sábado, 16 de maio de 2009

Certezas (13)

Já não será novidade falar neste fantástico jogador, mas o simples facto de a sua ascensão ter sido tão meteórica faz com que ainda haja quem não o conheça, ou quem questione o seu real valor, ou quem ponha em causa a continuidade da brilhante época que está a realizar. Devo confessar que, como grande parte dos portugueses, desconhecia este jogador até ao início desta temporada. O facto de ter ido muito novo para Inglaterra terá travado o seu reconhecimento público, ficando vítima da desconfiança que grande parte dos treinadores têm em relação à juventude e de um tipo de futebol em que dificilmente se destacaria. Felizmente, o seu potencial era do conhecimento de quem o vira crescer e, no início da temporada, discretamente, regressou à casa-mãe. No início da época, entre tantas contratações sonantes, o seu nome pouco ou nada era falado. Vinha, segundo muitos, como uma opção de banco, tendo a virtude de conhecer os cantos à casa e de estar familiarizado com a filosofia do clube. O que poucos esperavam é que ganhasse o protagonismo que ganhou. Hoje, é titular indiscutível. Da sua equipa e da selecção do seu país. Admito que a altura que possui possa ser uma mais-valia com que contar, em equipas de estatura baixa, como são aquelas em que joga, mas os seus principais atributos são outros. Não sendo veloz e sendo até pouco ágil, muito por culpa do seu tamanho, é um defesa central que tem a virtude de ser extraordinariamente inteligente. Embora diferente, sobretudo no que concerne a características físicas, consigo encontrar pontos de contacto evidentes com o jovem central do Sporting, Daniel Carriço. O seu jogo posicional é praticamente perfeito e a sua abordagem aos lances francamente acima da média. Sabe ler aquilo que cada lance exige dele e denota, por isso, uma segurança invulgar. Não o vemos, certamente, a ganhar tantos lances em antecipação como outros centrais, não dando por isso tanto nas vistas. Mas isso, por si só, não significa nada. O melhor defesa central não é aquele que ganha mais bolas, mas aquele que percebe melhor o sentido colectivo da palavra "defender". Não é espalhafatoso como outros, não é "brigão", não precisa de ser demasiado agressivo para ser eficaz, e ainda assim é excelente. Tem a ver com inteligência, com superioridade. E, depois, com bola, é formidável. Um defesa, no futebol de hoje, não pode ser só um jogador de lances defensivos. Tem de conseguir conciliar as capacidades defensivas com uma capacidade ofensiva minimamente aceitável. A dele é soberba. A capacidade de passe à distância é muito boa, mas a sua principal característica é a ausência de medo em colocar a bola curta. Raramente entrega mal uma bola, raramente dificulta a recepção a um colega. Procura sair sempre a jogar, como é apanágio do futebol da sua equipa, e fá-lo com elevado êxito. Chega a ser impressionante a forma descontraída como sai de lá de trás em progressão e como entrega a bola em zonas povoadas com total descontracção. Um dos seus movimentos mais típicos é progredir com a bola, gradualmente, ameaçando um passe longo para a direita, mas puxando a bola para a esquerda e continuando a progredir, entrando assim aos poucos nas linhas do adversário, com a bola controlada, à espera de uma tabela ou do espaço necessário para um passe vertical. A importância que tem tido, numa equipa que precisa de ter defesas que saibam sair a jogar na perfeição, espelhará a qualidade que possui. Não é qualquer um que, com 22 anos, se impõe numa das melhores equipas do mundo, e em tão pouco tempo. Por isso, parte do espectáculo que é uma partida de futebol em que uma das equipas é o Barcelona deve-se também à presença em campo de tão astuto jogador. Apesar de ainda ser muito novo e de ter aparecido há tão pouco tempo (o que legitima a sua presença nesta rubrica que tem por objectivo destacar jogadores pouco conhecidos que possuam um potencial fora do comum), encheu-me de tal forma as medidas que, neste momento, Gerard Piqué está já para mim entre os dez melhores na sua posição...

2 comentários:

Fernando disse...

Boas Nuno,

Também sou um apreciador das qualidades de Piqué e concordo com a apreciação das características positivas que lhe apontas.

No entanto, ainda não o consigo incluir num top10 a nível Mundial, ao nível por exemplo do companheiro da defesa dele. Em termos de potencial não tenho a mínima dúvida que a continuar a evolução verificada será certamente um central de nível Mundial.
Um defeito que lhe aponto, próprio da idade, é a falta de concentração que às vezes revela. Mas mesmo neste capítulo melhorou bastante desde os jogos do Manchester. Penso que será uma questão de experiência.

Cumprimentos.

Rui Lança disse...

Esteve muito bem na 2.ª mão contra o Chelsea, principalmente quando aquilo estava quase a descanbar e ele defendia e ainda subia para o ataque.

De referir que apenas custou 5 M € ao Barcelona...negócio da china.

http://coachdocoach.blogspot.com/