Sobre Hulk haveria bastante a dizer. Reconheço-lhe enormes capacidades individuais. Tecnicamente, é um dos jogadores mais dotados da Liga Sagres. Atleticamente é soberbo. Tem um remate extraordinário. E é velocíssimo. Falta-lhe, contudo, aquilo que considero mais importante num jogador de futebol: as capacidades colectivas. Falta-lhe a capacidade de perceber quando é que as suas características podem servir a equipa; falta-lhe saber esperar pela bola junto a uma linha, para ter espaço para explorar o um para um; falta-lhe ter por prioridade os colegas e não a finta; etc. Nesse sentido, sendo um jogador que tem por vocação o drible, sendo um jogador que, ao receber a bola de costas para a baliza, nunca dá de frente, procurando sempre virar-se para rematar ou para fintar, a sua posição deveria ser extremo. É esta a principal razão pela qual não consigo apreciar o brasileiro. O extremo é aquele jogador que, no meu entender, dentro de uma equipa, maior liberdade pode ter para experimentar lances individuais. Um avançado, entre outras coisas, deve ser capaz de servir de apoio vertical, deve ser capaz de jogar de costas para a baliza, deve saber tabelar, de modo a permitir um jogo curto em zonas centrais, deve servir de referência para a equipa progredir com a bola controlada no terreno. Hulk não tem essa capacidade. É por isso que, como avançado, não lhe auguro um grande futuro. Já como extremo a conversa talvez fosse outra. Isto porque, como é óbvio, tudo aquilo que disse que um avançado deveria ter, um extremo não tem obrigatoriamente que ter. Um extremo raramente recebe a bola de costas e a capacidade de segurar a bola junto à linha não constitui um ganho significativo para uma equipa.
Acontece, porém, que Hulk não joga numa equipa qualquer. Joga no Porto. E no Porto de Jesualdo. O Porto de Jesualdo, bem como o seu Braga, é uma equipa extraordinariamente objectiva, arrumada atrás e promovendo transições rápidas. Não sabe jogar de outra maneira. É uma equipa que aproveita bem os espaços em transição, mas que não é tão boa a encontrar soluções em ataque organizado, com o adversário bem fechado lá atrás. Uma das coisas que considero essenciais (cada vez mais essenciais), numa equipa que jogue em ataque organizado contra equipas bem fechadas, é a capacidade de fazer passes verticais. Por passes verticais entendo passes rasteiros, não muito longos, que quebrem linhas defensivas, passes entre dois adversários, solicitando um colega que recua para, jogando de costas, saltar etapas de construção. Em equipas que defendem bem, sobretudo em largura, a verticalidade, neste sentido, é essencial. Nas últimas fases de construção, então, é obrigatória. Este tipo de passes pode parecer trivial, mas além de constituir um ganho enorme para qualquer equipa, não são de execução nada fácil, nem para quem o executa (que tem de ter em conta muitas coisas, sobretudo os apoios que terá o colega que vai receber a bola), nem para quem recebe. Ora, o Porto de Jesualdo é uma equipa que ignora esta necessidade. O ano passado, no entanto, soube contrariar esta negligência de duas formas. Primeiro, porque Lisandro tem essa capacidade e o seu entendimento com Lucho resultava, muitas vezes, em passes verticais do último a solicitar o primeiro que, recebendo de costas, conseguia entregar num colega que entretanto se desmarcara. Segundo, porque tinha a arma de Bosingwa. Muitas vezes, o ataque organizado do Porto obrigava o adversário a concentrar os seus números do lado esquerdo e depois, saindo rapidamente da zona de pressão à esquerda, a equipa lançava Bosingwa, que subia pela direita e recebia a bola com possibilidades de apostar, invariavelmente, no um para um. Este ano, sem essas possibilidades, uma vez que não há Bosingwa nem Lisandro tem jogado ao meio, o Porto tem-se ressentido.
