Sempre que ouço falar da forma de jogar do Chelsea de José Mourinho, vibra em mim o mais rotundo desacordo. O Chelsea é, para esta gente, uma equipa defensiva. Muito defensiva, até! Defensiva?? Não. Não e não. Defender bem não implica não atacar bem e muito menos privilegiar a defesa em detrimento do ataque. Repito - o Chelsea não é uma equipa defensiva. Haverá forma de demonstrar isto? Sim, certamente. Mas peço àqueles que são de opinião contrária que dispam o fato do preconceito enquanto lerem estas linhas.
O Chelsea defende bem? Sim, muito bem até. Então, por que razão não é, como defendo, uma equipa defensiva? Porque o seu jogo não assenta apenas na ideia de uma defesa sólida. Aliás, a solidez dessa defesa é até consequência da forma de jogar da equipa e não a sua filosofia. O Chelsea só defende bem porque também ataca bem. Os mentecaptos estão, neste momento, com as mãos nos cabelos, bufando. "Que tem uma coisa a ver com a outra?", perguntam. "Tudo!", respondo eu. A filosofia dos "blues" é simples. Jogam um futebol apoiado, que à partida é logo condição suficiente para uma equipa que não se limita a defender, baseado na posse de bola e no funcionamento do conjunto em bloco, com os elementos muito perto uns dos outros. Não raro os críticos afirmam que o Chelsea, ao bom estilo inglês, joga um futebol directo. Errado! Mais uma vez, errado! O Chelsea? O mesmo Chelsea? Que atrocidade! É verdade que em determinadas alturas do jogo a equipa tenta explorar a capacidade de Drogba com passes verticais, mas tem de se compreender o porquê. Normalmente, fazem-no perto do final do jogo, se o resultado não lhes interessa, ou quando o adversário tem as suas linhas subidas e são necessários ataques rápidos. Ninguém explora melhor o ataque rápido que as equipas de José Mourinho. Mas é só nestas situações que o Chelsea insiste neste tipo de jogo. De resto, é uma equipa que progride de forma apoiada, preservando a posse de bola e não arriscando passes longos. É verdade que não se limita a trocar a bola e a progredir sempre de forma apoiada, variando a construção de ataques e utilizando, de vez em quando, um futebol mais rectilíneo. Mas fá-lo sobretudo para quebrar a rotina, para surpreender, para desencaixar as marcações do adversário. E também porque, em Inglaterra, o espaço entre linhas é muito grande, e uma eventual segunda bola é mais fácil de ganhar. Mourinho sabe isso e tenta explorá-lo. Só os ignorantes acham que Mourinho prefere um estilo directo a um futebol apoiado, que minimize o risco de perder a bola.
É filosofia do técnico português o futebol de ataque - sabemo-lo. E ninguém é mais fiel à sua filosofia que ele. Então por que razão haveria de pôr o Chelsea a jogar à defesa? Defende José Mourinho que a melhor maneira de defender é longe da sua baliza e evitar que o adversário tenha bola para poder atacar. São ideias dele; não minhas para acomodar o meu argumento. E como evita ele que o adversário tenha bola? Exactamente, tendo-a. E como evita defender perto da sua baliza? Pressionando alto. Com estes dados, como é que uma equipa que preconiza a posse de bola e uma pressão altíssima pode ser uma equipa defensiva? Não é, evidentemente! O Chelsea defende, em primeiro lugar, atacando. Depois, pressionando o mais possível de modo a retirar tempo de posse de bola ao adversário. Resta aos adversários do Chelsea a utilização de um futebol directo e a exploração dos avançados. E é aí que entra em acção não só a categoria da defesa do Chelsea como o extraordinário sentido posicional de toda a equipa.
