Um dos argumentos para defender que o Barcelona de Guardiola valia pelas suas individualidades era comparar essa equipa à selecção espanhola, também ela constituída por jogadores baixinhos, inteligentes e tecnicamente dotados. Este argumento é, evidentemente, falacioso. A Espanha não tem nada a ver com o Barcelona.
Primeiro, a Espanha de Aragonés jogava num sistema completamente diferente, sistema esse que tornava o jogar da equipa completamente diferente. O futebol não era de pé para pé como o do Barcelona, não havia a capacidade para trocar a bola como há no Barcelona, não havia a quantidade assustadora de tabelas, as triangulações, etc. Havia, isso sim, jogadores inteligentes que, pelas suas características individuais, emprestavam inteligência à equipa. Mas essa inteligência era sempre uma coisa individual ou, quando muito, entre dois atletas. Não havia a coordenação, o entendimento, a organização, o pensamento igual. Não havia, em suma, uma inteligência colectiva, que é o que define o Barcelona de Guardiola. Isso foi evidente, durante o passado europeu. A Espanha sagrou-se campeã, mas toda e qualquer semelhança com o Barcelona de Guardiola é puro engano.
Já a Espanha de Vicente del Bosque, em termos esquemáticos, aproxima-se mais do Barcelona, o que permite maior número de triangulações, maior qualidade na posse e circulação de bola, por virtude de haver mais apoios próximos do portador da bola. E a sua Espanha consegue explorar melhor as qualidades dos seus jogadores dessa forma, jogando com eles mais próximos. Assim sendo, e ainda que Iniesta não tenha jogado nesta Taça das Confederações, seria de prever que esta Espanha jogasse tanto à bola como o Barcelona, acreditando que a virtude da equipa catalã está nos jogadores que possui e na conjugação destes com o modelo que implementou. Nada mais errado. Tudo o que a Espanha faz é resultado dos jogadores que tem, que são muito bons. Mas isso é pouco. E o que distingue o Barcelona é precisamente o facto de o seu futebol não ter nada a ver com a qualidade dos jogadores. Com estes jogadores e jogando numa táctica que potencia as suas qualidades, um 433 assimétrico, sem ala direito, mas com ala esquerdo, a Espanha de Vicente del Bosque consegue ter alguma qualidade porque tem jogadores que interpretam bem as necessidades da equipa nos diversos momentos. O que não tem é uma equipa que interprete isso bem. E quando assim é, mais fácil se torna não obter resultados.
Falando agora da meia-final da Taça das Confederações, a Espanha dominou o jogo praticamente todo e - pode dizer-se - perdeu por culpa própria, com dois erros individuais graves, frente a um adversário demasiado fraco para que pudesse colocar em causa o favoritismo dos espanhóis. Esse domínio, contudo, foi feito às custas das capacidades individuais dos seus atletas. E isso é pouquíssimo. Contra uma equipa num 442 clássico rígido, com referências homem a homem em muitos momentos, que pressionavam em profundidade e tresloucadamente, era facílimo, com um futebol de posse e circulação, vencer o jogo. No entanto, a equipa espanhola abusou da verticalidade, procurou em demasia os dois avançados no meio. Contra uma equipa que pressiona tão mal, é muito simples jogar. Basta ir progredindo gradualmente. Para o fazer, basta recorrer a um passe vertical seguido de uma lateralização. Mas a Espanha nunca lateralizou o jogo, nunca jogou horizontalmente. Preferiu sempre chegar rapidamente à frente, saltar etapas, utilizar passes longos que, ainda que rasteiros, permitiam aos adversários recuperar posições. O jogo da Espanha, ainda que esclarecido, primou pela objectividade em excesso, pela pouca racionalidade e frieza. E, mesmo com jogadores imaginativos como Fabregas e Xavi, não foi capaz de furar a muralha defensiva dos norte-americanos. A esta equipa faltou, sobretudo, ser menos objectiva, mais calma, menos directa, mais criativa, mais paciente, mais imprevisível. Jogando um futebol tão vertical, facilitou a pressão em profundidade dos americanos, não soube procurar os espaços, caiu no jogo de choque do adversário. E, ao fazê-lo, vitimou o seu favoritismo, deixou tudo mais equilibrado, mais dependente da sorte. E a sorte pendeu para o outro lado. O pouco que ainda conseguiu fazer de verdadeiramente bom, os primeiros vinte minutos da segunda parte, altura em que sufocou o seu adversário, fê-lo por obra da capacidade intelectual de Xavi e Fabregas, que souberam ocupar os espaços certos e servir de apoios aos colegas nos momentos certos, fazendo fluir rapidamente o jogo da sua equipa. Ao se tirar Fabregas para colocar Cazorla, era fácil de adivinhar que esse pouco depressa desapareceria. E a Espanha não fez mais nada com cabecinha desde essa altura.