Ora bem, é aqui que pretendo chegar. Uma vez que Jesualdo não define como prioritário, no ataque, a formação de apoios verticais, os seus avançados não necessitam de ter as características que identifiquei como essenciais. Como o Porto joga sistematicamente em velocidade, os seus avançados querem-se velozes e individualmente dotados. Nos últimos jogos, tem jogado Rodriguez, Lisandro e Hulk, com o último no centro apenas no desenho, uma vez que há liberdade para todos eles se movimentarem ao longo de toda a linha da frente. O Porto não utiliza um avançado de referência, mas sim três jogadores de quem se espera muita espontaneidade e desequilíbrios. Se é verdade que, em transição, a equipa pode estar melhor apetrechada (ainda que não pareça existir, como no passado, uma referência como era Quaresma, sempre encostado à linha para dar início à transição), os problemas que vêm das épocas anteriores têm tendência a agravar-se. O jogo com o Shalke 04, da segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões da época transacta ilustra bem a incapacidade que o Porto de Jesualdo tem para jogar contra equipas bem fechadas lá atrás. Essa incapacidade advém, essencialmente, de a equipa não ter, em muitas ocasiões, uma referência que possa servir de apoio vertical nas imediações da área. Com Lisandro ainda mais longe do centro do terreno, maiores dificuldades terá o Porto nesses jogos.
Resumindo, vejo em Hulk muito mais um jogador de linha ou um segundo avançado, para jogar solto ao lado de um avançado mais fixo, do que um ponta-de-lança. Como avançado num 433, não penso que seja uma boa opção. Apesar de tudo, e porque Jesualdo privilegia, nos seus homens da frente, a profundidade e a capacidade de acelerar o jogo, Hulk pode ser o avançado do seu 433. Agora, não se espere que o Porto seja uma equipa competente a jogar contra equipas bem organizadas lá atrás e que seja capaz, sem recorrer à inspiração individual dos seus atletas (esse argumento tão incerto), de resolver partidas difíceis.
Antes de terminar, gostaria ainda de falar do modo como o Porto de Jesualdo defende. Há que dar mérito a quem merece e Jesualdo, não sendo um treinador que aprecio em demasia, soube evoluir. Instruiu-se e melhorou bastante os seus conhecimentos ao longo da sua carreira. Ainda que o seu Porto seja um pouco autista e só saiba jogar de uma forma, tem competências extraordinárias. Uma delas é a forma como efectua a sua pressão, assente em princípios zonais. Neste momento, com Rodriguez, Hulk e Lisandro, é bem visível como o Porto inicia o seu processo defensivo. Os três atacantes reúnem-se em zonas centrais, pressionando em profundidade, o que obriga os adversários a procurarem as linhas. Ao acontecer isto, a equipa efectua uma pressão à zona quase perfeita, procurando asfixiar o portador da bola contra a linha lateral. Nenhuma equipa, em Portugal, o faz melhor que o Porto. Os seus adversários são, não raro, obrigados a jogar longo ou para trás, de modo a iniciar o processo ofensivo. A ocupação das zonas é do melhor que se vê em Portugal e tem sido, para mim, um dos segredos da capacidade competitiva desta equipa ao longo dos últimos anos. Aliás, creio, tem sido talvez a característica que melhor distingue a regularidade do Porto de Jesualdo da irregularidade do Sporting de Paulo Bento, que não é, nem por sombras, capaz de uma pressão tão alta e tão eficaz quanto a dos campeões nacionais.