Devo, para já, fazer um breve parêntesis. Ouvi um comentador dizer, no último jogo do Chelsea para a Liga dos Campeões, que a equipa, nesta prova, tinha invariavelmente menos tempo de posse de bola que o adversário. Em primeiro lugar, devo dizer que não consultei estatísticas, até porque elas são adulteradas pela definição que lhes dão. Em segundo lugar, há que ver que o Chelsea não tem que fazer 90 minutos de posse de bola para dominar o jogo. Se o resultado lhe for favorável, podem bem permitir uma posse de bola inofensiva ao adversário sem que percam o controlo da partida. Em terceiro lugar, há que ver quem foram os adversários dos londrinos até aqui. Apanharam o Barcelona que, juntamente com o Arsenal, são as duas equipas que melhor trocam a bola na Europa. Depois, apanharam o Werder Bremen, que também não são parvos de todo. E apanharam o Porto, que no primeiro jogo esteve quase sempre à procura de marcar para consolidar uma boa vantagem para a segunda mão. Vamos primeiro à questão das estatísticas. Não conheço os critérios da contagem da posse de bola, mas posso imaginá-los. Acredito que, enquanto o adversário não recuperar a bola, o tempo conte a favor de quem a tinha anteriormente. Uma equipa que pontapeia a bola para a frente ganha, portanto, 3 ou 4 segundos de posse de bola numa zona onde ninguém a pode recuperar: no ar. Uma equipa que privilegie um futebol curto tem que, nesses mesmos 3 ou 4 segundos, trocar a bola entre 2 ou 3 jogadores, o que é consideravelmente mais difícil. Logo, à partida, tempo de posse de bola não significa, de facto, posse de bola. Como tal, esta estatística de pouco serve. Em segundo lugar, uma equipa inteligente pode controlar o jogo permitindo que o adversário troque a bola em zonas recuadas. Ao fazer isto, como é óbvio, perde tempo de posse de bola. O Chelsea não pressiona os 90 minutos. Fá-lo quando tem de o fazer. E quando não o faz, permite que a bola esteja na posse do adversário. Mas isto não implica que perca o controlo do jogo, pois também não permite que o adversário troque a bola em zonas demasiado ofensivas. Como tal, é de notar que, numa competição na qual grande parte dos adversários foram equipas com bons argumentos técnicos e que privilegiam um futebol apoiado, o Chelsea tenha menos tempo de posse de bola do que no campeonato inglês. Isso não implica, contudo, que não dominem o jogo. E isso vê-se não nos resultados, mas na forma contundente e sem mácula com que os conseguiram.
Os defensores de um Chelsea defensivo utilizam normalmente o argumento das inúmeras vitórias tangenciais da equipa. É verdade que o Chelsea raramente ganha por mais do que dois golos. Também é verdade que a equipa sofre poucos golos. É isso sinónimo de uma equipa defensiva? Não. O Chelsea é uma equipa equilibrada. Ataca quando tem de atacar; defende quando tem de defender. E é, sobretudo, uma equipa inteligente. Sabe que uma vitória por 1-0 é igual a uma vitória por 5-0. Sabe que atacar cria espaços atrás e que, tendo um resultado positivo, não precisa de correr riscos desnecessários. Aqui, dizem-me, "mas exactamente por isso é que eles recuam e se pôem à defesa!" Não é verdade. O Chelsea não recua. Deixa, isso sim, de pressionar tão em cima, o que implica menor desgaste nos atletas, preservando forças para recuperar bolas mais importantes. E não concede a iniciativa ao adversário. Ao abdicar da pressão, pode permitir ao adversário uma circulação de bola em zonas recuadas, mas fechando linhas inviabiliza que o adversário se desmultiplique em acções ofensivas. Depois, com a posse de bola no seu poder, troca-a vagarosamente ou tenta surpreender o adversário com ataques rápidos. Trocando a bola, faz com que o adversário não a tenha. Utilizando ataques rápidos, tenta surpreender sem arriscar muito. Levantam-se novamente vozes, dizendo: "Então, mas se a filosofia é não arriscar, é exactamente o mesmo que defender!" Não. O Chelsea não utiliza nada que se pareça com o "Catennacio". Pelo contrário. Se o fizesse, arriscaria mais. Admito que o erro desta gente seja pensar que defender é não arriscar. Não é. Uma equipa que defenda lá atrás, concedendo o domínio do jogo em todo o campo, pode evitar espaços nas suas zonas recuadas, mas arrisca-se constantemente a sofrer um golo num lance fortuito, ocasionado pela confusão em que a sua área defensiva se tornou. Ao mesmo tempo, como abdica do ataque, não tem possibilidades de dilatar a vantagem. Ora, o Chelsea não faz nada disto. Nunca se posiciona lá atrás, nunca recua em demasia. O que faz é fechar o centro, tapar linhas de passe. Mas isto em zonas avançadas, no meio-campo e não na defesa. Pouco ou nada arrisca concedendo posse de bola ao adversário, pois na verdade não a concede no seu meio-campo.
