domingo, 19 de outubro de 2008

Centrais altos e espadaúdos

Há quem diga que os atributos físicos dos jogadores têm relevância no que concerne à posição que ocupam em campo. Não me quero delongar em excesso, pelo que queria apenas falar sobre defesas centrais. Estas pessoas acham que, num central, a altura é determinante. As mesmas doutas pessoas advogam que pode haver excessões (como um Cannavaro), mas essas são raras. E numa dupla de centrais, um mais baixo deve ser sempre compensado por um mais alto. Essas pessoas acham, portanto, que os atributos físicos são o mais importante quando se determina a posição de um jogador. Provavelmente, acharão que um extremo tem de ser obrigatoriamente rápido.

O argumento, no que diz respeito aos centrais, é que jogam numa posição em que é determinante ganhar bolas de cabeça e defendem-se dizendo que centrais baixos, como Cannavaro, compensam com uma impulsão extraordinária. Ou seja, essas pessoas creêm que, ou se tem altura, ou se tem impulsão. Isto porque um defesa deve ser capaz de ganhar bolas de cabeça. Queria dar um exemplo que manda isto tudo às favas. O Inter de Mourinho ganhou hoje por 4-0 à Roma. Jogaram a central Chivu e Córdoba, uma dupla de centrais com uma média de altura claramente inferior a 1,80 metros. Como médio-defensivo, numa posição onde, para muitos, sobretudo contra equipas que jogam um futebol mais directo, se deve dar importância à altura, Mourinho apresentou Cambiasso, um jogador também abaixo dos 1,80 metros. Ou seja, o Inter jogou com três jogadores relativamente baixos nas posições onde, por norma, se diz que é importante haver altura. E ganhou. E goleou. E não teve problemas por causa disso. E é primeiro no campeonato. Chama-se "jogar futebol", para quem não souber.

Onde outros precisam da altura de Meira para jogar contra Suécias, Mourinho precisa de jogadores que se saibam posicionar e que ofereçam qualidade suficiente no processo ofensivo. A altura não é um atributo fundamental num defesa. Há muitos e bons defesas que foram ou são relativamente baixos: Baresi, Cannavaro, Córdoba, Chivu, Ricardo Carvalho, Daniel Carriço, etc. E isto porque ganhar bolas de cabeça é francamente menos importante que um bom jogo posicional colectivo que permita ganhar as segundas bolas. Mourinho continua a dar lições, mas poucos lhe prestam atenção. Continua a achar-se, por exemplo, que contra equipas que têm jogadores altos na frente e jogam um futebol directo para eles, é necessário ter altura. Mas a altura não se combate com altura. Combate-se com bom posicionamento, com velocidade de reacção, com jogadores capazes de preencher os espaços nos quais vão cair as segundas bolas. É por isso que seria perfeitamente possível ter dois Moutinhos a central, isto é, dois jogadores com a envergadura de Moutinho. Não é a altura que faz um central, como não é a velocidade que faz um extremo. São as disposições intelectuais, as rotinas de jogo, a desenvoltura própria da habituação à posição, etc.

Para terminar, uma pequena referência à forma de trabalhar de Mourinho. Para muitos, Mourinho dá importância aos atributos físicos. Mas o exemplo dos centrais, bem como do médio-defensivo, vem desmentir tudo isso. Ou seja, se nas equipas de Mourinho há jogadores de boa estampa física, ou jogadores altos, ou jogadores rápidos, ou jogadores fortes, ou jogadores agressivos, ou jogadores muito dotados tecnicamente, é coincidência. Aquilo que não há é jogadores burros. E os que há são despachados em negócios que envolvem a transferência de outros atletas. O primeiro critério na escolha dos jogadores de Mourinho são as disposições intelectuais. Jogar com Córdoba, Chivu e Cambiasso evidencia isso. Aquilo que importa em Muntari não é a força; a força é apenas um acrescento. E um acrescento que uma equipa com dinheiro pode dar ao luxo de adquirir. O que não pode faltar é inteligência, é capacidade de perceber o jogo. O que importa em Ibrahimovic não é a altura nem a capacidade técnica; o que importa em Drogba não é a força; o que importa em Essien não é o pulmão. Isso são acrescentos. O que importa é a saúde mental, são as boas decisões, a qualidade das opções, etc. Tirando os extremos, Mourinho pretende jogadores essencialmente inteligentes. E prefere-os mesmo que eles não possuam os atributos físicos ou técnicos que melhor os potenciem.

37 comentários:

Miguel Nunes disse...

Eu não concordo com o facto de que Mourinho só quer jogadores com clara percepção do que é o jogo, porque isso, é o seu ponto forte (criar exercicios e explicar a forma como se devem resolver as situações).

Ou seja, ele pode pegar num Quaresma (q tem talento, força e velocidade) e oferecer-lhe o que lhe falta (as boas tomadas de decisão). Ainda hoje Quaresma teve uma primeira parte fraca a este nível.

Alias, a ser verdade o propalado interesse em Di Maria...é uma situação em tudo semelhante (jogador com talento e velocidade, mas que precisa de ser trabalhado no que concerne as tomadas de decisão)

Mas, não pode pegar num jogador lento e torna-lo rápido, n pode pegar num jogador sem talento e torna-lo talentoso.

A verdade é q todos os jogadores de Mourinho são verdadeiros atletas (jogadores fortes e velozes, uns mais do que os outros)!

Numa equipa mal orientada, n ter jogadores inteligentes e rapidos a decidir, é um drama. Numa equipa com um treinador forte, isso é algo que se trabalha com relativa facilidade (ainda hoje vimos os contra-ataques do Inter, sempre com os mesmos movimentos... e n é preciso ser-se um Einstein para la chegar... basta que o treinador explique o que quer, e organize exercícios que potenciem o q ele pretende em cada situação do jogo)


PS - Numa selecção nacional, que faz 4,5 treinos de 2 em 2 meses, creio ser fundamental todos os jogadores terem uma percepção clara do q é o jogo e de que melhores decisões tomar. Numa equipa, que treina diariamente, é facil ajudar os atletas a compreenderem que opções devem tomar e qd as tomar (ou seja, com um bom treinador, até o Emplastro compreenderia o jogo)!


Abraços! há mt q sigo este blog, pq me identifico bastante com o que por aqui é escrito!

Anónimo disse...

Tretas!!

"Eu não sabia como o Benfica iria jogar, se com Jankauskas,(...) se com Mantorras(...) era importante desfazer a dúvida porque se jogasse o Jankauskas eu queria que fosse Ricardo Silva a fazer a marcação porque é mais alto, e contra o Mantorras queria que jogasse o Ricardo Costa, um central mais rápido"

José Mourinho in "um ciclo de vitórias"

Se ele pensasse como tu ainda estava nos infantis do Setúbal a distribuir testes de QI para ver quem joga...

Miguel Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Nunes disse...

pag 182 do livro de Jose Mourinho, sobre a final da taça uefa

"logo nos primeiros minutos um desarme do Costinha, uma entrada violenta do adversário e uma lesão muscular provocada pelo traumatismo violento. ESTOU FEITO! Não tinha outro médio para competir no ar com a construção longa e o jogo directo dos escoceses! Havia, entao, a solução de recurso: o Ricardo Costa para lateral e o Paulo Ferreira no meio campo, com trocas posicionais com o pequeno Maniche. Grande na dinâmica e no carácter, mas impotente para competir no ar com Chris Sutton"

Ou seja, na final de Sevilha, Paulo Ferreira passou muitos minutos como medio defensivo, só por ser alto.

Daí a minha opinião... Mourinho quer a base, o que é inato! as tomadas de decisão (sempre em função do modelo de jogo criado), ele próprio as trabalha.

Daí Quaresma... daí Di Maria??? ou Bruno Alves???

PS - A AS Roma tem como grande qualidade a velocidade com que realiza as transições defesa-ataque e não tem por hábito jogar futebol directo.

abraços

Nuno disse...

Rui Silva, em primeiro lugar, tu nem percebeste o que o Mourinho quis dizer nessa situação. Como é óbvio, interessa o adversário e é natural que o jogo do Benfica, com o Jankauskas, se baseasse em algo de diferente do que com o Mantorras. É natural, portanto, que a opção entre dois centrais do mesmo nível recaísse nos seus atributos físicos. Não digo que os atributos físicos não importam. Importam, sobretudo se eles forem do mesmo nível. Agora, de certeza que não o verias a tirar o Ricardo Carvalho para jogar com o Ricardo Silva e o Ricardo Costa ao mesmo tempo. Portanto, o teu exemplo é estúpido.