Acontece, porém, que Hulk não joga numa equipa qualquer. Joga no Porto. E no Porto de Jesualdo. O Porto de Jesualdo, bem como o seu Braga, é uma equipa extraordinariamente objectiva, arrumada atrás e promovendo transições rápidas. Não sabe jogar de outra maneira. É uma equipa que aproveita bem os espaços em transição, mas que não é tão boa a encontrar soluções em ataque organizado, com o adversário bem fechado lá atrás. Uma das coisas que considero essenciais (cada vez mais essenciais), numa equipa que jogue em ataque organizado contra equipas bem fechadas, é a capacidade de fazer passes verticais. Por passes verticais entendo passes rasteiros, não muito longos, que quebrem linhas defensivas, passes entre dois adversários, solicitando um colega que recua para, jogando de costas, saltar etapas de construção. Em equipas que defendem bem, sobretudo em largura, a verticalidade, neste sentido, é essencial. Nas últimas fases de construção, então, é obrigatória. Este tipo de passes pode parecer trivial, mas além de constituir um ganho enorme para qualquer equipa, não são de execução nada fácil, nem para quem o executa (que tem de ter em conta muitas coisas, sobretudo os apoios que terá o colega que vai receber a bola), nem para quem recebe. Ora, o Porto de Jesualdo é uma equipa que ignora esta necessidade. O ano passado, no entanto, soube contrariar esta negligência de duas formas. Primeiro, porque Lisandro tem essa capacidade e o seu entendimento com Lucho resultava, muitas vezes, em passes verticais do último a solicitar o primeiro que, recebendo de costas, conseguia entregar num colega que entretanto se desmarcara. Segundo, porque tinha a arma de Bosingwa. Muitas vezes, o ataque organizado do Porto obrigava o adversário a concentrar os seus números do lado esquerdo e depois, saindo rapidamente da zona de pressão à esquerda, a equipa lançava Bosingwa, que subia pela direita e recebia a bola com possibilidades de apostar, invariavelmente, no um para um. Este ano, sem essas possibilidades, uma vez que não há Bosingwa nem Lisandro tem jogado ao meio, o Porto tem-se ressentido.
Ora bem, é aqui que pretendo chegar. Uma vez que Jesualdo não define como prioritário, no ataque, a formação de apoios verticais, os seus avançados não necessitam de ter as características que identifiquei como essenciais. Como o Porto joga sistematicamente em velocidade, os seus avançados querem-se velozes e individualmente dotados. Nos últimos jogos, tem jogado Rodriguez, Lisandro e Hulk, com o último no centro apenas no desenho, uma vez que há liberdade para todos eles se movimentarem ao longo de toda a linha da frente. O Porto não utiliza um avançado de referência, mas sim três jogadores de quem se espera muita espontaneidade e desequilíbrios. Se é verdade que, em transição, a equipa pode estar melhor apetrechada (ainda que não pareça existir, como no passado, uma referência como era Quaresma, sempre encostado à linha para dar início à transição), os problemas que vêm das épocas anteriores têm tendência a agravar-se. O jogo com o Shalke 04, da segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões da época transacta ilustra bem a incapacidade que o Porto de Jesualdo tem para jogar contra equipas bem fechadas lá atrás. Essa incapacidade advém, essencialmente, de a equipa não ter, em muitas ocasiões, uma referência que possa servir de apoio vertical nas imediações da área. Com Lisandro ainda mais longe do centro do terreno, maiores dificuldades terá o Porto nesses jogos.
Resumindo, vejo em Hulk muito mais um jogador de linha ou um segundo avançado, para jogar solto ao lado de um avançado mais fixo, do que um ponta-de-lança. Como avançado num 433, não penso que seja uma boa opção. Apesar de tudo, e porque Jesualdo privilegia, nos seus homens da frente, a profundidade e a capacidade de acelerar o jogo, Hulk pode ser o avançado do seu 433. Agora, não se espere que o Porto seja uma equipa competente a jogar contra equipas bem organizadas lá atrás e que seja capaz, sem recorrer à inspiração individual dos seus atletas (esse argumento tão incerto), de resolver partidas difíceis.
Antes de terminar, gostaria ainda de falar do modo como o Porto de Jesualdo defende. Há que dar mérito a quem merece e Jesualdo, não sendo um treinador que aprecio em demasia, soube evoluir. Instruiu-se e melhorou bastante os seus conhecimentos ao longo da sua carreira. Ainda que o seu Porto seja um pouco autista e só saiba jogar de uma forma, tem competências extraordinárias. Uma delas é a forma como efectua a sua pressão, assente em princípios zonais. Neste momento, com Rodriguez, Hulk e Lisandro, é bem visível como o Porto inicia o seu processo defensivo. Os três atacantes reúnem-se em zonas centrais, pressionando em profundidade, o que obriga os adversários a procurarem as linhas. Ao acontecer isto, a equipa efectua uma pressão à zona quase perfeita, procurando asfixiar o portador da bola contra a linha lateral. Nenhuma equipa, em Portugal, o faz melhor que o Porto. Os seus adversários são, não raro, obrigados a jogar longo ou para trás, de modo a iniciar o processo ofensivo. A ocupação das zonas é do melhor que se vê em Portugal e tem sido, para mim, um dos segredos da capacidade competitiva desta equipa ao longo dos últimos anos. Aliás, creio, tem sido talvez a característica que melhor distingue a regularidade do Porto de Jesualdo da irregularidade do Sporting de Paulo Bento, que não é, nem por sombras, capaz de uma pressão tão alta e tão eficaz quanto a dos campeões nacionais.