Ao contrário do Chelsea, para estas pessoas o Manchester United é o protótipo de uma equipa ofensiva. Errado! O Manchester ataca mais. Ataca mais espectacularmente. Mais rápido, mais dinâmico... Marca mais golos. Nada disto significa que seja mais ofensiva que o Chelsea. Ou não significa, pelo menos, que ataque tão bem. O futebol do Manchester parece mais ofensivo porque tem unidades que dão essa ilusão e porque o seu sistema, abdicando da povoação do centro do terreno, coloca mais homens em zonas avançadas. O Chelsea, quer em 442 losango, quer em 433, nunca coloca mais do que 3 homens na frente. Há sempre 3 homens posicionados no centro, normalmente Makelelé, Essien e Lampard. No Manchester, só Carrick faz os apoios por trás, só ele não estica o jogo. Ronaldo, Giggs, Scholes, Rooney e Saha (ou outro avançado), têm liberdade para avançar. Isto, como é óbvio, provoca várias coisas. Primeiro, é um sistema que confia unicamente na inspiração destes jogadores avançados. Como estes têm toda a liberdade do mundo, não jogam em apoios e, desinspirados, não possuem forma de contrariar um resultado. Estando inspirados, é certo, há a tendência para conseguirem resultados mais volumosos que os do Chelsea. Não estando, pouca coisa podem fazer. Depois, é um sistema que desguarnece irremediavelmente a defesa. Pelas características dos seus jogadores, o ritmo de jogo é sempre alto e há sempre espaços na rectaguarda. Uma equipa que povoe condignamente o centro do terreno consegue sempre contrariar o futebol pretensamente ofensivo do Manchester e tem boas hipóteses de, aproveitando os espaços criados pela movimentação excessivamente livre dos seus homens da frente, criar problemas à defensiva dos Red Devils. É verdade que o Manchester ataca mais, dá mais espectáculo, mas não joga melhor que o Chelsea. Se quisermos, utiliza um futebol demasiado irresponsável. Em Inglaterra, onde as equipas jogam em sistemas invariavelmente obsoletos, isto tende a resultar: a irresponsabilidade não é aproveitada. Na Europa, faltando a inspiração das suas armas da frente, o Manchester tem dificulades. Vejam-se os jogos com o Lille, ou com o Benfica, em que a equipa ganhou sempre de forma muito sofrida.
