-redes e o defesa que o perseguia. A jogada é, portanto, brilhante, porque revela a inteligência e a capacidade de Guti para fazer do óbvio algo verdadeiramente inesperado. Isto não tem nada de irresponsável ou de mal jogado; é fantasia, imaginação, capacidade de improviso. Os grandes jogadores são aqueles que o conseguem fazer e aqueles que, ao fazê-lo, não estão apenas a tentar fazer algo ao acaso, algo de diferente apenas por capricho; fazem-no porque conseguem perceber as verdadeiras consequências do que estão a fazer. Isto não é apenas um número de circo; é um gesto que vale pela intenção. E a intenção é genial.
Depois de lançado por Kaká, num lance de contra-ataque em que a defesa do Deportivo da Corunha abre um buraco imenso - onde andas, Zé Castro? - Guti fica isolado perante o guarda-redes adversário. É então que o inesperado acontece, com o jogador do Real a lembrar-se de tocar a bola de calcanhar em vez de tentar a finalização. Atrás dele vinha Benzema, que ficou assim com a baliza escancarada, perante um central e um guarda-redes adversário completamente apanhados de surpresa. O toque de Guti não tem nada de irresponsável. Como é óbvio, Guti sabia que tinha um colega atrás de si. Poderia não saber quem era nem saber exactamente onde estava quando tentou o passe, mas sabia que tinha alguém atrás de si. Nunca, como chegou a ser sugerido, Guti tentaria aquilo se não soubesse tal coisa. No momento anterior a receber a bola, Guti ter-se-á certamente apercebido da posição dos colegas e só terá perdido o contacto com eles a partir do momento em que concentrou o olhar na bola para a receber. Daí que o toque de calcanhar não seja uma tentativa louca de fazer algo extravagante. Foi, isso sim, uma ideia genial baseada numa percepção correcta da posição e da movimentação lógica dos colegas. Se Guti tivesse deixado de ver Benzema a partir do momento em que passou por ele no meio-campo, jamais se lembraria de fazer o que fez.
A jogada é genial e, ao mesmo tempo, uma boa opção. Pode alegar-se que, numa situação de finalização clara, com apenas o guarda-redes pela frente, o avançado deve sempre tentar o golo. Discordo disto. Em todo o instante, a melhor opção é aquela que aumenta as probabilidades de êxito de uma jogada. Quando se está num dois para um com um guarda-redes, é sempre aconselhável transformar essa situação num um para zero, com o avançado a ficar com a baliza escancarada para finalizar. Do mesmo modo, se for possível, numa situação de um para um com o guarda-redes, transformar essa situação numa situação de um para zero, com um colega a ficar com a baliza aberta para finalizar, essa é sempre a melhor opção. Foi o que Guti fez. É verdade que poderia ter corrido mal, mas não é menos verdade que, ao correr bem, aumentou extraordinariamente as probabilidades de êxito. Ter pela frente apenas o guarda-redes é uma jogada de golo óbvia, mas mais óbvio ainda é não ter ninguém pela frente. O génio de Guti transformou uma jogada com algumas probabilidades de sucesso numa jogada de sucesso evidente. Com o seu gesto, não só o fez como deixou imediatamente batidos o guarda-redes e o defesa que o perseguia. A jogada é, portanto, brilhante, porque revela a inteligência e a capacidade de Guti para fazer do óbvio algo verdadeiramente inesperado. Isto não tem nada de irresponsável ou de mal jogado; é fantasia, imaginação, capacidade de improviso. Os grandes jogadores são aqueles que o conseguem fazer e aqueles que, ao fazê-lo, não estão apenas a tentar fazer algo ao acaso, algo de diferente apenas por capricho; fazem-no porque conseguem perceber as verdadeiras consequências do que estão a fazer. Isto não é apenas um número de circo; é um gesto que vale pela intenção. E a intenção é genial.
9 comentários:
O lance do Guti é realmente de Génio. Parece uma jogada saída de um TOP 10 de assistências da NBA.