PB, o teu exemplo, creio, não é bem empregue. A única opção de meio-campo que o Mourinho tinha no banco nessa final era o Tiago. O Tiago era precisamente um jogador que não daria qualidade nos processos ofensivos. Logo, não pode entrar nas contas. O Paulo Ferreira é um jogador inteligente, capaz de fazer aquilo que o Mourinho quer que um trinco faça sem grandes dificuldades. Além disso, não creio que essas afirmações correspondam àquilo que o Mourinho pensou. O Paulo Ferreira não é suficientemente alto para ir importunar ninguém. Daria certamente mais luta que o Maniche, mas não era um jogador determinante do ponto de vista das bolas de cabeça. Creio que lhe interessava mais não recuar um jogador fulcral como era o Maniche, entregando-o a uma missão ingrata contra um jogo escocês que não o beneficiaria. Ou seja, entre perder um médio forte nas transições e tentar ganhar bolas de cabeça, creio que o que mais pesou foi a primeira. Relembro que, no Chelsea, jogou sempre com o Makelelé, fosse contra quem fosse. E em Inglaterra toda a gente joga como o Celtic. O que Mourinho fazia era, nos pontapés de baliza do adversário, obrigar Lampard a permutar com Makelelé para preencher a zona central com um jogador mais alto. Mas nunca abdicou de um jogador que lhe garantisse inteligência, ocupação de espaços e qualidade no processo ofensivo. Nesse jogo, o Costinha não estaria, certamente, a jogar por ser alto. Estava a jogar porque era o melhor no resto. Entre colocar o Tiago ou pôr ali o Paulo Ferreira, penso que fazia mais sentido a segunda. E não apenas porque era mais alto, mas também porque o Tiago não lhe traria nada de especial no resto. Ou seja, o único jogador que poderia dar a qualidade que ele pretende ali era o Maniche, mas ele, além de pequeno, era necessário noutro lugar.

Quanto ao resto, não concordo contigo. Primeiro, disse que com extremos é diferente. Sobretudo porque aquilo que se pede aos extremos ele é capaz de ensinar. Agora, em relação ao resto, não concordo.

"Eu não concordo com o facto de que Mourinho só quer jogadores com clara percepção do que é o jogo, porque isso, é o seu ponto forte (criar exercicios e explicar a forma como se devem resolver as situações)."

Isto não é verdade. Parece que supões que o Mourinho tem uma fórmula mágica e que os seus jogadores passam a ser inteligentes. O ponto forte de Mourinho é criar rotinas colectivas. Ou seja, criar hábitos nos seus jogadores. Mas esses hábitos resumem-se a algumas coisas que se mecanizam. Mais de 90% do jogo ficará a cargo da imprevisibilidade. E nisso, por mais que trabalhe, Mourinho tem pouco influência. Ele pode criar hábitos nos jogadores, mas não cria inteligência. E a inteligência é aquilo que será necessário para solucionar situações imprevisíveis. Mourinho é provavelmente quem melhor no mundo ensina os jogadores a comportarem-se tacticamente, mas isso influi, ainda assim, em muito pouco do que é o jogo.

"não pode pegar num jogador lento e torna-lo rápido, n pode pegar num jogador sem talento e torna-lo talentoso."

Estamos a falar de jogadores de alta competição. A diferença de velocidade entre o jogador de futebol de alta competição mais rápido e a média de velocidade dos jogadores de futebol de alta competição é, por certo, inferior a 2 segundos aos 100 metros. Isso é uma diferença pequeníssima.

"A verdade é q todos os jogadores de Mourinho são verdadeiros atletas (jogadores fortes e velozes, uns mais do que os outros)!"

Isto não é verdade. Os exemplos dos defesas e do Cambiasso deveriam ter ajudado a isso. Mas arranjo-te mais. Ele foi buscar o Diarra e disse que seria o sucessor de Makelelé. O Diarra era minúsculo. O Figo não é veloz. O Joe Cole não é nem uma coisa nem outra. O Deco, o Alenitchev, o Carlos Alberto, etc. É evidente que no Inter e no Chelsea podia juntar o útil ao agradável, mas a verdade é que nunca pretendeu jogadores que não fossem inteligentes. A única característica que é indispensável (e ele já disse isto) é a inteligência. O resto é secundário. Jamais ele irá buscar um jogador que seja apenas rápido. Jamais irá buscar alguém que seja apenas forte. Ele reconheceu, por exemplo, que o Kezman o desiludiu. Era um jogador sem um pingo de inteligência.

"Numa equipa mal orientada, n ter jogadores inteligentes e rapidos a decidir, é um drama. Numa equipa com um treinador forte, isso é algo que se trabalha com relativa facilidade"

Desculpa, mas não é. Trabalhas processos, dinâmicas, mecanizações. Não mudas mentalidades do dia para a noite nem introduzes inteligência em quem não a tem. Podes conseguir fazer com que os jogadores obedeçam àquilo que pedes, mas apenas num grau muito baixo. Isto é, podes conseguir que um jogador passe a jogar curto e apoiado quando ele por norma costumava jogar longo, mas daí até ele perceber por que é que tem de jogar assim, é um mundo. E isso é importante porque quanto menos tempo tiver para pensar, menos tempo terá para tomar uma decisão em consonância com aquilo que lhe é pedido. Quanto mais rápido tiver de pensar um jogador, mais a nu se põem as suas fragilidades intelectuais. Os jogadores de Mourinho podem aperfeiçoar o seu jogo e a sua capacidade de decisão, porque criam hábitos para tal, mas sem uma dose suficiente de inteligência, serão sempre incapazes de se adaptar a novas situações. Se quiseres, dou-te inúmeros exemplos de jogadores que, com Mourinho, pareciam inteligentes, mas eram banais. Eram jogadores que conseguiam cumprir as instruções do treinador, mas que não percebiam as razões de tal. Lembro-me de vários jogadores que, com Mourinho, pareciam uma coisa e que, assim que deixaram de ser treinados por ele passaram a ser outra: Marco Ferreira, Maciel, Ricardo Costa, o próprio Maniche, que nunca mais foi o mesmo.

"Mourinho quer a base, o que é inato!"

Acho que estás a usar a palavra "inato" de forma precipitada. A velocidade e a força não são inatas. Aliás, é muito mais fácil, sobretudo até uma idade relativamente baixa (24/25 anos) alterar a velocidade e a força de um jogador do que a sua inteligência.

"as tomadas de decisão (sempre em função do modelo de jogo criado), ele próprio as trabalha."

As tomadas de decisão em função do modelo de jogo correspondem a 1 ou 2% das tomadas de decisões num jogo. E o resto? Mourinho não pode controlar o resto. Pode-lhes inculcar os princípios e os sub-princípios de jogo, dizer que quer façam isto e não aquilo, mas e o resto. E a imprevisibilidade? Sem jogadores inteligentes, o Mourinho estava tramado.

Nuno disse...

"A AS Roma tem como grande qualidade a velocidade com que realiza as transições defesa-ataque e não tem por hábito jogar futebol directo."

Isso significa que se eles jogassem um futebol directo, já não jogava o Cambiasso? Ou era o Chivu e o Córdoba que não podiam jogar? É que desconfio que era igual. Mas, como é óbvio, é importante conhecer o adversário. Duvido é que ele mexesse, sobretudo no meio-campo. O Chelsea é um exemplo claro disso. E modificar uma dupla de centrais que está a ter êxito só porque o estilo de jogo do adversário é outro foi coisa que o Mourinho nunca fez.

Anónimo disse...

Sinceramente é verdade que um jogador pode compensar a sua baixa estatura com inteligência, posicionamento e rápidas tomadas de decisão. Mas também é verdade que um jogador pode compensar a sua falta de intlenligência ou posicionamento com a sua altura ou velocidade, etc...

É raro encontrarmos um central com todas estas caracteístcas. Isso seria o central perfeito. Não há ninguém perfeito e por isso todos eles compensam uma lacuna com uma mais valia. Acho que é excusado dar exemplos.

Quanto ao jogo com a Roma não creio sinceramente que te sirva de base para fundamentar qualquer ideia. Todos sabemos perfeitamente que o Mourinho estuda os seus adversários ao pormenor e a Roma não constitui qualquer perigo no jogo aéreo nem tão pouco recorre a ele. Mas estou em querer, se tu estiveres certo, que o Materazzi não jogue mais com o Mourinho pois quer em inteligência, posicionamento e reação ele está num patamar muito inferior ao chivu, ao córdoba e até ao próprio samuel.

cumprimentos

ps. creio que esta dupla é de facto a melhor escolha para enfrantar uma equipa como a roma, mas nota que o Mourinho não tinha mais nenhum central disponível.

Anónimo disse...

"Estupido" (ou obviamente estupido) é pensar que o Mourinho ou qualquer treinador pense ou sequer ouse pensar que "A altura não é um atributo fundamental num defesa"

Ainda mais estupido é tentar argumentar e sustentar a defesa dessa conclusão tão estupida como errada.

Mais estupido só mesmo se eu tentasse fazer ver-te o quão estupido estas a ser, e seria assim tão estupido porque, simplesmente, todos sabemos o quanto tu gostas de persistir na estupidez...

Por isso, bom debate.
Fico para ver até quantos comentários consegues levar uma argumentação tão estupida...

Nuno disse...

Rui, os grandes defesas que ficaram na história raramente eram muito altos e raramente se destacaram pela sua altura. O melhor defesa que vi actuar em Portugal foi o Gamarra e não era alto... Fora de portas, já te dei o exemplo do Baresi, mas posso falar também do Beckenbauer, por exemplo. Estúpido é continuar a considerar que a altura é um atributo fundamental de um defesa quando os melhores defesas de sempre não se destacaram pela sua altura. Mas pronto, fundamental num jogador de futebol é ter genes de jogador de basquetebol... Faz sentido. No teu planeta, as coisas são um bocado estranhas...

pedro silva diz: "Mas também é verdade que um jogador pode compensar a sua falta de intlenligência ou posicionamento com a sua altura ou velocidade, etc..."