Ao contrário do Manchester, o Liverpool é uma equipa excessivamente responsável. De tão preocupada com a povoação do centro, descura os processos ofensivos. Há, apesar de uma correcção táctica excepcional, uma falta de imaginação incrível no ataque. A equipa vive de um futebol musculado, sem inteligência para criar espaços ofensivos. Resulta daqui que, internamente, poucas probabilidades têm de ganhar alguma coisa. Entre estes dois extremos, situa-se o Chelsea, que é uma equipa responsável, mas virada para o ataque. Sabe atacar, não tão ferozmente como o Manchester, mas educadamente, racionalmente, e sabe defender, não tão obsessivamente como o Liverpool, mas correctamente. E o grande segredo do Chelsea é a forma global como joga. Poder-se-ia afirmar que o Chelsea ataca a defender e defende a atacar. Que quero eu dizer com isto? Bom, o Chelsea privilegia, acima de tudo, um futebol de apoios. Conduz os ataques de forma apoiada, sempre com 2 ou 3 jogadores a fornecerem apoios laterais e atrasados ao portador da bola, a cada momento. Com isto, consegue-se duas coisas: atacar, pois há sempre linhas de passe; e defender, pois em caso de perda de bola, os sectores estão juntos e a recuperação pode ser imediata. Digamos que, jogando assim, uma equipa parte para o ataque com a defesa montada. Não é um ataque desenfreado como o do Manchester, mas um ataque racional, consciente dos riscos de se atacar. Ao defender, o Chelsea cobre zonas. Com um preenchimento táctico correcto do terreno, consegue, a cada momento, cortar o maior número de linhas de passe e tem, ao mesmo tempo, preparado o ataque, no caso de uma recuperação de bola.
Resumindo, o Chelsea não tem nada de defensivo. É uma equipa que sabe gerir o jogo e que não se importa de conceder a bola ao adversário, caso isso não implique correr riscos como um recuo no terreno. Ofensivamente, não é deslumbrante, mas muito personalizada. Não arrisca em demasia e constrói o seu futebol de forma pensada. Não joga muito bonito, talvez porque lhes faltem alguns índices de criatividade. Nisso, tenho de concordar que o Chelsea é uma equipa demasiado mecanizada. Tirando a capacidade individual de um ou outro jogador, a equipa está demasiado presa aos automatismos que aprendeu. Ainda assim, é de louvar a forma correcta como atacam. Não o fazendo de forma bonita, fazem-no contudo bastante bem, conseguindo abrir espaços através da excepcional movimentação sem bola, do dinamismo e da velocidade de execução. O Chelsea é, pois, uma equipa ofensiva. É adulta e, por isso, pouco espectacular. Mas não é por isso que deixa de ser uma equipa que pratica bom futebol.
O Chelsea defende bem? Sim, muito bem até. Então, por que razão não é, como defendo, uma equipa defensiva? Porque o seu jogo não assenta apenas na ideia de uma defesa sólida. Aliás, a solidez dessa defesa é até consequência da forma de jogar da equipa e não a sua filosofia. O Chelsea só defende bem porque também ataca bem. Os mentecaptos estão, neste momento, com as mãos nos cabelos, bufando. "Que tem uma coisa a ver com a outra?", perguntam. "Tudo!", respondo eu. A filosofia dos "blues" é simples. Jogam um futebol apoiado, que à partida é logo condição suficiente para uma equipa que não se limita a defender, baseado na posse de bola e no funcionamento do conjunto em bloco, com os elementos muito perto uns dos outros. Não raro os críticos afirmam que o Chelsea, ao bom estilo inglês, joga um futebol directo. Errado! Mais uma vez, errado! O Chelsea? O mesmo Chelsea? Que atrocidade! É verdade que em determinadas alturas do jogo a equipa tenta explorar a capacidade de Drogba com passes verticais, mas tem de se compreender o porquê. Normalmente, fazem-no perto do final do jogo, se o resultado não lhes interessa, ou quando o adversário tem as suas linhas subidas e são necessários ataques rápidos. Ninguém explora melhor o ataque rápido que as equipas de José Mourinho. Mas é só nestas situações que o Chelsea insiste neste tipo de jogo. De resto, é uma equipa que progride de forma apoiada, preservando a posse de bola e não arriscando passes longos. É verdade que não se limita a trocar a bola e a progredir sempre de forma apoiada, variando a construção de ataques e utilizando, de vez em quando, um futebol mais rectilíneo. Mas fá-lo sobretudo para quebrar a rotina, para surpreender, para desencaixar as marcações do adversário. E também porque, em Inglaterra, o espaço entre linhas é muito grande, e uma eventual segunda bola é mais fácil de ganhar. Mourinho sabe isso e tenta explorá-lo. Só os ignorantes acham que Mourinho prefere um estilo directo a um futebol apoiado, que minimize o risco de perder a bola.