Esta Taça das Confederações demonstra inequivocamente, além da pouca argúcia táctica e estratégica de Vicente del Bosque, que esta Espanha não tem nada a ver com o Barcelona de Guardiola e que a base do bom futebol praticado por uma equipa não é a mesma base que a da outra. A Espanha vive das individualidades e estas podem ser potenciadas pelo esquema táctico apresentado, mas o modelo de jogo e a capacidade colectiva ficam muito aquém do desejado. É por isso que o Barcelona não ganhou tudo ao acaso. Ganhou tudo porque colectivamente é muito mais forte do que qualquer outra equipa no mundo. E é mais forte porque aquilo que está por trás desse colectivo é diferente de tudo o que é normal encontrar noutra qualquer equipa do mundo. Esta Espanha é forte individualmente e consegue, graças a isso, jogar bem em alguns momentos; melhora ainda se jogar num sistema táctico que ajude a potenciar as características dos seus jogadores, como é o caso do sistema adoptado por Vicente del Bosque; mas colectivamente não é extraordinária, não é diferente das demais. E é precisamente na ausência de capacidade colectiva que reside a sua principal fraqueza.
Primeiro, a Espanha de Aragonés jogava num sistema completamente diferente, sistema esse que tornava o jogar da equipa completamente diferente. O futebol não era de pé para pé como o do Barcelona, não havia a capacidade para trocar a bola como há no Barcelona, não havia a quantidade assustadora de tabelas, as triangulações, etc. Havia, isso sim, jogadores inteligentes que, pelas suas características individuais, emprestavam inteligência à equipa. Mas essa inteligência era sempre uma coisa individual ou, quando muito, entre dois atletas. Não havia a coordenação, o entendimento, a organização, o pensamento igual. Não havia, em suma, uma inteligência colectiva, que é o que define o Barcelona de Guardiola. Isso foi evidente, durante o passado europeu. A Espanha sagrou-se campeã, mas toda e qualquer semelhança com o Barcelona de Guardiola é puro engano.
Já a Espanha de Vicente del Bosque, em termos esquemáticos, aproxima-se mais do Barcelona, o que permite maior número de triangulações, maior qualidade na posse e circulação de bola, por virtude de haver mais apoios próximos do portador da bola. E a sua Espanha consegue explorar melhor as qualidades dos seus jogadores dessa forma, jogando com eles mais próximos. Assim sendo, e ainda que Iniesta não tenha jogado nesta Taça das Confederações, seria de prever que esta Espanha jogasse tanto à bola como o Barcelona, acreditando que a virtude da equipa catalã está nos jogadores que possui e na conjugação destes com o modelo que implementou. Nada mais errado. Tudo o que a Espanha faz é resultado dos jogadores que tem, que são muito bons. Mas isso é pouco. E o que distingue o Barcelona é precisamente o facto de o seu futebol não ter nada a ver com a qualidade dos jogadores. Com estes jogadores e jogando numa táctica que potencia as suas qualidades, um 433 assimétrico, sem ala direito, mas com ala esquerdo, a Espanha de Vicente del Bosque consegue ter alguma qualidade porque tem jogadores que interpretam bem as necessidades da equipa nos diversos momentos. O que não tem é uma equipa que interprete isso bem. E quando assim é, mais fácil se torna não obter resultados.
Falando agora da meia-final da Taça das Confederações, a Espanha dominou o jogo praticamente todo e - pode dizer-se - perdeu por culpa própria, com dois erros individuais graves, frente a um adversário demasiado fraco para que pudesse colocar em causa o favoritismo dos espanhóis. Esse domínio, contudo, foi feito às custas das capacidades individuais dos seus atletas. E isso é pouquíssimo. Contra uma equipa num 442 clássico rígido, com referências homem a homem em muitos momentos, que pressionavam em profundidade e tresloucadamente, era facílimo, com um futebol de posse e circulação, vencer o jogo. No entanto, a equipa espanhola abusou da verticalidade, procurou em demasia os dois avançados no meio. Contra uma equipa que pressiona tão mal, é muito simples jogar. Basta ir progredindo gradualmente. Para o fazer, basta recorrer a um passe vertical seguido de uma lateralização. Mas a Espanha nunca lateralizou o jogo, nunca jogou horizontalmente. Preferiu sempre chegar rapidamente à frente, saltar etapas, utilizar passes longos que, ainda que rasteiros, permitiam aos adversários recuperar posições. O jogo da Espanha, ainda que esclarecido, primou pela objectividade em excesso, pela pouca racionalidade e frieza. E, mesmo com jogadores imaginativos como Fabregas e Xavi, não foi capaz de furar a muralha defensiva dos norte-americanos. A esta equipa faltou, sobretudo, ser menos objectiva, mais calma, menos directa, mais criativa, mais paciente, mais imprevisível. Jogando um futebol tão vertical, facilitou a pressão em profundidade dos americanos, não soube procurar os espaços, caiu no jogo de choque do adversário. E, ao fazê-lo, vitimou o seu favoritismo, deixou tudo mais equilibrado, mais dependente da sorte. E a sorte pendeu para o outro lado. O pouco que ainda conseguiu fazer de verdadeiramente bom, os primeiros vinte minutos da segunda parte, altura em que sufocou o seu adversário, fê-lo por obra da capacidade intelectual de Xavi e Fabregas, que souberam ocupar os espaços certos e servir de apoios aos colegas nos momentos certos, fazendo fluir rapidamente o jogo da sua equipa. Ao se tirar Fabregas para colocar Cazorla, era fácil de adivinhar que esse pouco depressa desapareceria. E a Espanha não fez mais nada com cabecinha desde essa altura.