O problema, pedro, é que a inteligência e o posicionamento são muito mais importantes que a altura. Foi isso que quis dizer com este texto. É evidente que um defesa alto pode compensar lacunas como estas. O Bruno Alves, por exemplo, é excelente no jogo aéreo e compensa, com as bolas que ganha de cabeça, o seu mau jogo posicional, a sua má interpretação dos lances. O problema é que é uma compensação. O mais importante é aquilo que ele não tem. E o exemplo da Roma serve para isso. Tudo bem que o Mourinho não tinha mais centrais, tudo bem que a Roma não recorre insistentemente ao jogo directo, mas a verdade é que a defesa do Inter fez um jogo exemplar. Sinceramente, acho Córdoba e Chivu a melhor dupla de centrais do Inter, mesmo com o regresso de Materazzi e de Samuel, mas também é verdade que Mourinho, quando tinha o Rivas, por exemplo, jogava com o Cambiasso a central ao lado do Burdisso. Outra dupla pequena. E essa era por opção. Porquê? Porque o Rivas, ainda que lhe conferisse mais qualidade no jogo aéreo, não lhe garantia a qualidade posicional que o Cambiasso garante.

"Mas estou em querer, se tu estiveres certo, que o Materazzi não jogue mais com o Mourinho pois quer em inteligência, posicionamento e reação ele está num patamar muito inferior ao chivu, ao córdoba e até ao próprio samuel."

Não sei o que o Mourinho acha do Materazzi, mas (isto é uma aposta minha), o Materazzi só entrará no Inter caso o Mourinho queira jogar com o Chivu à esquerda. Não acho o Materazzi tão mau quanto isso, embora seja, para mim, inferior aos 3 que dizes e, provavelmente, também ao Burdisso.

Miguel Nunes disse...

Boas,

Na minha opinião, voces desvalorizam o processo de treino. Partem do principio que n é possível simular a competição, mas é. Exercícios especificos, próximos da competição, com algumas condicionantes em função do objectivo a atingir, e com algumas situações reduzidas, tb em função dos objectivos, permitem-te trabalhar o jogador, por forma a que ele compreenda que opções tomar e em que momento tomar.

Mourinho disse no fim do jogo na luz, que ainda havia algumas tomadas de decisão a melhorar na condução dos ataques rápidos.

Por certo que nas semanas que se seguiram explicou o que queria e criou exercicios para que o repetissem até à exaustão...


Repito: Voces desvalorizam o trabalho que o treinador pode fazer neste aspecto. Acreditem que é possível conseguir que todos os jogadores duma equipa tenham a mesma visão do que é o jogo e que tomem as mesmas decisões que o seu treinador!

Pedro disse...

"Tirando os extremos, Mourinho pretende jogadores essencialmente inteligentes"

Adorei esta frase...

Tb adorei a inclusão do carriço no lote dos bons centrais..não falhas.

Só um pormenor: Córdoba é baixo, é um facto indesmentível, mas deve ser dos jogadores mais combativos actualmente e com um poder de choque enorme. Por vezes qd se fala em "fisíco" não é apenas do tamanho do cabedal q se fala mas sim da forma como se utiliza o muito ou pouco cabedal q se tem.

Uma dupla de centrais de "Moutinhos" podia ser muito inteligente e com muito futebol nos pés mas teria pouco poder de choque e isso duvido q qqr treinador do mundo gostasse.

PS: Liedson começa a resolver...
:)

Zezé disse...

"Tirando os extremos, Mourinho pretende jogadores essencialmente inteligentes."

Justificada "boca" para Quaresma. Penso que ao nivel dele, só o Nani. Decidem quase sempre mal, e deixam-me, agora na selecção, com os cabelos em pé, de tanto enervarem.

Completamente de acordo quando dizes que um extremo não necessita de ser rápidp Ao ir dar o exemplo de Simão, não me estou a esquecer da sua rapidez, mas sim a relembrar a inteligência do seu jogo pelos flancos, flectindo muito bem para o meio, não se perdendo em fintas que tem tanto de estéticamente belas como de inúteis. e que baile deu Simão a Sérgio Ramos...

abraços

NunoC disse...

Concordo com parte do texto, até porque no meu blog tinha feito algo de semelhante quanto à questão da altura no Portugal Suécia.

No entanto, penso que está aqui presente algum exagero. Penso que o exemplo de Cordoba é gritante. Não é alto, mas é extremamente forte e tem uma impulsão e abordagem aos lances aéreos (e aí podemos chamar a isto inteligência ou outra coisa qq) francamente positiva.

Também me parece exagero desvalorizar tanto o físico, até pq Mourinho não o faz. Lembremo-nos no que disse sobre Quaresma, que precisava de ganhar mais poder físico para mostrar o seu melhor. Não me parece que apenas queira isto nos extemos mas em todos os lugares, aliando, obviamente, uma cultura táctica e posicional, não fosse Mourinho um treinador minucioso e tactimente bastante rigoroso.

Miguel Nunes disse...

"Mais de 90% do jogo ficará a cargo da imprevisibilidade."

Este é o ponto em que discordamos (e em que o tão citado Mourinho tb discorda ctg, pois já o ouvi falar mtas vezes sobre isso). Tirando este ponto, é bem possível termos exactamente as mesmas ideias!

Um bom treinador consegue que esses 90 por cento estejam a cargo do que é previsivel. Consegue nos seus exercícios simular as situações de jogo e repeti-las até à exaustão, até que os jogadores compreendam como se resolvem as tais situações. Esse é um dos grandes pontos fortes dos melhores treinadores.



PS - A velocidade pode ser trabalhada, mas, sim...é inata! Assim que uma criança nasce, é possível apurar o potencial dessa caracteristica, que está dependente da percentagem das Fibras de Contração Rápida (FCR). (por mais que trabalhes, as FCR serão sp FCR e as Fibras de Contração Lenta (FCL) serão sp de contração lenta).

Já agora, referir que estudos recentes comprovam que geneticamente, os negros têm maior propensão que os brancos para a velocidade, e contar-te um episódio passado com um treinador de atletismo do Sporting, para que melhor compreendas o quão inato é a velocidade. Contactado por um amigo, para que um dos seus alunos fosse treinar à experiencia para o Atletismo do Sporting, porque era realmente muito veloz, o treinador perguntou "é branco ou preto?". "é branco." "Entao, deixa isso.. não tou para treinar um branco durante 10 anos da minha vida e depois chegar as competições e aparecerem n sei qts pretos q nc treinaram ganharem-lhe"!

Miguel Nunes disse...

Boas, n quero estar a incomodar-vos, passando o tempo a debitar para aqui informação, mas acabei de chegar do café onde estive a ler o jornal "A Bola" que tem algumas declarações do Mourinho, relativas a este jogo, que eu gostava de as colocar aqui

"Houve um factor que marcou a diferença no jogo. Foi o trabalho que fizemos com o Muntari e o Stankovic no meio campo, durante a semana, enquanto que os 3 médios da Roma estiveram na selecção italiana"

Sobre Quaresma:

"Apareceu em situações priveligiadas em 2 lances de contra-ataque, mas não soube dar o melhor seguimento. O mais dificil para qq jogador é saber escolher bem, ou seja tomar a opção correcta"

(engraçado que estava a ver o jogo, com o MSN ligado e estava a relatar essas mm situações ao Rodrigues (o Gonçalo conhece) "Olha, contra-ataque perigoso, opções com fartura, Quaresma remata de fora da área!")

Se Mourinho partisse do princípio de que não conseguiria trabalhar as tomadas de decisão com Quaresma, acreditam mm q o contrataria? obvio que nao.

Nas proximas semanas, veremos por certo, muitos exercícios de 5x4, 6x5, ou q for, procurando simular as situações onde Quaresma n tem sido forte, e faze-lo compreender de q opçoes devem ser tomadas em q momento.

Vai uma aposta que no final da época, Quaresma será fortissimo tb a esse nível?


Enfim, só para que percebam onde o meu ponto de vista difere do vosso. Eu creio que as tomadas de decisão e a velocidade a que são tomadas, sao treinadas facilmente, desde que o treinador tenha competência! E que é nos treinos (simulando a realidade, mas com condicionantes que potenciem a repetição, e consequentemente o aumento do tempo de empenhamento motor), que tal se obtem!

Batalheiro disse...

Boa tarde,

É muito, muito dificil alterar a inteligência de um jogador. Penso que será um atributo tão inato como a velocidade e dificilmente um jogador se tornará mais inteligente por acção de um treinador.

Pensava que esta questão era relativamente pacifica, grandes defesas centrais: Gamarra, Puyol, Baresi, Cannavaro...

Em relação ao Quaresma, acho que vai falhar na sua aventura italiana, precisamente porque é burro c´mó raio, tal como o Di Maria que é dos jogadores mais enervantes que já vi jogar.

Gonçalo disse...

"Um bom treinador consegue que esses 90 por cento estejam a cargo do que é previsivel. Consegue nos seus exercícios simular as situações de jogo e repeti-las até à exaustão, até que os jogadores compreendam como se resolvem as tais situações. Esse é um dos grandes pontos fortes dos melhores treinadores."

PB, boas. Quando defendemos que existe uma grande parte do jogo que fica entregue à incerteza, não estamos a menosprezar o trabalho do treinador. Mourinho, com a sua metodologia, consegue que os seus jogadores tenham uma ideia colectiva do modelo de jogo que pretende bem definida, assim como o correlacionamento entre sectores bem mecanizado. Mas há situações no jogo, que não são possiveis de prever. Imagina, ele consegue "criar" o palco para os actores, mas a maneira como eles vão interpretar o que treinam é sempre dotado de uma grande dose de imprevisibilidade. Porque não estamos a falar de uma equipa, mas sim de um embate entre duas equipas( eu falei disso num texto : criatividade e acaso), o que vai provocar situações em que ha uma boa dose de imprevisibilidade. E é aqui que não só é importante que os jogadores tenham uma boa noção do que lhes é pedido enquanto parte de um todo(equipa), como é de gd valor que eles sejam inteligentes e rápidos a contornar as resistências criadas pelo embate com o adversário, de forma a que consigam levar com êxito os objectivos pretendidos pela equipa.

