Nos primeiros anos como técnico leonino, Paulo Bento iludiu como treinador: personalidade, coragem e uma primeira época (de raiz) em que, para além de ter vencido a Taça e lutado pelo campeonato até ao último minuto, a equipa jogava bem (não dava "show" como o Sporting de 2004/2005, mas apresentava um futebol mais equilibrado, que lhe permitiu, aliás, bater-se de igual com os grandes da Europa). Na Champions, o único resultado verdadeiramente decepcionante foi a derrota, em casa, num jogo em que tudo correu mal aos leões, contra o Spartak; nos confrontos com o Bayern e o Inter, cujos resultados, nos quais saiu derrotado pela margem miníma, não espelharam a qualidade demonstrada pelo conjunto leonino (sendo que, contra os bávaros, o conjunto orientado por Bento só não saiu vitorioso de um desses jogos por manifesta infelicidade).
No entanto, existiam alguns pormenores que, para o Entre Dez, eram incompreensíveis: a insistência num jogador como Liedson, o "abrir mão" de um jogador como Deivid, a aposta (demasiado) tímida em Pontus Farnerud, o esquecimento a que vetou um talento como Diogo Tavares, etc. Tudo isto eram pontos negativos mas, tendo em conta os outros factores, aparentemente positivos, o saldo da balança na apreciação ao treinador era, à partida, extremamente positivo.
Na segunda época, os equívocos continuaram, se bem que misturados com opções que eram, aparentemente, sinónimo de estarmos perante a solução ideal para um clube como o Sporting: se a opção por Gladstone não dizia nada de bom deste treinador, já a chamada de Paulo Renato e Pereirinha, a meio da época, parecia uma demonstração de que Bento prentendia tirar todo o proveito dos produtos da academia de Alcochete. Já a opção por Purovic e a justificação para a mesma, a necessidade de ter um jogador diferente para poder abordar de uma forma mais directa alguns adversários durante os jogos, até se poderia entender, com alguma boa vontade, como um raciocínio inteligente, uma forma dinâmica de ler as várias dificuldades com que uma equipa como o Sporting, muito provavelmente, se iria deparar. Mas nada disso fazia sentido. Mais do que isso, demonstrava de forma dissimulada, é certo, uma tendência para abdicar de uma das maiores virtudes do Sporting2006/2007: a qualidade (e quantidade) na posse e circulação da bola. O Sporting, na época 2007/2008, passou a jogar com uma maior ansiedade na procura do golo, tentando chegar mais rápido à baliza adversária, e isto à custa de um posicionamento mais largo da equipa no campo. O Sporting apresentou-se com os sectores mais afastados tanto em largura como em profundidade. Este facto veio promover uma maior dependência das acções individuais por parte dos seus jogadores. Com um futebol mais partido, a formação leonina passou a sentir, progressivamente, grandes dificuldades perante equipas que optassem por dividir o jogo contra os comandados de Bento: por não se remeterem a uma estratégia essencialmente defensiva (em alguns casa até acontecia exactamente o contrário) conseguiam exponenciar as debilidades que o "novo" modelo de Bento apresentava. Esta época foi ainda uma época que ficou marcada pelo reforço da equipa sportinguista por uma das maiores promessas dos ultimos anos: Bruno Pereirinha. As primeiras aparições de Bruno Pereirinha não me desiludiram em nada. Antes pelo contrário, apresentou maturidade e concentração, virtudes que, aliadas à inteligência que possuía e aos atributos físicos e técnicos que já havia demonstrado ao serviço quer dos juniores, quer do Olivais e Moscavide, indicava que a breve prazo o mundo se iria surpreender com mais um grande talento leonino. No entanto, nada disto se confirmou. A época leonina não confirmou tudo o que de bom a anterior tinha prometido e nem o facto de a equipa se cruzar perante adversários de inesquestionável menor valia lhe permitiu alcançar resultados de destaque nas competições europeias. Nas competições internas, salvou-se a conquista (de mais uma) Taça de Portugal, com o mais improvável dos heróis, visto que no campeonato as reais hipóteses de o Sporting lutar pelo título ficaram afastadas muito antes do térmito deste.