Esta Taça das Confederações demonstra inequivocamente, além da pouca argúcia táctica e estratégica de Vicente del Bosque, que esta Espanha não tem nada a ver com o Barcelona de Guardiola e que a base do bom futebol praticado por uma equipa não é a mesma base que a da outra. A Espanha vive das individualidades e estas podem ser potenciadas pelo esquema táctico apresentado, mas o modelo de jogo e a capacidade colectiva ficam muito aquém do desejado. É por isso que o Barcelona não ganhou tudo ao acaso. Ganhou tudo porque colectivamente é muito mais forte do que qualquer outra equipa no mundo. E é mais forte porque aquilo que está por trás desse colectivo é diferente de tudo o que é normal encontrar noutra qualquer equipa do mundo. Esta Espanha é forte individualmente e consegue, graças a isso, jogar bem em alguns momentos; melhora ainda se jogar num sistema táctico que ajude a potenciar as características dos seus jogadores, como é o caso do sistema adoptado por Vicente del Bosque; mas colectivamente não é extraordinária, não é diferente das demais. E é precisamente na ausência de capacidade colectiva que reside a sua principal fraqueza.
6 comentários:
Sim os americanos são mesmo fraquinhos...quais andorras...e aquele donovan?? ui ui...que horror..
RuiBonga
Os gajos do jornal "As" devem estar tolos... ora vejam la o que eles escreveram:
"El dandy
Donovan
Tiene clase, talento y ejerce como cerebro del equipo de Estados Unidos. Ayer lo hizo todo bien."
http://www.as.com/futbol/articulo/futbol-espana-perdio-estilo/dasftb/20090625dasdaiftb_24/Tes
Eles estão é engandos e o donovan é mesmo banalíssimo...
RuiBonga
Rui, o Donovan foi o melhor dos americanos ontem e é o melhor americano da actualidade. Isso não significa nada. Em Portugal, nos três grandes, não calçaria em nenhum. Como não calçou, de resto, no Bayern. É um jogador rápido, que tem alguma técnica e que marca alguns golos. Mais nada. Muito melhor que ele ontem estiveram, por exemplo, Xavi, Fabregas e Piqué.
P.S. Comparares a tua opinião à de um jornalista desportivo é, por si só, uma confissão inequívoca do quão mal percebes o jogo.
Sim eu e o resto da malta...somos todos uns nabos que não sabemos ver futebol...
RuiBonga
Rui, não tenho dúvidas nenhumas do que dizes em relação ao primeiro termo do sujeito dessa frase.
Boas, Nuno
Curiosamente, tive uma discussão sobre este assunto (a comparação entre Espanha e Barcelona) noutro fórum e acho um bocado esquisito como é que se quer comparar o futebol do Barça com o desta Espanha de Del Bosque.
Além de, ofensivamente, a Espanha ser muito mais previsível, devido ao excesso de verticalidade que apontas no texto e ao menor número de apoios ao portador da bola, em termos defensivos, existem diferenças grandes entre as duas equipas: a equipa de Guardiola tem um conceito de zona puro, difícil de encontrar noutra equipa, e bascula e ocupa os espaços de forma exemplar; já a Espanha de Del Bosque tem um sistema de marcações misto, com referências individuais em alguns momentos, o que torna a equipa mais vulnerável defensivamente.
Isto já para não falar do diferencial de competência entre os dois treinadores, claro...
Não tenho dúvidas que o Barça de Guardiola tinha ultrapassado esta modesta equipa dos EUA com alguma facilidade.
Saudações desportivas
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