Admito que para ti( sei que és um treinador meticuloso, que trabalhas as situações de jogo à exaustão, que não descansas enquanto cada um dos jogadores beba da filosofia que pretendes para a tua equipa)os jogadores que se destaquem em termos fisicos/técnicos, sejam mais importantes que os outros que sejam essencialmente fortes na tomada de decisão. de certeza que as teus jogadores mesmo que não sejam mais inteligentes que os outros, o facto de terem uma homogeneidade na percepção do modelo de jogo que pretendes, deixa-os em clara superioridade sobre os seus advresários( pq a verdade é esta: apesar de todos quererem serem "Mourinhos", com metodologias semelhantes, etc., no essencia não passam de "jaimes pachecos" com uns métodos mais avançados.( mas não estou a dizer que é o teu caso, até pq tenho boas referÊncias tuas).

Um abraço

NunoC disse...

Concordo com o PB que situações específicas de treino melhoram os jogadores. Por isso temos atletas que parecem não vir a dar nada e de repente explodem para outros índices de qualidade.

Outra coisa não seria de esperar, senão não era necessário treinar, a não ser para manter a forma... Também acho que, de vez em quando, se quer dar a um jogo com regras simples coeficientes de compreensão demasiado elevados. É preciso ser "inteligente" sim, mas, tudo isso pode ser trabalhado e adquirido a não ser que o jogador seja um autêntico otário. Não se trata da teoria da relatividade, apenas de um jogo de futebol.

Concordo plenamente, Mourinho não é parvo, que este vê potencial em Quaresma para ser melhor e parece estar predisposto a tentar melhorá-lo, senão não falava tanto deste assunto nas suas conferências.

Anónimo disse...

gostava de saber porque é que só em portugal é que gamarra é considerado um grande central. por onde passou lá fora, não consta que tenha deixado saudades. O beckenbauer era baixo?! Qto é q tu medes? 2,90m? Já agora porque é que centrais altos tb não podem ser inteligentes? Algum preconceito?

Gonçalo disse...

As tomadas de decisões podem ser melhoradas, sem duvida, mas também os aspectos fisicos. O Quaresma pode, e vai evoluir, evidentemente. Mas ele nunca vai ser tão forte como o Figo a decidir. E é por isso que o Figo joga até lhe apetecer: Porque é inteligente.

O Valdano, numa das suas crónicas no jornal "A Bola", defende que há uns jogadores que são bons a resolverem os problemas individuais, e com isso, muitas vezes, ajudam a resolver os problemas da equipa. Mas há outros jogadores, aqueles que não são tão "visiveis" porque não são muito fortes nso aspectos fisicos/técnicos, que ajudam a equipa sem ter de se colocar em problemas individuais. Porque entendem e lêem melhor o jogo, evitam os problemas que à partida o treinador não os poderia prever no treino.

Não estou com isto a dizer que os aspectos fisicos sejam descartáveis. Não. Eles são importantes, mas não tão importantes como a inteligência.

Um abraço

Gonçalo disse...

"Já agora porque é que centrais altos tb não podem ser inteligentes"

Onde é que leste isto?

Anónimo disse...

Nuno, tudo isso é verdade e estamos de acordo mas o Materazzi, que tal como disse também considero infeiror aos outros 3 (ao burdisso não) é um jogador com mau posicionamento, fraca reacção e não muito inteligente. Mas consegue compensar tudo isso com o seu domínio aéreo e poder físico caso contrário não seria considerado um bom central (e isso é indiscutível que é). E cada jogo é um jogo e utilizam-se armas diferentes contra adversários diferentes e apesar do Mourinho não gostar de mexer a dupla de centrais (quando tem essa possibilidade evidente) não me admirava nada que contra a juventus ele prefira colocar o Materazzi para combater as bolas aéreas com o Amauri.

O próprio Mourinho disse que gosta de um central que saiba sair a jogar, daí o chivu ser cada vez mais uma opção. Honestamente prefiro o Samuel, o chivu demonstra muitas vezes falta de agressividade nos lançes mas também é um excelente central não haja dúvidas

cumprimentos

Anónimo disse...

Excelente post, Nuno. É tão óbvio que Mourinho prefere jogadores inteligentes que não vale a pena dizê-lo muitas vezes. É claro que, como treinou o Chelsea e o Inter, clubes com poder financeiro acima da média, conseguiu conciliar, na sua política de contratações, jogadores com inteligência de jogo e com qualidades técnicas e físicas de excelência. Isso é claro. Basta ver que no Porto, onde o rigor orçamental era maior, preferiu (quase) sempre jogadores inteligentes.
Abraço e continuação do bom trabalho.

pmcr disse...

Posso dizer desde já q n concordo totalmente com o q é dito neste texto! No entanto, reconheço q há nele alguma verdade.

Ainda assim tentemos ver as coisas da seguinte forma: se 95% das ekipas mundiais usa centrais altos e espadaúdos, n será pq se têm dado bem com isso?

Dp no q toca a inteligencia... Bem, isso é como tudo! Se puder ter 1 jogador de 1.90m q faça 10 segundos aos 100m e seja mt inteligente, n vou kerer 1 jogador 1.60 q faça 12 segundos aos 100m e seja apenas medianamente inteligente!

Se imaginarmos q estas são as únicas caracteristicas para se ter 1 bom defesa (obviamente q n são, isto é apenas 1 ex) há q tentar encontrar 1 jogador q consiga a melhor conjugação das 3. Dp cada treinador terá as suas preferências! Haverá quem dê maior relevância à velocidade, haverá quem dê maior relevância à altura e haverá quem dê maior relevância à inteligencia!

A verdade é q se eu tiver 1 central alto e espadaúdo q seja inteligente, n o vou trocar por 1 central q seja apenas inteligente! Pq sei perfeitamente q nakela zona do terreno vou tirar partido de 1 jogador de estatura mais elevada! Mas como é óbvio, há excepções! E esses nomes q foram referidos, como cordoba, chivu, etc. são, na minha opinião, as excepções! Posso estar enganado (há 1 forte probabilidade desta ter sido a minha afirmação mais inteligente neste comentário), mas acredito q para cada bom defesa central com menos de 1,75m encontramos 3 ou 4 bons defesas centrais com mais de 1,85m.

Para concluir, para 1 defesa central, ser alto e espadaúdo, por si só, n é suficiente, mas temos de reconhecer q ajuda. Claro está q ajuda qd é preciso ganhar no ar e qd é preciso jogar no corpo a corpo. Se eu jogar com a minha defesa subida até ao meio campo e as bolas caírem constantemente nas costas dos defesas, se calhar aí já n ajuda nada! Daí cada treinador ter as suas preferências!

Miguel Nunes disse...

Gonçalo, esse Rodrigues é um aldrabão! As referências foram boas, por uma grande amizade! Sou pouco mais que um curioso (pouco mais, pela formação académica, tal como o Rodrigues), que tem a felicidade de estar inserido num contexto (sou colega de trabalho de varios treinadores da formação do SCP e do SLB) que me permite aprender e experimentar mta coisa! Sei as minhas limitações e como tal, n sou um pretendente a um cargo de treinador (se tivesse de investir nessa carreira, teria aproveitado um convite formulado esta época, por um ex jogador meu, para ingressar no Belenenses)profissional.

Do pouco que dou, recebo a dobrar (com mimos, elogios e propostas profissionais para algo mais)dos homenzinhos com quem tenho tido o prazer de trabalhar!

PS - e claro q continuamos a discordar naquele ponto, mas já esgrimimos os nossos argumentos e n podemos ter a pretensão de mudar essa visão! Mas, que fique claro que valorizo tanto as tomadas de decisão, qt a velocidade, força e talento!

Nuno disse...

Antes de mais, desculpem por só agora responder. Quebrei o ritmo da conversa e a mesma dificilmente continuará. No entanto, não me foi possível responder antes, por manifesta falta de tempo. Queria ainda dizer que este é o tipo de discussões que vale realmente a pena ter aqui.

PB diz: "Na minha opinião, voces desvalorizam o processo de treino. Partem do principio que n é possível simular a competição, mas é. Exercícios especificos, próximos da competição, com algumas condicionantes em função do objectivo a atingir, e com algumas situações reduzidas, tb em função dos objectivos, permitem-te trabalhar o jogador, por forma a que ele compreenda que opções tomar e em que momento tomar."

PB, não encontrarás, por certo, ninguém na blogosfera que acredite mais no processo de treino do que nós. Não só cremos que é possível simular a competição como achamos isso fundamental num treino. Somos defensores da periodização táctica e daquilo que ela preconiza. Por isso, cremos que o treino serve essencialmente para simular o jogo e adequar os jogadores às necessidades estritas daquilo que é o jogo. Isso não implica, contudo, que o processo de treino abarque todas as vicissitudes de um jogo, pois isso é claramente impossível. Quando muito, é possível treinar e educar os jogadores para que estejam concentrados nos jogos, para que ajam de acordo com aquilo que se pede, mas isso de uma forma geral. É impossível prever 90% dos lances de que será feito o jogo, já para não falar daquilo que é decidir rapidamente. Creio, por exemplo, que é possível instruir um jogador de modo a que ele saiba o que fazer em cada situação, mas daí a ele se tornar capaz de tomar as melhores decisões em pouco tempo vai um grande salto.