A terceira época de Bento foi apenas o corolário de todos os erros que o caminho pelo qual optara necessariamente implicaria: 442 clássico, sectores ainda mais afastados, a opção por jogadores que privilegiam o jogo directo, decréscimo acentuado da qualidade de jogo e das reais hipóteses de o Sporting se assumir candidato ao que quer que seja. Uma época patética sem nível, de constantes humilhações, em que até os seus jogadores entraram numa fase de regressão. Moutinho estagnou, e quem o viu no primeiro ano, com Peseiro, decerto não imaginava que continuasse, por esta altura, a um nível semelhante; Veloso, entre conflitos, e um modelo de jogo que não lhe permite evoluir na compreensão do jogo, perdeu todo o brilho que ostentava na sua época de estreia ao mais alto nível; Djálo, um jogador que se apresentou como um jogador com mais do que apenas velocidade, na companhia de um jogador como Liedson, que pretende resolver tudo sozinho em vez de procurar o colectivo, está cada vez mais parecido com o Levezinho, mas sem o capital de confiança que este tem; Pereirinha é o pior caso: ultimamente até na capacidade de decisão parece ter regredido, ja para não falar na gritante falta de confiança de que padece; Adrien, apesar da forte personalidade e de toda a qualidade que possui, vê-se privado de oportunidades devido a uma anedota como é o caso de Rochemback; Patrício será o único que se poderá sentir grato a Bento: apesar de se poder discutir se, por esta altura, Patrício beneficiaria se tivesse sido emprestado nos seus primeiros anos como sénior, a verdade é que a aposta de Bento, lentamente, começa a surtir efeito; Daniel Carriço, apesar de a grande generalidade das pessoas lhe reconhecerem muita qualidade e uma enorme importância na defesa leonina, não vê ser "explorada" toda a sua qualidade, nomeadamente no que toca à sua competência a sair a jogar; André Marques é talvez o que menos se ressente, mas a época ainda agora começou, por isso, ou algo de extraordinário altera a perspectiva de Bento, ou ainda vamos ver um André bem pior do que já vimos.
Finalizando: o caminho de Bento vai de encontro à maioria dos adeptos do futebol em geral e do Sporting em particular. Admito que, pela perspectiva que eles têm do futebol, vendo-o como um desporto que depende de uma série de desempenhos individuais que se vão somando aleatoriamente, o clube de Alvalade até nem está assim tão bem como isso. Mas se o enfoque do treinador se colocasse sobre a capacidade de os seus jogadores se relacionarem e combinarem a sua interpretação do jogo de forma una e colectiva, aí o clube de Alvalade seria dos mais fortes a nível Europeu. Não teríamos Liedson, Rochemback, etc., e teríamos de ter Farnerud, Romagnoli, Custódio, Hugo Viana, etc., o que para o adepto comum seria motivo de um tristeza inefável. O Sporting, porém, encontrar-se-ia neste momento perante um futuro (e provavelmente um passado recente) bem mais próspero.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Elogio a Paulo Bento
Escrito por Gonçalo às 08:02:00
Etiquetas: Paulo Bento, Raciocínios Tácticos, Sporting
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
recebi a visita dum tipo q se diz o luis sobral, será? LOL
É possível. Ele também já por aqui apareceu. Embora no teu caso ele parecesse estar a gozar...
O Sporting podia ser o novo Barcelona, mas o Paulo Bento definitivamente não é o novo Guardiola LOL
Eu li mal ou está implícita (explícita) uma crítica ao Liedson?...
Este texto fala apenas das opções do Bento, assim como a filosofia que sustentou o caminho que ele tomou. O Liedson não tem a cilpa de ser como é.
Um abraço.
Realmente o Liedson é um problema...
Alias ainda esta quinta feira voltou-o a ser. Quando um lampião fala do Sporting é o que dá....será resquicios de 10 batatinhas que o levezinho já espetou no carnide?
SL
Enviar um comentário