É filosofia do técnico português o futebol de ataque - sabemo-lo. E ninguém é mais fiel à sua filosofia que ele. Então por que razão haveria de pôr o Chelsea a jogar à defesa? Defende José Mourinho que a melhor maneira de defender é longe da sua baliza e evitar que o adversário tenha bola para poder atacar. São ideias dele; não minhas para acomodar o meu argumento. E como evita ele que o adversário tenha bola? Exactamente, tendo-a. E como evita defender perto da sua baliza? Pressionando alto. Com estes dados, como é que uma equipa que preconiza a posse de bola e uma pressão altíssima pode ser uma equipa defensiva? Não é, evidentemente! O Chelsea defende, em primeiro lugar, atacando. Depois, pressionando o mais possível de modo a retirar tempo de posse de bola ao adversário. Resta aos adversários do Chelsea a utilização de um futebol directo e a exploração dos avançados. E é aí que entra em acção não só a categoria da defesa do Chelsea como o extraordinário sentido posicional de toda a equipa.
Devo, para já, fazer um breve parêntesis. Ouvi um comentador dizer, no último jogo do Chelsea para a Liga dos Campeões, que a equipa, nesta prova, tinha invariavelmente menos tempo de posse de bola que o adversário. Em primeiro lugar, devo dizer que não consultei estatísticas, até porque elas são adulteradas pela definição que lhes dão. Em segundo lugar, há que ver que o Chelsea não tem que fazer 90 minutos de posse de bola para dominar o jogo. Se o resultado lhe for favorável, podem bem permitir uma posse de bola inofensiva ao adversário sem que percam o controlo da partida. Em terceiro lugar, há que ver quem foram os adversários dos londrinos até aqui. Apanharam o Barcelona que, juntamente com o Arsenal, são as duas equipas que melhor trocam a bola na Europa. Depois, apanharam o Werder Bremen, que também não são parvos de todo. E apanharam o Porto, que no primeiro jogo esteve quase sempre à procura de marcar para consolidar uma boa vantagem para a segunda mão. Vamos primeiro à questão das estatísticas. Não conheço os critérios da contagem da posse de bola, mas posso imaginá-los. Acredito que, enquanto o adversário não recuperar a bola, o tempo conte a favor de quem a tinha anteriormente. Uma equipa que pontapeia a bola para a frente ganha, portanto, 3 ou 4 segundos de posse de bola numa zona onde ninguém a pode recuperar: no ar. Uma equipa que privilegie um futebol curto tem que, nesses mesmos 3 ou 4 segundos, trocar a bola entre 2 ou 3 jogadores, o que é consideravelmente mais difícil. Logo, à partida, tempo de posse de bola não significa, de facto, posse de bola. Como tal, esta estatística de pouco serve. Em segundo lugar, uma equipa inteligente pode controlar o jogo permitindo que o adversário troque a bola em zonas recuadas. Ao fazer isto, como é óbvio, perde tempo de posse de bola. O Chelsea não pressiona os 90 minutos. Fá-lo quando tem de o fazer. E quando não o faz, permite que a bola esteja na posse do adversário. Mas isto não implica que perca o controlo do jogo, pois também não permite que o adversário troque a bola em zonas demasiado ofensivas. Como tal, é de notar que, numa competição na qual grande parte dos adversários foram equipas com bons argumentos técnicos e que privilegiam um futebol apoiado, o Chelsea tenha menos tempo de posse de bola do que no campeonato inglês. Isso não implica, contudo, que não dominem o jogo. E isso vê-se não nos resultados, mas na forma contundente e sem mácula com que os conseguiram.