"Acreditem que é possível conseguir que todos os jogadores duma equipa tenham a mesma visão do que é o jogo e que tomem as mesmas decisões que o seu treinador"

Estás a falar ao nível dos princípios de jogo. Nisso, concordo contigo. É perfeitamente possível educar um jogador pouco inteligente e fazer com que ele jogue de acordo com os princípios de jogo da equipa, que se movimente como o treinador quer, que esteja, em cada instante, onde é desejado, etc. Mas daí até esse jogador ser capaz, em cada situação, de definir o que é melhor para a equipa vai um grande espaço. Por exemplo, por mais que o Paulo Bento peça ao Liedson e o treine para entregar a bola de frente, o Liedson vai recorrer ao drible, vai-se virar para o adversário, vai ignorar a tabela. Pode melhorar quando tiver muito espaço e tempo para pensar, mas quando estiver apertado e tiver de decidir em pouco tempo, vai prevalecer o seu instinto.

"Este é o ponto em que discordamos (e em que o tão citado Mourinho tb discorda ctg, pois já o ouvi falar mtas vezes sobre isso). Tirando este ponto, é bem possível termos exactamente as mesmas ideias!"

Sim, este é o ponto da nossa discórdia. Mas o Mourinho não discorda de mim. Ele sabe perfeitamente que aquilo que é possível treinar é apenas uma parte ínfima do que o jogador vai encontrar no jogo. Não sei onde o terás ouvido dizer o contrário, até porque ele refere muitas vezes o quão incontroláveis são certas variáveis do jogo. Embora seja o treinador mais minucioso que conheço e aquele que, provavelmente, melhor trabalha aquilo que é possível trabalhar com os treinos, isso não implica que ele considera que tudo num jogo seja controlável.

"Um bom treinador consegue que esses 90 por cento estejam a cargo do que é previsivel. Consegue nos seus exercícios simular as situações de jogo e repeti-las até à exaustão, até que os jogadores compreendam como se resolvem as tais situações. Esse é um dos grandes pontos fortes dos melhores treinadores."

Pretendes então que é possível treinar um jogador de modo a que seja capaz de decidir sempre bem? Estás a dizer, no fundo, que o Mourinho será capaz de fazer com que o Quaresma, no final da época, tenha a capacidade de decisão do Lampard? É que isso não faz sentido nenhum. O Quaresma, acredito, vai melhorar nesse aspecto, embora não seja um jogador que valha por isso. Mas nunca melhorará a ponto de se tornar, a curto prazo, um jogador acima da média nesse capítulo. E isso é óbvio.

"A velocidade pode ser trabalhada, mas, sim...é inata! Assim que uma criança nasce, é possível apurar o potencial dessa caracteristica, que está dependente da percentagem das Fibras de Contração Rápida (FCR). (por mais que trabalhes, as FCR serão sp FCR e as Fibras de Contração Lenta (FCL) serão sp de contração lenta)."

Não disputo isto. Terás lido, talvez, aqui, que desportos como a natação ou o atletismo são cada vez menos competitivos, para mim, porque estão cada vez mais dependentes unicamente de características inatas. Ou seja, sei perfeitamente que os melhores velocistas são-o porque nasceram com genes perfeitos para isso. Mas estamos a falar de futebol. Além de não teres jogadores exageradamente mais rápidos que outros, o que digo é que teres jogadores mais rápidos que o adversário é francamente irrelevante.

""Houve um factor que marcou a diferença no jogo. Foi o trabalho que fizemos com o Muntari e o Stankovic no meio campo, durante a semana, enquanto que os 3 médios da Roma estiveram na selecção italiana""

Quanto a isto, é o que Mourinho é. Uma das coisas importantes que não disse sobre o modo de defender de Mourinho é que a equipa defende com um conceito de zona puro. Nesse sentido, defende mais colectivamente do que qualquer outra equipa. Só nestes parâmetros é que ganha imenso sentido a ideia de os defesas não terem de ser necessariamente altos, uma vez que aquilo que vai importar num defesa não é a capacidade de ganhar duelos ao seu opositor ou ao adversário que, em cada lance, lhe calhar, mas a relação posicional com os colegas. O trabalho feito com Muntari e Stankovic de que Mourinho fala estará por certo ligado à forma de ocupar os espaços, que é fundamental para a sua forma de defender.

"engraçado que estava a ver o jogo, com o MSN ligado e estava a relatar essas mm situações ao Rodrigues (o Gonçalo conhece) "Olha, contra-ataque perigoso, opções com fartura, Quaresma remata de fora da área!"

Eu também conheço o Rodrigues. :) E também estava a ver o jogo com o Gonçalo e também me lembro desse lance. A má decisão de Quaresma foi evidente, mas previsível. Ele é aquilo e foi por causa daquilo que ele é que Mourinho o foi buscar.

"Se Mourinho partisse do princípio de que não conseguiria trabalhar as tomadas de decisão com Quaresma, acreditam mm q o contrataria? obvio que nao."

Muito sinceramente, não creio que o Mourinho vá melhorar muito a capacidade de decisão de Quaresma. Aquilo que vai melhorar em Quaresma é a sua relação com os espaços. E isso já se nota. Quaresma está já bastante dentro daquilo que Mourinho pretende dos seus extremos sem bola, fechando no meio e encurtando espaços em função da bola e dos colegas. Ao contrário do que se passava no Porto, Quaresma, em situação defensiva, aparece muito mais metido para dentro, devido à forma de defender do Inter, que, numa primeira fase, tem tendência a ocupar o centro do terreno de maneira a convidar o adversário a entrar pelos flancos, encostando-o e empurrando-o depois para a linha. Quanto à capacidade de decidir com bola, penso que Quaresma vai melhorar um pouco, mas nada de extraordinário, até porque Mourinho não quererá, por certo, perder a imprevisibilidade que Quaresma pode oferecer.

"Eu creio que as tomadas de decisão e a velocidade a que são tomadas, sao treinadas facilmente, desde que o treinador tenha competência! E que é nos treinos (simulando a realidade, mas com condicionantes que potenciem a repetição, e consequentemente o aumento do tempo de empenhamento motor), que tal se obtem!"

As tomadas de decisão podem ser treinadas e melhoradas, mas jamais consegues transformar um Quaresma num Lampard. Isto é evidente. E a razão é simples. 90% das intervenções de um jogador têm a ver com os seus vícios, com a sua aprendizagem, com as suas características mentais. Um jogador que esteja habituado a cabecear a bola sempre demorará muito a sentir-se confortável e a ter capacidade para parar a bola no peito e sair a jogar. Pode melhorar, mas dependerá sempre do tempo que tiver para pensar. Se tiver pouco tempo para reagir, prevalecerão os seus hábitos e aquilo em que estiver mais confortável. Um jogador que passou a vida a ignorar os colegas e que sempre que recebe a bola tem por primeiro instinto desembaraçar-se individualmente, não mudará, ao fim de 10 meses, a ponto de passar a ter por primeiro instinto o passe ou o acto de levantar a cabeça. Um jogador como Liedson, por exemplo, recebendo a bola no meio de três jogadores, tentará sempre, em primeiro lugar, desembaraçar individualmente. Se o que dizes fosse verdade, ao fim de algum tempo a treinar como deve ser, o Liedson teria por primeiro instinto pôr o pé em cima da bola, protegê-la apenas, e levantar a cabeça à procura de um apoio. Isso jamais acontecerá em tão pouco tempo. Aquilo que pressupões é que, associado ao processo de aprendizagem, está um processo de desaprendizagem absoluto, o que não é verdade. A aprendizagem é progressiva. Quando se aprende algo, não se perdem os vícios anteriores, apenas se moldam os mesmos.

Pedro diz: "Córdoba é baixo, é um facto indesmentível, mas deve ser dos jogadores mais combativos actualmente e com um poder de choque enorme. Por vezes qd se fala em "fisíco" não é apenas do tamanho do cabedal q se fala mas sim da forma como se utiliza o muito ou pouco cabedal q se tem."

Isso é inquestionável, pedro. Mas não era disso que se tratava aqui. Isto pretendia desmentir o mito da necessidade da altura num central. O Córdoba raramente ganha bolas de cabeça, apesar da combatividade. Mas o Chivu e o Ricardo Carvalho, por exemplo, não são combativos. A combatividade também não é um atributo fundamental num defesa.

Zezé, quando faço a excepção dos extremos, é porque é nessa posição que Mourinho costuma colocar os jogadores mais imaginativos, com capacidade individual acima da média. Acho que, nessa posição, quer jogadores diferentes e não se importa, muitas vezes, que esses jogadores, ao nível das decisões, sejam inferiores aos outros, desde que compensem com uma notável capacidade individual, como é o caso do Quaresma, como era o caso do Robben.

Nuno diz: "Também me parece exagero desvalorizar tanto o físico, até pq Mourinho não o faz. Lembremo-nos no que disse sobre Quaresma, que precisava de ganhar mais poder físico para mostrar o seu melhor."

Nuno, o Mourinho disse que o Quaresma precisava de ganhar condição física, uma vez que não tivera ritmo competitivo na pré-época. Condição física é diferente de poder físico. Poder físico o Quaresma tem de sobra.

"Concordo com o PB que situações específicas de treino melhoram os jogadores. Por isso temos atletas que parecem não vir a dar nada e de repente explodem para outros índices de qualidade."