11 comentários:
O Hulk vai evoluindo, mas ainda hoje, fez um sem número de asneiras.
Jogos haverá em que as asneiras tomadas, serão compensadas pelos rasgos. Sempre que Hulk n for capaz de marcar, dificilmente se poderá considerar a sua utilização como útil.
mas,tem um grande potencial!
"Sempre que Hulk n for capaz de marcar, dificilmente se poderá considerar a sua utilização como útil."
andamos a ver os mesmos jogos do Porto, PB? Isto serve para ti Nuno..o Hulk passa a maior parte do tempo descaído para uma das alas. Concordo que a movimentaçao predilecta é a que faz derivando para o centro, mas nao nos podemos esquecer dos desiquilibrios que ja causou nas alas. prova disso sao o seu numero de assistencias, q apesar de nao serem imensas..quase fazem dele um ala.
Mas entendo o teu ponto de vista Nuno, na questão do extremo.
cumps
Curioso, ontem no Domingo Desportivo, mostraram uma das 1000 situações em que o FCP n chega ao golo, ou perto dele, pelas más decisões do Hulk.
Pararam a imagem num momento em que se o Hulk serve Lucho, este poderia ficar isolado só com o GR. Inves disso, Hulk fez mais dois dribles e chutou bem de fora da area.
ZeZe, o Hulk tem um potencial incrivel. Mas, se calhar, ate mm marcando só um golo, n compensa tanto ataque que corta aos colegas!
Nuno, capacidade colectiva? Já não é inteligência?
Terá sido do baile de um dos posts anteriores?
Nem li mais a partir dali.
Penso que não é preciso dizer que concordo com muito do que está escrito porque já o discutimos anteriormente.
Sobre estas alterações, creio que retiram alguma qualidade colectiva ao Porto que prejudica a equipa para além da perda dos 3 titulares. Também me parece que o Hulk deveria ser utilizado mais próximo da linha (direita) e acrescento que a sua liberdade cria alguns problemas à dinâmica colectiva. Há muitas vezes uma sobreposição de Hulk e Lisandro na zona central, tirando largura ao ataque e, mais importante, retirando espaço para os movimentos de Lucho. Depois há outro aspecto que tem a ver com a pressão. Por vezes Hulk e Lisandro partem de situações centrais e têm dificuldade em impedir a saída pela esquerda do adversário. Aqui há também que destacar a enorme diferença de capacidade (cultura e agressividade) entre Hulk e Lisandro, o que tira qualidade ao pressing quando Hulk é figura central.
De resto, concordo também com a notável capacidade posicional do Porto, sobretudo adequada para o tipo de jogos que a equipa tem internamente.
Gonçalo e Nuno,
Aproveito para desejar um Feliz Natal, com muita paz, saúde, alegria e...com boxing day a abrilhantar a consoada!
Abraço.
Metralha, se alguém levou baile, não fui eu. Falei em capacidades colectivas para distinguir de capacidades individuais. Se quiseres, chama-lhe inteligência. Não é por isso que fica mal dito.
Zezé diz: "o Hulk passa a maior parte do tempo descaído para uma das alas."
Como referi, os três da frente têm muita liberdade para se movimentarem. Mas no desenho o Hulk joga ao meio, com o Lisandro na direita e o Rodriguez na esquerda. Basta ver que esse é o posicionamento dos três quando se inicia o processo defensivo, juntando-se os três bem no meio.
Catenaccio, um Feliz Natal também para ti...
Abraço!
Sim, já acho ridículo haver boxing day. O mais ridículo é a sportv passar 7 jogos da premier nesse dia!!!
cumprimentos
Feliz Natal Nuno e Gonçalo!!
Um Feliz Natal a todos! Grande Abraço.
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