Os defensores de um Chelsea defensivo utilizam normalmente o argumento das inúmeras vitórias tangenciais da equipa. É verdade que o Chelsea raramente ganha por mais do que dois golos. Também é verdade que a equipa sofre poucos golos. É isso sinónimo de uma equipa defensiva? Não. O Chelsea é uma equipa equilibrada. Ataca quando tem de atacar; defende quando tem de defender. E é, sobretudo, uma equipa inteligente. Sabe que uma vitória por 1-0 é igual a uma vitória por 5-0. Sabe que atacar cria espaços atrás e que, tendo um resultado positivo, não precisa de correr riscos desnecessários. Aqui, dizem-me, "mas exactamente por isso é que eles recuam e se pôem à defesa!" Não é verdade. O Chelsea não recua. Deixa, isso sim, de pressionar tão em cima, o que implica menor desgaste nos atletas, preservando forças para recuperar bolas mais importantes. E não concede a iniciativa ao adversário. Ao abdicar da pressão, pode permitir ao adversário uma circulação de bola em zonas recuadas, mas fechando linhas inviabiliza que o adversário se desmultiplique em acções ofensivas. Depois, com a posse de bola no seu poder, troca-a vagarosamente ou tenta surpreender o adversário com ataques rápidos. Trocando a bola, faz com que o adversário não a tenha. Utilizando ataques rápidos, tenta surpreender sem arriscar muito. Levantam-se novamente vozes, dizendo: "Então, mas se a filosofia é não arriscar, é exactamente o mesmo que defender!" Não. O Chelsea não utiliza nada que se pareça com o "Catennacio". Pelo contrário. Se o fizesse, arriscaria mais. Admito que o erro desta gente seja pensar que defender é não arriscar. Não é. Uma equipa que defenda lá atrás, concedendo o domínio do jogo em todo o campo, pode evitar espaços nas suas zonas recuadas, mas arrisca-se constantemente a sofrer um golo num lance fortuito, ocasionado pela confusão em que a sua área defensiva se tornou. Ao mesmo tempo, como abdica do ataque, não tem possibilidades de dilatar a vantagem. Ora, o Chelsea não faz nada disto. Nunca se posiciona lá atrás, nunca recua em demasia. O que faz é fechar o centro, tapar linhas de passe. Mas isto em zonas avançadas, no meio-campo e não na defesa. Pouco ou nada arrisca concedendo posse de bola ao adversário, pois na verdade não a concede no seu meio-campo.
Ao contrário do Chelsea, para estas pessoas o Manchester United é o protótipo de uma equipa ofensiva. Errado! O Manchester ataca mais. Ataca mais espectacularmente. Mais rápido, mais dinâmico... Marca mais golos. Nada disto significa que seja mais ofensiva que o Chelsea. Ou não significa, pelo menos, que ataque tão bem. O futebol do Manchester parece mais ofensivo porque tem unidades que dão essa ilusão e porque o seu sistema, abdicando da povoação do centro do terreno, coloca mais homens em zonas avançadas. O Chelsea, quer em 442 losango, quer em 433, nunca coloca mais do que 3 homens na frente. Há sempre 3 homens posicionados no centro, normalmente Makelelé, Essien e Lampard. No Manchester, só Carrick faz os apoios por trás, só ele não estica o jogo. Ronaldo, Giggs, Scholes, Rooney e Saha (ou outro avançado), têm liberdade para avançar. Isto, como é óbvio, provoca várias coisas. Primeiro, é um sistema que confia unicamente na inspiração destes jogadores avançados. Como estes têm toda a liberdade do mundo, não jogam em apoios e, desinspirados, não possuem forma de contrariar um resultado. Estando inspirados, é certo, há a tendência para conseguirem resultados mais volumosos que os do Chelsea. Não estando, pouca coisa podem fazer. Depois, é um sistema que desguarnece irremediavelmente a defesa. Pelas características dos seus jogadores, o ritmo de jogo é sempre alto e há sempre espaços na rectaguarda. Uma equipa que povoe condignamente o centro do terreno consegue sempre contrariar o futebol pretensamente ofensivo do Manchester e tem boas hipóteses de, aproveitando os espaços criados pela movimentação excessivamente livre dos seus homens da frente, criar problemas à defensiva dos Red Devils. É verdade que o Manchester ataca mais, dá mais espectáculo, mas não joga melhor que o Chelsea. Se quisermos, utiliza um futebol demasiado irresponsável. Em Inglaterra, onde as equipas jogam em sistemas invariavelmente obsoletos, isto tende a resultar: a irresponsabilidade não é aproveitada. Na Europa, faltando a inspiração das suas armas da frente, o Manchester tem dificulades. Vejam-se os jogos com o Lille, ou com o Benfica, em que a equipa ganhou sempre de forma muito sofrida.