Nuno, por norma, os jogadores que dizes que parecem não vir a dar nada e que depois explodem são jogadores inteligentes. Aparentam não ser nada de especial porque normalmente se dá atenção a atributos físicos e técnicos. Não parecem grandes jogadores, mas são inteligentes e vão melhorando a sua percepção do jogo. Ao aprenderem a disfarçar esses atributos e a valorizarem aquilo em que são fortes, destacam-se. No início da sua aventura como profissional, Pereirinha era visto como um jogador tímido, pouco expedito, veloz mas sem talento. Hoje, muitos já pensam o contrário. Aqui defendeu-se sempre o talento dele. Porquê? Porque ele não aparentava ser um bom jogador, uma vez que não era exuberante, mas tinha indíces intelectuais acima da média. Isso era o indício de que, mais cedo ou mais tarde, despontaria. É verdade que muitos treinadores podem ter mão na evolução de um jogador, mas isso porque o jogador também é inteligente. Ou seja, existe à partida algo que permite ao treinador fazê-lo evoluir. Esse algo é a capacidade intelectual do próprio jogador.

"Também acho que, de vez em quando, se quer dar a um jogo com regras simples coeficientes de compreensão demasiado elevados. É preciso ser "inteligente" sim, mas, tudo isso pode ser trabalhado e adquirido a não ser que o jogador seja um autêntico otário. Não se trata da teoria da relatividade, apenas de um jogo de futebol."

Lá está, é precisamente aqui que o Entre Dez se distancia de tudo o resto. O futebol não é um jogo simples e não é uma coisa fácil de ser aprendida. Uma pessoa que começasse a jogar à bola apenas aos 16 ou 17 anos nunca poderia ser jogador. Já uma pessoa que começar a cozinhar aos 30, pode vir a ser um cozinheiro excelente. O processo de aprendizagem de um futebolista é tão demorado quanto o das actividades humanas mais complexas. O processo de aprendizagem de um futebolista de topo não andará longe do processo de aprendizagem de um pintor, de um compositor, de um matemático, etc. Não digo que seja necessário tanta inteligência para uma coisa quanto para outra, mas o processo de aprendizagem demora o mesmo. Nesse sentido, jogar futebol é como saber muito de física quântica. É preciso uma dedicação e uma orientação tão específica quanto no caso do físico. Isto porque jogar futebol é uma coisa muito complexa, ao contrário do que se pensa. Quando dizes que tudo pode ser trabalhado e adquirido, concordo contigo, mas apenas na condição de que esse trabalho e essa aquisição sejam a longo prazo. Não é possível, em 2 ou 3 anos, fabricar um jogar. Esse fabrico leva tempo. Esse trabalho e essa aquisição são progressivos e jamais um Quaresma, num ano ou dois, se transformará num Lampard. Não é assim que funciona.

Batalheiro diz: "É muito, muito dificil alterar a inteligência de um jogador. Penso que será um atributo tão inato como a velocidade e dificilmente um jogador se tornará mais inteligente por acção de um treinador."

Concordo que é muito difícil treinar a inteligência. É possível modificar, a longo prazo, a capacidade de decisão dos jogadores e quanto mais inteligentes eles forem mais fácil é de modificá-la, mas alterar a sua inteligência não me parece exequível. Contudo, não creio que a inteligência seja inata da mesma maneira que a velocidade. Como disse o PB, a velocidade é inata no sentido em que há genes que determinam isso a priori. Quanto à inteligência, não concordo. Contudo, a aquisição intelectual é um processo de tal forma lento que demora bastante, sobretudo a partir de certas, a alterar-se. Para o desenvolvimento intelectual, são fulcrais os primeiros anos de vida. Nesse sentido, um treinador não tem capacidade para melhorar significativamente a capacidade intelectual de um jogador entre os 20 e os 30 simplesmente porque o crescimento intelectual é, nessa idade, já muito lento e está dependente do crescimento anterior.

"Em relação ao Quaresma, acho que vai falhar na sua aventura italiana, precisamente porque é burro c´mó raio, tal como o Di Maria que é dos jogadores mais enervantes que já vi jogar."

Por acaso, acho que o Quaresma não vai falhar. É burro, sem dúvida, mas é fortíssimo no um para um. O Ronaldo não é mais inteligente que ele e este ano é inquestionável que foi o melhor do mundo.

anónimo diz: "gostava de saber porque é que só em portugal é que gamarra é considerado um grande central. por onde passou lá fora, não consta que tenha deixado saudades."

Anónimo, caso não saibas, o Gamarra chegou ao Inter, ainda que tenha jogado pouco. Quando se transferiu para o Palmeiras, foi feito capitão na hora. E nunca lá tinha jogado. No Brasil é um deus. No Paraguai, idem. Em Espanha, deixou saudades. Esteve quase mil minutos sem fazer uma falta, o que para um defesa é notável. Não te parece que isto é de um bom jogador? O azar do Gamarra foi ter começado a jogar profissionalmente muito tarde e ter dado o salto para a Europa numa altura em que a sua evolução como jogador já estava a estagnar. Mas foi um defesa extraordinário.

"O beckenbauer era baixo?! Qto é q tu medes? 2,90m?"

Anónimo, sabes ler? Referi centrais baixos ou que não fizessem da altura o seu forte. Beckenbauer e Laurent Blanc, por exemplo, eram defesas finos, elegantes, que não faziam do físico uma arma.

"Já agora porque é que centrais altos tb não podem ser inteligentes? Algum preconceito?"

Nunca disse que não podiam. Claro que podem. Há vários exemplos. O Rio Ferdinand é alto e é inteligente. O Nesta igual. Há tantos. Queres ver um preconceito à força, não queres?

pedro silva diz: "Materazzi, que tal como disse também considero infeiror aos outros 3 (ao burdisso não) é um jogador com mau posicionamento, fraca reacção e não muito inteligente. Mas consegue compensar tudo isso com o seu domínio aéreo e poder físico caso contrário não seria considerado um bom central (e isso é indiscutível que é)"

Pedro, não considero o Materazzi com tão mau posicionamento quanto isso. Acho que interpreta mal os lances, mas sobretudo porque é precipitado. Acho-o parecido, nesse aspecto, com o Pepe, embora de características diferentes. O Pepe compensa as suas deficiências com a velocidade, com a capacidade de antecipação, com a agressividade; o Materazzi compensa as suas deficiências com coisas parecidas, embora não seja tão mau a interpretar quanto o Pepe. Mas são jogadores que a qualquer momento podem ter falhas. Têm indíces de agressividade altíssimos, mas a concentração do seu jogo reside nessa agressividade e não no que seria mais importante, no posicionamento, na leitura do jogo, etc. Nesse sentido, são jogadores que considero inferiores àqueles que estão concentrados em coisas mais importantes. Como tal, para mim, são melhores os atributos intelectuais num defesa do que os atributos físicos, ainda que aqueles que os tenham em boa medida, como estes dois, se possam aproximar da qualidade dos outros.

"E cada jogo é um jogo e utilizam-se armas diferentes contra adversários diferentes e apesar do Mourinho não gostar de mexer a dupla de centrais (quando tem essa possibilidade evidente) não me admirava nada que contra a juventus ele prefira colocar o Materazzi para combater as bolas aéreas com o Amauri."

Não creio que seja uma boa medida. A importância da capacidade aérea do Amauri está na forma como a equipa aproveita essa capacidade. E esse aproveitamento vai estar a cargo da mobilidade de Del Piero, Nedved, etc. O que é importante, então, não é anular a capacidade aérea de Amauri, mas a mobilidade dos jogadores que vão capturar a bola ganha pelo avançado. Nesse sentido, continua a ser mais importante um bom jogo posicional do que capacidade atlética ou altura.

refutador100 diz: "Excelente post, Nuno. É tão óbvio que Mourinho prefere jogadores inteligentes que não vale a pena dizê-lo muitas vezes. É claro que, como treinou o Chelsea e o Inter, clubes com poder financeiro acima da média, conseguiu conciliar, na sua política de contratações, jogadores com inteligência de jogo e com qualidades técnicas e físicas de excelência. Isso é claro. Basta ver que no Porto, onde o rigor orçamental era maior, preferiu (quase) sempre jogadores inteligentes."

Mas parece que ninguém se lembra disso. Acho isso tão evidente que me custa arranjar melhores argumentos do que esses que dás.

pmcr diz: "se 95% das ekipas mundiais usa centrais altos e espadaúdos, n será pq se têm dado bem com isso?"

As tendências mundiais não podem servir de exemplo. Mourinho é o melhor do mundo e é o oposto de quase toda a gente. Além disso, entre dois jogadores com índices intelectuais idênticos, é natural que um mais alto tenha vantagem sobre um mais baixo. Não digo que os atributos físicos não sejam importantes. O que digo é que são secundários.

"Se puder ter 1 jogador de 1.90m q faça 10 segundos aos 100m e seja mt inteligente, n vou kerer 1 jogador 1.60 q faça 12 segundos aos 100m e seja apenas medianamente inteligente!"

Claro. Mas não é isso que está em causa. O que está em causa é a escolha entre um jogador alto, mas pouco inteligente e um jogador baixo, mas muito inteligente. Imagina que a diferença de altura é inversamente proporcional à diferença de inteligência, caso fosse possível medir e comparar tais coisas. Isto é, um jogador A era tão mais inteligente que um jogador B quanto o jogador B era mais alto que o A. Eu escolheria o A, porque para mim é mais importante a inteligência que a altura.