E pensar que um jogador destes provavelmente nem sequer vai ao Mundial.
Boas.
Está interessado em fazer troca de links com o meu blog?
Eu e os meus colegas do blog gostava-mos muito que aceita-se.
O blog é:
http://oladodofutebolquenuncaviram.blogspot.com/
Se aceitar depois diga alguma coisa e ao por o link do nosso blog agradecíamos que pusesse tal como nos temos a nossa lista de blogs.
Ficamos à espera da resposta
Abraço
E ja agora, o jogo do Nani frente ao Arsenal ?
Boas Nuno,
Fico contente que a minha discórdia tenha originado um post.
O vídeo continua a merecer-me uma grande desconfiança em relação à percepção do Guti em relação ao Benzema. No entanto, como já foi afirmado pelo Guti que tinha conhecimento da posição do colega, não tenho razões para duvidar. Sendo assim é uma acção responsável e, sem dúvida, uma jogada de génio.
Mas discordo de duas frases neste texto, quando aplicadas em termos absolutos:
"Quando se está num dois para um com um guarda-redes, é sempre aconselhável transformar essa situação num um para zero, com o avançado a ficar com a baliza escancarada para finalizar."
- Isto corre o risco de contrariar a frase anterior, "melhor opção é aquela que aumenta as probabilidades de êxito de uma jogada". É aconselhável transformar essa situação num um para zero se essa for a melhor opção. Se não for, deixa de ser a melhor opção. É óbvio.
"É verdade que poderia ter corrido mal, mas não é menos verdade que, ao correr bem, aumentou extraordinariamente as probabilidades de êxito."
- Neste caso, sim. O passe, com a intenção responsável, implicou pouco risco. Mas não é sempre benéfico tentar uma situação de 100% de êxito, se para a atingir se parte de uma situação de 90% e a acção de aumentar as probabilidades acarretar um êxito de só 75%, por exemplo.
Cumprimentos.
Grande texto. Concordo com a análise, mas o ponto levantado pelo Fernando faz todo o sentido, até mesmo por uma questão de probabilística. Num cenário ideal, os jogadores seriam todos Gutis e Bezemas, mas a realidade é muito diferente. Na maioria dos casos, creio, fazer aquilo era deitar por terra uma tremenda possibilidade de golo em troca de uma não garantia de consecução do movimento que iria levar ao aumento de possibilidade de golo do segundo momento. Será que vale a pena arriscar a transição (sendo o que passe é a ligação entre os dois momentos e, em si, acarreta uma probabilidade de consecução muito mais baixa) em troca de uma maior probalidade no segundo momento?
Só para alguns, só para alguns...
É uma jogada muito bonita mas podia tanta coisa correr mal que assusta...
Primeiro começo com muitas dúvidas q se tenha ficado perante um 1x0 pois foi por muito pouco q Benzema não tinha um adversário em cima no momento do remate, o passe de calcanhar podia ter ido parar a todo o lado menos para o lugar certo (e as probabilidades de tal acontecer são bastante grandes).
Foi a melhor opção? Tendo em conta a posição de Gutti e as probabilidades de algo correr mal, não acho que tenha sido a melhor opção.
Deixo aqui 3 questões...
1 - será que o Benzema disse alguma coisa que facilitasse a decisão do Gutti?
2 - O Risco do falnhanço do passe tem que ser subtraido do aumento da probabilidade de sucesso da finalização... será que uma compensa a outra? eu acho que sim
3- do ponto de vista económico/markting, dada a singularidade e espectacularidade da jogada, não há duvida de que foi uma boa decisão... e o Real Madrid vive muito disso... o Presidente agradeceu!!!
Eu acho que foi genial, na altura quando vi o lançe fiquei maravilhado.
Depois destes comentários todos... a sorte protege os audazes... não sei para quê tantos ses...
O Guti foi um dos melhores médios ofensivos da década, apesar de não ter tido um grande impacto mediático na imprensa, e continua a espalhar magia em Madrid.
O lance em questão é, sem dúvida, um regalo para os olhos.
Saudações.
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