Ao contrário do Manchester, o Liverpool é uma equipa excessivamente responsável. De tão preocupada com a povoação do centro, descura os processos ofensivos. Há, apesar de uma correcção táctica excepcional, uma falta de imaginação incrível no ataque. A equipa vive de um futebol musculado, sem inteligência para criar espaços ofensivos. Resulta daqui que, internamente, poucas probabilidades têm de ganhar alguma coisa. Entre estes dois extremos, situa-se o Chelsea, que é uma equipa responsável, mas virada para o ataque. Sabe atacar, não tão ferozmente como o Manchester, mas educadamente, racionalmente, e sabe defender, não tão obsessivamente como o Liverpool, mas correctamente. E o grande segredo do Chelsea é a forma global como joga. Poder-se-ia afirmar que o Chelsea ataca a defender e defende a atacar. Que quero eu dizer com isto? Bom, o Chelsea privilegia, acima de tudo, um futebol de apoios. Conduz os ataques de forma apoiada, sempre com 2 ou 3 jogadores a fornecerem apoios laterais e atrasados ao portador da bola, a cada momento. Com isto, consegue-se duas coisas: atacar, pois há sempre linhas de passe; e defender, pois em caso de perda de bola, os sectores estão juntos e a recuperação pode ser imediata. Digamos que, jogando assim, uma equipa parte para o ataque com a defesa montada. Não é um ataque desenfreado como o do Manchester, mas um ataque racional, consciente dos riscos de se atacar. Ao defender, o Chelsea cobre zonas. Com um preenchimento táctico correcto do terreno, consegue, a cada momento, cortar o maior número de linhas de passe e tem, ao mesmo tempo, preparado o ataque, no caso de uma recuperação de bola.
Resumindo, o Chelsea não tem nada de defensivo. É uma equipa que sabe gerir o jogo e que não se importa de conceder a bola ao adversário, caso isso não implique correr riscos como um recuo no terreno. Ofensivamente, não é deslumbrante, mas muito personalizada. Não arrisca em demasia e constrói o seu futebol de forma pensada. Não joga muito bonito, talvez porque lhes faltem alguns índices de criatividade. Nisso, tenho de concordar que o Chelsea é uma equipa demasiado mecanizada. Tirando a capacidade individual de um ou outro jogador, a equipa está demasiado presa aos automatismos que aprendeu. Ainda assim, é de louvar a forma correcta como atacam. Não o fazendo de forma bonita, fazem-no contudo bastante bem, conseguindo abrir espaços através da excepcional movimentação sem bola, do dinamismo e da velocidade de execução. O Chelsea é, pois, uma equipa ofensiva. É adulta e, por isso, pouco espectacular. Mas não é por isso que deixa de ser uma equipa que pratica bom futebol.
1 comentário:
texto mt bom!
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