"A verdade é q se eu tiver 1 central alto e espadaúdo q seja inteligente, n o vou trocar por 1 central q seja apenas inteligente!"

Sem dúvida. Eu também não. Mas a oposição não é entre dois inteligentes, dos quais um é alto e um é baixo.

"Posso estar enganado (há 1 forte probabilidade desta ter sido a minha afirmação mais inteligente neste comentário), mas acredito q para cada bom defesa central com menos de 1,75m encontramos 3 ou 4 bons defesas centrais com mais de 1,85m."

Sinceramente, acho que os melhores de todos não eram altos. Se calhar, se pensares nos 10 melhores defesas centrais actuais, não encontras ou encontras poucos com mais de 1,85m e até encontras mais com menos de 1,80m. Para mim, talvez sejam estes os 10 melhores da actualidade: Córdoba, Chivu, Cannavaro, Ricardo Carvalho, Rio Ferdinand, John Terry, Puyol, Nesta, Carragher, Milito. Destes, tens o Carragher com 1,85m e dois acima disso: Nesta e Ferdinand, ambos, contudo, com menos de 1,90m. E tens 4 abaixo do 1,80m: Puyol, Milito, Córdoba e Cannavaro.

Cumprimentos a todos...

pmcr disse...

Dp de fazer 1 levantamento de defesas centrais, ainda no activo, q eu considero q são, ou já foram, bons jogadores, fiz 2 listas onde numa coloquei jogadores com 1 mínimo de 1,85m e noutra coloquei jogadores com 1 máximo de 1,75m.

O resultado foi o seguinte:

1,85m ou mais

Pepe
Bruno Alves
David Luiz
Luisão
Lúcio
Alex
John Terry
Rio Ferdinand
Carragher
Hyypia
Sol Campbel
Vidic
Kompany
Van Buyten
Mertesacker
Metzelder
Materazzi
Chiellini
Nesta
Stam

1,75 ou menos

Córdoba
Kuffour

É óbvio q isto é 1 escolha pessoal e q provavelmente mta gente há-de dizer q faltam mts bons centrais, outros hão-de dizer q tão ali uns qtos a mais.

N sei até q ponto é q a minha fonte é ou não credível (FM 2008), mas creio q as alturas n tão mt diferentes da realidade.


Reconheço q nestas listas há jogadores com caracteristicas mt diferentes. Nem todos os jogadores altos q ali referi fazem do fisico a sua melhor arma, mas creio q dá pra ficar com 1 ideia de como há mts bons centrais altos e poucos bons centrais baixos.

Ainda assim reconheço q, provavelmente, este fenómeno se deva ao facto de nas camadas jovens os jogadores serem desde logo afastados da posição de defesa central se n tiverem mais de 1,75m.

Aproveito tb pra esclarecer 1 coisa, o Chivu n é assim tão baixo como pode parecer. Na altura fiquei com esta dúvida e dp de dar 1 vista de olhos no FM, ele apresenta-se com 1,84m.

Anónimo disse...

Nuno, antes de mais uma frase que li aí algures: "O Córdoba raramente ganha bolas de cabeça, apesar da combatividade." Vou partir do princípio que querias dizer o contrário!!

De resto e quanto à história Amauri/Materazzi é evidente que é importante anular as movimentações dos outros mas creio mais importante cortar de imediato o fornecimento desse mesmo jogo. Não só é mais fácil como mais eficaz na minha opinião. Por exmplo este novo Inter é claramente apoiado no Zlatan (tal como era o Chelsea em drogba). Jogo ofensivo todo passa por ele, libertar colegas, segurar bola, levá-la etc etc. Parece-me muito mais eficaz evitar que o zlatan receba bolas em condições e tentar acabar com a jogada ali do que tentar anular (depois) as movimentações de todos os outros homens de ataque. Ainda por cima grande parte das vezes saem passes "mágicos" que os defesas nem estão à espera e os desiquilíbrios são enormes.
É evidente que a situação do Amauri é diferente mas a lógica é semelhante.

cumprimentos

Anónimo disse...

Nuno, o córdoba acredita que ganha muitas (e digo mesmo a maior parte) mesmo quando os duelos são de igual para igual. A sua elevação é sobre humana e inigualável. Toma mais atenção aos duelos.

Quanto a esse caso eu disse que os casos eram distintos. Mas a lógica é a mesma insisto. É verdade que não é muito complicado ocupar os espaços das segundas bolas num cabeçeamento. Mas o Amauri não faz só cabeceamentos, aliás a maior parte das vezes domina e controla ou sempre que faz solicitações de imediato prefere fazê-las com os pés e aí já não podes combater isso com ocupação de espaços. Ainda assim creio que em qualquer das situções um combate directo aéreo seria muito mais eficaz. A vantagem que um defesa tem sobre o avançado numa bola bombeada é enorme. Está sempre em melhores condições de abordagem ao lançe para além do que o avançado tem sempre a preocupação acrescida de fazer um cabeceamento orientado caso contrário será infrutífero. Dessa forma será muito difícil à equipa utilizar esse tipo de jogo. Aliás essa é a estratégia utilizada por todos sempre evidentemente com o complemento posicional para ganhar a segunda bola. Mas de certeza que todos os treinadores querem ganhar a primeira bola isso creio que é indiscutivel.

cumprimentos

Nuno disse...

"Mas o Amauri não faz só cabeceamentos, aliás a maior parte das vezes domina e controla ou sempre que faz solicitações de imediato prefere fazê-las com os pés e aí já não podes combater isso com ocupação de espaços."

Claro. Mas nesse caso não concordo, como disse. Estávamos, isso sim, a falar dele ganhar bolas de cabeça.

"Ainda assim creio que em qualquer das situções um combate directo aéreo seria muito mais eficaz. A vantagem que um defesa tem sobre o avançado numa bola bombeada é enorme. Está sempre em melhores condições de abordagem ao lançe para além do que o avançado tem sempre a preocupação acrescida de fazer um cabeceamento orientado caso contrário será infrutífero."

Atenção, eu não defendo que se deve ignorar o avançado que salta de cabeça e deixá-lo saltar à vontade. Não. Acredito e defendo que deve ser acompanhado e que quem o acompanhar deve saltar com ele. Mas, uma vez que também defendo uma defesa à zona pura, não faz sentido incluir na minha equipa um jogador que sirva apenas para ir disputar constantemente os lances de cabeça com um determinado adversário, pois poderia pôr em causa a estrutura defensiva da minha equipa. E, para reforçar esta opção, concluo dizendo que o facto de determinado avançado disputar as bolas com um defesa mais baixo que ele não é muito importante porque importante é o sítio onde essa bola vai cair depois. Logo, ao saltar, vai ser estorvado por alguém que saltará com ele, mas alguém que não terá por missão tentar estritamente ganhar a bola. Por exemplo, quando Scolari reagiu à entrada de Koller no jogo do Europeu, colocando Meira, disse que faria mais sentido ter entrado Meireles. Isto por várias razões. Porque Meira entrava para estar sempre perto de Koller e o espaço no centro do meio-campo poderia passar a estar despovoado. Segundo, porque Meira nunca ganharia a bola a Koller, logo era tão útil para isso quanto o Meireles. Terceiro, porque o Meireles daria maior rapidez à ocupação de espaços e, consequentemente, seria mais útil que Meira no preenchimento de zonas onde a segunda bola caísse. Ou seja, o que eu quero dizer é que o "ter altura" tem de ser um acréscimo. Só faz sentido quando não põe em causa a estrutura defensiva de uma equipa ou a qualidade posicional da mesma. Ter altura por ter é insignificante. E isto também porque a segunda bola é sempre mais importante que a primeira. Como é óbvio, se puder ser, que se ganhe logo a primeira. Mas perdê-la não é preocupante.

Quanto ao Córdoba, ele não ganha assim tantas bolas. Só o dizeres isso faz com que te contradigas quando defendes que o Materazzi será útil para jogar contra o Amauri. Se o Córdoba fosse assim tão forte nos lances aéreos e jogando o Mourinho à zona, bastaria que Córdoba fosse destacado para atacar todas as bolas aéreas que fossem na direcção de Amauri. Além disso, quando se fala de uma impulsão extraordinária, não se fala de um diferença de 20 centímetros. Um jogador com uma grande impulsão, ganha, no máximo, 7 ou 8 centímetros àqueles que têm impulsões menores. O Córdoba e o Cannavaro que, sendo jogadores baixos, ganham algumas bolas de cabeça, beneficiam dessa vantagem de que falas dos defesas atacarem a bola de frente e da impulsão que têm. Isto pode ajudar a compensar a baixa estatura. Ou seja, o Córdoba, tendo 1,73m, pode ganhar bolas a jogadores com 1,81, 1,82, mas não ganhará, certamente, bolas ao Luca Toni ou ao Koller. E depois há ainda a questão de haver avançados que, apesar de altos, não são fortes no jogo aéreo. Um exemplo flagrante é o Henry. Daí que eu diga que o Córdoba, apesar da predisposição para ganhar bolas de cabeça, para as atacar, não ganha muitas em duelos individuais com um avançado que tenha a mesma predisposição, mas que seja 10 centímetros mais alto. Isso é claro...

Anónimo disse...

estamos de acordo então. Mas é evidente que o córdoba não vai ganhar bolas ao Toni em situação de igualdade. Ele ganha muitas bolas a muitos avançados mais altos não só pela impulsão mas pelo posicionamento e tempo de salto que são quase tão importantes como a altura. Agora é evidente que se tiveres o Materazzi ou o córdoba para disputar lances aéreos escolho o Materazzi. Apesar de não ter a mesma cordenação, tempo de salto e posicionamento de salto tem mais 20 cm e é muito mais poderoso no choque.

cumprimentos

Miguel Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Nunes disse...

Boas, ainda sobre a forma como eu defendo que o processo de treino (desde que objectivo, e bem planeado) permite controlar muito do jogo, reduzir ao minimo a tal imprevisibilidade q voces elevam a 90%, permite criar nos jogadores a capacidade para responderem às situações com que se deparem no jogo, venho só deixar-vos uma frase retirada de um livro de José Mourinho (q estou agora a reler)

pag 225 Um Ciclo de Vitórias

"Os 8 dias de treino deram-nos a tranquilidade e a segurança de cobrir todos os itens e variáveis do jogo. Conheciamos o Mónaco como as palmas das nossas mãos, sabiamos de olhos fechados O QUE FAZER, EM CADA MOMENTO E PERANTE CADA SITUAÇAÕ. Estávamos confiantes, PORQUE TINHAMOS RESPOSTA PARA TUDO."

Special One, sem dúvida, mas fazer atingir esse nível nos seus jogadores, nem creio ser assim tão dificil (não querendo parecer pretencioso, eu próprio já o consegui, a um nível amador). O que mais admiro nele, é mesmo a liderança (também em termos tácticos é o melhor do mundo, mas a esse nível, estão tb mts outros).

Nuno disse...

"Special One, sem dúvida, mas fazer atingir esse nível nos seus jogadores, nem creio ser assim tão dificil"

Fazer atingir que nível? Pá, vou dar um exemplo. Um jogador ganha um ressalto, fica virado para a linha, com a bola, com um apoio recuado, e caem dois gajos em cima dele. Um jogador inteligente porá o corpo à frente e servir-se-á do apoio ou para lhe endereçar a bola ou para iludir os adversários, fingindo que lhe vai passar a bola, mas permanecendo ele com a mesma e saindo da situação sozinho. Este tipo de situação, que é o que mais acontece num jogo de futebol, não se treina. Isto é individual e requer uma capacidade individual. Um treinador, quando muito, pode incutir no jogador alguns princípios de jogo, pode forçá-lo a jogar sempre com o apoio recuado de maneira a criar nele um "vício". Mas criar vícios, criar hábitos nos jogadores não prevê, por exemplo num lance como este, a possibilidade de uma segunda saída. E, como é óbvio, a possibilidade de ter duas saídas torna o jogador mais dotado. Um treinador pode, quando muito, aperfeiçoar as directrizes principais dos seus jogadores, fazer com que, cada um, em cada posição, saiba, de uma maneira geral, o que tem a fazer. Mas o jogo é composto, essencialmente, por lances inesperados (estou a falar no mais baixo nível, em situações como a do exemplo). Naquela situação, o máximo que o jogador pode saber é o que deve fazer com a bola. Isto é, pode-se incutir que não a chute para fora, que faça os possíveis para conservá-la, tentando arranjar soluções simples, etc. Mas não se pode ajudá-lo a decidir porque as decisões dependem das situações e as situações não são previsíveis a esse ponto.

Daí que seja necessário, ao Mourinho e a qualquer treinador que pretenda ter algum sucesso, jogadores inteligentes. Porque esses vão ser capazes de decidir melhor em cada situação e porque esses vão também ser aqueles que melhor compreenderão aquilo que um treinador lhes pede. Sobre o facto de o Mourinho querer jogadores inteligentes, já o ouvi dizer que lhes dá preferência. Também ando a ler um livro, por acaso, do mesmo autor, sobre o Mourinho. É ele o "Liderança: as lições de Mourinho". À página 31, Luís Lourenço e Fernando Ilharco dizem o seguinte:

"Mourinho só contrata para as suas equipas jogadores evoluídos culturalmente e com "opiniões próprias", para poder levar a cabo o seu método de treino, aprendizagem e motivação a que chamou "descoberta guiada"."

Luís Lourenço não fala em inteligentes, mas fala em "evoluídos culturalmente e com "opiniões próprias". Acho que comprova aquilo que digo. Mourinho necessita de jogadores com um intelecto acima da média até porque são esses que melhor responderão àquilo que ele lhes vai pedir. Isso é óbvio.

Quanto à questão da liderança e da táctica, muito sinceramente não concordo contigo. Para o próprio Mourinho, liderar é uma questão táctica. São coisas indissociáveis. Posso lembrar, por exemplo, que Mourinho, de uma época para a outra no Porto, mudou o esquema táctico, do 433 para o 442 losango, porque considerava que o segundo, em termos tácticos, era tão exigente que obrigaria os jogadores a estarem permanentemente concentrados e não relaxarem depois de terem ganho tudo no ano anterior. Ou seja, para motivar a equipa, Mourinho pô-los tacticamente concentrados. É verdade que os seus jogos psicológicos e que a capacidade de motivar os jogadores é grande, mas é indissociável da sua excelência táctica e deriva até dela. Se tacticamente não fosse bom, palavras nenhumas motivariam os seus jogadores. Portanto, se há coisa em que Mourinho é realmente bom é tacticamente. E, francamente, não há treinadores ao nível dele nesse aspecto...

Abraço!

Nuno disse...

PB, só mais uma citação do mesmo livro, em que Mourinho diz que a velocidade pura não é importante:

"Qual é o homem mais rápido do mundo? Vamos supor que é o Francis Obikwelu, que faz menos de dez segundos em cem metros. É muito rápido e não conheço nenhum jogador de futebol que o consiga igualar numa corrida de cem metros. No entanto, numa partida de futebol, numa equipa por mim treinada, 11 contra 11, o Obikwelu seria o mais lento! Dou ainda outro exemplo: um caso paradigmático de um jogador lento actual é o Deco. Se o colocássemos numa corrida de cem metros com os homens do atletismo, faria uma figura ridícula. É descoordenado a correr, não tem velocidade terminal, muscularmente de certeza que está carregado de fibras de contracção lenta e nada de fibras de contracção rápida. No entanto, num campo de futebol, é um dos jogadores mais rápidos que conheço, porque velocidade pura não tem nada a ver com a velocidade no futebol. A velocidade no futebol relaciona-se com a análise da situação, reacção ao estímulo e capacidade de o identificar. No futebol, o que é o estímulo? É a posição no campo, a posição da bola, é o que o adversário vai fazer, é a capacidade de antecipar a acção, é a percepção daquilo que o adversário vai fazer, é a capacidade de perceber que espaço é que o adversário vai ocupar para receber a bola sozinho, etc. Daí que, por exemplo, se um jogador meu estiver a marcar o Obikwelu, que tem, comparado com os jogadores de futebol, um arranque de grande explosão, isso obrigará o meu jogador a arrancar sempre mais tarde numa desmarcação. Contudo, porque o futebol não é a sua área de desempenho, Obikwelu vai, com grande probabilidade, deslocar-se para onde não deve, logo, o meu jogador vai conseguir estar ao pé dele no momento em que ele tem condições para receber a bola. Nesta forma de analisar a velocidade, um jogador lento do ponto de vista tradicional é, afinal, um jogador rápido numa perspectiva complexa, porque vai deslocar-se numa fase em que os outros não esperam, num tempo correcto, num momento em que o companheiro com bola precisa que ele se desloque. Assim, tudo isto é complexidade e o homem é um todo complexo no seu contexto, por isso trabalhar qualidades individualizadas e/ou descontextualizadas da complexidade do jogo é, para mim, um erro grave."

Como vês, a preferência é dada não ao tipo que é rápido em termos puros, mas àquele que mais velozmente raciocina.

Miguel Nunes disse...

velocidade de execução! é principalmente a isso que ele se refere, qd fala de Deco e de outros q tais. Tal como a resistencia é específica, tb é obvio que há quem não retire vantagem da velocidade, mesmo sendo veloz! O caso do Obikwelu é obvio, esse é alias um exemplo mt comum dado por profissionais do futebol! É explicar que alguém que nc jogou futebol, mesmo sendo mt rápido, nc conseguirá aproveitar essa velocidade (na faculdade, recordo-me que o prof Silveira Ramos deu vários exemplos, bem exagerados a explicar isto!)

Nuno disse...

Exacto, e da velocidade de execução depende essencialmente a capacidade intelectual, a capacidade de interpretação dos estímulos. Ou seja, a velocidade que lhe interessa é essencialmente aquela que é determinada pela inteligência. É possível dar um exemplo parecido sem tanto exagero. Um jogador de futsal terá, em termos motores, uma relação com o jogo idêntica à do jogador de futebol de 11. No entanto, porque o jogo é diferente, porque os estímulos a que terá de dar resposta são necessariamente outros, um jogador de futsal brilhante é um jogador de futebol de 11 banal. Isso tem a ver com a especificidade do jogo e com a inteligência que o jogador foi cultivando ao longo da sua aprendizagem. Ora, se o Mourinho fosse capaz de pegar em jogadores deficientes do ponto de vista intelectual e melhorá-los substancialmente, poderia facilmente tornar um jogador de futsal num jogador de futebol de 11. E isso não é verdade. Como tal, interessam-lhe jogadores cuja capacidade de decisão seja superior à média, pois esses são aqueles que melhor vão compreender a complexidade inerente ao jogo, bem como tudo aquilo que ele exigirá deles.